Infinite Arms escrita por Stardust


Capítulo 15
Seus olhos verdes me encaravam


Notas iniciais do capítulo

Postei ♥ desculpem-me pela demora



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– Quem realmente é Fabrizio? - ele riu antes de colocar a garrafa na boca. - O que realmente quer saber?

Acomodei-me no banco confortável sentindo minha perna encostando levemente na sua. O tempo estava começando a ficar menos frio, mas mesmo assim sentia arrepios toda vez que o vento passava pela minha pele.

– Tudo. - observei-o colocar o terno do meu lado, como se dissesse que estaria ali se eu precisasse. - Conte-me sua história. Não sei nada sobre você.

– Você sabe que eu nasci aqui na Itália.

– Isso não diz nada sobre você. - fitei-o.

– Não tenho saída, certo?

Fiz que sim com a cabeça. Fabrizio pediu duas bebidas para nós e logo voltou a olhar pra mim. Eu me sentia animada, apesar da leve tontura que estava voltando. Pensei em parar de beber, mas algo naquela madrugada me fazia ficar acordada.

– Sou Fabrizio Bellini. - sorriu. - Tenho 25 anos, trabalho em um museu, gosto de física e nasci na Itália. - fez uma cara entediante.

– Ah, vamos lá. - encorajei-o.

– Perdi meus pais com cinco anos. - senti meu coração apertar. Enquanto falava, olhava para o céu, onde as estrelas brilhavam incrivelmente. - Um acidente de carro. As vezes desejo me lembrar melhor deles, mas minhas lembranças estão apenas nas fotos. Eu era muito novo.

– Sinto muito. - fui sincera.

– Obrigado. - sorriu. Seus olhos ganharam um tom triste.

Procurei sua mão e segurei-a. Seus olhos voltaram a ficar como sempre e senti um alívio. Odiava lidar com a morte, mesmo que tenha acontecido há muito tempo. Era sempre algo que me deixava fraca.

– Por isso você mudou de país?

– Tive que ficar com minha tia. Meus avós estavam muito doentes para cuidar de mim. - sorriu levemente, olhando para nossas mãos entrelaçadas.

– E sobre aquele brasão que você ficava olhando lá no quadro? - soltei sua mão, sentindo que a segurei por tempo demais.

– É da minha família. Eu usava roupas de bebês com aquele símbolo. Vê-lo foi estranhamente reconfortante. - riu. - Lembro que foi meu desenho preferido durante toda a minha infância, mas depois de algum tempo eu me senti sozinho e as coisas passaram a não fazer tanto sentido. Não me achava mais um completo italiano, meus pais estavam mortos, minha tia me sustentava, mas não era nem de perto a figura de uma mãe. - olhei para minhas mãos, em cima das minhas pernas. - Mas nem tudo foi tão ruim assim na minha vida. - riu.

Esperei que dissesse algo, mas seu silêncio consumiu o lugar.

– Agora é sua vez. - me olhou.

– Minha vez? - fiquei surpresa. Não era boa em falar de mim mesma. - Você até sabe sobre minha alergia com frutos do mar. - ri.

– Isso não é tudo. - seu olhar era desafiador.

– Sou Allie Marsh, tenho 23 anos. Sou viciada em café.

– Já sabia.

Mandei um olhar confuso.

– Uma pessoa que vai na máquina de café pelo menos cinco vezes na manhã não pode ser normal. - justificou.

Empurrei-o.

– Eu sou normal!

– Ok. - foi irônico. - Continue.

– Minha banda preferida é Band Of Horses e odeio quando me roubam álbuns dessa banda. - olhei-o brava e me deparei com seu olhar divertido. - Minha adolescência foi normal, mas eu tinha que lidar todo dia com coisas difíceis.

– O quê? - perguntou ao ver que eu havia ficado calada.

– Fobias e TOC. - disse mais baixo do que o normal.

Fabrizio riu e me fez rir também. Naquele momento parecia engraçado, mas era realmente perturbador.

– Hodofobia. Fobia com viagens, estradas. Era terrível. Eu tinha aquela estranha sensação que iria morrer toda vez que ouvia falar em ir em cidades vizinhas. Tinha vontade de viajar, mas sempre deixava de pedir isso para meus pais.

– Você sempre foi meio louca.

– Ah, cale a boca. Era assustador ter medo de tantas coisas.

Parei pra pensar. Adolescentes são realmente estranhos.

– Sentiu medo de enfrentar a perigosa estrada comigo? - sua voz saiu séria, mas notei sarcasmo.

– Não pela estrada, mas por você.

Ficamos em silêncio enquanto pegávamos nossas bebidas que por sinal haviam demorado um pouco. Senti o líquido gelado na minha boca e o gosto de morango com vodca. Gostava daquilo.

Por algum tempo permanecemos conversando sobre bobagens de quando éramos crianças e adolescentes. Não tocamos no assunto do meu noivado e nem sobre a vida amorosa de Fabrizio. Parecíamos evitar esse tipo de conversa.

Já estava no terceiro copo e ria de qualquer coisa. Fabrizio tentava ficar sério, mas nós já estávamos conversando como se nos conhecêssemos há muito tempo. Já era bem tarde e no dia seguinte deveríamos procurar Aronne e continuar o trabalho, mas não estávamos importando com nada.

Pensei em Lucy e Jake. Provavelmente estavam bêbados em algum lugar.

– Isso é muito bom. – Fabrizio olhava seu copo. A bebida laranjada estava pela metade.

– Acho que deveríamos parar. – falei.

– Ah, Allie! É Roma! – abriu os braços, parecendo um louco.

– Tudo bem. – concordei rápido demais.

Levantei, andando até perto de uma piscina iluminada. Imaginei o motivo de ter uma piscina em um bar e não achei resposta. Sentei perto da fonte que soltava água junto de uma luz roxa. Fabrizio ficou em pé ao meu lado.

– Sente saudades de Alan?

Olhei-o assustada. Não esperava ouvir o nome de Alan naquela noite e me sentia culpada por não pensar tanto nele.

Seus olhos verdes me encaravam em busca de resposta.

– Eu não sei. – disse olhando para baixo. – Realmente não sei.


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Notas finais do capítulo

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