Alvo Potter e o Segredo do Cristal escrita por T M Forte


Capítulo 7
III - Divertimento infame - Parte 3


Notas iniciais do capítulo

Oieee! (13/12/16)
Meu Deus, quanto tempo!! Estava morta de saudades de tudo isso aqui. Estou, sinceramente, emocionada.
Eu sei, eu sei. Sumi mais de um ano, não dei explicações, abandonei mesmo e sim, eu sou uma bosta de ser humano. Peço imensas desculpas por causa disto, porém, cá estou eu.
Pessoal, 2016 foi uma grande correria na minha vida: último ano do Ensino Médio, problemas amorosos (e vamos colocar uma grande ênfase em PROBLEMAS porque eles foram gigantescos), TCC, ENEM, faculdade, seguir com minha vida... Ai, eu realmente dei uma surtada.
De fato parei de escrever durante todo este tempo, mas nunca deixei de criar. Sempre ideias novas surgindo aqui e ali, o problema é que eu estava muito desanimada, mas, nesta última sexta-feira voltei ao maravilhoso mundo de Harry Potter.
Sim, eu vi Animais Fantásticos. O filme é espetacular e foi o que me incentivou e inspirou a voltar, tanto que terminei essa parte, depois de parada mais de um ano, em apenas dois dias.
Portanto, espero que possam me perdoar por ter deixado esse meu espacinho tão querido e vocês, meus queridos leitores.
Desta vez, não prometerei postagem. Vai ter quando tiver e é isso. Não me matem, por favor.
2017 não será fácil, também. Primeiro ano na faculdade de Direito, vou tentar pegar estágios e, bom, vai continuar uma loucura, mas sempre estarei escrevendo mais e mais para vocês. Não se preocupem
Observações dadas, vamos à parte três do terceiro capítulo.
Espero que gostem! Não se esqueçam de comentar/favoritar/recomendar a história porque isso me incentiva (e muito) a continuar!



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Os primeiros convidados começaram a chegar. Cada um mais diferente que o outro e alguns, que trajavam acessórios estranhos, chamou a atenção do menino, como o senhor que usava um chapéu feito de latinhas usadas de refrigerante de cola que conversava com a moça, estranhamente familiar, que tinha uma rolha de cerveja amanteigada pendurada em cada orelha, como se fossem brincos, em um canto do aposento.

Alvo, distintamente, reconhecia um rosto aqui e ali ao tentar chegar do lado de fora da casa, passando por entre o aglomerado de pessoas que insistiam em papear em um lugar tão pouco espaçoso como a sala de estar quando existia um jardim inteiro para que eles fizessem o que tivessem vontade.

Se o pequeno Potter não soubesse que o Sol havia acabado de ser pôr, poderia afirmar com todas as suas forças que ele ainda brilhava no céu quando finalmente conseguiu chegar do lado de fora d'A Toca. A tenda branca emitia uma luz brilhante, um tanto forte e acolhedora graças ao gigantesco lustre em seu centro e as cortinas de fios com os cristaizinhos em forma de coração que rebatiam sua luminosidade. Violinos, violoncelos, um pequeno piano, a bateria vermelha, saxofones e flautas brilhantes tocavam uma melodia calma e ambiente sem precisar que alguém os manuseassem ao flutuar sobre o palco em meia lua.

Ao ir se aproximando da mesa que Rosa se encontrava, Alvo notou bandejas prateadas voando para lá e para cá, carregando taças com vinho ou espumante, copos com água ou com um líquido âmbar – o menino reparou que era o mesmo fluído que seu pai tomava, sentado na poltrona da sala de estar de sua casa, depois de um dia estressante no trabalho – e pedras de gelo dentro de um pequeno balde prateado mas, assim que olhou mais atentamente, notou que cinco fadinhas, que trajavam uniformes de garçom e que emitiam uma pequena luz azulada, menores que seu polegar, as carregavam sem nenhuma dificuldade de um canto ao outro enquanto uma sexta encontrava-se sobre o objeto de prata para servir os convidados, anotar seus pedidos e guiar as outras abaixo dela.

Alvo passou por uma Victoire irritada, porém incrivelmente linda – seus cabelos loiro-prateados estavam presos em um sofisticado e alto rabo-de-cavalo, vestida com um comprido vestido azul com pedras brilhantes no busto, que realçavam lindamente seus seios, e a maquiagem preta em volta dos olhos azuis angelicais, agora cerrados de raiva, lembravam ao menino os olhos de um gato prestes a atacar –, que, com os braços finos cruzados sob o peito, mirava o namorado, que também se encontrava de maneira elegante com a blusa social amarela sob o colete sem mangas preto, as calças jeans rasgadas e as botas marrom-amareladas, com uma expressão incrédula no rosto, e que dizia:

— Eu não acredito que você não reparou que eu cortei o cabelo! – exclamou, erguendo ligeiramente os ombros.

Teddy jogou as duas mãos para trás de sua cabeça, agarrou a própria nuca e deu um longo suspiro antes de pedir:

— Vic, por favor, entenda o meu lado, meu amor. – O rapaz, que agora estava com os cabelos cor de turquesa que, aos poucos, ganhavam uma tonalidade avermelhada, tocou seus braços levemente, fazendo que ela deixasse escapar um pequeno sorriso sem dentes – Como você espera que eu repare no seu cabelo quando tem tudo isso — com as mãos e sem tocar na namorada, Teddy traçou todas as linhas de seu corpo, o que pareceu não agradar em nada a loira pois o queixo da mesma caiu – pra eu olhar? – E deu um sorriso meigo, agindo com se acabar de fazer o elogio mais belo à amada.

Dégoûtant! — gritou ela ao fechar os punhos do lado do corpo e marchando em direção a casa, com Teddy gritando atrás dela: “Vic, querida, espera! Não foi isso que eu quis dizer! Vic!”. Pelo pouco que Alvo sabia de francês, poderia jurar que a prima acabara de chamar o namorado de “nojento” ou “repugnante”.

Rosa conversava com Fred II, aos sussurros, sentados um enfrente ao outro em uma das quarenta mesas. Alvo conseguiu ouvir o moreno dizer algo como “... só tem que tomar cuidado pra que ninguém veja onde você vai escondê-las” antes de Rosa acenar com a cabeça, concordando.

— Oi – cumprimentou ele ao se aproximar dos dois.

— Al, advinha! Fred vai nos ajudar – contou a ruiva, entusiasmada. A prima puxou a cadeira ao seu lado e indicou a mesma com um aceno de cabeça, convidando Potter para se sentar. Alvo aproveitou para analisar um pouco melhor a aparência dela: Rosa usava uma blusa de manga comprida roxa, shorts cinza feito de tecido e com botões prateados, meia-calça e botas pretas, a parte da frente de seus cabelos volumosos estava posta para trás por uma tiara preta, que fazia os mesmos parecerem menos rebeldes. Era, realmente, uma menina muito bonita. – Escuta o plano.

Fred, ajeitando a gola de seu suéter quadriculado, aproximou seu rosto do deles, assim que o primo se acomodou, e começou:

— Seguinte, eu fiz um melhoramentozinho nas Orelhas Extensíveis do papai. Vocês vão colocar uma destas – Fred puxou uma argola prateada de baixo da mesa, na qual estavam penduradas cinco orelhas presas por fiozinhos quase transparentes que saíam de uma sexta maior, que mais lembrava uma concha grande de mexilhão – em baixo de cada uma das mesas. Quando o Tiago sentar em uma delas, é só puxar com força a cordinhas das outras que elas voltarão para a sua mão e vocês vão poder ouvir tudo por esta daqui – e apontou para a maior das orelhas antes de voltar a escondê-las sob a toalha branca, rapidamente.

— Certo – concordou Rosa.

— Espera, espera – interrompeu Alvo, negando com a cabeça. Algo lhe incomodava incessantemente – Por que você está ajudando a gente, Fred? Por que vai nos ajudar a espionar o Tiago? – questionou, erguendo uma das sobrancelhas. Rosa mirou o primo mais velho, surpresa. Parecia ter se esquecido da grande amizade que Fred II e Tiago Sirius tinham, muito mais do que primos.

— Tenho dois motivos: Primeiro – ele estendeu o dedo indicador diante dos mais novos antes de continuar –, aquele macaquinho que você chama de irmão está cheio de secredinhos comigo e, acreditem, ele não me esconde nada— Fred fez questão de dar ênfase na palavra “nada” com um movimento brusco com a cabeça em direção à mesa –, então, quero saber qual é a dele tanto quando vocês – disse, dando um sorriso singelo antes de erguer o dedo médio, mostrando-lhes o número dois –. Segundo, minhas orelhas ainda não tinham sido testadas, são apenas um protótipo e, se caso der alguma coisa errada, a culpa não vai estourar em cima de mim. Capiche? – Os meninos concordaram com a cabeça, rapidamente – Certo, eu trouxe duas amostras. Precisamos escolher bem onde colocá-las, de preferência onde tenha algum conhecido. – Ele passou outra argola, esta dourada, para Rosa, discretamente, pôr sobre a mesa. Aquelas orelhas tinham um tom de pele mais escura do que as que o primo tinha mostrado anteriormente. – Rosa, coloca estas naquelas mesas à direita, eu vou colocar nas mesas da esquerda e, depois disso, vocês dois se viram sozinhos.

— E o que eu faço? – quis saber o pequeno Potter.

— Fica aqui segurando as emissoras. – Rosa colocou a maior das suas orelhas na mão de Alvo, que se sentiu repentinamente enjoado ao segurar aquela coisa que tinha a mesma consistência de uma geleia de morango. Fred também colocou a outra dentro de sua mão, um pouco antes dele sussurrar “Não esqueça dos números” para a prima, que concordou com a cabeça ao olhar para tudo a sua volta antes de se levantar, mandando: – Vamos!

Ambos sumiram entre a quantidade razoável de pessoas que andavam para lá e para cá. Alvo largou-se na cadeira, dando um longo suspiro.

O garoto sentia-se um pouco mal por espionar o irmão, mas sabia que o mesmo nunca falaria a verdade para ele se o confrontasse diretamente, até estaria sujeito de tomar alguns tapas do mais velho.

Alvo observava, distraidamente, a roupa que a moça dos brincos de rolha trajava – um vestido branco, que chegava até a altura de seus joelhos, de estampa florida, colares e pulseiras de contas coloridas (algumas com pingentes, penas e até pedras penduradas) e as botas de cowboy com um pequeno salto – enquanto a mesma ria e conversava com sua mãe, porém, seu estado de transe foi cortado quando um amontoado de cores surgiu em sua frente, acompanhado da menina que o vestia.

As duas alças do vestido eram fitas, uma em cada ombro, simples de uma cor azul-celeste, a parte do tronco estava coberta por tiras e mais tiras pretas, que deixavam pequenos quadradinhos da sua pele branca e cheia de sardas loiras à mostra, e a saia leve, que chegavam até seus pés, era composta por véus que variavam entre as cores verde, azul, vermelho e roxo. Alvo simplesmente descreveria alguém que usasse aquele traje como um “arco-íris ambulante”. Os cabelos, tão loiros que quase chegavam a ser brancos e que ficavam cada vez mais cacheados a medida que se aproximavam das pontas, estavam presos em um rabo-de-cavalo alto por um laço negro.

— Sua aura está azul – disse a menina. Sua voz era calma (calma demais, na verdade) e um pequeno sorriso sem dentes surgiu no rosto despido de qualquer vestígio de maquiagem ao pender a cabeça um pouco para a direita, observando-o com os grandes olhos azuis com pintinhas verdes.

— Desculpe – pediu ele, cerrando as sobrancelhas, incerto daquilo que tinha ouvido –, como disse?

— Sua aura – repetiu a loira, puxando a cadeira e se sentando ao lado de Alvo. – Azul.

— Ahn... Obrigado? – O garoto realmente não sabia do que a garota, que tinha um ar um tanto estranho à sua volta, estava falando. Olhou de um lado para o outro, procurando a prima que insistia em deixá-lo sozinho com ela.

— Não foi um elogio. Aura azul significa honestidade e temperamento agradável, mas, na área da sua cabeça – a loira aponta para sua própria nuca ao completar: –, está um tanto cinza.

— Certo... – Alvo observava a garota de maneira irônica, já que as palavras que saiam de sua boca não faziam o mínimo sentido para ele.

— Isso significa falta de coragem e desconfiança. Faz sentido já que você está espionando seu irmão, mas são seus primos que estão colocando essas coisas – ela apontou, por cima da mesa, para o colo do menino, onde o mesmo segurava as orelhas emissoras – embaixo das mesas.

Alvo paralisou, com os olhos arregalados em direção à ela. Como poderia saber daquilo? Não havia falado sobre aquele assunto com mais ninguém sem ser Rosa e Fred e tinha certeza que eles não disseram nada, também.

— Do-do que es-está fa-fala-lando? – gaguejou ele, tentando manter a calma, já suando frio.

— Olhe – disse ela, apontando para as orelhas emissoras em suas mãos –, se reparar bem, elas suam porque é pele e pele transpira – ia dizendo a menina com a voz calma e lenta – e o suor se espalha por esses fios e eles acabam brilhando na luz. Veja – apontou para algo atrás de Alvo, que virou rapidamente, comprovando o que ela dizia: todos os cinco fios que saiam das orelhas gigantes brilhavam como diamante sobre a luz. – Precisa tomar mais cuidado, sua mãe quase percebeu. Deveria mantê-las no chão, ninguém perceberá.

Alvo estava boquiaberto, como não percebera como aquilo chamava tanta atenção? Poderia ter sido pego e todo a ideia de Rosa e a ajuda de Fred seriam jogados ao vento.

O menino estava prestes a perguntar para a loira o porquê dela o avisar sobre aquilo quando um senhor de bengalas foi passar por onde uma das linhas cortava a passagem. Alvo apanhou a linha em desespero e estava pronto para puxá-la e abrir o caminho, quando a garota ao seu lado o parou.

— Espere – pediu ela, segurando sua mão para que não fizesse o movimento –, olhe – e apontou novamente. Com a aproximação do velho, a corda brilhante, na área que ele passaria, foi se tornando cada vez mais clara até desaparecer completamente e, assim que o senhor se foi, ela tornou a surgir.

— Mas como? – questionou-se Alvo, incrédulo.

— Acredito que seu primo tenha as mergulhando em óleo de espinho de Urubanan. Então, não era suor e sim, óleo — sugeriu ela, ainda de mãos dadas com Alvo, que a mirou sem entender. – O Urubanan é uma espécie de pássaro espinhento, seus espinhos servem apenas para atrair uma companheira, mas também produzem um óleo que reveste seu corpo assim que há a aproximação de algum ser de outra espécie e esse óleo faz com que ele desapareça e reapareça assim que esteja fora de perigo novamente – contou, muito mais animada e rapidamente desde que se iniciou a conversa.

Ela deu um sorriso radiante para ele, um sorriso que fez a pele de suas bochechas formigarem. Nunca ficara tão próximo de uma garota sem ser alguma de sua família quanto estava agora.

— Quem é você? – perguntou Alvo, imensamente agradecido e constrangido por saber que suas bochechas estavam ficando vermelhas.

— Uma amiga. – Seus olhos azuis com pintinhas se encontraram com os verdes dele. Ela tinha um olhar gentil e doce, parecia nem ser real – Rosa está voltando, preciso ir. – E, dizendo isto, ela se levantou e desapareceu por entre pessoas que chegavam daqui e dali, perambulando pelo gramado.

— Pronto – exclamou Rosa, jogando-se na cadeira. – Tudo certo por aqui? – perguntou, apanhando um copo de água gelada de uma das bandejas que passava.

— Sabia que óleo de espinho de Urubanan faz as coisas desaparecerem? – indagou Alvo, sem pensar.

— Luluba quem? – questionou, quase cuspindo sua água – Do que você está falando? E por que está todo vermelho?

— Ahn, esquece. Viu o Tiago em algum lugar? – Alvo sentia seu estômago queimar de ansiedade, nervosismo e fome. A primeira coisa que faria assim que o plano fracassasse, e ele estava convicto daquilo, pediria um grande lanche de calabresa com queijo para as fadinhas.

— Passei por ele e pela tia Gina quando estava colocando as orelhas – contou, antes de levar novamente o copo gelado até os lábios. – Ela disse que não quer que ele e o Zachary fiquem dentro de casa porque a vovó...

— Zachary está aqui? – demandou o menino em bom som, atraindo alguns olhares curiosos em sua direção.

Alvo não esperou uma resposta, ergueu-se de sua cadeira enquanto seu olhos caçavam o irmão e seu amigo. Pelo que o menino havia lido na carta endereçada a Tiago, Zachary parecia um tanto aflito com o fato de Neville, seu pai, saber que ele escondia um determinado envelope, mesmo não sabendo que tinha sido a pedido de seu melhor amigo e, como a mensagem mesmo dizia, o padrinho de Alvo faria o filho mais velho pedir desculpas pelo ocorrido.

Desculpas para quem, na verdade? questionou-se. Afinal, se o envelope fosse para Harry, Neville a teria despachado para o Ministério o quanto antes e não o guardaria para entregar pessoalmente, não é? A menos que tenha sido algo mais sério e, como professor da escola de magia, deveria tratar o assunto com mais seriedade, mesmo constrangendo seu filho de alguma maneira.

Foi como se um holofote estivesse sobre a cabeça dos dois meninos quando os encontrou. Zachary, apesar de não ser tão alto quanto Tiago, tinha os cabelos negros brilhosos e espetados, além de trajar uma blusa vermelha e branca, o que chamava bastante atenção já que todos, em sua grande maioria, trajavam cores neutras. Alvo os observou, próximo do palco, e nenhum dos dois parece muito feliz: Tiago tinha o queixo duro e os braços cruzados sobre o peito enquanto disparava algo que pareciam não ser palavras bonitas para um Zachary cabisbaixo, que esfregava a mão direita pela nuca. Tiago, irritadiço, agarrou o braço do amigo e o saiu puxando para o centro do salão, em direção à uma das mesas.

— Rápido, rápido! – gritou o menino, não perdendo nenhum movimento do irmão – Ele está ali, Rosa! Os dois estão ali! Na mesa! – Alvo não conseguia se conter, dava pequenos pulinhos virando para a prima e aprontando para onde Tiago e Zachary se reuniam.

— Alvo, cala a boca! – mandou a ruiva, puxando o primo para que sentasse novamente – Vão pegar a gente, seu burro! – Assim, Rosa ergueu-se calmamente e mirou em direção de onde o primo havia apontado anteriormente e logo se sentou – É uma das orelhas do Fred – anunciou, indo para debaixo da mesa e levando Alvo consigo pela mão.

Sobre o objeto de madeira e a toalha, o ar estava quente e seco. Mal podiam respirar ali.

Rosa apanhou a orelha emissora de pele mais clara da mão do primo e puxou todas as cordinhas, exceto a quarta.

Por alguns instantes, tudo ficou silencioso, depois, a voz de Tiago surgiu no ar dizendo: “... e eu falei para você colocar aquele negócio em outro lugar, Zachary!”. Sua voz era ríspida e alta, parecia irritado e inquieto.

— Olha só isso – disse Rosa, engatinhando para uma das beiradas da mesa e erguendo a toalha. Ela subiu um pouco sua blusa e dali tirou um pedaço de madeira fininha e cumprida.

— De onde você pegou essa varinha?! – indagou Alvo, exasperado. Não se importava muito em ser pego espionando o irmão, mas estar em posse de uma varinha roupada já era muito para ele. Seu corpo tremeu involuntariamente.

— Peguei do Teddy.

— Ficou doida?!

— Ele nem percebeu, tava muito ocupado se agarrando com a Vic! – e, dizendo isto, ela fez um pequeno movimento com o punho, torcendo-o de um lado para o outro, ao apontar a varinha para o aglomerado de pessoas e mesas a sua frente e, num piscar de olhos, tudo entre eles e o local onde Tiago se encontrava foi ficando turvo até sumir. Estavam olhando diretamente para o irmão de Alvo e ainda o podiam ouvir pela emissora. Alvo, sem acreditar, virou-se para a prima e abriu a boca – Antes que pergunte, vi esse feitiço em um dos livros da mamãe – sorriu a ruiva, olhando fixamente para Tiago e Zachary, ainda com a varinha apontada.

Alvo se permitiu dar um sorriso. Nunca conseguiria nada daquilo sem a ajuda de Rosa.

O moreno engatinhou para mais perto da beirada, se postou ao lado da prima e prestou atenção em tudo que o irmão e seu amigo diziam:

— E por que você deixa a sua irmã ficar mexendo nas suas coisas? – sibilou Tiago, com os olhos esverdeados queimando de raiva.

— Eu não deixo, Sirius, ela entrou quando eu estava tomando banho! A culpa não foi minha, que droga – lamentou-se Zachary. – Por que você não deixou aquela porcaria de carta nas suas coisas, hein? Papai está louco da vida comigo.

— Pra correr o risco de me ferrar igual você? Não, valeu. Se bem que eu seria muito mais inteligente e não deixaria o negócio no meu malão – ele rosnou as últimas palavras pelos dentes, cruzando os braços pro cima da mesa e virando o rosto para outra direção.

— Ah, cara, vai à merda – mandou o outro menino, começando a se enfurecer com o comportamento do amigo. – Eu fiz tudo que você pediu: entrei escondido no escritório do papai, peguei a carta e a escondi pra você, mas em nenhum momento você me disse um “obrigado”. – O menino tinha a voz rápida e cheia de rancor, como se desejasse dizer aquelas palavras há muito tempo.

— É isso que você quer, Zac? Um “obrigado”? – ironizou Tiago, voltando a olhá-lo – Bom, obrigado por acabar com todo o meu plano.

— Eu acabei com o seu plano agora? – perguntou Zac, de pouco-caso, abrindo um belo sorriso – Vamos lembrar que eu fui contra a porcaria desse plano desde o começo. Sempre disse que era muita maldade com o seu irmão.

O coração de Alvo parou assim que aquelas palavras chegaram aos seus tímpanos e Rosa virou-se, boquiaberta, em direção a ele. Tudo aquilo era por causa dele? Tiago Sirius havia aprontado uma brincadeira com ele mesmo na época em que permanecia em Hogwarts? Como seria possível?

— Escuta aqui – mandou Tiago, aproximando cada vez mais seu corpo do amigo, que recuava na cadeira –: a porcaria do irmão é meu e eu faço a porcaria que eu quiser com ele, entendeu? – Rosa tocou o ombro do primo. A palavra “porcaria” atingira seu peito como uma bala de canhão.

— Você é quem sabe, cara. – Zac se esparramou na cadeira, cruzando os braços sobre o peito e mordendo o lábio inferior.

— Alias, por que eu deveria me importa? – Tiago abriu o sorrio mais arrogante que conseguia antes de continuar: – Você foi pego, não eu. Não sou eu que estou ferrado, aqui.

— É... Na verdade... – começou Longbottom – Eu não fui totalmente sincero com você, Tiago...

— Que tá falando?

— Eu contei pro papai... Contei que a ideia foi sua... – disse por fim, fazendo uma careta.

— COMO É? – berrou o mais velho dos Potter, erguendo-se de seu lugar – COMO PÔDE FAZER ISSO COMIGO?! ISSO É TRAIÇÃO!

— Cala a boca, cara! – mandou Zac, puxando o amigo de volta pro lugar, que arrancou seu membro do aperto e depositou um soco forte no ombro – Ai! Qual o seu problema?

— Você é meu problema! – Tiago estava fora de si: puxava os próprios cabelos, socava o ar, batia os pés fortemente no chão e dava poderosos tapas sobre a mesa – Já pensou no que o meu pai vai fazer comigo quando descobri?!

— Desculpa, cara, mas eu não tive escolha. Ele ameaçou usar o feitiço Legilimens em mim. Ele ia entrar na minha cabeça, Sirius! – contou o amigo.

— Como você pode ser tão burro? ELE NUNCA FARIA ISSO! – gritou outra vez, batendo a testa na mesa – Papai vai me matar... – concluiu, sem se erguer.

— Meu pai está falando com a sua mãe lá dentro.

— Ótimo. Ela vai arrancar o meu couro e ele, me matar – lamentou-se o menino, mantendo a mesma posição.

— Talvez... – recomeçou Zac, tocando o ombro de Tiago, ainda meio incerto do que dizia ou não – Talvez você possa explicar... Sei lá... Dar um jeito...

Tiago Sirius deu outro tapa na mesa, fazendo o amigo saltar para longe dele, recolhendo as mãos. Os olhos do pequeno Potter estavam vermelhos, como se acabasse de passar horas chorando, mas se encontravam mais seco do que o deserto mais quente. Emanavam uma força ardente e assustadora quando, ao fuzilar Zachary Longbottom com eles, perguntou, com a voz mais calma, baixa e rouca que conseguia:

— Como vou explicar para a mamãe e o papai que eu roubei a carta de Hogwarts do meu irmão?

O corpo de Alvo moveu-se por extinto, batendo o crânio na mesa quando seu tronco se ergueu involuntariamente.

Minha carta? Minha carta de Hogwarts?! A mente dele queimava. Tanto por raiva, tanto por dor pela batida e tanto por não saber mais quais emoções sentir. Tudo em sua cabeça girava, talvez a pancada tivesse sido com mais força do que ele imaginava. Um forte enjoo iniciou-se no fundo de sua garganta e lágrimas quentes surgiram em seu olhos.

Como poderia ter feito isso aquilo com ele? Seu próprio irmão! Tiago, mais do que qualquer um, sabia de seu fascínio por Hogwarts e seu desejo, nem um pouco reprimido, de ir para aquele lugar junto de sua prima Rosa. O irmão mais velho sabia o quanto o menino ansiava pela chegada daquele pequeno pedaço de pergaminho, o qual, finalmente, realizaria um querer de infância e provaria para todos, até para si mesmo que, sim, ele era um bruxo.

Houve um estalo na parte direita de seu cérebro, sua consciência havia despertado: Um bruxo? É isso mesmo?! Santo Merlim, Alá, Jesus, batata voadora!! Somos realmente um bruxo!! Jamais duvidei da nossa capacidade, meu camarada! Agora, próxima meta de vida: fazer as bolas do Tiago irem parar no ouvido, aquele porco maldito!

O desejo de vingança cresceu em seu peito, muito maior do que jamais havia sentido antes. Alvo agarrou o gramado no qual estava ajoelhando e o apertou com toda sua força, que parecia bem maior do que ele próprio imaginava ter ao perceber que havia arrancado alguns pedaços de raízes aqui e ali, torceu os lábios com rigidez e, com uma súbita descarga de adrenalina, saiu de baixo da mesa e marchou em direção ao irmão, batendo os pés firmemente no chão.

— Eu vou matar ele! – anunciou, com os punhos cerrados ao lado do corpo e o olhar esbravejante.


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Notas finais do capítulo

— Hey! Olha eu aqui de novo!
— Gostaram do capítulo? Vamos, não tenha medo de deixar um comentário me dizendo o que achou. Eu não mordo. Juro!
— Não se esqueçam de comentar/favoritar/recomendar a história porque isso me incentiva (e muito) a continuar!
— Até logo!
— Beijos da autora estranha ♥