Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 4
Segredos


Notas iniciais do capítulo

Hayley é menos complicada do que parece.



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"Depois de conhecer a morte, você descobre o valor que a vida tem."

Faz seis meses que eu estou no internato.

Aqui não é um internato qualquer, onde os pais querem punir ou se livrar dos filhos por um tempo. Pelo contrário, o internato é considerado um dos melhores colégios de tempo integral do país. Aqui estudam bons alunos e boas pessoas. Eu não me enquadro a elas, estou aqui, pois meus pais acreditaram que eu poderia me tornar uma pessoa melhor com o tempo, caso eu amadurecesse e crescesse entre boas pessoas. O que ainda não aconteceu, mas eles ainda têm esperanças que aconteça.

Não faço muito diferença aqui no internato. Não tenho as melhores e nem piores notas. É claro que eu não me interesso pelos estudos, eu sempre fui assim. E além do mais, mesmo aqui, em um dos melhores colégios do país, também existem pessoas piores que eu. Acredite. Elas estão por todas as partes, basta observar direito.

— Qual seu problema? – minha nova colega de quarto gritou. Ela se chama Amy. — Porque você não consegue manter o seu lado do quarto mais organizado? O mínimo que seja.

— Deve ser porque esse é o meu lado do quarto. E não o seu. E vai ser sempre assim, já que é o meu lado, eu faço dele o que bem entender. - dou de ombros.

Amy passa o peso do corpo para a outra perna, me encara por um instante e depois revira os olhos impaciente tornando a organizar suas roupas dentro de umas das gavetas do guarda-roupa.

— Deve ser por isso que a sua antiga colega de quarto saiu daqui correndo assim que pôde.

Minha antiga colega de quarto acabou desistindo de ter conviver comigo. A coitada não me suportou por muito tempo. Pois além de não sermos em nada parecidas, estávamos sempre brigando. E não de certo, como já era de se esperar. Eu bem que tentei, mas ela acabou pedindo para trocar de quarto assim que pôde.

Eu não me sinto culpada por isso. Acho que foi até bom, para nós duas. Quanto mais distante estivermos, melhor será para nós. Antes que acabemos nos matando de uma vez por todas.

Uma nova temporada de matriculas para o internato foi aberta algumas semanas atrás. E muito novos candidatos foram selecionados para vir morar e estudar aqui. Entre eles, Amy Miciano. E como meu quarto precisava ser preenchido por duas vagas, ela entrou em uma delas, a outra ainda está pendente e fico imaginando que será a nossa nova colega de quarto e se nos daremos bem.

Uma boa convivência é o que realmente importa.

Amy parece estar se acostumando comigo. Já faz duas semanas que ela esta hospedada no quarto. Ela não se queixa muito, mas às vezes ela perde a paciência e solta umas pra cima de mim. Eu não tenho nada contra ela, até que sou bem paciente também.

A última coisa que eu quero arrumar aqui é uma confusão. Já sim, me envolvi em muitas confusões tanto aqui dentro, quanto lá fora. Mas aqui no internato é tudo muito diferente, já que eles têm uma paciência mais limitada em relação a aqueles que assim como eu gostam de aprontar. O que não impede ninguém de fazer coisas ruins. O que eu não quero é ter que voltar para casa. Mamãe e papai já não querem mais saber de mim, garantiram que se eu me desse mal aqui eles me internaria em um lugar bem pior que esse até que eu tomasse jeito.

Eu gosto daqui. Comecei a gostar assim que coloquei meus pés aqui dentro. É um lugar fantástico, conheci muitas pessoas novas, mais ou menos parecidas comigo e já fizemos muita coisa juntos.

O internato está sendo uma porta de entrada para novos horizontes.

Na viajem de carro até aqui, eu pensei em muita besteira. Prometi a mim mesma que seria a pior pessoa que poderia existir. Meus pais se arrependeriam de ter me matriculado ali e o pessoal do internato me colocaria pra fora o mais rápido possível. E assim, eu seria liberta e voaria pelo mundo a fora como um pássaro livre.

A dor da morte de Brandon ainda é sufocante dentro de mim. Mas eu daria um jeito de superar. Pois sei que se ele pudesse escolher, mesmo morto, escolheria que eu fosse no mínimo feliz. Eu devia isso a ele. Apesar de acreditar ser impossível sem tê-lo por perto.

Na sala de aula, a primeira aula daquela manhã, eu me sentei no meu lugar de sempre, no meio da turma, pois eu não fazia parte de nenhum tipo de grupo especifico. Eu preferia ficar sozinha. Eu e meus pensamentos em Brandon. Não que eu fosse antissocial. Pelo contrário, eu conhecia boa parte da turma e do colégio e me dou bem com todos eles. Fiquei muita amiga de todos em menos de três dias desde que cheguei aqui. Mas há aqueles que não vão com a minha cara, me olham com indiferença, estranham minha aparência um tanto exótica, me olham torto e evitam passar por mim entre os corredores. Talvez por medo ou receio.

— Será que dá pra vocês calarem a boca? – bufei, esgotada. O grupo de patricinhas se virou para mim, surpresas com a minha reação que já era um tanto esperada. Já que elas não se calaram um só quer segundo desde que a aula começou.

Além de atrapalhar a concentração daqueles que estão a fim de aprender – que não é o meu caso - também atrapalham o professor de história que já fala um tanto baixinho, com a voz delas de fundo, a situação só piora e me irrita, porque parecendo ou não, eu me importo.

— Não! Eu não vou parar de falar. – uma delas me encarou feio. A mais alta. Mas não me intimidou. — Você nem quer estudar, Hayley. Você nunca estuda! Porque faz tanta questão?

— Porque eu me importo! – retruquei. Todos olhavam para nós, calados e assustados. — E a voz de vocês me irrita!

Levantei-me e sai da sala sem autorização. Não estava nenhum pouco a fim de continuar aquela briga e precisava fazer alguma coisa que pudesse me distrair e trazer de volta minha serenidade.

Pequenas coisas me irritam com facilidade.

— Sabia que te encontraria aqui – Tyler se sentou ao meu lado, com um sorriso fácil, daqueles que arrancam suspiro.

Sempre que quero ficar sozinha ou no mínimo quieta do meu canto sem ser perturbada, vou para de trás do ginásio e fico ali, divagando.

— Estava me procurando? – retribui o sorriso. Ele não respondeu. Eu sabia que não estava. Mas me achou por acaso, pois por incrível que pareça, em poucos dias, Tyler aprendeu muito sobre mim, por sermos simplesmente muito parecidos. — Tem um cigarro ai?

Cigarros são proibidos em qualquer colégio. O que não impede aqueles que gostam e são viciados a adquirirem de várias formas. O importante é nunca sermos pegos burlando as regras.

— Não quero que você fume. – ele pegou seus cigarros no bolso do jeans, junto do seu isqueiro prata. — Não acha que está fumando demais ultimamente?

— Eu nem fumo muito. – peguei seus cigarros, mesmo sem ele ter oferecido. — Eu já fumei mais. Mas fumo menos que você.

— É, isso eu sei. Eu só não quero que você morra antes do tempo, assim como eu. – ele acendeu meu cigarro já no canto da boca. — Eu gosto de você, e me preocupo com você.

— Eu sei disso. E agradeço. Mas você sabe que eu sei me virar. E não há como fugir da morte – dei uma tragada, soltando a fumaça pra cima logo em seguida. — A morte vem quando menos se espera.

Lembrei-me de Brandon. Mas Tyler não sabia de Brandon, assim como nenhum outro aluno ou amigo meu aqui do internato. Certas coisas eu preferi guardar para mim mesma. Ninguém entenderia.

— Soube que você bateu boca com a Alana – ele riu, divertido. — Aquela garota é muito folgada!

Tyler é o típico garoto popular. Onde quer que passe chama a atenção e conhece boa parte da galera do internato. Todos gostam dele, pois além de bonito, divertido, é simpático e amigável. Foi ele a primeira pessoa a falar comigo quando cheguei aqui. E foi ele quem me trouxe alegria e diversão. Sua loucura é um tanto parecida com a minha. Por isso nos damos tão bem desde o principio.

Ele é gosta de esportes, faz parte do time de basquete. Assim como eu, não gosta de estudar. Estar aqui por causa dos pais. Ele é filho único de pais podres de ricos que não suportavam o filho rebelde e resolveram se livrar dele. Tyler quase não para dentro da sala de aula. Vive vadiando pelos corredores levando alegria onde quer que passa.

Ele só é um problema quando tentam impedi-lo.

Tyler tem a pele de um tom de dourado, os olhos são cor caramelo e seus cabelos são bem cortados. Seu físico é atraente por ele ser esportista, tem os músculos bem definidos, os ombros largos e o abdômen bem definido. Seu sorriso é largo e seus dentes são tão brancos como algodão.

Eu e Tyler começamos há ficar juntos alguns dias depois dele me mostrar o colégio inteiro, as melhores partes e os lugares secretos. A convivência nos uniu, percebemos que tínhamos mais em comum do que aparentava ser. Mas não rotulamos nosso relacionamento, não ficamos juntos o tempo todo e não temos um compromisso. Apenas suprimos a carência e as necessidades um do outro. Não nos amamos. Na verdade, eu só amei o Brandon em toda a minha vida e duvido muito que algum dia ainda vou amar de novo qualquer outro.

Tyler é da idade do meu irmão. Oliver quase fala comigo desde que entramos aqui no internato. Ele ainda está muito revoltado com o papai e a mamãe. Ele simplesmente finge que não nos conhecemos e que fazemos parte da mesma família. Oliver se mantem distante e ficou ainda mais desde que soube que venho me relacionando com Tyler. Eles não se dão bem.

— Senti sua falta – ele atirou o cigarro longe, depois de apaga-lo. E se aproximou mais de mim, sorrindo.

— Eu duvido! – brinquei, sorrindo também. Dei uma ultima tragada no meu cigarro, apaguei-o e o deixei de lado.

— Eu gosto de você! E você sabe disso, Hayley. – Tyler me beijou e eu retribuo o beijo. Um beijo caloroso e sensual.

Não pertencemos um ao outro, como um dia eu pertenci a Brandon e ele me pertenceu. Se Tyler quiser, ele tem todo o direito de ficar com outra garota, assim como eu posso ficar com outro garoto. O que me parece justo, já que o que temos juntos não envolve nenhum sentimento, além de carinho, afeto e cumplicidade.

— Ei, o que você pensa que tá fazendo? – entrei no quarto no instante em que Amy dava uma faxina geral. — Ficou maluca? Não mecha nas minhas coisas! Nunca! Eu deixei isso bem claro...

— Ei, tenha calma Hayley. – ela virou-se para me olhar, sorrindo naturalmente. — Eu não me importo de dá uma ajeitada em tudo.

— Mas eu me importo! – eu estava brava. Sim. Senti-me invadida. Detesto que mecham nas minhas coisas. — Nunca mecha em nada que é meu. Tudo bem você querer organizar o seu lado do quarto, mas o meu é diferente. Nunca toque das minhas coisas. São minhas coisas!

— Nossa! Desculpa. Eu não sabia que você levava sua bagunça tão a sério. – ela soltou um risinho. Mas eu não via graça. — Por acaso você esconde algo que eu não deva saber o que é?

— Isso não te interessa! – respondi friamente, tirando minha jaqueta e jogando sobre a cama. — Só não mecha nas minhas coisas. Nunca mais!

— Tá. Você quem manda. – ela deu de ombros. — Ah, se você não se importa, eu chamei minha amiga, Natalie, para se mudar para o nosso dormitório, tudo bem?

— Pode ser. – respondi com indiferença. — Desde que vocês não inventem de mexer nas minhas coisas.

— O.K. Hayley. Já entendi. Não vou mais mexer nas suas coisas.

Desci até o refeitório a fim de comer algo. Estava faminta. Como acordei atrasada, nem tive tempo de tomar café da manhã. Passando entre as mesas com a minha bandeja já em mãos, cumprimentei alguns conhecidos e segui até minha mesa habitual um pouco afastada e mais isolada da movimentação constante do refeitório.

— Você é a Hayley? – uma garotinha baixinha se aproximou da minha mesa. Eu estava sozinha e em paz até ela aparecer com uma franjinha cobrindo a testa. — Bem que a Amy disse que seria fácil te encontrar. – ela sorriu, dando uma conferida básica no meu cabelo azul. — Eu sou a Natalie Wilson. Sua nova colega de quarto. E amiga da Amy.

— Ah. Oi Natalie. – forcei um sorriso amigável. E ela ficou ali, parada, como quem esperava mais que um simples cumprimento. — Quer almoçar comigo? Senta ai.

— Ah, obrigada Hayley. Você é muito gentil. – ela depositou sua bandeja sobre a mesa, a minha frente. — Estou mesmo faminta! E a proposito, gostei do seu cabelo. É... Diferente.

Natalie tagarelava sem parar. Acho que ela não percebeu, em momento algum, que eu não estava interessada na sua falação. Se percebeu, ela fingiu não notar e continuou a falar de si mesma por um tempo que pareceu eterno.

Percebi que ela também comia bastante. Até mais que o normal para uma garota do tamanho dela. Digamos que ela tem um metro e meio, ou um pouquinho a mais. Seu cabelo castanho escuro é médio, fino e liso e ela tem uma franjinha reta que cobre a testa. Sua pele é morena, seu corpo magrinho e seus olhos negros são meio puxados. Como se ela fosse uma oriental ou uma índia.

Amy surgiu tempos depois comendo uma maça. Amy é do meu tamanho, ou talvez alguns poucos centímetros maior. Seu cabelo Chanel é preto escorrido e sua pele é branquinha. Amy é magrinha também, ela usa óculos com uma armação escura e moderna. Amy gosta de se maquiar e estar sempre apresentável.

Foi bom conversar com vocês. – menti, levantando-me na primeira oportunidade. — Preciso resolver uns assuntos. Até mais tarde garotas.

O internato me lembra muito uma cidade universitária. O prédio da escola fica do lado oposto dos dormitórios. Entre eles está o gramado. Os dormitórios são divididos por sexo. Os quartos são compostos até no máximo por cinco indivíduos, varia muito do tamanho do cômodo. Na ala feminina é proibida a entrada de meninos, assim vice-versa. Por todos os lados há câmeras, inspetores, supervisão e monitoramento.

No campus há quadras de todos os tipos, ginásio, piscinas de todos os tamanhos, jardim, gramado, até mesmo um lago.

No prédio escolar além das salas de aula, há os laboratórios, biblioteca, auditório, orientação, diretoria, detenção, salas de vídeo, refeitório, lanchonete etc. Nos dormitórios, além dos quartos, imensos corredores, há sala de estar, banheiros, mais salas de vídeo, sala de jogos, salão para festas, área para lazer e estudos.

Em volta do internato há uma tensa mata. Os muros e portões são altos impossibilitando a qualquer um de fugir, pular ou escapar.

— Ufa! Ainda bem que te encontrei – fui pega de surpresa. Tyler me puxou para dentro do almoxarifado e me pressionou contra a parede.

Nos beijamos entre risos.

— Quer fazer alguma coisa legal? – ele perguntou logo depois. — Eu pensei em jogarmos.

— Hum, parece uma boa ideia. Eu topo sim! Estou entediada. – abri um largo sorriso, dando-lhe um ultimo beijo.

Quando criança, sempre preferi brincadeiras de meninos do que de meninas, por serem mais pesadas, até mais sérias. Raramente eu brincava de bonecas ou de casinha, porque destruía tudo e nenhuma garota do bairro queria ver seus brinquedos destruídos por mim.

Eu preferia brincar com os amigos de Oliver, quando ele me aceitava por perto ou não. Eu insistia e acabava conseguindo. Brincávamos de lutinha, bate-bate, jogar bola, pique-esconde, subir em árvores, tacar pedras, policia e ladrão, entre outros. Coisas de meninos. No final do dia, meus pés estavam encardidos, minhas roupas sujas e rasgadas, meu cabelo desalinhado e volumoso, como se eu fosse uma selvagem.

Tyler tem muitos amigos, tanto meninos quanto meninas, todos eles mais ou menos do mesmo tipinho. Formamos dois times mistos e dominamos a quadra pelo resto do dia. Eu só parei de jogar quando não aguentava mais ficar de pé pelo cansaço.

Havia uma galera em volta da quadra, nas arquibancadas, muitas meninas babando ao ver os corpos dos meninos suados, com a camisa grudando no corpo. Algumas delas olhavam para mim enojadas, porque eu ser tão... Diferente. Como se eu não fizesse parte daquele mundo ou como se eu não devesse existir por ser tão eu mesma.

Alguns acreditam que eu seja assim, me comporte dessa forma e aja como um animal, porque gosto de chamar a atenção e me aproveito disso para ficar entre os meninos e tirar casquinhas. Mas não é nada disso. Eu gosto deles! Prefiro estar entre o sexo oposto a viver no mundinho fútil, sem graça e cor de rosa delas.

O que não me faz menos feminina do que elas. Já que eu tenho meu lado feminino também. Só não dou a ele total importância. Gosto de sentir mulher quando tenho que me sentir, no momento que eu quiser e quando eu quero. Não sou o que as pessoas querem que eu seja.

— Ah, já vai parar? – Tyler correu até mim quando eu me afastei para sair debaixo daquele sol escaldante. Estava cansada, tentando recuperar o folego. — Que fraquinha você...

Ele estava tentando me tirar do sério.

— Não duvide de mim! Nunca duvide da minha capacidade! – joguei o cabelo para trás, tentei fazer um coque para me livrar do calor. — Só estou cansada. Mas confesse, eu fui quase tão bem quanto você.

Quase. – ele brincou, me puxando para um abraço. O que não era apropriado ali, diante daquela situação um tanto nojenta. Tentei me livrar das garras de Tyler, aos risos. Ele tem a capacidade de me divertir.

No corredor, em direção ao meu quarto, de longe avistei Alana e seu grupinho de amigas antipáticas. Fiz como quem não as viu ou como quem não bateu boca com ela. Por pirraça, passei entre elas, bem no meio, separando-as, e joguei meu corpo contra o de Alana, deixando-a nervosinha.

— Tá maluca? – ela berrou, contrariada. — Sua maluca! Eu quero acabar com você.

Segui meu percurso tentando disfarçar o riso. Gosto de provoca-la, tira-la do sério, exatamente como ela faz quando quero ficar simplesmente na minha, quieta, sem ser perturbada.

— Hayley, abaixa esse som! – ouvi Amy gritar do outro lado da porta do banheiro. Estou tomando meu banho a mais de dez minutos. O tipo de banho que parece lavar a alma.

Sai de toalha, dando-me de cara com ela sentada de pernas cruzadas sobre sua cama. Nem arrisquei perguntar o porquê ela estava com aquela cara de quem não gostou de algo que viu ou ouviu.

— Você não vai perguntar nada? – ela perguntou com quem lê meus pensamentos. Procurei por uma roupa limpa no meio da minha bagunça.

Aprendi a gostar dela. Da Amy.

— Tá – revirei os olhos. — O que aconteceu, Amy? Você não parece nada bem. Quer me contar alguma coisa?

— Na verdade, quero te contar tudo! – ela bufou, revoltada. Amy se jogou na cama e descarregou tudo que sentia sobre mim enquanto eu me vestia sem me importar com a presença dela.

O problema de Amy é que ela está apaixonada por um garoto do colégio, quanto a isso ela não entrou muito em detalhes, nem se quer me disse o nome dele. Disse também que sentia saudades dos pais, da antiga vida e se odiava por não ter a valorizado enquanto teve tempo. Agora era tarde mais. Só havia lamentações.

Escutei seus problemas muito calada, sem saber exatamente o que dizer a respeito. Nunca fui boa em conselhos, mas sou boa como ouvinte. Alguns dias, mais que outros, estou disposta a ouvir qualquer um que precise desabafar. Mas não é sempre.

— Onde você vai? – ela perguntou ao ver indo em direção a porta de saída. Meu tempo como ouvinte solidará havia terminado.

— Vou dá uma volta antes de me deitar.

— Não, espera. Você não quer conversar também? Falar alguma coisa? Qualquer coisa. Me conta um pouquinho sobre você!

— Não, obrigada. Não gosto de falar da minha vida particular. É tudo muito trágico para ser compartilhado. Você não iria gostar do que vai ouvir e nem entender. Prefiro guardar pra mim mesma.

Bati a porta e sai.


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Notas finais do capítulo

Não tenho recebido reviews, mas não importa, ainda é o começo e vou postar mesmo assim. E aguardo ansiosamente por alguma alma caridosa.



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