Somos Pó E Sombras escrita por Lyllian Clarie


Capítulo 11
Capítulo XI - Parabatai


Notas iniciais do capítulo

Lyllian - Tentem. Não. Me. Matar.
Sei que nada do que eu disser vai justificar o atraso monumental então apenas...

Boa Leitura!

Música do capítulo: C'mon - Panic! At The Disco feat. Fun

(Ah! Esse é o último capítulo)



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Will queria estrangular sua gravata. Mas como, tecnicamente, isso era algo impossível ele apenas amaçou o pano em uma bola e atirou-a para o outro lado do quarto, bufando irritado. Ela aterrissou em cima da sua cama parecendo completamente amarrotada.

Ele olhou sistematicamente seu reflexo no espelho e concluiu que estava ótimo. Por que ele tinha que usar aquela coisa? Charlotte tinha passado exatas 1 hora e 45 minutos tentando fazer ele entender que a gravata era fundamental para a elegância necessária para a cerimônia.

“Como se eu já não fosse elegante por natureza.” Resmungou ajeitando a gola engomada e passando as mãos no paletó preto. Foi estranho sentir o cinto de armas por baixo da roupa fina, mas o garoto, pelo pouco que sabia do que ia ser realizado, ele sabia que o cinto seria necessário.

Você podia ter passado seu sermão dizendo coisas úteis, Lottie.  Pensou enquanto se virava para sair do quarto. Mas antes que ele pudesse ir para fora, uma força estranha e desconhecida o fez pegar a gravata e joga-la por cima do pescoço.

No corredor Will travou sua batalha com o acessório enquanto pensava nas palavras que tinha passado a semana decorando. Suplique-me para não deixar-te, ou que volte de seguir-te. Era bobagem ele continuar repetindo a ladainha na cabeça, bastara ler três vezes que conseguira decorar, mas mesmo assim ele não conseguia deixar de fazê-lo. Ele tinha que continuar repetindo para não errar, era o que Charlotte havia dito, apesar de que ele sabia que não erraria. O menino continuava martelando o juramento na cabeça para combater uma pequena voz no fundo de sua mente que sussurrava que ele iria tropeçar nas palavras e que no final tudo ia dar errado.

O nervosismo era algo tão estranho para Will, que ele não sabia o que fazer com ele. Suas mãos suavam e ele sentia a gola da roupa mais apertada que o normal. Ele riu ao notar como aquilo parecia ridículo. Era Jem, se ele errasse alguma coisa, os dois iriam rir no final como dois bobos. Mesmo sabendo disso, ele não queria que nada estragasse aquilo.

Will parou em frente à porta da sala, esfregou as mãos e suspirou. Entre de uma vez. Ordenou a si mesmo e obedeceu. A sala estava iluminada por inúmeras velas e pelo grande lustre de cristal novo. O garoto sorriu ao lembrar do que tinha feito semanas antes e de como Charlotte havia ficado furiosa com a artimanha.

“Will! Você está maravilhoso. Faltam apenas 5 minutos.” A dita mulher chegou abrindo os braços e alisou a roupa do menino, passando as mãos pelos ombros dele. Ele deixou que ela limpasse a poeira invisível e livrou-se das mãos dela com um gesto brusco.

“Não me amasse Charlotte.” Ele correu os olhos pelo cômodo. “Onde está o Jem?”

“Aqui” Ele ouviu a voz familiar do amigo e voltou seu olhar para de onde ela vinha. Jem estava com as mesmas roupas que Will, e seus olhos brilhavam na luz das velas. “Eu pensei que você iria se atrasar.”

“Que coisa feia. Eu nunca me atraso em nada.” Os garotos sorriram e Jem se aproximou de onde o amigo estava. “Já podemos ir?”

“Eu disse que faltavam 5 minutos. E Jessamine ainda não chegou.” Charlotte respondeu olhando para o relógio no alto da parede. “Agora, 4 minutos.”

Will sentiu vontade de dizer que eles não tinham que esperar Jessamine, mas sua cabeça não deu o comando para transformar o pensamento em algo articulado. 4 minutos. Sua gola pareceu apertada de novo e ele sentiu suas mãos ficarem geladas. O garoto procurou a lareira e se dirigiu até ela com certa pressa.

Por que ele estava nervoso? Estava completamente arrumado e Charlotte não notara que a gravata tinha ficado no lugar depois de uma árdua batalha; tinha decorado o juramento a tal ponto que poderia soletrar a quarta palavra da oitava linha, ou qualquer palavra de qualquer linha; além do fato de ser algo que ele realmente queria e estava esperando há algum tempo.

Cerimônia parabatai; Em teoria: duas pessoas, três círculos de fogo, um juramento e um laço maior que o de sangue. Na prática: um grande casamento! Tinha sido isso que ele tinha falado para Jem na noite anterior. O amigo havia rido e o mandado continuar lendo o juramento.

Para todos, parecia que tinha sido Jem que tinha pedido a Will que eles se tornassem parabatais. Ninguém havia perguntado nada, mas ele sentia que as pessoas pensavam isso. E só eles sabiam que era o contrário.

O sol passava pelas janelas da biblioteca e iluminava o caminho de Will até onde ele esperava encontrar Jem. Acordara naquela manhã decidido a fazer a pergunta, já fazia alguns dias que ele pensava no assunto. Tinha ficado certo disto quando ao treinarem numa tarde com Charlotte, Will estendera a mão para o amigo, sem pensar muito, e agarra a faca que lhe fora lançada e acertara no algo planejado.

Talvez pudesse parecer um motivo idiota, mas naquele momento ele tinha notado que Jem seria a única pessoa que ele poderia confiar e a ligação que eles possuíam era algo inigualável.

Gastara bastante tempo procurando-o e esperava encontra-lo ali. Depois de atravessar grande parte do recinto uma sombra se mexendo atrás de uma estante o fez apressar os passos.

“Então é aqui que você está escondido.” Ele se aproximou do amigo que recolocava alguns livros de volta às prateleiras.

“Não estou me escondendo. Estou fazendo algo que você devia fazer.” E com isso tentou acertar um dos livros na cabeça do amigo. Will desviou sem se preocupar.

“Para que guardar os livros que eu leio se você faz isso por mim?” Will se esquivou mais uma vez, rindo.

“O que você quer?” Ele perguntou sem olha-lo. “Pegue aquela pilha.”

Will ficou feliz por dar as costas para Jem, preferia fazer a pergunta sem olha-lo diretamente. Parou ao lado da mesa e encarou a capa do primeiro livro que estava empilhado.

“Jem...” Ele hesitou, a frase engasgada na garganta. Como fazer uma simples pergunta tornara-se tão difícil? Mas eles sabia que não era tão simples assim; o que Jem responderia dava a Will uma sensação de que talvez o mudasse para sempre. ‘Melodramático como sempre Willian. Fale logo!’ Suspirou e colocou os livros nos braços. Não via como podia adiar mais aquilo, então... “Você gostaria de ser meu parabatai?” Pronto. Ele tinha dito.

Silêncio.

Will virou-se para o garoto e viu Jem paralisado no meio do caminho de guardar um livro. Isso quase o fez sorrir, não fosse o nó que estava sentindo no estômago. Ele colocou o livro no lugar.

“Will” Jem falou aquilo sem saber o que dizer, mas sabendo que devia começar a falar alguma coisa. Como ele ia falar aquilo? Pela primeira vez sentia que Will estava ali por inteiro, e não mostrando apenas uma parte. Pela primeira vez aquela tinha sido uma pergunta diretamente do coração.

Will engoliu em seco. Ele sabia que Jem poderia recusar, que era provável que recusasse, mas ele sinceramente não queria que ele fizesse isso. E não queria por tantos motivos que quase sentia vergonha deles.

“Eu sei que é uma honra maior do que você poderia esperar.” Fazer piada; sempre tinha sido um jeito de amenizar uma situação. Jem lançou um olhar cético e o garoto riu. “Fique feliz por ter sido o felizardo.”

“Engraçadinho” E Will riu mais uma vez. O garoto sabia porque o amigo estava brincando. Jem resolveu falar. “Eu adoraria.” Ele sorriu diante a possibilidade de si unir a Will por esse laço. “De verdade, eu adoraria. Mas... De todas as pessoas, Will, eu sou a menos indicada. Você sabe que eu não vou viver muito tempo.”

O garoto rangeu os dentes. Odiava como Jem tratava o próprio futuro, com esse ar de impotência. Fazia alguns meses que ele proibira Will de procurar alguma cura para o que ele tinha, mas tratar esse fim como uma resolução irremediável irritava Will.

“Nem faça essa cara, você mais do que qualquer pessoa sabe disso.”

Will bufou e soltou os livros de volta na mesa. Iria dar um sermão no amigo sobre isso, mas pensou melhor. Não conseguiria nada brigando com ele.

“Jem...” Ele começou encarando os livros nas estantes. Pensou em várias coisas para dizer, mas nada lhe parecia certo. Se ele pudesse dizer a verdade... Suspirou. “Se não for você, não poderá ser mais ninguém.”

Will queria poder dizer o porque daquilo, queria poder dizer que não podia se aproximar de ninguém do jeito que se aproximara de Jem, graças a sua maldição; sentia-se no começo um pouco sujo por deixar-se ficar perto dele por ele estar morrendo, mas não conseguia não se aproximar. Perder a chance de ter ao menos uma pessoa do seu lado era insuportável.

“O que você quer dizer com isso?” Perguntou com a voz baixa. “ Você vai viver muito tempo, vai conhecer várias pessoas e...” Jem calou-se. Will começara a andar para a saída da biblioteca.

O tom de voz dele fez Jem sentir que Will se martirizava por algo injusto, que o machucava e impedia que ele agisse de forma livre. Ele sabia que devia ir atrás do amigo, mas... O que diria? Ele queria se tornar parabatai dele, realmente queria. Mas caso o fizesse, seria uma experiência curta e Will iria sofrer mais do que Jem pudesse impedir.

Antes que resolvesse o que faria, Will já tinha sumido Instituto adentro.

*

Will encarou a porta do quarto de Jem. Viera até ali antes do jantar (mesmo quase morrendo de fome) para pedir desculpas pelo que tinha dito. Ele não queria fazer isso, não se sentia arrependido por ter perguntado a Jem se ele queria ser o seu parabatai; mas achava que devia, para que a relação deles não ficasse conturbada.

Suspirou girando a maçaneta, era melhor entrar sem bater... Jem o encarava de dentro do quarto com o braço levantado.

“Eu estava indo falar com você.” Disse sorrindo.

“Eu prevejo seus movimentos.” Will sorriu e entrou quando o amigo abriu espaço.

“Claro que sim.” Jem uniu as mãos e esfregou uma na outra. “Eu pensei melhor naquilo que você perguntou e-“

“Também pensei.” Will interrompeu o amigo. Era melhor que ele dissesse logo antes que recebesse outra negativa.

“Eu quero ser seu parabatai.” Jem disparou sorrindo.

O garoto que estava com a boca aberta franziu o cenho.

“Você quer?”

“Quero.”

“Mas você disse...”

“Esqueça o que eu disse. Eu quero ser seu parabatai.” O sorriso de Jem se alargou quando Will decidiu não pensar muito no que o tinha levado a aquela decisão e seu rosto se iluminou.

“Bem James, essa é a melhor decisão que você tomou em toda sua vida.” Ele não fazia ideia de que santo havia feito Jem concordar, mas achou que de qualquer forma precisaria ser mais atencioso com eles.

“Claro. Com certeza irei me arrepender daqui à 1 hora, mas agora é a melhor.” Will riu e abriu a porta do quarto, saindo e Jem o seguiu. ‘Agora, comer.’

Eles se encaminharam para a sala de jantar em silêncio e Jem decidiu perguntar.

“O que você ia dizer antes que eu dissesse que tinha aceitado?”

Will abriu a porta da sala, todos já estavam sentados esperando os dois meninos.

“Que eu ia tomar banho de molho de galinha, me amarrar e ficar deitado no chão do Hyde Park vestindo apenas calças, caso você não aceitasse.” Will sentou-se na mesa sorrindo para os três pares de olhos que estavam arregalados em sua direção. “Boa noite! Charlotte, eu e Jem vamos ser parabatais.”

Os olhos se voltaram para o outro garoto recém-chegado.

“Você tem certeza disso, Jem?” Charlotte perguntou parecendo realmente preocupada com a saúde mental do garoto.

Jem apenas riu da expressão que todos faziam e sentou-se calmamente.

“Tenho sim Charlotte. E não se preocupe, estou em pleno domínio das minhas faculdades mentais.”

“Está com frio?” Jem aproximou-se dele silenciosamente, mas Will o havia sentido.

“Um pouco.” Mentiu, era melhor que Jem não percebesse que ele estava nervoso e associasse isso a arrependimento pelo o que eles iriam fazer.

Aquela lembrança, de como ele pedira a Jem para que eles se tornassem parabatai, era de quase 1 ano antes. Desde aquele dia, Will esperava ansiosamente – mais do que jamais revelaria – quando eles realmente fossem cumprir a cerimônia. Em pouco tempo James Carstairs havia se tornado uma das pessoas mais importantes da vida de Will, e a única que ele podia se dar ao luxo de ficar perto o bastante para retribuir qualquer coisa.

Mesmo Jem falando com tanta simplicidade sobre o que a droga fazia com ele, Will ainda se sentia a pior das criaturas quando pensava que tinha se permitido a proximidade com o amigo por saber que ele ia morrer mesmo sem a sua interferência. O pensamento era tão egoísta e sujo que Will estremeceu.

“Eu também estou nervoso.” O menino olhou para o garoto a seu lado; Jem encarava as chamas com um sorriso apenas de lábios.

“Por quê?” Will quase permitiu-se um suspiro de alívio por saber que não era o único que estava sentindo aquela coisa estranha que fazia loucuras com suas entranhas.

“Por tantos motivos. Vai que quando eu estiver desenhando a runa, meu braço trema e um traço saia errado e no fim, você termine aleijado pelo resto da vida?”

Will riu com a possibilidade tola. “Isso não vai acontecer, Jem.”

O garoto se virou para encarar o amigo com um sorriso maior agora. “Digo o mesmo para todos os seus motivos de nervosismo, Will.”

“Vamos meninos! Está na hora.” Charlotte os chamou animadamente livrando Will de ter que responder alguma coisa.

“Á menos que Jem tenha recuperado o juízo e eu possa voltar para meu quarto e dormir.” Jessamine resmungou analisando as unhas.

Os dois garotos sorriram mais um para o outro e seguiram o grupo que voltava-se para o corredor do Instituto que os levaria a onde a cerimônia seria realizada.

“Não, parece que ainda não recuperei o juízo.”

*

“Suplique-me para não deixar-te,

Ou que eu volte de seguir-te;

Onde fores, irei,

E onde ficares, eu ficarei;”

Will e Jem se encaravam enquanto proferiam o juramento juntos. A cripta do Instituto estava cheia – membros do Conselho e outros nephlins, além de Charlotte, Henry e Jessamine, é claro – mas para Will parecia que só havia eles dois, dentro da cripta ou de qualquer lugar do mundo.

“Seu povo será meu povo,

E seu Deus será meu Deus;”

Assim que entraram os dois nos círculos de fogo, cada um no seu, Will pensou que o nervosismo iria preenchê-lo e tirar-lhe qualquer capacidade de falar ou se mexer. Eles já haviam feito o juramento para o Conselho e só faltava o juramento deles. O garoto havia respirado fundo pela centésima vez e olhara para Jem; este lhe tinha sorrido e dito alguma coisa apenas movendo os lábios. Will não conseguira entender, o ambiente iluminado apenas pelos círculos fumegantes estava repleto de fumaça que embaçava a visão dele.

“Onde morreres, morrerei, e lá serei enterrado:”

Ele ficara se perguntando se haveria alguém que diria qual seria a hora para que eles começassem a andar juntos para o círculo do centro e falassem as palavras. Eles deveriam dizer juntos ou ele primeiro e Jem depois? Será que seria Jem primeiro? Por que Charlotte não havia dito nada sobre isso? Os dois se encaram e de alguma forma começaram a falar. Will havia sentido que Jem falaria naquela hora e resolveu que eles jurariam ao mesmo tempo. Se estivessem fazendo errado alguém iria dizer, não?

Agora eles tinham chegado ao círculo que unia os outros dois. Haviam pegado as estelas enquanto falavam e Jem começara a desenhar a runa em Will; onde morreres, morrerei. Ele havia dito onde a queria: no peito, acima do coração. A dor do desenho fez sua cabeça girar, mas ele conseguiu não cambalear nem vomitar em cima do amigo. Sentiu a mão de Jem apertando seu braço e agarrou-se a força que ele lhe passava como uma âncora.

“Que o Anjo o faça por mim, e ainda mais,”

Will segurou sua estela com firmeza e imaginou uma corda lingando sua alma à de Jem quando começou a desenhar a runa nele. E com todo seu ser ele disse as últimas palavras, sendo acompanhado por Jem que as falava com a mesmo emoção.

“Se qualquer coisa além da morte nos separar.”



“Acho que sua mão tremeu mesmo. Tenho certeza que esse traço não deveria existir.” Will contornou a runa parabatai com satisfação. Ele estava ligado a Jem, finalmente tinha uma pessoa que estaria com ele pelo resto de sua vida. Não importava agora o que Jem dizia sobre sua própria mortalidade, Will acharia um jeito de aquele juramento durar muito mais do que alguns anos.

“Não tremeu, Will, a runa está perfeita.” Jem falou sem levantar o olhar da própria runa; ele ainda se sentia egoísta por ter permitido aquilo. Por permitir se ligar a ele mesmo sabendo toda a dor que infringiria a Will quando ele partisse. Mas mesmo com isso, ele sentia uma alegria incomparável por ter essa ligação com o outro menino, maior do que de sangue. Um ligação de almas. Esse pensamento o lembrou de como sentira como se uma corda o ligasse ao amigo agora. Era quase físico.

“Perfeita está a que eu fiz.” Will provocou e recebeu um sorriso condescendente do amigo.  “Não faça essa cara.” Resmungou e Jem riu.

Sentados no chão do quarto de Jem como estavam, os garotos haviam passado um bom tempo analisando as próprias novas runas e rido de todos os pensamentos que tiveram sobre o que poderia dar errado. No final tudo tinha saído perfeito, como Charlotte elogiara logo depois que saíram da cripta. Os meninos estavam morrendo de vontade de olharem as runas, – em todos os mínimos detalhes – mas tiveram que cumprimentar os membros do Conselho e receber todas as felicitações e todos os sermões de como aquilo era uma coisa séria. (Como se Will não soubesse, mas ele – incentivado por um chute do novo parabatai— guardou esse pensamento para si.)

Depois que tinham conseguido se livrar de tudo, haviam corrido – literalmente, Will tinha esbarrado em Ághata (novamente) e ela quase o tinha acertado com sua colher (um instrumento muito perigoso, na opinião de Will) – para o quarto de Jem e haviam se sentado no chão como crianças.

“Ao menos agora nós podemos declarar que estamos casados.” Will riu quando recebeu um soco no ombro do amigo.

“Ser parabatai não é o mesmo que estar cassado Will.” Jem rebateu sem conseguir conter o sorriso. “Quando você se casar, irei dizer: ‘Sinto muito querida, a cerimônia infelizmente não tem validade porque ele já está casado e a Inglaterra não permite bígamos!”

Os dois gargalharam com a possibilidade e Will não pode deixar de perceber que Jem havia se incluído no futuro dele. Também não pode deixar de notar que aquele futuro não existiria. Ele nunca poderia se casar. Tentou não deixar que o pensamento sombrio o afetasse, mas Jem percebeu quando seu riso desmanchou-se.

“O que foi?” Ele perguntou parecendo preocupado, depois sorriu. “Já sei, você sempre sonhou em ser bígamo e eu estraguei seu sonho?”

Will não pode deixar de sorrir.  “Não, não é isso.”

Ele não poderia responder de qualquer maneira, e foi poupado de ter que inventar alguma mentira quando ouviram uma batida na porta.

“Sou eu, Charlotte.” A voz da mulher chegou até eles abafada, mas ainda reconhecível. “Posso entrar?”

“Diga que não.” Will subiu o colarinho da camisa e se adiantou: “Não!”

“Entre Charlotte.” Jem falou ignorando o amigo. A porta foi aberta e Charlotte olhou para os dois sentados no chão.

“O que vocês estão fazendo?”

“Nós...” Jem planejava responder a verdade cordialmente.

“Tricotando.” Will não. “Não vê? Olhe ai! Cuidado, você quase pisou no novelo azul.”

Charlotte balançou a cabeça negando, enquanto Will se levantava e alisava as roupas.

“Bem, eu vim dar os parabéns.” Ela disse tentando sorrir.

“Viu? Até nisso parece um casamento.” Will disse olhando para Jem. O garoto riu e fez sinal para que Charlotte não se preocupasse.

“Certo... Parabéns.” Ela sorriu quando Jem se levantou fazendo uma pequena reverência para ela. “Acho que vocês estão cansados, então, como agora acabou...”

“Se enganou Charlotte.” Will encarou dizendo, solícito. “Está apenas começando.” E saiu do quarto de Jem dramaticamente, deixando a porta aberta.

Charlotte olhou para onde o menino passara, franzindo a testa. “Do que ele está falando? Ele vai quebrar alguma coisa? Ah por Raziel! Se ele quebrar o nosso novo lustre pela terceira vez eu vou...” Jem não pode escutar o final da frase; ela já havia corrido atrás de Will.

Ele sorriu. “Tem razão Will, está apenas começando.”


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Notas finais do capítulo

Lyllian - Beeeeeemm, aí esta. O último. Espero de coração que tenham gostado, desde o inicio da história eu queria que o último capítulo fosse a cerimônia deles. Então... Sei que é pedir muito maaass... Poderiam deixar aquela coisa maravilhosa que deixar um autor feliz da vida? (Dica: Começa com R e termina com W)
Eu planejei fazer um epílogo. Pra meio que "unir" a fic à história original. Vocês querem? (Se sim, direi um novo projeto sobre Will)
Até a vista shadowhunters!