Quando acordei mais tarde, estava finalmente descansada. Não pude obviamente parar de pensar em Sherlock. Porque isso estava acontecendo comigo? Como se já não bastasse a situação pela qual eu estava passando...

Saí do quarto e andei cambaleando, ainda com sono, pela casa. Achei estranho o fato de não haver ninguém, incluindo a Sra. Hudson.

"Olá? Há alguém em casa?" Perguntei para o nada. Obviamente se não havia ninguém, não haveria resposta alguma.

"Então você finalmente resolveu aparecer" Uma voz feminina disse vindo do quarto de Sherlock.

No início achei que com quem quer que essa pessoa estivesse falando, não era comigo, mas me lembrei que estava sozinha. Por mais que estivesse com medo de ser possivelmente atacada por um maníaco, fui em direção à voz.

Ao contrário do que eu estava esperando, havia uma mulher, talvez dez anos mais velha que eu sentada em uma poltrona tomando uma xícara de chá.

Ela tinha cabelos castanhos presos em um elegante penteado alto. Sua pele era bem pálida e possuia olhos castanhos quase verdes que analizavam cada movimento que eu fazia.

"O que faz aqui?" Perguntei, suspeita.

"Ora, mas isso não é forma de tratar velhos amigos" Respondeu com um sorriso. Franzi as sobrancelhas.

"Não te conheço. Não é minha amiga." Ela depositou a xícara na mesa ao seu lado.

"Ah, mas conheço Sherlock a anos. Então isso nos torna ao menos conhecidas, não? Já que você praticamente não desgruda mais dele. Agora entendo o porque. Você é adorável."

Ela fez um pequeno gesto com a mão indicando que eu deveria me sentar de frente para ela em uma cadeira. Depois de pensar se iria ou não me arrepender de conversar com ela, resolvi me sentar.

"Sou Irene Adler"

"Ainda não me respondeu o que quer comigo"

"Queria apenas conhecê-la. Ando observando Sherlock e seu fiel escudeiro John Watson e percebi que eles passaram a ter a companhia de um jovem rapaz. Não demorou muito para eu descobrir que o rapaz era você"

Cruzei meus braços, e a olhei confusa.

"Estava nos espionando?"

"É meu trabalho."

"Não ligo para seu trabalho, não gosto que me espionem."

Ela se esticou um pouco para frente em sua cadeira.

"Realmente adorável." Acariciou minha bochecha. Bati em sua mão para que se afastasse.

No mesmo momento, ouvi o som da porta principal da casa se abrindo. Irene se levantou de sua cadeira e ajeitou o vestido. Eu ao mesmo tempo me levantei também.

"Bom, está na hora de eu ir embora. Foi ótimo conhecê-la Senhorita Phillips, espero que nos encontremos novamente em breve." Disse. Antes de sair completamente, ela parou.

"Queria apenas avisá-la...Sherlock não é um homem de romance. Não se iluda" Sorriu novamente e foi embora.

Pude ouvi-la descendo as escadas e saindo pela porta. No mesmo momento, Sherlock e John entraram correndo no escritório.

"Cordelia, você está bem?" Perguntou meu primo. Olhei para ele confusa.

"Sim, estou, porque não estaria?"

"Você sabia quem era aquela mulher que estava aqui?"

"Hum...Irene Adler?" Perguntei incerta.

Os dois homens concordaram com a cabeça.

"E o que isso tem a ver com a minha segurança?" Perguntei.

"Irene Adler é uma das mulheres mais perigosas e enigmáticas que existem." Respodeu Sherlock.

"E como ela entrou?" John perguntou. Sherlock apenas deu de ombros.

"Arrombou a fechadura."

Olhei para ele assustada. Quer dizer que era tão fácil assim entrar na casa.

"E o que ela queria comigo?" Perguntei.

"Difícil saber..." Holmes continuou.

A campainha tocou, e a Senhora Hudson, que também havia voltado atendeu.

"Rapazes, é o inspetor" Chamou do andar de baixo.

John, Sherlock e eu descemos as escadas rapidamente, encontrando no hall principal o Inspetor Lestrade e um outro senhor que eu nunca havia visto na vida.

"Ao que devo o desprazer de sua visita?" Perguntou Sherlock, rudemente.
Lestrade revirou os olhos.

"Esse homem trabalha na Central News Agency. Ele disse que receberam uma carta do suposto serial killer"

"Deixe-me vê-la." Holmes se aproximou do senhor, que tirou um pedaço de papel do bolso do paletó.

Sherlock passou um tempo analizando a carta. Me debrucei sobre seu ombro para conseguir ler o papel. Separado do resto do texto, estava escrito um título. Dear Boss.

Li tudo e senti meu corpo gelar.

"Ele usou sangue para escrever?" Perguntei, sentindo calafrios. Sherlock cheirou um pouco o papel e o olhou de perto.

"Temo que sim." Bufou.

"E ele irá atacar de novo?" John continuou. Nem havia percebido que ele estava do outro lado de Sherlock lendo a carta também.

"Sim" Concordou.

Virei para Lestrade.

"O que ele quis dizer com 'A polícia acha que me pegou'?" Perguntei.

Lestrade coçou o pescoço.

"Temos uma lista de suspeitos. Mas pelo visto, nem chegamos perto"

"Agora que temos a caligrafia do criminoso e uma carta com suas impressões digitais, estamos evoluindo...não é?" Perguntei, incerta.

John concordou com a cabeça.

"Lestrade, aumente a patrulha em Whitechapel, não deixe nenhuma rua sem vigia. Ele irá atacar novamente nos próximos dias." Sherlock saiu correndo para seu quarto/laboratório e se trancou lá dentro.

Pelo visto esse caso estava longe de ser solucionado.