Somos Pó E Sombras escrita por Lyllian Clarie


Capítulo 12
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

Oh deuses... Porque eu demorei tanto para postar esse capítulo? Eu não sei, peço mil desculpas e imploro perdão. Espero que gostem também...
Ele é relativamente curto porque é um epílogo, só para unir minha fic com a história original.

Música: Alone Together - Fall Out Boy



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3 anos depois. – Londres, Abril de 1878.

 

 

Will entrou no quarto como um furacão. Abrindo a porta com violência, ele pisou pesadamente na tábua meio frouxa – que sabia que habitava aquele assoalho desde sempre – apenas para fazer mais barulho. Analisou rapidamente suas opções e apressou-se até a janela do cômodo, onde usou força desnecessária para afastar as cortinas e forçar o vidro para cima. Com um sorriso ele esperou.

“Willian, é bom que tenha um ótimo motivo para isso.” Jem resmungou ao esfregar os olhos com os nós dos dedos e deixar a mão sobre o rosto para impedir a entrada brusca da luz matinal.

“Tenho, tenho sim. Agora se levante e vista algo decente.” O menino recostou-se no guarda-roupa do amigo, saboreando um dos raros momentos que podia acordar Jem mais cedo. Era divertidíssimo vê-lo resmungar como uma velha ao erguer-se da cama quente e tropeçar em obstáculos inexistentes com os olhos cerrados de sono.  “Opa, isso aí é-“ Bumpt. Will sorriu quando ouviu o tombo. “Uma cadeira. Mais cuidado, Jem. Pode acabar se machucando.” Cantarolou cinicamente para o amigo.

Jem não se deu o trabalho de lançar-lhe um olhar raivoso, muito mais ocupado em maldizer a pobre e desatenta cadeira que interpora-se em seu caminho. Tateou cegamente por cima do fino criado-mudo a camisa limpa que usara apenas no jantar da noite anterior. Estava procurando no lugar errado, a peça de roupa estando amarrotadamente debruçada sobre a cadeira inconveniente, mas Will não iria dar aquela informação por graça de sua bondade.

“O que você acha de sorvete?” Ele perguntou prendendo com bravura o riso quando Jem finalmente achou um tecido e começou a vesti-lo desajeitadamente. Pena que se tratava de sua calça, e o buraco por onde o amigo sonolento enfiava o braço – que ele estava crente em achar que se tratava da manga esquerda –, era na verdade a perna direita da vestimenta.

“Onde tem sorvete?” Perguntou com a voz engrolada. Então abriu os olhos com irritação. “E desde quando minhas mangas são tão long-” Sua capacidade visual pareceu finalmente acordar e ele atirou a calça para o outro lado do quarto, para depois fuzilar Will com o olhar. “Você viu minha camisa?”

“Está atrás de você.” Todo angelical ele pestanejou, faltando apenas as asas batendo, a auréola brilhando e coro de arcanjos cantando.

“Obrigado, Vossa Majestade.” Jem resmungou ao finalmente achar a peça.

“Mas você gosta de sorvete?” Will virou-se para a janela, uma chuva intitulada: Dilúvio 2, O Retorno, acabara de desabar, enchendo as ruas pavimentadas de poças sujas e deixando toda Londres com um ar fúnebre, pela sombra que as nuvens pesadas ainda projetavam. Mas ele decidira que queria sorvete, às 3 da manhã se dera conta disso, então teria sorvete.

Jem pareceu incrédulo consigo mesmo, com sua incapacidade de fechar sua braguilha corretamente, mas resmungou para o parabatai.  “Não, eu não gosto de sorvete, principalmente em dias chuvosos. Ora, por que você não quer fechar?” Exigiu para suas calças.

“Você que não consegue fechá-la.” Atirou para ele ainda sorrindo, fazia bem a si mesmo observar Jem se dar mal em vez dele, apenas para variar um pouco. Quando achou que o menino estava vestido o suficiente para as regras do pudor londrino de 1878, agarrou sua gola e o empurrou para fora do quarto. Jem, sabiamente prevendo a saída brusca, conseguiu sair do ringue de luta com a braguilha e agarrar um par de botas e uma casaca. Sua pior casaca, mas teria que servir; afinal, era isso, ou congelar até os ossos pelo ar úmido.

“Para onde estamos indo? Eu ainda não comi nada, você sabe, não sabe? Estou com fome.” Ele murmurou mais concentrado em calçar a bota enquanto andava. Aquela ação era uma arte, aprimorada ao longo dos anos pelas repetidas vezes que Will o acordara – cedo demais para qualquer criatura com saúde mental minimamente regulada – e o arrastara para alguma artimanha maléfica. Sabia que ele se corroera para atormentá-lo desde o momento que acordara até às 6, apenas porque que da última vez que acordara o parabatai às 5, ficara sem a sobremesa do jantar daquela noite – ainda desaparecida misteriosamente. E Will Herondale podia passar dias sem comer, mas nunca mais de uma semana sem a torta de morango de Ághata.

“Digo-lhe meu caro.” Teatralmente, como só ele sabia ser, Will empurrou a porta pesada da entrada do Instituto, para revelar uma cinzenta cidade, com poucos transeuntes encobertos até os dentes com escuras capas de chuva e provavelmente molhados até a sétima geração.  “Vamos tomar sorvete.” Concluiu alegremente ao arrastar o amigo pelo pescoço – bem literalmente – antes que Jem conseguisse bater em retirada para buscar abrigo nas protetoras saias de Charlotte – mais literalmente ainda.

*

Eles acabaram não tomando sorvete. O propósito de Will em acordar o amigo daquela maneira não havia sido a sobremesa gelada – Jem agradecia a todos os anjos disponíveis por essa benção – ou ao menos não totalmente. Havia sim um motivo sólido, palpável, asqueroso e bem fedorento para aquela cena. E Jem logo ficara sabendo dele, de um jeito nada convencional, mas nada podia ser convencional com Will.

“Veja, primeiro nós vamos tomar o sorvete. Eu adoro o de baunilha, e depois nós vamos caçar a criatura.” Ele disse enfiando as mãos nos bolsos da calça, até ele tinha que admitir que estivesse muito frio. Mas o sorvete seria mantido, não importando nem se começasse a nevar naquele exato momento.

Jem, muito absorto em contar quanto tempo de resfriado Will ficaria depois dessa pequena idiotice, registrou a observação segundos depois do que teria sido considerado aceitável, até para um cachorro. Ergueu os olhos dos ladrilhos molhados repentinamente. “Criatura? Estamos indo caçar uma criatura?”

Will estalou a língua com irritação. “Sim, sim. Charlotte pode ter mencionado isso para mim. Mas o sorvete é a parte mais importante de nossa Cruzada. Foque-se no sorvete. Você ainda gosta de morango, certo?”

“Eu nem gosto de sorvete Willian. O que Charlotte disse. Diga-me as exatas palavras.” Era necessária essa ênfase, já que o menino de cabelos escuros poderia ocultar informações importantes simplesmente porque achara que não era o momento certo.

“Acho que não lembro. Alguma coisa com um demônio. Shax, talvez.” Ele murmurou casualmente como se comentasse que o céu estava nublado.

“Shax? Charlotte nos mandou caçar um demônio Shax e você está ai, falando de sorvete?” Mesmo conhecendo o parabatai, há mais anos do que a medicina recomendaria, às vezes Jem se surpreendia com a capacidade dele de ser obtuso.

“As prioridades primeiro. E antes de tudo nós vamos-” Sua frase foi interrompida quando Jem agarrou seu colarinho e empurrou para fora da rua e o fez continuar andando para longe da sorveteria para onde se dirigia, frustrando terminantemente as vontades do Herondale.

Agora Will encarava as costas enrugadas do demônio. Com passos leves como os de um gato sem unhas, ele aproximou-se da criatura asquerosa, segurando Uriel, longamente iluminada e afiada. A criatura não o percebeu, e nem poderia; estava ocupada demais em arranhar as garras no muro lajotado em vermelho e cinza, fazendo o que quer que demônios façam quando arranham paredes de tijolos. O garoto sorriu em antecipação quando chegou perto o suficiente para sentir o cheiro ocre do enxofre e abaixou a lâmina.

O demônio explodiu em um banho de icor e entranhas


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Notas finais do capítulo

E então? Alguma consideração neste último momento juntos com essa história que eu amei escrever? Muito obrigada a todos que continuaram aqui e até! ^^