Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 40
Sempre




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/422544/chapter/40

"Quem realmente quer, age de maneira diferente."

Há muito tempo não acordo verdadeiramente feliz.

Ouço o cantarolar de um pássaro adentrando o quarto pela janela entreaberta. Salto da cama correndo em direção à janela. Surpreendo-me com o que vejo finalmente. O céu está azul sem nuvens. O ar está fresco e tem um aroma adocicado. O gramado do jardim está verde recoberto de flores. É tudo tão lindo, como se pudesse renovar minha alma.

Tudo a minha volta parecia diferente com chegada da primavera. As pessoas estavam mais bonitas, mais jovens, mais alegres. Os casacos, cachecol, luvas e tocas foram trocados por roupas mais leves. Estão todos sorrindo, se cumprimentando, lotando os corredores.

— Oi. – sento-me ao lado dele na primeira aula. Os raios solares entram pela lateral da sala iluminando seus cabelos.

— Oi. Nossa! – ele abre um sorriso a meu ver. Um sorriso que poderia salvar o mundo de qualquer tragédia. — Você está radiante essa manhã. O que aconteceu?

— Nada. Não aconteceu nada. – não consigo parar de sorrir. — Mas olha só para o dia lá fora. Está lindo!

A professora Elisa, de artes, entrou na sala com toda sua bagagem em baixo do braço. Amy entrou alguns segundos depois. E pra minha surpresa ela sentou-se próxima a nós sorridente, quando na verdade havia outras carteiras vazias mais afastadas.

Amy parecia ótima.

— Quero que formem trios. Hoje será uma manhã muito especial: é a chegada da primavera. Vamos decorar o internato com a ajuda de vocês para o baile da primavera. Há muito trabalho pela frente, se organizam rapidamente e vamos colocar a mão na massa.

Todos ficaram empolgados, inquietos e agitados com a ideia de decorar o colégio para o baile. Quem é que não gosta de uma boa festa? Os trios foram montados pouco a pouco com os grupinhos de amizades já existentes. Eliza tentou colocar o máximo de ordem na turma.

— Vamos fazer juntos? – Amy sugeriu voltando-se para eu e para o Jesse. Eu já estava dentro. Bastava a resposta do Jesse.

— Só se for agora. – ele sorriu abertamente. Unimos nossas mesas e cadeiras e esperamos as orientações da professora.

Eliza passou de trio em trio para dar as instruções do que exatamente ela queria que fizessem e o que ela tinha em mente como planos. Enquanto isso, Amy, Jesse e eu iniciamos uma conversa como três velhos amigos. E naquele momento eu tive certeza de que as coisas não poderiam estar melhores. Nada de brigas, desentendimentos ou atritos.

Apenas aquela boa e velha amizade.

— Vocês ficam com as margaridas e girassóis.

Jesse foi ajudar a Amy para pegar os papeis e todo o matéria de que precisaríamos para criar as flores. Enquanto isso dei uma organizadas sobre as mesas, deixando-as livre para o trabalho. Eliza tinha tudo que precisávamos espalhados por sua mesa. E o que faltava, caso precisássemos, deveríamos buscar na sala de artes ou no almoxarifado.

— Vamos dividiras funções. – olho bem para os dois a minha frente gesticulando com as mãos. — Amy, fica com a colagem, tudo bem pra você? – viro-me para ela. Ela assente contente. — Eu posso fazer o desenho. – estou empolgada. — E você Jesse – viro-me agora especificamente pra ele. — Pode fazer os cortes?

— Claro! Sem problemas.

Debruço-me sobre a mesa para fazer o contorno do primeiro girassol para usa-lo como base em seguida. Eu adoro girassóis tanto quanto gosto de margaridas. O que me faz lembrar o Brandon que sempre me dava margaridas, sua flor prefirada.

Enquanto continuo a desenhar, Jesse vai cortando os que já estão prontos e dando pra Amy poder colar. Tagarelamos todo o tempo sobre assuntos aleatórios. Assim com os outros trios que enchem a sala com uma alegria constante. Sinto-me como uma criança no jardim de infância.

Por um tempo fico calada, apenas observando Jesse ouvindo Amy falar sobre as loucuras da mãe dela. Fico contente por ela está lidando bem com isso, sorridente, alegre, parece mais viva, depois daquele nossa conversinha no quarto naquela manhã após a festa.

Acho que agora, finalmente, posso dizer que as coisas voltaram ao normal. Amy é minha melhor amiga outra vez sendo ela mesma. Jesse e eu estamos tentando ser amigos mesmo depois de tudo que aconteceu e mesmo depois de tudo que revelamos um ao outro em relação ao que sentíamos. Jesse tinha razão, é melhor que seja assim. Se não podemos ser mais que isso, podemos pelo menos tentar sermos amigos.

— Vou buscar mais papel color set amarelo.

Amy se vai, deixando eu e o Jesse sozinhos pela primeira vez.

— Ela me parece muito bem. – ele comenta, vendo-a se afastar para abastecer nossa mesa com papeis.

— Digamos que aquela Amy esquisita tenha abduzido a antiga Amy por um tempo. Mas agora ela está de volta. Está tudo bem. – sorrio. Jesse está ao meu lado, enquanto desenho, meu braço roça no dele, ele que está esperando eu terminar para poder recortar.

— Você é boa pra essas coisas... De desenho. – ele observa atentamente cada traço do meu contorno. Geralmente, acho estranho que fiquem no meu pé me vendo desenhar. Mas com ele ali é diferente, me sinto reconfortada de certa forma. É tudo tão natural. — Já pensou em seguir seu futuro com isso?

— Na verdade... Já sim. Já pensei. – confesso, soltando um risinho tímido. — Eu e o Brandon conversávamos muito sobre isso. Ele me ensinou muito do que eu sei. Ele era ótimo em tudo. Teve um momento da minha vida, após a morte dele, que eu pensei muito em ser artista plástica ou qualquer coisa relacionada a isso. Até mesmo professora de artes. Na tentativa de fazer por ele o que ele não poderia fazer mais. Nunca mais.

— Isso é muito bonito, Hayley. – Jesse colocou sua mão sobre a minha. Comovido com as minhas palavras. Agora tudo parecia tão mais fácil, agora que ele já sabia de toda a história do Brandon. — E você ainda pensa nisso? Acho que você deve investir nesse sonho.

— Sabe que você tem razão? – olho bem para ele. Hoje, mais que qualquer outro dia, ele se parece um anjo. Uma camiseta de manga longa branca e um jeans preto. — Vou reavaliar essa ideia.

Amy volta para a mesa depositando tudo que trouxe com cuidados sobre a mesa.

— Pronto! Aqui está. – ela sorri para nós. Continuamos a trabalhar equipe. Mas não consigo parar de pensar no que Jesse acaba de me dizer sobre o meu sonho esquecido, deixado de lado, como se não tivesse importância. Olho para ele enquanto ele faz os cortes. O cabelo dourado sobre a testa iluminado por um raio de sol que entra pela janela. — Vocês realmente formam um lindo casal.

— O quê? – arregalo os olhos pega de surpresa pela observação da própria Amy. Foi como se eu tivesse sido atingida por uma bola de beisebol. Acabo borrando meu desenho. — Ai droga. Eu borrei.

— Desculpe. Deixa-me ajudar. – ela vem até o meu lado pegando uma borracha. Por sorte eu estava desenhando com lapiseira. — O que eu disse – ela continua, enquanto tento apagar o borrado. — é que vocês ficam lindos juntos. E eu acho que deveriam parar de mentir um para o outro, se importar menos com o passado ou com as pessoas, e simplesmente ficarem juntos como tem que ser. – Jesse estava paralisado, olhando para a Amy como se ela fosse uma espécie de anjo que acaba de cair do céu.

Sinto minhas bochechas arderem.

— Lembra-se Hayley? Um pouco depois de nos conhecermos você me disse que as pessoas tendem a complicar. Então porque estão complicando tanto quando podem parar de fingir que não sentem nada um para o outro e ficarem juntos enquanto podem?

É uma daquelas perguntas em que se não tem uma resposta. Não de imediato. É uma daquelas perguntas que nos faz parar pra pensar.

— Crianças – Eliza salva aquele momento chamando a atenção de todos lá da frente próxima ao quadro-negro. — quantos de vocês estão dispostos a me ajudar na decoração do internato essa tarde?

Estou a mais ou menos um metro e sessenta do chão. Sobre uma daquelas escadas domesticas de alumínio que pode ser levada de um lado para o outro. Com muita facilidade tento pendurar próximo as vigas do teto as flores que nós mesmo fizemos, todas as turmas, assim que Jesse me passa uma por uma com fita adesiva ou um barbante.

— Prontinho. Essa aqui eu já pendurei. – abaixo o olhar. Vejo que no cesto de palha ao lado de Jesse há cada vez menos flores. Fizemos aquilo muito rápido. Não quero parar. Ao menos há alguma coisa para ocupar a mente e passar o tempo. — A Amy está demorando com as tulipas.

Flexiono meus joelhos, pronta para abaixar, e pegar da mão do Jesse uma nova orquídea para pendurar no teto. Muito desajeitada acabo perdendo o equilíbrio fazendo a escada balançar e tremer debaixo dos meus pés. Em segundos tento fazê-la ficar parada no lugar. Jesse observa a tudo atentamente pronto para qualquer deslize meu.

Alana passa por nós com um olhar malicioso. Em mãos ela tem um saco com lantejoulas e uma variação infinita de papéis coloridos já recortados em tiras. Com um rápido movimento, como uma gata de movimentos sutis, ela empurra de leve, porém o suficiente, a minha escada fazendo com que eu perda completamente o equilíbrio e caia nos braços do Jesse que já estava preparada para aquele incidente.

Ouço a gargalhada de Alana cada vez mais distante.

Estou muito furiosa. Novamente aquela garota queria me matar. Se não fosse o Jesse pela segunda vez eu teria ido parar no chão e provavelmente torcido um braço ou uma perna.

Então me lembro de que ainda estou nos braços de Jesse, e é a primeira vez que ele me pega daquela maneira no colo, como se eu fosse um bebê leve e chorão. Ergo meus olhos e encontro os dele já em meu rosto. Ele parece preocupado pela expressão. Consigo sorrir, mostrando que estou bem. Eu não poderia estar melhor, em seus braços, sentindo a temperatura do seu corpo se igualando a minha.

— Desculpe Jesse. – ele me recolava no chão outra vez. — A culpa é daquela vaca loura! Eu juro que ainda acabo com ela.

Faço menção de ir atrás dela, mas Jesse me puxa pelo braço como tantas outras vezes. Ele parece não se importar que não sejamos os únicos ali. Enquanto flertamos um com o outro, o resto do mundo parece muito concentrado e ocupado em suas devidas tarefas de ajudar a professora Eliza com a decoração do colégio.

— Não faça isso, Hayley. É exatamente tudo que ela quer: te tirar do sério. Deixa isso pra lá. Temos um colégio inteiro para decorar.

Seus olhos, seu sorriso, sua presença me trazem a paz que eu preciso para esquecer todo o resto.

— Onde está a sua namorada? – arrisco tocar no assunto enquanto nos locomovemos de um lado para o outro com a escada.

— Eu não sei. Realmente não sei. – ele parece sem jeito. — Alexa vem se comportado de uma maneira muito estranha desde que recebeu um telefone de seus pais. Ela está agressiva com as palavras, estressada, ignorante, tem me evitado e está mais distante. Mas não quis, em momento algum, me revelar o que de fato aconteceu.

Resolvi não fazer nenhum comentário sobre o que eu achava de tudo aquilo. Tudo bem que eu e o Jesse estamos tentando, devagarzinho, sermos amigos mesmo sabendo que um gosta do outro. Não quero que ele pense que estou querendo toma-lo da Alexa ou joga-lo contra ela.

— Estava começando a ficar com ciúmes de você e do Jesse. – Tyler comentou em tom de brincadeira durante o almoço. Éramos só nós dois em uma mesa pequena. — Pelo visto, voltaram a ficar amiguinhos.

— É impressão minha ou você esta sendo irônico? – encarei-o levando um pedaço de bacon até a boca.

— Eu só estava com saudades da minha namorada. – ele fez uma careta bebericando seu suco de maça. — Não posso?

— O que você não pode é dá uma de ciumento justamente agora. – levantei-me com a minha bandeja. Já havia acabado.

— Ei, aonde você vai? – ouvi-o perguntar ao me afastar. — Você ficou chateada? Hayley volta aqui. Vamos conversar! Eu tenho uma coisa pra contar. – ele estava me chantageando, mas não dei à mínima.

Amy tirou o resto da tarde para fazer uma faxina no quarto enquanto ouvia música no Ipod.

— Encontrei isso de baixo da sua cama. Eu estava limpando. Eu sei que você detesta que eu mexa nas suas coisas ou no seu lado do quarto. Mas eu realmente precisei. – ela estendeu uma caixa vermelha que eu poderia reconhecer de longe. — Não quer guardar em outro lugar?

— Hum, obrigada. – peguei de suas mãos, sorrindo. — Quer ver o que tem aqui dentro? – perguntei a ela, sentando-me sobre a minha cama e ignorando o quão bagunçado o quarto estava.

— Tem certeza de que quer me mostrar? – Amy sentou-se intrigada ao meu lado. Alternando o olhar pra mim e pra caixa.

— Sem mentiras, lembra? – sorri de lado, tirando a tampa da caixa vagarosamente. — A mãe do Brandon me deu essa caixa assim que voltei pra casa nas férias de inverno.

Incentivei-a apenas com um olhar para que ela mesma vasculhasse a caixa e desse uma olhadinha em tudo que quisesse.

— Isso é muito importante pra você, não é? – ela ergueu o olhar outra vez de volta ao meu rosto com a voz serena como o mar. Em mãos Amy tinha um porta-retrato do Brandon e eu.

Assenti em resposta sentindo as emoções aflorarem.

Eu não sei o que a vida me reserva, ou que ela espera de mim ou o que vai acontecer comigo daqui dias ou semanas. Não sei aonde tudo isso vai me levar daqui alguns dias ou anos. Mas sei que eu jamais conseguirei esquecer o Brandon e tudo que vivemos juntos. Será sempre uma lembrança viva que levarei comigo aonde for. E todas às vezes eu me emocionarei ao me lembrar de cada momento. Mesmo que isso me deixe feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz por um dia ter o conhecido e que ele tenha feito parte da minha vida. Triste por ele ter morrido e não estar mais aqui.

— Ele era lindo. – ela observou, passando a ponta dos dedos com delicadeza em volta do retrato. — Me fala mais sobre ele. De como vocês se conheceram, de como foi o relacionamento entre vocês, se vocês brigavam e como era a reconciliação. Me fala como era a sensação de estar perto dele ou o que você sentiu com soube da morte dele.

Pela primeira eu estava ali, conversando com uma amiga, contanto confidencia do meu namoro com Brandon. Os segredos, os detalhes, as sensações, a falta de palavras, a motivação, os medos, das brigas, os momentos, da saudades, das primeiras vezes, dos beijos, as dificuldades e até mesmo as conversas pelo telefone.

E agora, só agora, eu percebia o quão fácil estava sendo para eu falar sobre aquelas coisas. Eram tantas coisas. Passaríamos dias conversando e não seria o suficiente. E mesmo que eu tivesse vontade chorar, bem lá no fundo, não era de tristeza e sim de felicidade. Estava feliz por finalmente me sentir a vontade em conversar com uma amiga a respeito do marcante mais feliz da minha vida.

— Queria te pedir desculpas por hoje mais cedo. – Amy fechou a caixa. Mal chegamos a conversar sobre os objetos. Estivemos por muito tempo perdidas nos relatos do meu primeiro amor. — acho que te deixei constrangida quando fiz o infeliz comentário do quanto você e o Jesse são bonitos quando estão juntos. Eu nunca tinha enxergado isso antes. Mas é como se houvesse uma luz incandescente em volta de vocês. Um brilho diferencial. Quase como se fosse uma magia. – Amy está segurando minhas duas mãos. Lá fora já está escuro. O vento noturno entra pela janela. — E agora isso me faz pensar se não é o Brandon dando benção para que vocês possam ficar juntos. Sei que parece loucura. – ela riu. — Mas eu acredito muito que ele esteja a favor de vocês.

— Pode ser que esteja. – pela primeira vez paro para pensar nisso. Se o Brandon gostaria ou não que eu esteja com o Jesse, até mesmo com o Tyler. Qual seria a opinião dele sobre isso?

Gostaria de poder ouvi-lo, gostaria que ele me guiasse, me desse uma direção. Brandon me conhece melhor que ninguém. De trás pra frente. Ele saberia o que fazer, mas eu, eu não sei. Não sei o que fazer. Estou apenas seguindo pelo caminho mais fácil.

— Eu quase me esqueci – corri até o meu guarda-roupa, mudando completamente de assunto. — compre isso pra você.

Entreguei a ela um embrulho cor-de-rosa. Amy parecia não acreditar, que mesmo depois de dias, eu estava a presenteado pelo aniversário. Esperei o momento certo, já que não estávamos nos dando bem.

— Um livro dos sonhos? – ela me olhou boquiaberta com os olhinhos negros brilhando no escuro. — Com sete cadeados?

— Exatamente. É uma espécie de diário pessoal. – eu sorri, passando a mão pela capa amarelada com camurça.

— Você é a melhor amiga do mundo Hayley! – ela pulou em meus braços, deixando o diário cair sobre a cama. — É lindo!

Amy fez questão de continuar a arrumar o quarto mesmo que já estivesse quase na hora do jantar. Passamos muito tempo ali falando sobre nossas vidas e esquecemos o tempo lá fora. Dispus-me a ajuda-la, mas ela não aceitou a minha ajuda. Antes de sair guardei a caixa de Brandon sobre o guarda-roupa com a ajuda de uma cadeira.

Posso finalmente chamar o jardim de meu outra vez. É bom sentir a brisa balançar as árvores como se pudessem me tocar. O céu voltou ao manto escuro e brilhante outra vez agora repleto de estrelas. Conforme vou caminhando sinto o cheiro de flores adentrando por meu nariz. Por um momento é como se eu tivesse acabado de entrar no paraíso.

— Jesse? – avisto uma figura sentada de baixo da figueira com se tivesse um caderno em mãos. Sei que é ele, pois o brilho da luz reflete em seus cabelos dourados. — Está escrevendo?

Sento-me ao seu lado sentindo a grama entre os dedos.

— Oh, essa foi à caderneta que eu te dei de natal? – não consigo não sorrir. Assim que sentei, desconcertado ele fechou o pequeno caderno. Mas fez questão de virar a capa para que eu pudesse dá uma olhada.

— Estava tentando compor outra música.

— E eu acabei te atrapalhando. – sinto-me culpada. Faço menção de que vou me levantar para deixa-lo sozinho mais a vontade quando sinto sua mão envolver a batata da minha perna.

— Não! Fica. – como se pudesse voltar no tempo, lembro-me do dia em que Brandon disse aquela mesma frase quando eu me irritei por não conseguir aprender os cálculos no reforço. Foi aquele dia que mudou toda a minha vida. Foi quando ele admitiu que estava se apaixonando por mim.

Quando tem que ser, não adianta, será.

— Eu sentia muito a sua falta. – ele prosseguiu, assim que voltei a me sentar ao seu lado. Seu braço encostado no meu. — Fico feliz que tenhamos sido capazes de superar aquilo. E agora, você está aqui. Vamos aproveitar isso. Não quero te perder novamente.

Você nunca me perdeu.

— Sobre o que vamos conversar? – tento contornar meu constrangimento. Balançando as pernas em um ato de nervosinhos. Só espero que o Jesse não perceba. — Tem alguma ideia?

— Sobre o seu aniversário. – Jesse alarga o sorriso. Notei que o aparelho nos dentes dele já não é mais em tons de azul piscina, agora é cinza. E confesso que ele é uma das poucas pessoas que fica realmente bonita com aqueles aparelhos fixos. — Soube que está chegando o seu aniversário. Você tem planos?

— Na verdade eu nem parei pra pensar nisso ainda. Antigamente eu saia com meus amigos para comemorar. Mas agora é diferente. Estamos todos trancafiados aqui dentro.

— Mas isso não impede em nada. Ainda dá pra comemorar. Isso só depende de você.

Passei um bom tempo refletindo naquilo. É verdade que meu aniversário está se aproximando, é verdade também que só depende de mim. Ou nem todas as coisas só dependam de mim. Mas basta que eu queira, e eu venho querendo tantas coisas ultimamente, que às vezes me limito a me permitir querer tanto o tempo todo.

— Você ainda tem isso? – A voz de Jesse me trás de volta a realidade. Sinto minha pele queimar no local onde ele está tocando agora. Jesse está tocando no colar que ele me deu ainda no meu pescoço brilhando a pouca luz das estrelas.

— Tenho. E eu sempre vou ter. – sorrio, não diretamente para ele. Apenas por uma fração de segundos, até focar meu olhar em uma única estrela no céu. A qual brilha mais.

Faça um pedido, ouço uma voz dentro da minha cabeça. Tolice.

— Ter o colar sempre comigo é o mais perto que eu posso está de você. Mesmo que estejamos lado a lado agora não é como se tivéssemos realmente juntos.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Do Lado De Dentro" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.