Além Da Amizade escrita por Esc L


Capítulo 13
Continuação Capítulo 8.




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 Acontece Gabriella – a Manu começou a novamente, dessa vez um pouquinho mais calma – que o Felipe não é o trouxa do Gabriel. – ela falou com total segurança – Ele nunca, jamais te faria o que o Gabriel fez, ele jamais te magoaria e você sabe muito bem disso. Para de te fazer de cega, além de sair perdendo e ficar sofrendo a toa, tá o fazendo sofrer também. 

Ah, claro, até porque o Felipe tinha motivos enormes pra sofrer com isso, né, com certeza. 

 Sofrer por quê? A maior prejudicada nessa história sou eu, porque ele sofreria com isso? – falei em total irritação. 

 Pergunta pra ele ué. – fez-se de desentendida – Se tivesse dado uma chance a ele de se explicar, mas não... 

Toda aquela explosão de irritação dela estava me tirando do sério, quem tinha que ficar irritada ali era eu, não ela. A olhei sem paciência, e respirei fundo, soltando o ar dos meus pulmões violentamente. 

 Olha Manuella, tudo que eu menos preciso agora, é de alguém jogando na minha cara o que eu deixei ou não de fazer. – eu a olhei séria. 

Ela me olhou arrependida, engolindo em seco e ficando em silencio. 

 Amiga, eu sei o quanto isso tudo deve ser confuso – deu uma pausa – ou não, mas pouco importa. – deu de ombros – Só quero te pedir, pra deixar todo esse medo de lado, e encarar isso, viver com medo não vai te levar a nada, às vezes a gente precisar colocar a cara a tapa, precisa se arriscar e ver no que as coisas vão dar. 

Eu sabia que ela estava certa, que isso era o certo a se fazer, deixar todo esse medo idiota de lado, mas era difícil, principalmente quando você já havia se magoado o suficiente. Eu engoli todo o nó que teimava em se formar na minha garganta. Chorar não em levaria a nada e eu já estava farta disso.

 Pensa nisso Gabi, você sabe que eu jamais desejaria o teu mal. – ela sorriu pra mim – E a Manu também não, mesmo ela te xingando e jogando as coisas na sua cara, ela só quer o seu bem, não é? – ela falou olhando pra Manu. 

Manuella assentiu com a cabeça, demonstrando um olhar de arrependimento. 

 É que eu tenho vontade de te bater Gabi, esse teu medo idiota. – balançou a cabeça negativamente – Eu quero que você seja feliz amiga, e você ta indo no caminho contrário da sua felicidade. – falou calma, me olhando. 

 Ó, você vai pensar em tudo isso, e depois que se decidir, vai resolver de vez o que tem que ser feito, ta bom? 

Eu as olhei com um pouquinho de duvida, mas sabia que elas jamais desejariam o mal pra mim, e sabia também, que se elas estavam falando tudo aquilo, é porque ctão cedo.onviviam de perto, e sabiam que eu realmente devia estar de certa forma, indo ao caminho contrário da minha felicidade, como a Manu havia dito. A qual com certeza sabia de alguma coisa, mas isso nós conversaríamos depois. 

 Ta bom. – dei um sorriso de canto. 

 E melhora esse humor, nem uma velha de 90 anos fica tão mau humorada assim. – ela brincou e me abraçou. 

Lembrei-me do Felipe, quando eu o chamava de velho, quando mesmo dava seus ataques de reclamações. Não pude deixar de sorrir ao lembrar disso. 

 E desculpa pelo meu ataque. – a Manu fez cara de criança arrependida e nos abraçou também. 

Ficamos as três naquele abraço por alguns segundos, abraço do qual eu não queria que acabasse.

 Agora vem, vamos comer, to morrendo de fome! – ela se desfez do abraço e nos puxou pelas mãos. 

Nós fomos até a cantina, pedimos nossos lanches e elas foram caminhando em direção a onde sempre ficávamos, parei no meio do caminho, as olhando.

 Vem amiga. – Manu esticou a mão, me chamando. 

 Mas... 

 Rapidinho, vem. – a Karol veio até mim e puxou minha mão. 

Fui sendo arrastada até onde os meninos estavam sentado, chegando lá a Manu tratou de se agarrar no pescoço do Bruno, enquanto a Karol sentou do lado do Renan, cumprimentei todos de onde estava mesmo, inclusive o Felipe, que me olhava com uma cara um tanto confusa. Ele me encarou por alguns segundos, e eu o olhei um tanto sem graça. 

Após alguns minutos me olhando, ele se levantou e veio em minha direção, meu coração disparou e eu pude sentir minha respiração falhar. Eu não imaginava que ele fosse fazer tal coisa. 

 Posso falar com você? – ele falou me olhando. 

 Aham, fala. – o olhei. 

 Em particular. – ele deu uma leve bagunçada nos cabelos, demonstrando impaciência. 

Eu não queria ficar sozinha com ele, não por enquanto, não depois de ontem e de tudo que eu tinha pra pensar. 

 Não pode falar aqui? – falei meio sem graça. 

Ele respirou fundo e soltou o ar. Ops, alguém também estava sem paciência hoje.  

 Não, não posso, mas já que insiste. – ele me olhou sério – Pode me explicar o porque não atendeu aos meus telefonemas ontem? – perguntou um pouco irritado.

 Não deu, estava ocupada. – dei um sorriso um tanto cínico, o que só o irritou mais.

 E porque saiu daquele jeito? 

Referiu-se a hora que sai correndo, o deixando sem entender nada.  

 Porque precisei. 

 Precisou me beijar e sair correndo sem em falar nada também? – ele falou num tom um pouco alto, mas não o suficiente pra que os outros ouvissem. 

 Isso grita mais um pouquinho. – falei calma, o ironizando, 

Ele odiava isso, odiava que não o levassem a sério quando ele realmente estava falando sério, mas essa era a única forma de pelo menos tentar o manter longe e desistir desse papo. Pelo menos por enquanto. 

 É isso que eu tenho vontade de fazer mesmo, pelo menos sai dessa idiotice de ficar escondendo. – dessa vez ele falou mais baixo, seu tom de voz era ressentido.

Eu sabia o quanto ele devia estar bravo comigo por estar tratando ele de tal maneira, sabia também como essas coisas de manter as escondidas era detestável pra ele, logo ele que era oito ou oitenta. 

Pra me livrar de vez, decidi dramatizar um pouquinho mais, eu tinha meus motivos, mas sabia que aquilo realmente era uma idiotice. 

— Idiotice né – dei uma risadinha irônica – bom saber. – dei um sorrisinho cínico. 

Ele me lançou um olhar no qual não consegui identificar. Virei às costas e sai andando, por mais que eu não quisesse, precisava me manter longe dele. 

Ouvi a Manuella me chamar, mas ignorei, sai andando e fui em direção à sala, pelo menos não teria ninguém perturbando e me tirando do sério. Assim que virei o corredor, me deparei com algumas meninas na porta da sala, uma delas olhou pra mim e cochichou alguma coisa, olhei sem entender e continuei a andar em direção a sala, mas ao entrar fui barrada por uma delas. 

 Oi.  

Uma loirinha oxigenada parou na minha frente, com um sorriso de orelha a orelha. Eu já a conhecia de vista, e bem, pelo que falavam, ela não tinha uma reputação muito boa. 

 Oi. – a olhei sorrindo, sem mostrar os dentes. 

 Eu sou a Bruna – seu sorriso aumentou – você é a Gabriella, né? – ela deu um risinho. 

Se eu não fosse tão legal, poderia dizer eu ela estava forçando simpatia. 

 Até onde sei, sou sim. – dei um risinho um forçado. 

Eu não queria ficar de papo nem com minhas melhores amigas, iria querer ficar com quem eu mal conhecia? 

Ela riu exageradamente, o que me deu calafrios. Realmente, ela estava forçando simpatia. 

 Você é engraçada – riu – mas então, você é a melhor amiga do Felipe, não é?  

Ah, agora está entendido o porquê de tanta simpatia forçada, seu principal interesse era o Felipe. Dei um risinho irônico, mas o projeto de oxigenação estava tão entretida que nem percebeu.

 Sim.  

 Com todo respeito – ela sorriu – ele é um pedaço de mau caminho. – ela mordeu os lábios maliciosamente. 

A guria mal sabia limpar a bunda direito e já estava querendo se assanhar pro lado de quem não devia, mereço viu.

 É. – falei seca. 

 Será que não tem como você ajeitar pra mim? – ela mantinha o sorriso irritante. 

 Não, não tem. – dei um sorriso cínico pra ela. 

 Nossa, por quê? – ela me olhou sem graça. 

 Você é muito novinha, deve estar na oitava série, não é? – a analisei – Felipe não gosta de meninas novinhas assim. – sorri educadamente. 

 Não tem problema, fala pra ele que eu faço direito. – ela falou com malicia. 

Eu não aguentei e dei uma risada um tanto quanto sarcástica. 

 Qual é o problema? – ela me olhou sem entender. 

 Acabei de lembrar que ele também não gosta de menininhas assanhadas. – a olhei séria. 

Nesse momento as amiguinhas dela deram um risinho e cochicharam entre si, o que deixou o projeto de oxigenação, digamos, irritada. 

 E quem é você pra falar que eu sou assanhada? – ela falou indignada. 

 Olha lindinha, eu não citei teu nome, mas se a carapuça serviu, melhor rever teus conceitos, hein. – falei com cinismo e entrei pra sala. 

Sentei-me no meu lugar de sempre e vasculhei minha mochila atrás do meu fone de ouvido, o que eu menos queria era confusão com guriazinha assanhada de oitava série. 

Fui acordada na quarta feira pela minha mãe, olhei pra ela com dificuldade, sem entender o porquê de ela estar me acordando, já que a mesma raramente fazia isso. 

 Tem alguma coisa de importante na escola hoje? – ela sentou ao meu lado na cama. 

 Não, por quê? Aconteceu alguma coisa? – a olhei sem entender – É com o papai? Aconteceu alguma coisa com ele? – me sentei, um pouco assustada. 

 Não, calma. – ela deu um risinho – É que ta caindo o mundo lá fora, então se não tiver nada de importante hoje, fica em casa, é perigoso sair com o tempo assim. 

Minha mãe sempre teve um certo pavor quando o tempo estava realmente feio, quando chovia bastante e coisas do tipo, e na verdade, eu nunca havia entendido esse medo dela. 

 Tudo bem vou ficar em casa, no quentinho. – dei um risinho e me deitei novamente. 

 Ok – ela sorriu – qualquer coisa to lá em baixo. 

Ela deu um beijo na minha testa e saiu do quarto. Eu me enrolei nas cobertas e acabei adormecendo novamente. 

Acordei algumas horinhas mais tarde com o meu celular tocando, era a Manuella. 

 Posso saber por que não veio pra escola hoje, moça?

 Bom dia amiga to bem viu, obrigada por me acordar! – brinquei. 

 Pelo jeito estava dormindo, dorminhoca. – riu – Só liguei pra avisar, que o luau de mais tarde foi adiado pra sexta feira por causa da chuva de hoje. 

 Sério? Que chato. 

Na verdade, eu já havia me esquecido de que teria luau. Ri com meu pensamento. 

 Quem vê pensa que se lembrava de alguma coisa. – riu. 

 E não lembrava mesmo. – nós rimos. 

 Amiga, vou desligar, a Karol ta mandando um beijo.

 Manda outro pra essa chata também. 

 Tá bom – riu – depois passo ai, beijo. 

 Beijo.

Eu deitei, tentando dormir novamente, mas a tentativa foi completamente falha. Aproveitei pra me levantar, já que a dona Manuella já havia acabado com todo sono que me restava.  

Levantei-me, fiz tudo o que tinha pra fazer e desci pra tomar comer alguma coisa, conversei um pouco com a minha mãe e a ajudei em alguns detalhes do último look da coleção, que ela estava acabando de desenhar. 

As horas foram passando, a Manu passou em casa assim que chegou da escola e ficou pra almoçar com a gente, passando o resto da tarde por lá também. Ela contou que o Felipe havia ligado pra mesma, e perguntado de mim, como eu estava e se eu havia contado algo pra ela, que mentiu dizendo que não. 

Tentei mostrar toda indiferença enquanto ela me alugou por mais de meia hora falando dele e do que achava que devia acontecer entre nós, mas a verdade é que eu estava sentindo uma falta imensa dele, principalmente das tardes que ele vinha aqui em casa, me encher o saco. 

Os dias foram passando, e logo era sexta feira, o dia do tal luau, o qual as meninas não paravam de falar. Nesses dois dias, eu e o Felipe não nos vimos nem nos falamos, e eu estava com uma saudade sem tamanho, principalmente porque nos dias que nós não tínhamos aula, geralmente dormíamos um na casa do outro, ou passávamos o dia inteiro juntos. Mas isso não impediu que a Manuella viesse me trazer noticias dele, e continuar a incentivar nós dois juntos.  

Eu havia pensado bastante sobre tudo que vinha acontecendo, havia colocado minhas ideias no lugar, e se me permite falar, passei por um tratamento intensivo e terapia, entre eu e eu mesma, no qual consegui mandar 50% de todo aquele meu medo idiota embora. 

 Anda logo Gabi, o povo já ta esperando a gente e você ai enrolando. – a Manuella falou pela décima vez. 

 Calma Manuzita, já estou indo. – falei sorridente. 

Na verdade, eu não estava muito a fim de ir nesse luau, por mim eu ficava em casa vendo um bom filme, mas acabei por ceder às chantagens emocionais das minhas amigas. 

 É a décima vez que você olha esse vestido, ele tá ótimo Gabi, você tá linda, agora vamos. – a Karol me apressou pra sair do quarto. 

— Ai, como vocês são chatas. – reclamei.  

Mas na verdade, eu quem estava demorando demais, não queria ir, mas se fosse pra ir, que se fosse decente pelo menos, não? 

 Estou pronta, vamos. – falei rindo e terminando de ajeitar meu vestido. 

 Nossa, aleluia! Tomara que não chova, porque né...  

 Engraçadinha. – dei um risinho forçado. 

Avisei minha mãe que estava saindo, e que dormiria na casa da Manuella, a mesma concordou e pediu pelo amor de Deus, que eu me cuidasse e tivesse juízo, me despedi da mesma, dando um beijo demorado em seu rosto. 

Nós pegamos o táxi, que já nos esperava lá em baixo, e fomos em direção a praia onde seria o luau. Não demorou muito pra chegarmos lá, que por sinal, já tinha uma boa quantidade de gente. Havia uma fogueira e algumas pessoas já sentadas em volta dela, tocando violão, e do outro lado havia tipo de um "bar improvisado" que haviam montado ali e algumas pessoas na volta, já do outro lado, havia uma rodinha, com algumas pessoas fechando a mesma, não sabia o que se passava ali, mas também não dei importância em querer saber. 

 Psiu. – uma voz masculina falou no meu ouvido, o que me fez arrepiar.

 Gui! – assim que o vi o abracei. 

Ele me abraçou apertado, dando um beijo na minha cabeça.  

 Estava com saudades. – riu. 

 Eu também, você sumiu. 

Fiz uma carinha triste, o fazendo rir e apertar minhas bochechas. 

 Com essa carinha, merece mais um abraço. – ele me abraçou. 

Eu o abracei novamente, dessa vez mais apertado. Eu realmente estava com saudades, como eu já disse, o Guilherme havia se tronado um grande amigo pra mim. 

— Tive alguns problemas, precisei viajar. – ele fez uma cara na qual não consegui definir – Mas enfim, hoje é dia de festa, muita bebida, sem problemas. – riu – estou precisando. – ele falou convicto, afirmando mais pra si, do que pra mim. 

Ele estava estranho, mas não me parecia querer comentar o seu tal "problema", então decidi não insistir. 

 Pois então faça o favor de se divertir. – eu ri. 

 É isso mesmo que eu vou fazer, até porque – ele pausou, dando uma olhada de cima a baixo na menina que passou na nossa frente – olha pra isso, hoje é dia! – comemorou. 

 To vendo, quase comeu a coitada com os olhos. – nós rimos. 

Ele cumprimentou as meninas, e logo em seguida se despediu, dizendo que ia pegar uma bebida, mas na verdade, ele havia ido pro lado oposto do bar, indo atrás da menina que passou por nós. Esse Guilherme não tem jeito. Ri com meu pensamento.

 Ali! –a Karol ela deu um grito – Achei. 

Ela saiu arrastando eu e a Manu, me deixando sem entender pra onde estávamos indo. 

Nós demos alguns passos rápidos, passando por algumas pessoas, umas das quais eu conhecia, outras que eu nem fazia ideia de quem eram, até eu já ter visão plena de onde estávamos indo. "Ops!" pensei. 

E a primeira pessoa que vi, foi o Felipe, dei uma leve paradinha, o olhando de cima a baixo, ele vestia uma bermuda jeans, uma camiseta branca, com uma estampa masculina — camiseta da qual eu conhecia muito bem, pois havia dado a ele de presente num dia qualquer — ele calçava um chinelo, e dessa vez ele estava sem boné, seus cabelos estavam levemente bagunçados, o que dava um certo charme nele. Lindo como sempre. 

 Olha, eu sei que é difícil, mas da menos bandeira, ta? 

A Karol falou rindo no meu ouvido, o que me fez despertar do transe que eu me encontrava. Eu a olhei, ainda atordoada com meus pensamentos. 

Eu só me limitei a olha-la, repreendendo-a, e ela e a Manu riram, me puxando e se aproximando ainda mais dos meninos. 

 Olá meus amores. – a Manu falou sorridente. 

Ela cumprimentou o Renan e o Lipe, que estavam com o Thomas e a Daniella, e por fim cumprimentou o Bruno com um selinho. 

Olhei apreensiva tal ação dela, até porque, fazia dias que eu não via nem falava com o Felipe, e eu teria que cumprimentar a todos, incluindo ele, até porque, não queria dar uma de mal educada. 

E então a Karol cumprimentou a todos, e logo foi a minha vez, cumprimentei cada um dali, e quando chegou a vez do Felipe, bem, quando chegou a vez dele, dei uma leve pausa, pensando se fazia tal coisa ou não. A Karol me deu um beliscão, disfarcei e puxei todo o ar que me tinha nos pulmões, tomando coragem e indo cumprimentar o mesmo. Me aproximei dele, e só de chegar meu rosto perto do seu, pude sentir seu cheiro maravilhoso e inconfundível invadir minhas narinas. E quão bom era o seu cheiro!  

Ele deu uma abaixadinha generosa, pra ficar do meu tamanho esboçando um sorriso de canto, sem mostrar os dentes, e logo em seguida deu um beijo levemente demorado no meu rosto, fechei os olhos ao sentir seus lábios tocar minhas bochechas, quanto tempo eu não sentia teu toque. Depois disso, ele se afastou, olhando, olhando profundamente em meus olhos, me fazendo ficar fixada em seu olhar. 

 Então – ela me beliscou novamente, me fazendo passar a mão onde ela beliscou – está legal aqui, né? – ela deu um sorriso, disfarçando.

Eu respirei fundo, a olhando, e a agradecendo mentalmente por ter tirado minha atenção daquele olhar, mesmo que não querendo fazer tal coisa.

 Vou até ali o bar, preciso beber alguma coisa. – avisei a Karol. 

Sai dali o mais rápido que pude, indo em direção ao bar, pedi uma bebida pra um dos garotos que estavam cuidando das bebidas, e voltei de encontro onde o pessoal estava, mas fui barrada antes mesmo de chegar até lá, me assustando com a pessoa que via a minha frente. 

— Amor, você por aqui. – seu sorriso ia de orelha a orelha. 

Dei um sorrisinho sem mostrar os dentes, mostrando total insatisfação. 

 Você está muito linda. – ele me olhou de cima a baixo – Você sempre está. 

 Obrigada. – tentei sorrir. 

 Que tal nós irmos dar uma voltinha, hein? – ele passou o braço em torno do meu pescoço. 

 Não Gabriel, meus amigos estão me esperando. – falei tentando me desvencilhar de seu braço. 

 Só uma voltinha, minha linda. – ele me olhou. 

Ele me apertou, me olhando maliciosamente e eu o xinguei mentalmente por isso. 

 Preciso ir pra lá, sério mesmo. – finalmente consegui me desvencilhar de seu braço. 

 Você não me escapa, viu! – deu uma piscadela. 

Era muito amor ou vontade dele de me atormentar, só podia ser.

Sai andando o mais rápido que pude, antes que ele viesse atrás de mim, mas acabei trombando com a Karol no meio do caminho. 

 Que foi? Viu fantasma? – ela me olhou assustada. 

Eu a olhei e sorri feliz por ter sido ela quem eu havia esbarrado. 

 Não, pior. – revirei os olhos – Mas agora está tudo bem.

Vamos falar com o resto das pessoas? Não quero ficar lá. – a olhei piedosamente. 

 Vamos sim. – ela sorriu – Até porque, quem você menos gosta acabou de chegar por lá – ela fez uma careta, e eu já imaginei quem fosse – e eu preciso ver se tem gatinhos por essa festa. 

Eu a olhei rindo e ela grudou em meu braço, me puxando para andarmos mais a frente e cumprimentarmos algumas pessoas que conhecíamos. 

Ao caminharmos, olhei rapidamente pra trás, e pude ver a Larissa se jogando pra cima do Felipe, e o mesmo a olhando com uma cara de tédio. Ela passava as mãos pelos seus cabelos, enquanto ele fingia que nada acontecia. Todas as vezes que vi ela perto dele naquele luau, foram essas cenas típicas de "fingir que ela não existia" que aconteceram.

 Olha. – ela me cutucou com uma cara nada boa, me mostrando onde olhar. 

De primeira, antes mesmo de eu ver o que era, me veio em mente que fosse o Felipe e a Larissa ficando, ou algo do tipo. Nada não muito esperado, né? Mas ao olhar tal cena, entendi o porque da Karol torcer o nariz daquela forma. O Renan estava aos beijos com uma menina do colégio, e pelo jeito, a coisa estava boa. 

 Tudo isso é ciúmes? – perguntei divertida, segurando o riso. 

 E eu lá sinto ciúmes de Renan, Gabriella? – ela me olhou irritada. 

 Ué, vai saber né. – eu ri. 

 Só to inconformada com essa cena, mais um pouquinho eles fazem um pornô explicito. – ela estava realmente irritada, e isso era engraçado. 

Sabe aquele tipo de pessoa que gosta, mas não assume? Então, Karollyn era desse tipo de pessoa. 

 Vocês se gostam, não sei porque não ficam juntos. – a olhei, ainda rindo.

 Ih, vai começar. – reclamou – Nós não nos gostamos, já deixei isso bem claro.

 Claro amiga, claro. – falei com total ironia, rindo ainda mais. 

Fiquei por alguns minutos escutando ela reclamar do quanto o Renan era safado e galinha, mais um pouco e minhas orelhas poderiam cair. Logo nós decidimos voltar para onde o pessoal estava, e para minha infelicidade, a Larissa ainda se encontrava por lá. Assim que me aproximei pude ver sua fisionomia mudar, e ela me encarar. A ignorei. 

 Onde vocês estavam? – a Manuella perguntou. 

 Fomos dar uma volta, você só sabe ficar ai, agarrada no Bruno. – brinquei.

 Você ta é perdendo a quantidade de guri bonito que tem por aqui. – a Karol riu. 

 Que isso Karol? Ta querendo levar minha mulher pro mal caminho? – o Bruno falou, se fingindo indignado. 

 Ah, às vezes é bom, né? – ela falou com a maior cara de pau. Tinha que ser a Karol.  

Nós começamos a zoar ela, que embarcou na brincadeira.

 Mas e ai Gabi, fiquei sabendo que você já pegou uns cinco meninos hoje. – o Bruno falou brincando. 

Nesse momento, a Larissa deu uma risada alta, cacarejando logo em seguida um "Ai, ai" bem irônico. Eu olhei pra ela séria, a encarando. 

— Ta muito desinformado Nuno – olhei pra ele, entrando na brincadeira – Só hoje já foram dez. – ri. 

 Caramba hein novinha – se fez impressionado – ta podendo, quem mandou ser linda assim. – riu – Com todo respeito amor! – ele deu um selinho na Manu, que riu junto com todos.

— Até parece. – a Larissa falou em alto bom som. 

Eu não tinha a exata certeza, mas conhecendo-a como conheço, ela estava ali pra provocar, e relevar eu não ia. 

 Você disse alguma coisa lindinha? – olhei pra ela com total cinismo. 

 Disse sim, mas esquece, era só mais um comentário pra essa brincadeirinha chata de vocês. 

 Interessante. – olhei minhas unhas – Mas afinal, quem foi que te chamou aqui pra participar da nossa brincadeirinha chata? – a olhei. 

Eles deram uma risadinha. Ela me olhou irritada, e só o que eu fiz foi sorrir. Pela primeira vez, eu estava adorando tira-la do sério.

Escuta aqui Gabriella! – ela ia começar a dar o showzinho dela, mas eu a interrompi. 

 Escuta aqui você – a olhei – não vem se crescendo pro nosso lado, porque ninguém aqui é teu amigo não. E como dizem, quem fala o que quer, escuta o que não quer, então, sem dar uma de malandra aqui. 

 Se liga garota, to aqui por causa do Felipe. – ela falou num tom alto. 

O Felipe olhou pra ela, fazendo uma careta, e em seguida deu um risinho debochado, quase que imperceptível.

 O qual não ta dando a mínima pra sua existência. – eu ri –

Porque você não vai atrás das suas amiguinhas? Já percebeu que ninguém te quer aqui? 

 Ei, vamos parar? – a Manu se intrometeu, prevendo o que provavelmente poderia se resultar ali.

— Quer saber? Eu vou sair daqui mesmo, cansei de vocês. 

 Isso mesmo lindinha, já vai tarde. – acenei pra ela, que saiu pisando duro e morrendo de raiva, claro. 

Quando ela já estava um pouco distante, todos que permaneciam quietos riram aliviados. 

 Finalmente, já não aguentava mais essa garota – a Manu reclamou. 

— Ê Gabi hein, adora botar uma moral. – o Bruno falou rindo. 

O Felipe me olhou com aquele olhar que ele sempre fazia, quando queria agradecer por algo, e logo em seguida esboçou um sorriso lindo como sempre. Eu ficaria o vendo sorrir por horas, se pudesse. Desviei meu olhar do dele, e voltei minha atenção na conversa que rolava.  

Nós ficamos por algum tempo ali, conversando, até decidimos ir até a fogueira que haviam feito. Nós nos sentamos em volta da mesma. 

Cada hora era uma pessoa diferente que tocava o violão, vez ou outra repetindo a pessoa, nós acompanhávamos e cantávamos as músicas que tocavam. Estava realmente bom de ficar ali, a noite estava maravilhosa, e o lugar ajudava muito, incluindo a brisa do mar que batia, causando a sensação de liberdade a cada um que ali estava. 

Depois de algumas músicas tocadas, pra minha surpresa, quem pegou o violão foi o Felipe. Fiquei o olhando, ele sempre, desde pequenos gostou de cantar e tocar violão, mas eram raras às vezes que ele fazia isso em publico. 

Enquanto eu o olhava, pude sentir seu olhar cair sobre mim, e ali então, se fixar. 

 Tá – ele deu uma pausa, parecendo pensar no que falar – eu vou tocar uma música que condiz com muitas coisas que vieram acontecendo ultimamente, e que talvez revele o que ficou mal entendido. – ele ainda me olhava – Ah, e não se desapontem com a minha voz – falou receoso – caso gostarem, autógrafos só depois do show. – ele brincou, fazendo todos rirem. 

Tentei entender o que ele quis dizer com "e que talvez revele o mal entendido", mas desencanei, eu saberia do que se tratava quando ouvisse a musica.

Ele começou a tocar e todos, que estavam surpresos pelo mesmo estar ali tocando, assim como eu, ficaram atentos nele. 

 Well let me say you a sotry, about a girl and a boy, he fell in love for his best friend when she’s around, he feels nothing but joy, but she was already broken, and it made her blind – ele me olhou profundamente, e eu o olhei ainda sem entender - but she could never believe, that love would ever treat her right but did you know that I love you? or were you not aware? You're the smile on my face, and I ain't going nowhere, I'm here to make you happy, I'm here to see you smile I've been wanting to tell you this for a long while – ele ainda me olhava e dessa vez ele sorriu, um sorriso sincero e extremamente encantador – who's gonna make you fall in love, I know you got your wall wrapped on all the way around your heart, you're not gon' be scared at all, oh my love but you can't fly unless it lets ya, you can't fly unless it lets yourself fall, well I can tell you're afraid of what this might do. 

Ele cantou toda a música com os olhos fixos em mim, o que de alguma maneira, fez-me ficar meus olhos nos dele, sentindo cada palavra que saia de sua boca ao ouvi-lo cantar, e eu tentava acalmar meu coração, que batia cada vez mais acelerado. Sua voz era incrivelmente incrível, e a sinceridade com que ele cantava, ainda mais me encantava.  

 But you can't fly unless it lets ya – ele fechou os olhos, dando uma pausa e respirando – let yourself fall. – ele finalizou a música, sorrindo pra mim, e pude ver em seus olhos, um brilho diferente, um brilho do qual eu ainda não conhecia. 

Todos que estavam na volta começaram a aplaudir, alguns falavam que eram fãs dele em tom de brincadeira.  

Mas eu realmente não estava dando muita atenção pra isso, minha mente ainda raciocinava cada palavra da musica que ele havia acabado de cantar, e como num passe de mágica, todo aquele nó que havia em minha cabeça, estava passando a se desatar.

Todo aquele quebra-cabeça interminável começava a se encaixar, peça por peça. 

A garota sobre quem ele tinha falado, ele ter dito que eu a conhecia, a forma estranha de como ele vinha querendo ter o tal “papo sério”, o qual eu vivia fugindo, essa música, a forma de como ele me olhava. Tudo tomava sua posição, agora. 

Uma felicidade imensa me tomou, era um alivio imenso, algo inexplicável. Não pude deixar de sorrir ao pensar na possibilidade de todas aquelas coisas serem reais. Mas meu sorriso não durou muito, ao lembrar-me de como eu tinha sido injusta com ele, não o deixando se explicar, tratando-o daquela forma. Eu havia errado feio, e precisava de alguma forma, reparar todo esse erro.  

Levantei-me, ainda atordoada com todos aqueles pensamentos e possibilidades descobertas, eu precisava sair dali, precisava de silêncio, e principalmente, precisava pensar. Nada que eu não viesse fazendo todos esses dias. 

 Aonde você vai? – a Manu me olhou confusa. 

 Andar. – falei calma – Preciso me decidir sobre algumas coisas. – eu a olhei. 

Ela sorriu, aquele sorriso compreensível que ela tinha, quando sabia do que se tratava. 

 Cuidado! – ela me deu um beijo no rosto e me olhou, sorrindo docemente. 

Eu correspondi com um sorriso e sai andando pro lado oposto de onde estávamos. 

Caminhei por alguns minutos, mas não me afastei muito de onde todos estavam, apenas fui longe o suficiente pra me afastar de todo o barulho que havia por lá. Sentei-me, fitando o mar, e pude reparar quão linda a noite estava. 

Eu tinha que falar com o Felipe, tinha que pedir desculpas a ele, e principalmente tentar descobrir se tudo era realmente verdade. Fiquei ali, pensando por alguns minutos, até que ouvi alguém se aproximar.

Olhei para os lados pra ver se vinha alguém, mas não vi sinal algum, desconsiderei, devia ser só impressão, mas acabei por confirmar que não era, quando ouvi alguém pigarrear atrás de mim.

Meu coração acelerou, fiquei ereta e olhei pra trás, fixando meu olhar a quem ali estava. 

 Posso me sentar aqui com você? – ele me olhava com um sorriso de canto. 

Era o Felipe. Permaneci estática, apenas o olhando. Engoli em seco, ainda com a minha atenção no mesmo. 

 Bem, acho que isso foi um sim. – ele disse se sentando do meu lado. 

Eu apenas o olhei, dando um meio sorriso, sem mostrar os dentes. 

 O que você está fazendo aqui, sozinha? – ele me olhou. 

Continuei calada. Eu procurava palavras, mas elas não saiam, era como se eu tivesse travado ao vê-lo ali.

 O gato comeu sua língua? – brincou, me olhando divertido. 

 Ér – dei uma pausa – Estava muito barulho lá, daí vim aqui um pouquinho. – completei a frase, respirando aliviada por isso. 

 Hum. – me olhou desconfiado – foi só pra isso mesmo?  

 É, em partes. – dei um risinho. 

Ele riu. Ficamos em silêncio, mas pude sentir seu olhar cair sobre mim. Me encolhi, e pude sentir minhas bochechas queimarem. Mau sinal. 

— E ai, o que achou do meu show? – brincou novamente, muito humilde como sempre.  

Eu sabia o motivo de tantas “brincadeirinhas”, por mais que ele sempre fosse assim, estava fazendo isso pra nos livrar de tanta tensão. 

 Confesso que fiquei impressionada, não imaginava que fosse cantar assim, em público – gesticulei, dessa vez o olhando – Mas até que não foi nada mal. – brinque também. 

 Às vezes a gente precisa tomar coragem pra algumas coisas, né. – falou sério, dessa vez. 

Pude sentir tal indireta como um tapa na cara. Respirei fundo, o olhando. O silêncio persistiu novamente, e dessa vez pude sentir certo incomodo. Já era hora de colocar as cartas na mesa. 

 Lipe. 

 Oi? – ele me olhou. 

 Quero te pedir desculpas. – falei com a voz baixa. 

 Por?  

Ele estava brincando né? 

 Por não ter te deixado se explicar, por tirar conclusões precipitadas, por fugir de você, por te tratar como venho tratando – o maldito nó começava a se formar em minha garganta. Não era hora pra isso. – por ser assim, tão idiota. 

 Você não é idiota. – ele falou me olhando, e certamente tentando bancar o compreensivo. 

 Eu sei o quanto eu sou, não banca o compreensivo, não agora. – pedi, já angustiada.


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Notas finais do capítulo

Continua...



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