Luto Vermelho escrita por konako


Capítulo 3
Dor


Notas iniciais do capítulo

Último capítulo dessa pequena história. Espero que apreciem.



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Granny seguiu o traço fino do cheiro de Red – confundindo-se em um ponto da vila destruída em que seu vestígio simplesmente mudara de lugar, como mágica. A senhora imaginou, na clareza da manhã seguinte, que a ajuda pela qual desesperadamente pedira só deveria ter vindo de alguém escuro o suficiente para parar um lobisomem.

Não fora a Blue Fairy quem atendera ao seu choro desesperado, mas Rumpelstiltskin.

No fundo de seu peito, ela sabia. E mais fundo ainda, ela estava grata que pelo menos alguém ouvira aos seus soluçares tristes.

Encontrou Red no centro de uma floresta úmida de árvores opacas, quase cinzas. Ela estava deitada sobre a lama. Sangue, suor e sujeira cobrindo seu corpo. Mas o cheiro predominante era o da culpa.

Ela estava acordada. Seu rosto abatido só adicionava ao sentimento pesado que a envolvia.

Red estava transbordando agonia e tragédia. Novamente.

— Red. – Granny chamou baixo, ajoelhando-se ao seu lado e pondo sua besta no chão. – Red, temos que voltar. Não podemos mais ficar aqui.

Red não se movia. Não respondia aos braços da avó, que tentavam gentilmente puxá-la do chão. O corpo era mole ao toque.

— Red. Não podemos mais ficar. O vilarejo inteiro sabe que é você. Se lhe pegarem, isso não vai ser bom. Teríamos que fugir outra vez. Deixar tudo para trás.

Granny sentia que poderia começar a chorar a qualquer momento e a única coisa impedindo suas lágrimas de rolarem era falar com a neta. Ordená-la, fingir que não sentia a mesma dor que emanava da jovem.

— Quem sabe é melhor?

A voz de Red saiu rouca. De tanto uivar e rosnar e engolir. Quando Granny conseguiu ver seu rosto por detrás dos cabelos caídos, viu o sangue seco pintando seus lábios.

Isso a recordou a primeira vez que descobria a querida, ainda quando criança, desmaiada na neve depois de seu primeiro massacre, apenas aos treze anos.

Ela repeliu a memória. Seu choro insistiu novamente e ela lutou contra a fraqueza crescendo dentro de si. Granny precisava ser forte, por Red. Precisava fornecer à Red a coragem de se reerguer mais uma vez. De outro novo massacre.

Mas ela temia com honestidade que não houvesse nada que pudesse fazer. Pois na altura das circunstâncias, com Red já liberta de suas esperanças de viver uma vida humana – Ela temia que a menina fosse a única capaz de salvar a si.

E a incapacidade esfaqueou a avó.

— Quem sabe é assim que pode ser, uh? Se nós fugirmos novamente. Eu posso tentar esquecer tudo outra vez. E fingir que eu não cometi novamente uma atrocidade como essa. – Red não evitava o choro. Suas lágrimas caiam sobre um rosto pálido e inexpressivamente triste. A falta de pânico assustava Granny muito mais do que o completo desespero. – Eu posso tentar me convencer de que isso – Ela ergueu as mãos ensanguentadas – Não passa de um deslize mínimo e de que eu posso usar o lobo para fazer algo bom.

Red riu. A risada mais triste e fraca que Granny já ouvira.

— Ou eu posso me entregar. Eles me prendem e me deixam para apodrecer em uma sela, ou uma jaula, como eles bem acharem melhor. Qualquer coisa serviria. Ou melhor: Eles podem me condenar ao meu próprio crime. Quem sabe me queimar como um tipo de bruxa—

— Red, eu não vou permitir que diga algo assim!

Granny se rendeu.

E chorou.

Chorou por todas as vezes em que se manteve forte; Por todas as noites em que recolheu uma criança desorientada do chão; Em que acolheu uma jovem em luto e pavor.

— Red, você é muito mais do que isso!

Red não reagia às palavras da avó. Agora sentada sobre a lama em frente à senhora, ela tinha uma postura morta e apática. Ela já tinha gritado aos prantos o suficiente. Ela estava seca de tanto se arrepender inúmeras vezes antes.

— Pense em quem vai sentir sua falta. Pense no Peter. Em- Em Anita. Em mim! Que tipo de sentimento têm por nós, se despreza sua vida tão facilmente?!

— Tão facilmente?! – Red recobrou um pouco de vida. Os olhos mais vivos em função da raiva. – Olhe o que eu fiz, Granny. Outra vez! Olhe o que eu continuo negando que sou! Isso é o que sou. Um animal! Movido à frustração e fúria. E um amor infeliz. Isso é que eu faço.

— Não! Isso é o lobo. O lobo que não lhe compõe! O lobo de quem ninguém sentiria falta! Mas você é humana. Sempre foi. Nunca vai deixar de ser. O que aconteceu aqui foi o lobo. Não você. E quem você quer punir por isso?

Red suspirou; O ar doendo em seus pulmões.

—Isso daria um fim a nós dois. E ao sofrimento que causamos. – Ela fitou a vila longe atrás de si. As emoções começavam a voltar para seu corpo, aos poucos.

— E não foi por isso que você perdeu a cabeça na noite passada? Por um estúpido sacrifício? É isso que pretende repetir? Snow White fez a mesma coisa que você agora considera, e no que isso adiantou? Tudo ficou ainda pior. Se você quer fazer o bem sobre o mal que causou, faça isso em vida! Eu não vou permitir que você morra, Red.

A neta nunca antes ouvira sua avó soar tão frágil e vulnerável. Ela estava exposta em sua frente. E aquilo lhe atacou com suas verdades. Começou a ofegar. De medo, de dor, de luto, de alegria, de qualquer coisa. Nada parecia caber no seu corpo machucado.

— Granny...

— E sua amiga... Ela está viva, não é? Os... – Granny tentava se recuperar, agora tocando freneticamente o rosto da jovem, lhe limpado as vestes e a pele. Tirando o sangue e as lágrimas e a sujeira e a culpa. Tudo. Ela limpava Red de tudo. – Os anões correram para avisar. Eu disse para voltarem outra- Outra hora. Mas é verdade, não é? Ela está viva. Ela acordou.

Granny sorriu. Um semblante mais honesto que já tomava lugar em si. Mesmo por debaixo de grossas lágrimas e um rubor extenso, o sorriso brilhava.

— Você tem ao que voltar, minha Red. Você tem pelo que lutar novamente. Nada se perdeu, olhe. Pense em Snow e em seu reino. O que eles fariam sem você, uh? – A avó pegou o rosto da neta entre as pequenas mãos.

Red só a encarava de volta em completo deslumbramento. Tudo ainda temperado com sua profunda culpa e tristeza.

— Você precisa viver, Red. Para recompensar esse povo. Para ajudar a nós. Para seguir com Snow. – Outro riso fraco escapou Granny. – Pense só o estrago que ela faria se soubesse que você desistiu. Não, seria muito pior. É por isso que você precisa continuar. Levante-se mais uma vez, está me ouvindo? É isso que Snow lhe pediria. É isso que eu lhe imploro, minha Red. Levante-se.

Red pensou em Granny. Em James. Em Grumpy e nos outros anões. Pensou em Peter, em Anita e em Quinn. Ela pensou em todas as vidas que tirou. E em quantas poderia salvar.

Ela pensou em Snow.

E se levantou.


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Notas finais do capítulo

Em vista do acordo com Rumpelstilskin, talvez seja conveniente uma sequência por fora da história. Seria tão curta quanto essa, mas, ainda assim, válida.

Enfim, por favor deixem-me saber o que acharam.




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