Mistérios da Lua escrita por uzumaki


Capítulo 4
Um baque profundo


Notas iniciais do capítulo

Beijo pra Silena, que acompanha a história! Valeu!



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Acordei com um Josh desesperado batendo no meu rosto. Não doeu, eram apenas batidinhas de leve, pra acordar. Mas me assustou. Ninguém nunca me bateu. Era a primeira vez. Claro, castigos eram comuns no orfanato, principalmente para mim, mas bater assim, nunca. Mas seja como for, abri os olhos. Eu ainda estava naquele parque, o que sugeria que não fazia muito tempo que havia ficado desacordada. Sophie estava deitada ao meu lado, também desacordada. Oh, aí eu me lembrei o que eu havia feito. Me sentei e percebi que nós três, Josh, Sophie e eu, estávamos encharcados. Oh, eu realmente tinha certo poder sobre a água.

— O que aconteceu? - perguntei, cuspindo água. Minha voz estava rouca.

— E você vem perguntar pra mim? - respondeu Josh, abanando Sophie.

— Bem, é. Você é o único acordado há algum tempo.

— Não, eu também desmaiei.

— Ah. Há quanto tempo você está acordado?

— Acho que há uns 10 minutos, mais ou menos.

— Você se lembra de alguma coisa?

— Eu estava rindo com Sophie e fechei os olhos. Quando acordei, eu estava no chão. E você estava ao lado de Sophie. - ele deu muita ênfase no "você", o que significava que ele achava que eu havia feito algo àquela ruiva profeta. Aquilo me irritou e eu fiz cara feia.

— O que você quer dizer com isso? Se soubesse o que aconteceu, nem defenderia essa garota.

— Então me fala, Anne. Eu vou continuar a defendê-la até saber o que aconteceu.

— Me obrigue, Josh. Você não pode me obrigar a falar nada pra você.

— Não fala assim comigo, Anne. Não precisa ficar irritada. Eu só queria saber.

— Mas eu não quero contar e ponto final.

— Ok, então.

Fiquei um pouco mal. Josh havia ficado preocupado comigo, mas ali estava ele, dizendo que eu poderia ter feito algo de mal com aquela ruiva idiota. Eu nunca seria capaz de fazer isso. Pelo menos, eu acho que nunca seria capaz de fazer isso.

— Desculpa Josh. Não quis brigar com você.

— Não tudo bem. Eu é que devo um pedido de desculpas. - ele ficou transtornado por um momento - Eu é que não sei onde estava com a cabeça! Ora, eu praticamente quis dizer que você tinha feito algo a Sophie! Me desculpa, Anne.

— Eu aceito suas desculpas se você acertar as minhas, ok?

— Tudo bem.

Bem nessa hora, Sophie tossiu, cuspindo água. Josh suspirou, aliviado; e devo dizer que eu também. Por mais que eu não gostasse daquela ruiva, eu não queria ter a morte dela na minha consciência. Ela tossiu e cuspiu um pouco mais de água e olhou com tristeza pra mim. Tive a sensação de que ela vira tudo o que ocorreu.

— Ah, Anne... eu...

— Tudo bem, Sophie.

— Não, eu...

— Já chega. - olhei para Josh. Sophie pareceu entender.

— Ah, você não contou, não é?

— Não. Não creio que ele precise saber. Não foi nada demais.

— Nada demais? Anne! Eu quase...

— Já chega, Sophie.

— O que ela "quase" fez? - perguntou Josh.

— Nada, Josh. Não é nada. - olhei acusadoramente para Sophie, forçando-a a assentir.

— É claro. - disse ela, secamente, com os olhos voltados para as roupas encharcadas. Ela sorriu e virou para mim - Aquele foi um truque incrível. Acho que encontrou seu caminho.

— Talvez.

— Talvez? Aquela é a sua vocação!

— Peraí... - disse Josh, confuso - O truque com a água... foi você quem fez, Anne?

— Sim, fui eu.

— Foi realmente incrível. Mas eu acho que entrou água nos meus ouvidos.

Foi aí que eu ri. Ri de verdade, porque aquele era meu melhor amigo afinal de contas. E ele não me pressionou para saber o que havia acontecido nem nada disso. Ele simplesmente disse o que achava que era, sem rodeios. E eu adorava isso no Josh. Poder contar com ele para tudo. Desde me animar a chorar junto comigo. E mesmo quando nossas vidas haviam virado de cabeça pra baixo, ele era o mesmo garoto de sempre.

—Me ajude a levantar daqui. - pediu Sophie. Josh deu a mão a ela e a puxou do chão. Sophie sacudiu a roupa, estalou os dedos e suas roupas molhadas ficaram instantaneamente secas.

— Como fez isso? - perguntei, boquiaberta.

— Isso? É um feitiço básico. Aprendi no meu primeiro ano. - respondeu ela, sorrindo. Me arrependi de ter ficado boquiaberta. Ela estava tirando uma com a minha cara. E eu estava deixando. Cruzei os braços e a olhei de cara feia. Até Josh ficou envergonhado. Finalmente ele havia entendido alguma coisa. Sophie virou-se e começou a andar de volta a cidade. Acho que agora iríamos ver o "Ginásio" e eu estava super animada para ver toda aquela galera de novo.

— Não te perguntei quando, querida. E sim como fez. Mas deixa pra lá.

Dei um passo a frente e comecei a andar. Eu estava andando pensando na melhor resposta depois da briga. Eu tenho um tipo de dom de fazer isso. Toda vez que brigo com alguém, penso que deveria ter falado em algo melhor. De qualquer forma saí andando, pingando água quando Josh me agarrou pelos ombros. Eu escorreguei. Ia cair do alto de um penhasco. Eu não havia percebido que deveria olhar ao redor, porque o lado por onde viemos estava atrás de Sophie. Eu estava a dois centímetros de cair para uma adorável queda do alto de penhasco, e ainda bem que Josh havia percebido. O problema é que a pedra em que eu estava apoiada quebrou e eu caí. Só havia Josh me ajudando a não cair e Sophie se aproximava. Eu não ia deixar aquela garota me ajudar de novo. Ela poderia dizer bem feliz: Ah, isso? Aprendi no primeiro dia de aula no primeiro ano, não foi nada demais. Enquanto eu, estaria vermelha como um tomate.

— Josh! - berrei.

— Você não olha aonde pisa? - gritou ele de volta.

— Infelizmente, não. - murmurei, olhando para baixo.

— Sophie! - chamou Josh.

— Ela não! Me segura e me dá impulso!

— Tá louca, é? Eu nem pensei em soltar!

— Tá, então coopera! Um, dois..

— Espera! - interrompeu Josh - O que você vai fazer?

— Ora, vou escalar!

— Escalar? - perguntou Josh, abrindo um sorriso. Obviamente lembrou da última vez que eu tentei escalar, e da burrice que fiz ao tentar salvá-lo de cair de um galho, o que obviamente resultou em nós dois caindo da maldita árvore.

— Tá, entendeu agora?

— Sim!

— Um, dois, três!

Segurei o braço de Josh com mais força e tomei o cuidado de não o puxar para baixo comigo, como da última vez. Fui com o corpo para trás, usando os pés como apoio na parede de rocha. Segurei mais firme e comecei a andar, Josh me olhando com o rosto molhado de suor. Claramente eu estava puxando muito ele, que lutava para não cair. Finalmente meu pé chegou no topo da pedra e Josh me deu um puxão de arrancar o braço fora. Ele me puxou para perto de si e me abraçou. Eu estava vermelha, porque nunca havia abraçado de verdade Josh. Então sem ter o que fazer abracei-o também. Sophie estava muito quieta.

— Espera. - disse eu, me desvencilhando do abraço de Josh - Onde está Sophie?

"Hahahahahahaha" disse uma voz feminina. Ousei olhar pelo parque. "Você, garoto. Ousa salvar uma Filha do Caos? Vai se arrepender, pode acreditar. Elas sempre traem. Há mais de 5 mil anos eu acompanho as Filhas da Barbaridade, as Crias do Mal. E elas NUNCA têm coragem de me parar. Sempre medrosas, desprovidas de coragem e caráter"

Eu gelei. Era a voz gargalhante da visão que tive. E ela vinha de onde Sophie deveria ter estado antes de eu ter caído. Mas onde estava Sophie? Ela não havia me ajudado e ainda havia fugido? Bem, eu não a conhecia, mas creio que fugir da luta não fazia o tipo dela. Então comecei a pensar no que a voz havia dito e fiquei furiosa.

Você não deve estar falando de mim, óbvio. Quem não tem coragem é você, que nem se mostrar é capaz. - a voz rosnou com desdém. Então uma forma tremeluziu a uns cinco metros de onde estávamos. Na verdade duas formas. Uma delas uma mulher vestida de forma exageradamente ridícula. Um vestido prateado com listras de zebra. Fala sério, quem usaria aquilo? A mulher tinha cabelos e olhos também prateados, e a pele, branca como leite, parecia ter recebido uma camada de purpurina, pois também brilhava. Seu rosto era arredondado como uma bola e um sorriso branquíssimo brotava de seus lábios. Era um sorriso enorme, completamente disforme ao seu rosto. Ela segurava uma adaga no pescoço de Sophie, que tinha lágrimas rolando de seus olhos azuis. Suava loucamente e parecia imóvel como uma estátua. Eu não sabia se ela estava petrificada, ou então estava paralisada de medo.

— Hahahahahaha. - riu a mulher prateado, correndo um dedo magro e pálido como um osso pelo rosto de Sophie.- Essa menina é muito nova. Bonitinha, porém terrivelmente inexperiente. - Inexperiente? pensei. Se Sophie era inexperiente eu era o que? - Pensa que o Mundo atrás destas barreiras de proteção é completamente bárbaro e inútil. Pobrezinha. Mas, eu preciso dela. Corajosa, leal, forte e... ah! O que temos aqui? Uh, uh! A linhagem dela é real e inteiramente de Fogo. Nossa, esse é um tipo de vocação raro. E ela escolheu ser combatente! Uh, sem dúvida é uma mulher de coragem.

Eu estava pasma. Uma louca passava um dedo pelo rosto de Sophie e de repente sabia de tudo sobre ela. Josh estava espumando de raiva e com os punhos cerrados, parecia prestes a dar um soco em alguém. E eu esperava que não fosse em mim, lógico.

— Josh - sussurrei, desviando sua atenção da mulher prateado, que parecia prestes a devorar Sophie com os olhos. - Pegue. - olhei de soslaio para o chão, do outro lado do bosque, aonde provavelmente Sophie havia tentado lutar. Josh pareceu entender e saiu correndo. Seria um ato heroico se ele não tivesse pegado a espada e corrido para os arbustos. Mas eu vi sua sombra atravessar o campo atrás da mulher, então ele devia estar querendo atacá-la por trás.

— Quem é você? - perguntei, cautelosa, estreitando os olhos.

— Ah, Anne querida. - responde ela, sorrindo de forma doce - Você está tão grande, meu amor.

Eu cambaleei. Meu olhar se foi de "Absoluta raiva" para "Não estou entendendo nada" e eu não gostei disso. Forcei minhas pernas a me obedecerem e dei um passo vacilante a frente.

— O que disse? - perguntei.

— Oh. - disse a mulher, com compaixão nos olhos por um momento. - Acho que seu pai não lhe contou não é? Sinto muito, minha querida. Eu nunca iria te machucar, mas é preciso que você venha comigo.

— Eu nunca iria com você! Por que acha que eu iria com você?

— Talvez porque eu sou sua mãe?

O que ela havia dito? Minha... minha mãe... era aquilo? Não, não, não podia ser. Era óbvio que não. Eu fraquejei e minha pernas me traíram. Caí no chão de grama molhada.

— Você não é minha mãe. - falei, nervosa, me levantando.

— Oh, é claro que não. Não nesta vida pelo menos. Há cinco mil anos atrás, eu tive uma filha. Mas ela foi dada como sacrifício para separar os malditos feiticeiros da Luz dos das Trevas. Eu invoquei o poder da imortal Lua e canalizei seu poder para me vingar dos que mataram minha pobre bebezinha. Tentei trazer minha filha de volta dos mortos mas, Hanker nunca deixaria alguém voltar. Mas ele concedeu uma bênção. Minha filha sempre volta à vida, não importa quantos anos passem. Infelizmente, os Feiticeiros da Luz matam minha pobre criança se ela for Filha das Trevas e vice-versa. Você teve sorte, sabe. Você é filha do rei da Cidade da Luz, e ele nunca irá deixar ninguém machucá-la. E a mãe que lhe carregou por nove meses na barriga também não deixaria. O povo dela não irá te fazer mal algum. Então você está protegida, por dois povos. E amaldiçoada por duas profecias. Oh, coitada da minha princesinha.

Tive certeza de que iria cair novamente daquele penhasco. E se não caísse, provavelmente eu me atiraria de lá de cima. A minha mãe era ela, mas não era ela? Como assim? Protegida por dois povos? Amaldiçoada por duas profecias? Isso não poderia ser real. Não, não era real. Eu devia estar sonhando. Só podia estar sonhando. Eu não tinha mãe e pai e provavelmente estava sonhando com tudo aquilo. Acordaria com uma febre altíssima e Martha não me deixaria ir a escola. Então ela pediria a Jessie e Mary que me dessem a lição de casa que eu havia perdido e elas aumentariam a porcaria da lição, me fazendo ficar a noite inteira copiando deveres e resmungando pragas contra aquelas duas. Mas eu estaria segura.

— O que você está dizendo? - berrei.

— Que sou a mãe do espírito que habita em você, garota detestável. Minha pobre Luna.

Luna. Ed havia mencionado isso, antes de tudo aquilo, quando eu ainda estava na escola. Luna, era a filha daquela mulher louca e prateada. Ela havia canalizado os poderes da Lua para vingar-se daqueles que haviam feito mal a sua filha. E ela estava dizendo que eu era Luna? Então porque raios, havia me chamado de Filha do Mal? Se eu era tão má assim... Meu cérebro deu um nó. Eu não conseguia pensar nem dizer nada. Felizmente, não precisei. Josh atacou nesta hora. Gritou e se jogou em Sophie, para separá-la da mulher. Eu só observei enquanto a mulher dava um passo para o lado e Josh caía no chão, puxando a mão de Sophie. Tudo parecia em câmera lenta. Josh gritava meu nome, mas eu não ouvia. A mulher ria, contorcendo-se, ficando menor, e cada vez mais apertava a mão de Sophie. Josh ainda puxava. A mulher em um clarão ofuscante desapareceu. Sophie foi puxada com força por Josh. Ela caiu em cima dos braços dele, que ia deslizando para baixo. E tudo ainda parecia em câmera lenta. Eu fiquei parada, enquanto via formas estranhas se moverem para lá e para cá. Sombras escuras que pareciam espíritos passeavam pelo Vale, rindo da boa sorte. Alguma coisa transparente queimava bem atrás de mim. Foi aí que me liguei. A barreira de proteção estava caindo. Por isso Ed estava batalhando. Por isso não deixavam meu pai em paz. O Vale da Luz estava sendo atacado. E me liguei em mais uma coisa.

Era por mim que eles procuravam.


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Notas finais do capítulo

Comentem, favoritem mas não esculachem. Se quiserem ter o nome lá em cima (lugar de honra) me mandem um e-mail ou comentem aqui msm pra dizer o que acham da história!
estertg1099@gmail.com



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