Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 61
Universidade


Notas iniciais do capítulo

Não gostei muito desse capítulo, apesar de esclarecer algumas mudanças na vida dos nossos personagens. Eu tentei revisar antes de postar, mas qualquer errinho é só me avisar.



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"Quando a gente é jovem tudo parece o fim do mundo. Mas não é. É só o começo."

— Quero fazer uma coisa! Parece loucura, mas quero que você faça comigo. – estamos no meio de Agosto e já acho que o Jesse está delirando assim como eu. Como uma espécie de doença transmissível.

A ideia dele era que fizéssemos uma tatuagem igual, de casal. Pra muitos parece uma ideia fofa, pra outros loucura. No início até pensei que era loucura, apesar de uma ideia tentadora, mas ele acabou me convencendo com seus argumentos.

— Não vamos escrever o nome um do outro. Claro que não! Vamos fazer um símbolo que represente o nosso amor. A nossa história! E mesmo se um dia resolvamos não ficar juntos porque não deu certo, que o que aconteceu entre nós foi só mais uma história, um aprendizado, uma lição da vida... Só quero ter a certeza que sempre que olhar para um determinado ponto do meu corpo, eu vou me lembrar de você de uma forma boa, algo bonito, algo incrível, se não, a melhor coisa que já me aconteceu. Pois independentemente do final, eu sei que você, vai ficar pra sempre marcada em mim de uma forma positiva, de uma forma ou de outra, numa tatuagem ou em pensamento.

Não contamos essa ideia para ninguém. Seria só mais uma loucura nossa. Só depois os outros iriam ficar sabendo. Marcamos com um tatuador conhecido meu. Mas a parte mais difícil foi escolher o desenho. Que teria que ser pequeno, mais recatado, mais discreto. O primeiro do Jesse.

O desenho escolhido seria feito no dedo anelar, acordes com notas músicas como uma espécie de aliança em forma de desenho.

Quando viram nossas tatuagens idênticas meus pais quase surtaram, Alexander por sua vez ficou paralisado, mas não disse nada. Nada do que eles diriam poderia mudar o que já estava feito. Eu e o Jesse estávamos satisfeitos, e era isso que realmente importava no final das contas.

25 de Agosto aconteceria o casamento de Jenna e Alexander.

Foi algo muito simples, sem muito luxo ou exigências. A cerimônia aconteceu no jardim do próprio Alexander. Os poucos convidados eram nós de casa e poucos amigos de fora, além de alguns parentes distante do Jesse, que ele fez questão que eu conhecesse. Ao contrário do que imaginava, nenhum deles estranhou o meu cabelo azul comprido – já retocado – e minhas tatuagens visíveis por causa do vestido de dama de honra da minha tia. Até que eles simpatizaram muito comigo e eu com eles.

Eu, mamãe e Amy fomos convidadas para serem as madrinhas do casamento. Jesse, papai, e Oliver os padrinhos elegantemente vestido em um smoking. Os vestidos das madrinhas são branco, meio curtinhos, com uma facha vermelha na cintura, os sapatos de saltinho também branco, e o cabelo em um coque elegante.

— Já te disse o quanto você está bonita essa tarde? – o Jesse disse provocante, no meu ouvido antes de se afastar. Nós dois sorrimos.

O dia além de agradável e bonito parece muito a favor desse casamento. As mesas estão espalhadas pelo jardim, nós mesmas com toda delicadeza, servimos as pessoas no que eles precisam e desejam para comer ou beber. A banda do Jesse, todos os garotos também foram convidados, estão tocando para nós algo mais acústico, que tenha mais a ver com o espetáculo que está sendo esse casamento. Até então nada deu errado e nem pode dar. Não há alegria maior do que ver um casal prosperando e idealizando uma vida a dois.

— Você nem acredita! A minha carta de aprovação para a faculdade chegou hoje de manhã. – a Amy aproveitou para dizer, já que estávamos sozinha abastecendo as taças com champanhe.

A Amy decidiu que quer fazer Direito. Mas pra isso ela vai ter que mudar de estado. Por alguns dias, quando decidiu contar isso ao meu irmão, eles brigaram. Mas o Oliver, como sempre, acabou achando uma solução. Ele faria Publicidade em uma universidade que ficaria a uma hora de distância da Amy. Quando meus pais souberam que ele sonhava alto em relação ao próprio futuro, só faltaram dar uma festa em comemoração. Com isso eles quase me obrigaram a falar o que eu pensava em fazer. Mas eu ainda não tinha falado sobre isso com quase ninguém, mal queria pensar no assunto, de repente, o futuro me pareceu assustador.

E se minhas escolhas mudassem pra sempre a minha vida?

— Parabéns amiga! – dei um rápido abraço nela. Acima de tudo, apesar da saudade que eu sentiria, estava orgulhosa dela.

Nós, madrinhas e padrinhos, fomos convocados até o improvisado altar, pois a cerimonia iria começar. Foi chororô pra todo lado, nunca vi tanta gente chorando de alegria ao mesmo tempo, até eu deixei escorrer algumas lágrimas. O Jesse, que estava todo o tempo ao meu lado, não parava de sorrir, muito contente pelo tio que finalmente voltou a viver por se dar uma segunda chance – assim como eu – e eu cada vez mais admirava aquele sorriso que queria ter pelo resto da vida.

Ao fim do casamento, enquanto me despedia de convidado por convidado, vi de longe minha tia e Alec se despedindo dos meus pais para a viagem de lua-de-mel onde eles passariam uma semana na Califórnia, corri até eles, pois também queria me despedir.

Naquela mesma noite, ainda com o vestidinho de madrinha, eu e o Jesse sentamos do lado de fora, de frente ao céu estrelado e ficamos por muito tempo conversando sobre como imaginávamos que seria o nosso casamento dali alguns anos. Mas em momento algum falamos sobre a faculdade. Eu estava evitando tocar no assunto, e por um momento também achei que ele estivesse com receio de falar sobre aquilo.

Eu não sabia ainda o que ele queria fazer – apesar de saber do talento nato dele pela música e em cuidar das pessoas – e nem se ele pensava nisso ou se já tinha escolhido onde estudar.

A verdade é tais pensamentos assombravam as minhas as noites. E pra piorar, há muito tempo eu não sonhava com o Brandon, logo agora que eu queria uma direção, uma luz, um sábio conselho.

Será que valeria a pena largar tudo por um grande amor?

Nos próximos dias a Amy e meu irmão já estavam começando a fazer as malas para a grande mudança. Apesar da minha mãe está muito entrosada com essa arrumação e muito empolgada com a ideia de ter um filho publicitário, as vezes eu pegava ela chorando escondido, já tentando ser acostumar em ter que viver com o filho longe dela. Já estávamos todos nos acostumando com essa ideia de família presente, e de repente, tudo mudou com a proximidade do mês de Setembro que era quando iniciaria o ano letivo nas universidade de todo o estado.

— Como estão as coisas entre você e o Jesse? – a Amy sempre perguntava isso quando me via com aquela expressão desolada. Ela sempre imaginava que o problema estava sempre entre nós dois. E ela tinha toda razão. Porque eu só podia estar triste por esse motivo. — Já conversaram sobre a faculdade? Já falou pra ele do seus planos?

Tentei explicar a ela a situação, que sempre me ouvia com toda a atenção do mundo. Eu acho que ela deveria desistir de Direito e fazer Psicologia. Ela é boa pra essas coisas.

— Eu acho que você deveria abrir o jogo pra ele o quanto antes. Os dias estão passando, a verdade vai se aproximando, e depois poderá ser tarde demais para tentar dar um jeito. - ela me aconselhou.

Ela até tinha razão, mas enquanto eu pudesse evitar. Eu o faria.

Pra minha surpresa, naquela mesma noite, enquanto tentava dormir para me livrar das minhas crises com meu próprio psicológico, acabei sonhando com o Brandon, que sempre me trazia paz em dias como esses.

— Você não deveria estar com tanto medo. – ele acarinhava meus cabelos me olhando com aquele sorrisinho lindo. — Confie em si mesma. Você precisa confiar mais em você! Confie na sua intuição. Te garanto que está indo pelo caminho certo. Mas está sendo muito egoísta em esconder a verdade só pra você. Se você ama o Jesse como diz amar, deve ser justa com ele. Às vezes, o que você acredita que é certo, está errado.

E antes que eu pudesse me despedir, ou abraça-lo, senti-lo depois de tanto tempo, ele simplesmente desapareceu como fumaça no ar.

Um dia antes de completarmos dois meses de namoro, fui surpreendida enquanto tirava um cochilo no sofá até a hora de me encontrar com o Jesse, quando alguém me chamou na porta.

Uma entrega. Pra mim. Um envelope médio.

Minha carta de aprovação para a faculdade.

Na mesma hora comecei a chorar desesperadamente, ao mesmo tempo feliz por ter conseguido. Eu não imaginava que eu, justamente eu, que nunca fui um bom exemplo de aluna, consegui passar. Passei o resto do dia com aquela carta em mãos, deitada no meu quarto, molhando todo o meu travesseiros com lágrimas. Me sentia perdida e realizada. Quando a mamãe viu a carta logo chamou meu pai, ela fez um bolinho especialmente pra mim, ficou comigo no quarto por horas, passando a mão no meu cabelo e dizendo o quanto estava orgulhosa.

Foi a primeira vez que a felicidade dela me deixou ainda mais triste.

O Jesse chegou no comecinho da noite. Quando ouvi a voz dele lá em baixo cumprimentando meus pais logo escondi a carta na primeira gaveta. Por sorte, pedi a mamãe e o papai que não contasse da minha aprovação pra ninguém. Seria nosso segredinho. Inventei a desculpa que faria surpresa para os outros. E eles concordaram animados.

— Oi minha princesa. – o Jesse sentou comigo na cama, me dando um beijinho de chegada. — Porque estavam comemorando? O que aconteceu? Nem me chamaram!

— Não é nada, meu amor. – tentei disfarçar meu desanimo com um beijinho na sua bochecha. — Deve ser porque a Amy e o Oliver vão viajar daqui dois dias.

Cheguei pra lá e dei um espacinho pra ele se deitar ao meu lado. Ficamos nos olhando por um tempinho, com a mão no rosto um do outro, sem dizer nada. Apenas apreciando os momentos em que passávamos juntos sem ninguém por perto para atrapalhar.

O que me fez lembrar do tempo passado, em todas as vezes em que estávamos prestes a nos beijar – no internato, muito antes de começarmos a namorar – e sempre, todas as vezes, alguém interrompia nossos beijos.

Comentei isso com o Jesse, e rimos os dois.

— Ainda bem que isso mudou. – ele aproximou seu rosto do meu. — Agora eu posso te beijar quantas vezes quiser e ninguém vai atrapalhar...

Mas infelizmente ele esqueceu a porta aberta e...

— Ei, casal. Vamos sair? – O Oliver apareceu saltitante. — Eu e a Amy estávamos pensando em passar a noite fora, no centro, curtindo a cidade, antes de termos que viajar pra bem longe daqui.

O Jesse voltou a me olhar.

— Hum... Hoje não parceiro, nos desculpe. A Hayley não está se sentindo muito bem. Acho que ela pegou uma virose.

— Uma virose? – o Oliver se aproximou todo preocupada, só pra poder ver de perto. — É grave? Quer que eu diga a mamãe e ao papai?

— Não! Não precisa. É só um mal-estar. – passei a mão pela testa fazendo cena. — Eu só preciso descansar um pouco...

— Entendi. – o Oliver voltou pra porta. — Então, bom descanso pra vocês. Amanhã, quem sabe, a gente faz alguma coisa juntos.

E ele se foi, fechando a porta do meu quarto.

— Que invenção foi essa? – perguntei ao Jesse após meu irmão ter saído. — Uma virose? Que ideia...

— Desde que entrei aqui essa noite percebi que você não está nada bem. Foi a primeira desculpa que me veio à cabeça. Você não queria sair não é? - assenti. Ele estava completamente certo. — Mas afinal, o que você tem? Só de olhar nos seus olhinhos vejo que estão diferentes...

E é por isso que eu o amo, por isso, e muito mais. Porque ele sabe o que dizer, saber o que fazer, sabe como me agradar, sabe como cuidar de mim, sabe como me provocar, até mesmo sabe como me irritar, me tirar do sério, mas principalmente, sabe como eu me sinto quanto estou mentindo, sabe quando não estou bem, sabe me decifrar, sabe me amar.

— Não é nada. – tentei em vão mentir outra vez, na esperança que ele pelo menos fingisse que acreditava. De repente, lembrei do meu sonho com o Brandon, e o que ele me disse. — Só fica aqui comigo, ta?

Com o meu pedido, o Jesse me puxou pra pertinho dele, encaixei minha cabeça logo abaixo do seu pescoço e suspirei só de poder sentir o perfume dele. Ele começou a alisar meus cabelo e dar beijinhos no alto da minha cabeça.

Mas isso foi só o começo. Logo depois sua mão foi descendo e fazendo meus pelos se arrepiarem. Fechei meus olhos e me dei o luxo de sentir seu toque pelo meu corpo. Eu já sabia o que ele tinha em mente naquele momento... O mesmo que eu. Mesmo sendo arriscado, com a porta do meu quarto parcialmente aberta, e meus pais lá em baixo, não recuei quando ele puxou a alça da minha blusinha regata pra baixo e começou a depositar bem próximo ao meu seio alguns beijinhos provocantes.

— Se sente melhor agora? – ele perguntou depois. Não tínhamos feito nada demais. Foi rápido. Algumas provocações que só duraram alguns minutos. Não poderíamos abusar da sorte.

Eu realmente me sentia melhor. Mas achei que aquele era, finalmente, o momento certo e apropriado para contar a verdade.

— Tenho uma coisa pra te mostrar. – sentei-me, e ele fez o mesmo. De dentro da gaveta, ao lado da cama, peguei a carta de aprovação. — Eu passei pra universidade de Artes. Fui aprovada. Artes plásticas.

Ele pegou a carta com cuidado, olhou pra mim e olhou pra ela, começou a sorrir devagarzinho, quase em câmera lenta, depois de novo olhou pra carta e pra mim, parecia não acreditar no que tinha em mãos.

Ele nem abriu pra ler o que tinha escrito, deixou a carta de lado e me puxou para um forte abraço, fazendo com que caíssemos pra trás sobre a cama, eu por cima dele.

— Depois dessa você merece todos os beijos do mundo! – era visível que ele estava feliz por mim. Orgulhoso acima de tudo. De repente, comecei a me sentir um pouquinho melhor. Mas, só um pouco.

— Mas e a gente, como fica? – tive que perguntar, sentindo as lágrimas dificultarem minha visão.

Logo agora, que além do seu abraço, seus olhos eram meus únicos conforto, aqueles olhos que mesmo de longe me fizeram automaticamente me apaixonar por ele, mesmo sem saber.

— Não vamos falar sobre isso. – ele me colocou de lado e com um pulo levantou da cama. — Vem! Vamos comemorar.

Ele me fez colocar meu All Star, nem que pra isso tenha tido que calça-los pra mim. Descemos correndo as escadas da minha casa, e lá em baixo diante dos meus pais, ele disse que me traria cedo para casa. Mas eu, como um quase-universitária, precisava de uma comemoração digna.

Encontramos com meu irmão e a Amy no centro, eles estavam na praça, tomando sorvete em um dos bancos. Por ser sexta-feira a praça estava bem movimentada. O Jesse fez questão de sair falando pra todo mundo, até mesmo pro meu irmão e pra Amy que ainda não sabiam, que fui aprovada na universidade.

Estava mais parecendo o que minha mãe ou meu pai fariam.

Naquela mesma noite, mesmo sendo tarde e ele ter garantido aos meus pais que nos traria de volta pra casa cedo – meus pais estão responsável por ele enquanto Alexander estar fora em lua-de-mel – mas quanto mais eu lembrava-o disso, mas ele dizia que eles entenderiam, afinal, eu estava a um passo da faculdade.

O Jesse até comprou cerveja pra nós em um barzinho simples de esquina. Coisa que eu jamais imaginaria que ele faria. Acho que ele estava mesmo tentando me agradar, me deixar feliz, mesmo que eu não conseguisse parar de pensar e me preocupar com o futuro do nosso relacionamento. Dei um tempo pra mim mesma quando ele me chamou pra dançar Country naquele mesmo barzinho. Ele até sabia dançar e eu ficava me perguntando onde ele havia adquirido tanta habilidade.

A Amy e o Oliver só sabiam rir da gente. Até a hora em que a Amy resolveu convidar o Oliver também pra dançar, logo ele que é bem mais tímido que ela pra essas coisas. Só que os dois são lindos juntos. Dizem que almas gemas são parecidas umas com a outra. No caso deles é verdade, no nosso não. A Amy e meu irmão têm a pele branquinha e os cabelos liso e preto, até parecem irmãos, os dois são altos e magros.

— Hora de ir pra casa. – o Jesse anunciou já eram duas da manhã, ele estava razoavelmente suado depois de termos dançado tanto. O cabelo dourado grudava da testa. Ele só parecia ainda mais irresistível.

A Amy e meu irmão caminhavam abraçados bem mais a frente, eu e o Jesse logo atrás. A madrugada estava geladinha, por sorte, o Jesse estava com um suéter azul marinho, que ele colocou cuidadosamente sobre meus ombros ao perceber que eu estava tremendo.

— Pula a janela e vem dormir comigo essa noite. – ele sugeriu, já estávamos na frente da minha casa. Meus pais já deveria estar dormindo, tadinhos, talvez até cansados de nos esperar.

— Claro que eu vou.

— Estarei te esperando. – ele sorriu maliciosamente. Eu sabia que ele estava sozinho em casa desde a viagem de Alec. Mas se ele estava com segundas intensões comigo, não tinha porque me importar, porque eu também estava. Só de imaginar, fiquei empolgada.

Iria o mais rápido que pudesse.


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Notas finais do capítulo

Próximo capítulo será o ultimo antes do Epílogo.



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