Do Lado De Dentro escrita por Mi Freire


Capítulo 23
Escapar


Notas iniciais do capítulo

Hayley está confusa quanto aos seus sentimentos.



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"Uma coisa ela havia aprendido: A vida raramente segue nossos planos."

Ouvia a voz de Jesse bem distante, muito longe, com os olhos tão pesados ao ponto de não conseguir mais abri-los. Nem mesmo para admirar o lindo garoto a minha frente, ainda fazendo carinho em meus cabelos delicadamente com a ponta de seus dedos.

Acordei pela madrugada. Jesse ainda estava ali, para o meu total alivio, com a mão esquecida sobre a minha nuca. Respirando devagar. Ele deve ter caído no sono logo depois de mim. Quando percebeu que eu já não ouvia mais nenhuma palavra que ele dizia.

Mas foi bom, poder ouvir a voz dele, como sua mãe fazia quando ele era pequeno, até pegar no sono. Senti-me tão pequena, vulnerável e protegida. Com a certeza de que estava no lugar certo.

Voltei a dormir, acordando no outro dia às oito e meia. Antes mesmo de Jesse acordar. Retirei a mão dele sobre mim, cuidadosamente posicionando ao lado do seu corpo sobre o colchão. Devagar me movi até conseguir por os pés no chão. Não queria acorda-lo. Mas não resisti ao impulso de dar-lhe um beijo suave nas bochechas. E saí, logo depois de me certificar que Alec também ainda dormia.

Em casa a mesma coisa: todos ainda dormiam. Mas eu não conseguir voltar a pegar no sono. Puxei a caixa vermelha de Brandon debaixo da cama e voltei a coloca-la sobre a minha cama. Fiquei encarando a caixa por um bom tempo. Mas ainda não tinha coragem para prosseguir em minha descoberta.

As palavras de Jesse ecoavam em minha mente. Sortuda era a garota que o enchia de duvidas. Certamente, Jesse não estava brincando ao dizer que não seria injusto e jamais partiria seu coração, seja lá quem ela for, eu acredito plenamente nele. Jesse é tipo raro de garoto que te faz sentir completa sem precisar se esforçar, apenas sendo quem é.

Deixei a caixa de lado. Porque sou medrosa também, apesar de aparentar ser valentona. E estou com medo de me sentir fraca outra vez ao ponto de querer me afogar com as minhas lembranças. Ligo a televisão e procuro algo que me chame à atenção.

O cheirinho de panquecas circula pela casa. Foi quando me dei conta que mamãe poderia já ter acordado para preparar o café da manhã para o preguiçoso do meu pai.

Depois da segunda xicara de café tentei pensar em alguma maneira de me distrair. Queria poder fazer qualquer coisa. Só não queria ter que pensar todo o tempo em Jesse. Nos olhinhos dele nos meus, o carinho no meu cabelo, o sorriso singelo, a voz suave, a forma como ele me fazia sentir como se pudesse flutuar.

Não é certo. – pensei. Por Deus, porque ele não sai da minha cabeça? Por Amy. Por Tyler. Por Brandon. BRANDON. Eu preciso fazer alguma coisa pra que isso não piore ainda mais a minha situação.

Não é um bom momento para me sentir... Atraída por um garoto.

— Tá procurando o que fazer? – Jesse surgiu do além, sentando ao meu lado nos degraus de casa. — Porque eu também.

Sorrimos um para o outro.

— Você está se saindo um ótimo vizinho. – eu disse, sem pensar direito. Apenas disse. Vendo três crianças que riam passarem por nós.

— Posso ser melhor que isso. – ele brincou. — Que tal fazermos bonecos de neve? Parece ótimo...

— Você está brincando, não está? – eu ria, alegre. — Desde meus dez anos que não faço um boneco de neve...

Jesse me arrastou para longe como se eu fosse um cachorrinho preso à coleira. Quando paramos ele abaixou, pegando uma porção de gelo nas mãos e tentando fazer formas. De longe observei aquele momento tão... Infância.

— Vem me ajudar.

Eu ri, balançando a cabeça ao me aproximar. Antes de chegar até ele fui pega de surpresa. Jesse me acertou com uma bola de neve.

— O que você pensa que... – a frase morreu no ar. Ele sorria tão encantadoramente, que não consegui dizer mais nada. — Então é guerra?

Iniciou-se uma batalha. Jogávamos neve um no outro aos risos, correndo pela praça e chamando a atenção de todos. Crianças se juntaram a nós e nos protegíamos atrás das árvores e dos bancos como se nos servisse como uma espécie de escudo ou barreira.

Uma sombra preta me chamou a atenção do outro lado da rua, movendo-se a passos lentos. Parei de prestar atenção no que fazia para ter a certeza de que não delirava. Oliver. Parecendo um vampiro. Magro, coberto de preto, como se não dormisse há décadas.

Algo duro e pesado me atingiu na cabeça. Fui parar no chão gelado me sentindo um tanto zonza. Fui pega em cheio por uma grande bola de neve. Não sei ao certo quem me acertou: Jesse ou das crianças que se divertiam conosco.

— Hayley! Tá tudo bem? – Jesse se ajoelhou ao meu lado, passando a mão no meu rosto para tirar meus cabelos do rosto. Vi sua expressão de preocupado e não contive um sorriso de satisfação. — Me desculpe.

Eu adoro a carinha que ele faz. Em todos os sentidos.

Jesse me deixou na porta de casa, ele insistia em dizer que eu precisava repousar. A pancada tinha sido muito forte, eu poderia sentir alguns dores por causa da queda. Mas ele certamente estava exagerando.

Deixei meu queixo cair quando vi Amy e mamãe sentadas na sala de estar, uma de frente pra outra conversando feitas duas senhorinhas de idade tomando o chá da tarde.

— Hayley! – Amy levantou-se, meio que correndo em minha direção. Deu-me um abraço forte me jogando pra trás. — Adorei seu cabelo.

Amy havia chegada a mais de hora. E mamãe fez questão de recebê-la e acomoda-la no mesmo instante, no quarto vago de hospedes ao lado do meu quarto. Amy estava radiante, parecia muito feliz e empolgada com a ideia de passar alguns dias em minha casa. Não sei dizer quem estava mais animada: ela ou minha mãe. Era a primeira vez que eu levava uma amiga pra dormir em casa. É a primeira vez que posso dizer que tenho uma amiga de verdade.

— Seu irmão disse que você estava por aí com umas colegas – Amy comentou, remexendo-se sobre a cama.

Porque Oliver havia mentido? Eu estava com Jesse! E ele certamente viu.

— É. Eu estava. – forcei um sorriso. Prevalecer com a mentira me pareceu o melhor naquele momento. Afinal, Amy ainda deve gostar de Jesse e seria um grande choque para ela. — Mas agora que você está aqui... Tenho tanta coisa pra contar! Tantos lugares pra te mostrar!

Conversamos pelo resto do dia.

A reação de Amy ao saber que Jesse estava hospedado na casa do tio enfrente a minha casa foi exatamente como eu esperava. Ela meio que suportou com a possibilidade de revê-lo.

Meu celular vibrou no bolso do moletom quando sai do quarto de Amy para deixa-la à vontade para tomar um banho. Alguém me mandou um torpedo com um número desconhecido.

“Quer sair hoje de novo? Vai ter um showzinho da banda (...)”.

Só podia ser o Jesse. Mas como ele conseguiu meu numero?

“Tem só um probleminha: A Amy está aqui em casa. Ela vai passar o feriado aqui. Tudo bem se ela puder ir junto?”.

Não demorou dois minutos para ele me responder de volta.

“Tudo bem. Vai ser legal.”

Voltei até o quarto de Amy. Ela ainda não havia entrado no banheiro para tomar o banho. Estava escolhendo a roupa e procurando uma toalha.

— A toalha está ali. Em cima da cama. – apontei. Mamãe quem a colocara ali. Mamãe quem preparou tudo para Amy. — Vamos sair hoje a noite, tá? O Jesse e os meninos vão tocar aqui na cidade e...

— É claro que eu vou com você!

Também tomei outro banho, coloquei outra roupa e passei uma maquiagem mais pesada. Pensei em deixar os cabelos amarrados em um coque alto. Mas então, lembrei que Jesse prefere solto. E isso de alguma forma mexeu comigo. Mesmo que eu não ache certo.

Esperava por Amy na sala de estar quando recebi outra mensagem de texto de Jesse com o endereço do lugar onde iriam tocar aquela noite.

Eu já frequentei a tal casa de show, mas confesso que, não gosto muito de lá. Geralmente, pessoas mais velhas estão sempre por lá e sempre há pessoas mais novas tentando de alguma forma fazer parte do todo. Os mais velhos não querem aceitar os mais jovens, pois acham que não passamos de um grupo de adolescentes babacas.

— Finalmente, Amy. Pensei que tinha desistindo. – levantei vendo-a descer as escadas com saltos altos. Fiquei surpresa. Amy estava incrivelmente bem produzida para aquela noite. E o motivo de tanto capricho eu já posso até imaginar: Jesse.

Os meninos da banda já estavam por lá quando chegamos à casa de show no centro. Ajeitando suas coisas e instrumentos sobre o palco.

Lá de cima, Jesse acenou para nós. Amy e eu arrumamos lugares lá atrás perto do bar. O lugar é recoberto por vinis nas paredes que fazem parte da decoração mais retro. As luzes são baixas e há pessoas por todos os lados tomando suas bebidas.

— Estou feliz de estar aqui, Hayley. Não só pelo Jesse, mas por você também. – Amy sorri, fazendo uma parte de mim se despedaçar ao lembrar o quanto eu e Jesse ficamos próximos nos últimos dias e tudo que nos aconteceu nesse pequeno período.

Coisas que eu jamais poderia contar pra ela.

— Olha lá. Eles vão começar! – digo empolgada, voltando-me para o palco. Os meninos já estão em suas posições, prontos para o show.

A música de abertura para o show: Unthought Known do Pearl Jam.

Eu simplesmente gosto de tudo que vem da banda do Jesse, tanto da parte instrumental como do vocal. Eles são verdadeiramente bons. Olho para os lados empolgada demais para me conter. Quero ver se as pessoas estão tão felizes quanto eu. Mas vejo exatamente o oposto do que eu imaginava. Parece que ninguém está prestando atenção na banda, além de eu e Amy. Acho que somos as únicas ali. Ninguém está levando a sério. Agem como se os garotos fossem uma bandinha qualquer.

— Tá vendo isso? – viro-me para Amy. Ambas trocamos olhares preocupados. — O que tá acontecendo...?

— Precisamos fazer algo. – Amy sugere tão apavorada quanto eu. Nós duas sabemos o quanto os meninos podem estar frustrados em um momento desses em que ninguém os corresponde de maneira esperada.

Olhando para Andrew, vejo que não parece abalado.

— Vem. – seguro firma o pulso de Amy. — Vamos fazer alguma coisa. Agora. Mas você tem que me ajudar.

Vamos até a frente do palco. Temos o espaço só para nós duas. Amy me olha apavorada. Mas tenho uma ideia e quero coloca-la em prática agora mesmo. Para o bem dos garotos.

— Você sabe cantar? – pergunto a ela, sussurrando em seu ouvido.

— Claro que sim... Mas...

Começo a pular com os braços pra cima, balançando de um lado para o outro, cantando em voz alta para que todas possam ouvir. Amy está paralisada, parece muito assustada. Dou uma cotovela de leve nela para poder incentivá-la a fazer o mesmo.

— Vamos lá, Amy. Mova-se. Vamos chamar a atenção!

Sozinha eu não conseguia, por mais que quisesse. Com Amy sei que sou capaz. E logo conseguimos atrair os olhares de todos. Mesmo que pareçam horrorizados como se olhassem para duas alienígenas. Mas não importa. O importante é que estamos conseguindo fazer bagunça e chamando a atenção. Como se fossemos uma dupla de fãs eufóricas.

Há principio os meninos nos olham assustados como se não esperassem por aquilo. Como se esperassem por tudo. Até mesmo serem expulsos do palco. Menos por aquilo. Mas logo agradecem com sorrisos e isso me faz ter uma vontade ainda maior de poder ajudar quem eu gosto.

Amy está se saindo uma ótima parceira. "Animadora de festa."

— Essa música, que vamos cantar agora – Andrew dá um passo à frente para pode continuar. Ele parece tão bem familiarizado com o palco. Andrew tem presença de palco. — é uma música própria da banda. Essa musica foi composta pelo nosso amigo... Jesse. O baterista.

Meus olhos vão em direção a Jesse sentado atrás da bateria. Sinto um leve rubor em sua face quando Andrew cita seu nome. Meu coração bate aceleradamente. Pessoas batem palmas, finalmente, interessadas um pouco mais na banda e o que eles têm a oferecer. Com isso, lembro-me do dia, no internato, quando Jesse me mostrou o que estava escrevendo. A letra da música... A minha reação inesperada logo depois de lê-la.

Essa não é só mais uma música de amor

São pensamentos soltos

Para que você possa entender

O que eu também não entendo (...)

Tudo parece tão natural na voz de Andrew e ao mesmo tempo tão tentador em saber que a canção foi escrita pelo próprio Jesse. O garoto que me faz sentir coisas que eu não deveria sentir. O mesmo garoto que me contou segredos do seu passado. Compartilhou comigo momentos que eu nunca cheguei a imaginar que aconteceriam. O garoto que eu conheci por acaso no internato através da minha amiga, Amy, que é apaixonadíssima por ele e eu, injustamente, estou a enganando.

Mas essa não era a intensão no inicio. Eu só quis ajuda-la. Porém, as coisas foram desenvolvendo com tanta facilidade, que hoje, já não tenho mais controle sobre elas.

Amar não é sempre ter certeza

É aceitar que ninguém

É perfeito pra ninguém

É poder se você mesmo

Sem precisar fingir

E não precisar esquecer

E não conseguir fugir

Ao lado do Jesse, desde o primeiro instante, eu fui eu mesma e acredito que ele também não tenha forjado em nada o que ele é. Com ele, eu posso ser o que sou, apesar de às vezes, ele implicar comigo de uma maneira que não deveria. Não somos nada. Não somos namorados, não somos irmãos, ele não é responsável por mim. Somos apenas amigos.

Por outro lado, quando me pego pensando nele, tento a todo custo fugir de tudo que estou sentindo. É tudo tão confuso e incerto. Sei que não deveria me sentir assim, mas sinto. Não é como se eu pudesse controlar ou fugir disso caso tivesse outra escolha.

Tudo que ele me diz, a maneira como age, me trata e como me faz sentir são coisas que não saem de mim facilmente. Tudo me atingem com muita facilidade e permanece dentro de mim com muita intensidade. Tudo que passamos fica o tempo todo martelando da minha cabeça como se realmente me quisesse tirar do sério. Por mais errado que seja.

Quando penso em alguém

É em você que eu penso

Agora o que vamos fazer

Porque eu também não sei

Será que amar é mesmo tudo isso?

Eu não o amo. Eu não estou apaixonada. Disso eu tenho certeza. Eu só me sinto... Atraída. De certa forma... Envolvida. Amor é o que eu sentia por Brandon e o que ele sentia por mim. Isso, eu jamais sentirei por nenhuma outra pessoa. Primeiro que, eu não quero. E segundo, não acho que seja possível se amar mais de uma vez na vida. Amar de verdade.

— Preciso de um cigarro. – eu não disse a ninguém em especifico, enquanto me afastava do palco. Sem conseguir ouvir o resto daquela canção interminável. Tudo que eu tinha em mente, é que precisava fugir de alguma forma: fumar me pareceu uma ótima saída. — Me dá um cigarro?

Pedi a um estranho qualquer. Ele me deu um cigarro e gentilmente o acendeu pra mim com seu isqueiro de prata.

Sai lá fora para não ter que intoxicar ainda mais as pessoas enfurnadas ali dentro com a fumaça de mais um cigarro acesso.

— Porque você está aqui fora? – uma voz, repentinamente me resgatou dos meus sombrios pensamentos. — Porque está... Fumando?

— O que você está fazendo aqui fora? – perguntei dando ênfase, encarando-o. Joguei a fumaça para o alto para não atingi-lo. — Não deveria estar tocando lá dentro.

— Não nesse momento. – ele disse ainda parado a minha frente. Com seus olhos escuros pela noite dentro dos meus. — Achamos melhor dar uma pausa. Ajustar os equipamentos..

Assenti compreensível.

— Mas você não me respondeu! Porque está aqui fora? E porque está fumando? Eu odeio quando você faz isso.

— Isso o que? – joguei a ponta do cigarro pra longe depois de apaga-lo. Já estava no fim. — Odeia quando eu fumo?

— Sim, especialmente isso. Mas odeio principalmente quando você tenta fugir de si mesma.

Soltei um riso incrédulo.

— Não sabe o que está dizendo, Jesse. – revirei meus olhos. Um tanto inconformada com a invasão dele. — Me deixa em paz, ta legal? Você sempre faz isso. Sempre acha que pode me controlar, mas não pode.

— Não estou tentando te controlar. Só quero te fazer entender, que certas coisas, não são boas pra você. Fumar é um bom exemplo. Você já deveria saber o quão mal fumar faz a saúde. Especialmente no futuro...

Não queria ter que ouvi-lo nem mais por um segundo. Jesse estava se saindo pior que meu próprio irmão, Oliver, e meu pai.

Virei às costas e saí andando emburrada feito uma garotinha.

— Hayley, volta aqui. – ouvi-o me perseguindo. Se eu pudesse iria direito pra casa ou pra qualquer outro lugar. Mas agora eu tenho Amy e ela está hospedada em minha casa. Não posso deixa-la por aí largada.

Ele me segurou forte pelo braço. Fazendo-me virar.

— Me solta. AGORA. Porque está fazendo isso comigo?

Jesse suspirou fundo, me soltando.

— Minha mãe, uma vez, me disse que eu não deveria deixar uma garota escapar por nada no mundo.

— Sim, você não deveria. Mas o que ela quis dizer foi que não deveria deixar escapar a garota certa. - segundos depois me dei conta do acabamos de dizer um para o outro. — Esquece.

Voltei lá pra dentro, encontrando Amy a minha procura, zanzando por todos os lados perguntando por mim, a garota do cabelo azul.

— o Jesse parece ótimo, você não acha? – Amy perguntou me fazendo olhar pra ele. Do outro lado, tomando água próximo aos outros garotos da banda. — Ele está lindo essa noite.

Ela sempre tem razão. Ele não só parece ótimo mesmo depois de ter dito aquelas coisas lá fora, mas também está lindo, como sempre.

— Você sabe me dizer o que aconteceu entre ele e a Alexa? – Ela insistia em conversar, mesmo que eu aparentasse não querer. Porque realmente não queria. Não queria conversar sobre nada, nem mesmo sobre o Jesse. — Houve uns boatos no internato que eles...

— Deram um tempo. Sim. É verdade. – não esperei que ela terminasse de falar para poder dizer exatamente o que ela queria ouvir.

Amy não se conteve, abrindo um sorriso de orelha a orelha.

— Parece à oportunidade perfeita para...

— Ficar com ele? – outra vez, disse antes mesmo dela completar seu raciocino. É fácil decifrar a Amy quando se trata do Jesse. — Porque não vai lá falar com ele?

— Você acha que...

— Ele não vai querer? – interrompi-a. Amy pareceu não se importar com as minhas interrupções.

Porque Jesse não olha pra ela como olharia para qualquer outra? Amy é perfeita e...

— Porque você sempre sabe exatamente o que eu quero dizer? – ela riu, descontraída. Passando uma mecha curta do seu cabelo negro por trás da orelha. — Você tem razão. Eu quero muito ir até lá, mas não sei como.

— Eu te ajudo.

Gritei pelo Jesse. Mesmo em meio toda aquela agitação de pessoas circulando de um lado para o outro, ele olhou em nossa direção, falou alguma coisa rápida para os amigos e veio até nós.

— Você pode cuidar da Amy pra mim essa noite? – perguntei, forçando um sorriso. — Eu vou pra casa. Leva ela depois, ta bom?

Ele mostrou-se confuso e perdido com a minha sugestão.

— Eu vou nessa. Boa noite pra vocês.

Antes de colocar o pé na rua para voltar pra casa, Jesse surgiu na minha frente. Ofegante como quem acaba de correr uma maratona.

— Você já vai? – ele me olhava, indecifrável. — Mas por quê? Não vai nem esperar o show acabar? – eu não respondi. Não houve tempo. — Não foi pelo o que eu disse há alguns minutos atrás, não é?

— Não. Não foi por aquilo. Eu só estou cansada. Será que você pode cuidar da Amy pra mim? Por favor.

Ele assentiu em resposta.

Voltei pra casa sozinha, completamente despreocupada, apenas desejando que, pela primeira vez, pelo menos aquela noite, Amy pudesse se dar bem com o Jesse. Nada poderia atrapalhar. Nem mesmo a minha presença impertinente de amiga traidora.

Meus pais se assustaram com a minha presença ilustre de volta em casa antes das onze da noite. Eu realmente me sentia exausta. Nem parei pra comer. Só consegui subir até o andar de cima e me tranquei em meu quarto. Como eu sempre faço quando quero ficar sozinha.

Na caixa de Brandon, entre tantas as coisas, eu peguei um CD que eu tinha dado a ele no nosso primeiro mês de namoro. Eu mesma quem fiz o CD com uma Playlist especial para nós dois.

Entre as músicas a minha preferida era do Boys Like Girls, a música chama-se Two Is Better Than One. Retrata exatamente tudo que eu sinto e sentia por ele. Quase não consigo conter o choro, quando coloco a musica pra tocar bem baixinho. Encolhendo-me debaixo das minhas cobertas não só por causa do frio, mas também por proteção.

Começo a chorar. O tipo de choro silencioso e discreto. O choro que é só meu e ninguém mais precisa saber ou ouvir.


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Notas finais do capítulo

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