O Herdeiro da Ruina escrita por Fail Name


Capítulo 40
EXTRA 2 - Desventuras em Salt Lake City: Cidade


Notas iniciais do capítulo

Postei a segunda parte hoje como prometido!

Boa leitura pra vcs



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Na madrugada daquela noite, chegamos ao pé da montanha, onde a cidade de Salt Lake City se estendia na nossa frente. Mas a melhor coisa era que eu tinha um novo casaco feito de pele de urso, bem quentinho.

Foi um incrível sacrifício convencer Ártemis a descer a montanha e irmos para a cidade. Ela me disse que o lugar dela é na floresta e que odeia cidades grandes, pois é ilegal caçar animais silvestres dentro deles.

– Na verdade, é proibido caçar animais silvestres em todo o país.

– Essa regra não se aplica a mim.

Talvez seja verdade, mas então lhe digo que talvez possamos encontrar um modo de contatar algum deus na cidade, eu inventei um monte de desculpas e razões para eu estar certo. Só então ela aceitou, hesitante. O que eu não previ foi que seria na cidade o lugar onde tudo iria ficar muito mais complicado, eu acabei me envolvendo numa trama de vingança assim que pisei nela. E como sempre, eu nem desconfiava.

O centro da cidade era perto de onde estávamos, no caminho até lá, Ártemis olhava tudo a sua volta, de vez enquanto ela me perguntava sobre algo que ela não sabia, eram perguntas bobas na maioria, mas mesmo assim eu respondia como se fosse um guia. Ouso dizer que ela parecia uma criança curiosa.

Ártemis parecia cansada. Eu não sabia se deuses dormiam, ela não tinha reclamado até agora. Particularmente, eu não estava cansado, mas eu sentei num banco assim que chegamos numa praça. Ártemis se manteve em pé, como se esperasse eu me levantar.

– Senta aí. – Digo – Eu preciso de um tempinho.

– Você quer descansar aqui? Não acho que seja seguro.

– E não é, mas não temos escolha. Eu não tenho dinheiro e nem lugar pra ficar.

Ela me encarou descontente, mas então sentou no banco no meu lado. Ela ainda estava com minha blusa e ela improvisou uma saia com pele de urso, usando as garras do bicho como fecho. Era algo estranho de se ver normalmente, mas eu pretendia dar um jeito nisso em breve.

Eu senti um vento fresco atingir meu rosto, por causa dela eu acabei me lembrando do que aconteceu ontem. Aura, a deusa homicida, disse que tinha feito aquilo como vingança por tudo que Ártemis tinha feito com ela. Já que eu não sou um bom conhecedor da mitologia grega, eu não fazia idéia do que se tratava. Para ser sincero, eu nem sabia que existia uma deusa da brisa e do ar fresco. Acho que tem deus pra tudo... quem sabe tem até o deus das situações esquisitas (esse tá no meu pé no momento) ou o deus do cachorro-quente (pra esse deus eu faria preces!).

– Pés de Chocalho, por que está me ajudando? Não acho que seja para livrá-lo da minha flecha, já que quando levei o golpe, você veio me ajudar em vez de ir embora e me deixar para morrer. Isso teria resolvido as coisas e até “adiantado” seu trabalho, essa pergunta não para de me incomodar, então por que fez isso?

O sol estava nascendo por trás das montanhas, eu logo me lembrei que Akhlys deveria estar me procurando que nem louca. Eu me virei pra a deusa e respondi:

– Eu não sei. Fiz porque me deu vontade de fazer, eu... me senti como se não fizesse eu iria... eu não sei. Mas também não ligo sobre ser você querer tentar me matar, na verdade, assim que você conseguir seus poderes eu já vou estar longe. – Digo sorrindo.

Ela desviou o olhar, acho que não gostou de eu ter sorrido para ela.

Os raios de sol alcançaram meu rosto frio, aquecendo-o lentamente. Eu me levantei num pulo e olhei para Ártemis e o que ela vestia, dizendo:

– Vamos encontrar umas roupas descentes pra você, e pra mim.

– Eu estou bem assim.

– Bem para uma maluca. – Uma blusa de esqui com uma saia de pele (sem calcinha).

– Do que você me chamou? – Perguntou ela, com raiva.

– Ah... Esqueça isso, o importante é que você não pode ser vista assim. Nós precisamos nos misturar, se Aura estiver por aqui ela vai te reconhecer num estalar de dedos.

– Certo, mas como vamos fazer isso, você disse que estamos sem dinheiro.

Eu sorrio para ela.

– Isso não vai ser problema.

***

– Isso foi errado! – Disse Ártemis.

– E daí? – Digo, contando o dinheiro em minha mão. – Você quer roupas ou não?

Fazia meses que não usava esse método para ganhar dinheiro, ser um batedor de carteira. Quando saí de Dallas para minha jornada de vingança, eu tinha um bom dinheiro que consegui vendendo minha casa para um comprador anônimo (mais tarde soube que foi a Akhlys), mas ele não durou muito. Eu perdi boa parte dele, na verdade. Então com o passar do tempo, aprendi a ganhar dinheiro desse jeito, mas também ganhei várias passagens a internatos e a policia.

Nós entramos numa loja assim que ela abriu, eu peguei uma camiseta azul, uma calça jeans barata e um par de tênis all-star. Eu já estava pronto fazia meia hora e a deusa não tinha saído do provador, eu tinha pedido para a atendente ajudá-la e parecia que ainda estavam ocupadas. Quando a atendente finalmente saiu com Ártemis atrás dela e não acreditei no que eu vi.

A deusa estava linda. Os cabelos foram trançados e presos com uma fita vermelha, ela vestia uma camiseta preta sem mangas, uma calça jeans azul claro e sapatos all-stars vermelhos. Ela parecia uma garota comum com aquelas roupas.

– Então, o que achou do novo look da sua namorada? – Perguntou a atendente.

Ártemis a fuzilou com os olhos.

– Está linda, como sempre. – Digo. Eu me aproximei de Ártemis e a peguei pela mão. – Obrigado.

Então eu a puxei para longe dali (depois de pagar, claro).

Assim que viramos a esquina, eu me deparei com a entrada um parque municipal. Eu notei os olhos de Ártemis brilharem assim que vi o mesmo.

– Vamos lá. – Digo.

Ela não questionou e então fomos até lá. Nós chegamos à beira de um lago artificial que lá tinha para observar os patos nadando. Ártemis se agachou a beira do lago e ficou mexendo na água. Eu fiquei uns metros atrás dela, apenas observando.

As caçadoras de Ártemis provavelmente chegariam no dia seguinte e todo esse trabalho estaria terminado. Eu ainda me perguntava por que eu a tinha ajudado. Eu não devia nada a ela e ela me odeia. Assim que olhei para o outro lado, notei um jovem casal alimentando os patos com pão, vendo aquilo me lembrei de um dos dias mais felizes da minha vida.

Eu e Mia no lago, no dia do nosso primeiro beijo. Porque aquilo veio a minha cabeça agora? Eu sentia muita falta dela, quando eu a vi no Mundo Inferior ela me fez prometer que eu nunca tentaria revivê-la. Ártemis se virou e nossos olhares se encontraram, ai eu percebi o motivo de tê-la salvado. Ártemis me lembrava a Mia. Não era pela aparência ou algo do tipo, mas sim porque pelo modo de que agiam e pensavam, Mia sempre foi corajosa e autoritária, como Ártemis, mas ainda sim se importava com quem era importante para ela.

– O que você está olhando? – Perguntou a deusa.

– Você... – Eu senti um vento passar por mim, então eu ouvi um sussurro “Eu vou matá-la para você, Herdeiro.” – Ártemis, Abaixe-se!

Eu invoquei minha pistola e atirei na direção da deusa, os projeteis atingiram algo invisível no ar seguido de um grito de dor. Algo caiu no chão, a forma tremeluziu um pouco e Aura se revelou. Ela segurava o ombro ensanguentado por causa do meu tiro.

Ártemis se aproximou dela com seu arco na mão, pela cara ela estava muito feliz por vê-la daquele jeito, mas um olhar de “eu vou te matar!”. Aura também notou isso, ela se arrastou no chão para longe de Ártemis, mas claro ela a alcançou.

– Antes de eu te levar para meu pai, por que você fez isso comigo? – Perguntou ela, nervosa.

– Eu... queria que você sofresse! Você merece tudo o que aconteceu e o que ainda vai acontecer, pelo que você fez comigo!

Esse papo de novo. Era chato quando alguém ficava conversando coisa sobre o passado e que não tem nada a ver com você. Mas Ártemis olhou pro lado, parecia que ela não aprovava o que tinha feito também, mas voltou para ela e puxou a corda do arco.

– Espera aí! – Digo – Antes que você a mate-a e acabe com essa história, me deixe perguntar uma coisa pra ela?

– Vá em frente.

– Aura, como conseguiu aquele punhal?

– Um garoto. Um garoto de cabelos brancos e olhos vermelhos, ele foi até mim e me deu aquele punhal, para que eu pudesse ter minha tão desejada vingança por ela ter tirado minha dignidade e inocência. – Ergui as sobrancelhas – Ah, você não sabe da historia? – Neguei com a cabeça – Eu era uma caçadora virgem, assim como Ártemis e orgulhosa por ser assim. Um dia, eu reparei que o corpo de Ártemis era muito feminino e duvidei de sua virgindade.

– Você não fez isso... – Digo, estava na cara que ia dar merda.

– Eu fiz, mas Ártemis, pediu para Nêmesis ajudá-la a vingar a sua dignidade como uma deusa virgem. Ela... – Nessa hora, Ártemis soltou a corda e a flecha voou até a perna da deusa.

Ela gritou de dor e essa era com certeza uma mensagem para calar a boca.

– Ártemis, o que você quer esconder?

– Isso não te interessa! – Novamente ela me lembrou da Mia.

– Herdeiro... mate-a agora. Ela está fraca e sem poderes, apenas um golpe. É tudo o que eu peço.

Aura me encarava suplicante, mas aquilo não dava o efeito esperado, pois uma mulher fantasmagórica com rosto de uma lunática não convence ninguém.

– Você tem razão. – Eu invoquei minha espada e me virei para Ártemis, ela me encarava com uma mistura de raiva e seriedade, mas estava claro que ela temia por sua vida. – Por isso que eu tenho que protegê-la.

Num giro eu golpeei a deusa, cortando sua forma transparente ao meio, mas minha espada apenas atravessou seu corpo sem causar algum dano. Ela me encarou rangendo os dentes de raiva. Cara, aquilo era feio demais.

– Eu estou desapontada com você, Herdeiro!

– Você se acostuma.

– Ártemis, minha vingança ainda não se completou! Ele virá buscá-la, aquele que uma vez tentou cortejá-la – Uma lista de heróis e deuses veio a minha mente. – Ele selará o seu destino! Então os próximos serão Nêmesis e Dionísio.

Dizendo isso, a deusa tremeluziu e desapareceu com o vento.

– Eu vou perguntar de uma vez, o que você e Nêmesis fizeram com ela?

– Isso não te interes...

– Pare. – Interrompi. – Diga de uma vez.

Ela virou o rosto, em direção ao lago.

– Naquele dia... eu pedi para Nêmesis me ajudar, mas eu não sabia que aquilo iria acontecer. Ela tentou Dionísio a cortejar Aura contra a vontade dela, ela não conseguiu escapar e Dionísio a possuiu. – Eu não consegui imaginar aquele deus gordinho do acampamento pegando Aura a força – Depois disso, Aura tornou-se uma assassina louca e perigosa. O pior foi quando ela deu à luz a filhos gêmeos, filhos de Dionísio, eles simbolizavam sua vergonha e dignidade destruída. Por isso ela os atacou ainda bebês e devorou um deles, enquanto o outro, Iacos, eu consegui salvá-lo do mesmo destino.

Eu não sabia o que dizer, mas Nêmesis não mede suas ações, apenas realiza a vingança que julga certo sem hesitar. Mas aquilo tinha sido longe demais e Ártemis sabia disso, por isso não gosta de tocar no assunto. Essa era sua vergonha por ter manchado a dignidade de uma jovem, tipo de pessoa (ou deusa, no caso) que Artemis deveria proteger.

– Ela merece se vingar, sério. – Digo, Ártemis voltou a me encarar. – Mas não vai ser hoje, no momento eu estou com você e vou te ajudar até isso acabar. Pode contar comigo.

Em vez de dizer algo como “Grande coisa!” ou “Diga o que quiser, eu ainda vou te matar!”, ela disse:

– Obrigada.

***

No fim da tarde, o verdadeiro problema se revelou.

O aviso de Aura foi claro, alguém (ou algo, sei lá) iria voltar a tentar “cortejar” Artemis. Eu perguntei a ela quem poderia ser esse ser, logo eliminamos os deuses da lista, já que todos estavam ocupados se defendendo de um possível ataque meu ou discutindo entre si. Também eliminamos alguns heróis antigos, além de estarem mortos, não teve nenhum indicio que algum deles escapou do mundo inferior. Só sobrou alguns monstros tarados e deuses sem importância.

– Mesmo eliminando os menos prováveis, a lista ainda é bem grande. – Comentei.

– Saber quem vai me atacar não importa, o destino de qualquer um fizer isso é morte certa.

– É, tô sabendo.

Nós entramos em uma Starbucks perto do parque. Com o dinheiro restante eu comprei dois frapuccinos e cookies para recuperar as energias depois de uma conversa longa e chata. Artemis fez uma careta assim que provou o frapuccino, mas ela pareceu ter gostado. Ficamos lá por alguns minutos a assim que saímos, eu notei algo nos observando de cima do prédio em frente ao Starbucks. Não reconheci a criatura de primeira, mas ela soltou um grunhido que me fez voltar naquela noite na Pousada de Hermes. O fogo consumindo tudo, Sarah e Edward mortos, Mia gritando e... o cocatrice.

O monstro no telhado era o mesmo cocatrice que tinha escapado naquela noite, o mesmo que matou Mia. Assim que eu o reconheci, ele abriu as asas e saiu voando em direção ao beco. Eu corri atrás dele sem me importar com os carros que ali passavam e ignorei Artemis chamando por mim.

Assim que entrei no beco, vi o cocatrice virar a direita e assim o segui. Eu acabei saindo em um beco sem saída, o cocatrice tinha pousado ao lado do um homem alto (devia ter dois metros e meio) de pele azulada que estava sentado no chão. Ele vestia uma roupa camuflada em tons de verde e bege, seus cabelos longos eram parecidos com algas, seus pés pareciam pés de pato e entre seus dedos da mão tinham membranas. Também notei guelras no pescoço. Mas o que eu realmente não conseguia tirar o olho era do rifle de caça que ele deixou pousada no colo.

– Olá. – O homem jogou um braço humano para o cocatrice que o devorou com voracidade.

– Olá, seja você quem for. – Ele riu.

– Desculpe, onde estão os meus modos. Eu me chamo Alfeu, sou um deus-rio e estou em uma caçada.

– Legal, sou Benjamin, um semideus azarado e estou querendo matar esse bicho.

– Benjamin? Ah, o Herdeiro. Soube que está protegendo a deusa virgem, – Deixei minha não próxima do meu cinto para invocar uma arma, se precisar – eu estou muito agradecido por isso, eu queria te conhecer e lhe presentear com duas coisas muito especiais.

Eu já tinha ouvido o nome Alfeu em algum lugar, mas não lembrava onde. Eu não sabia se ele era aliado do Chaos ou se queria me matar em nome dos deuses, decidi ficar com a segunda opção, se o presente dele fosse um jeito de me matar, eu o mataria ali mesmo.

– Sério? Obrigado.

– O primeiro presente é o cocatrice. – Alfeu agarrou o pescoço do monstro e fez deitar na minha frente e o manteve assim. Em seguida ele jogou uma faca pra mim – Mate-o.

O cocatrice grunhia pro causa do desconforto, aquilo era um ótimo presente. Assim que comecei a chegar perto, eu estava tão distraído que não percebi Alfeu abrir um sorriso, dizendo:

– Esse é seu segundo presente.

Com a outra mão ele pegou o rifle e apontou pra mim, disparando em seguida. Eu fui idiota. A oferta do cocatrice era uma isca, por isso perdi minha desconfiança sobre ele assim que vi o monstro que eu mais queria matar, indefeso, mas agora eu sentia o preço por ter sido idiota. A bala perfurou o lado esquerdo do meu peito, senti o sangue quente sair da ferida e sujar minhas roupas.

Eu dei uns passos para trás antes de cair no chão. Minha cabeça doía e eu não conseguia me mover, além de que tudo parecia girar, mas eu não parecia estar morrendo. Ouvi passos até Alfeu entrar no meu campo de visão.

– Você tem sorte que Chaos precisa de você vivo, se não o tiro teria sido na sua testa. – Eu tentei falar, mas nada compreensível saiu da minha boca. – Não se esforce, o tiro tinha um veneno paralisante, você não vai poder fazer nada por algumas horas.

– Benjamin! – Ouvi Artemis me chamar.

Eu imediatamente tentei gritar “corra!” ou “fuja!”, mas nada saia. Alfeu encarou Artemis com desejo, ele teve até a ousadia de lamber os beiços. Artemis invocou seu arco e disparou flechas com Alfeu, mas com apenas um movimento com a mão, uma fina barreira de água surgiu, parando as flechas. O ranger de dentes dela demonstrou a angustia por suas flechas terem sido paradas por uma simples barreira.

Alfeu apontou seu rifle e disparou, acertando bem no arco da deusa, que voou pra longe de suas mãos. Assim que a viu indefesa, Alfeu avançou sobre ela, agarrando seu pescoço. Não deixando chance para alguma tentativa de fuga.

– Eu esperei tanto por isso... não vou deixar você fugir ou me enganar de novo, Artemis.

Ele girou o corpo e empurrou a deusa contra a parede. Com a outra mão começou a rasgar as roupas dela, ignorando os socos e chutes que ela dava, acho que ele as mal sentia. Então Alfeu golpeou Artemis no rosto com as costas das mãos, fazendo a gritar. Quando ele rasgou a calça dela, seu sorriso ficou ainda mais largo em seu rosto azul. Foi nesse momento que ela soltou um grito de desespero que eu nunca achei que pudesse fazer. Um grito de genuíno medo.

Eu fazia de tudo para me mexer, mas quando eu ouvi o grito dela, eu me lembrei de Mia sofrendo sem eu poder fazer nada, mas dessa vez seria diferente. Eu senti o poder crescer em meu corpo, superando até o que eu havia sentido no Posto Avançado. Era o Poder da Morte, como Akhlys tinha me explicado dias antes. Era o sinal do despertar do Herdeiro.

Meus olhos brilharam em dourado e assim consegui me mover, a primeira coisa que fiz foi me desviar do cocatrice que tinha avançado sobre mim, mas quando ele retornou com uma segunda investida, eu sem querer invoquei uma foice negra que emanava uma nevoa pálida. “A Foice da Morte!”. Eu girei a foice no ar e cortei o cocatrice ao meio sem nenhum esforço.

Eu me virei para Alfeu, ele estava abaixando as calças de modo apressado. Eu avancei por trás e com a foice decepei o braço que segurava o pescoço da deusa, em seguida lhe dou um chute nas costelas, afastando-o dela.

– É impossível! Aquele veneno devia deixar você paralisado por horas. Como foi que...?

– Cale a boca e defenda-se. – Digo, interrompendo-o. Eu não queria conversa, eu queria ver a vida abandonar o corpo de Alfeu.

Ele retirou a facão do cinto e parou o meu ataque, então ele tentou revidar. Eu abaixei para desviar da lâmina, ao mesmo tempo girei o corpo, nesse movimento decepei a perna esquerda do deus-rio. Ele soltou um urro de dor e tombou pro lado, assim que seu corpo atingiu o chão eu brandi minha foice contra seu facão e, em seguida, cravei a lâmina no chão através de seu único braço. Então eu pisei em seu pescoço, invocando minha pistola e colocando dentro de sua boca, para ele não falar mais nenhuma maldita palavra.

– Você é o primeiro deus que eu irei matar, o primeiro de todos.

Assim que disse isso, puxei o gatilho. A parte de trás da cabeça de Alfeu explodiu e se espalhou por todo o chão. O sangue dourado manchava o chão, mas no segundo seguinte o dourado se transformou em um negro turvo. Simbolizando o fim da imortalidade de um deus.

Eu me virei para Artemis, ele se cobria com os trapos que uma vez foram suas roupas. A minha cabeça parecia estar em guerra consigo mesma, pois parte de mim queria dar um tiro na cabeça dela, outra queria confortá-la. Involuntariamente apontei minha pistola para ela, mas eu digo:

– Saia daqui! – Eu ouvi uma segunda voz na minha cabeça me chamando, “onde você está?” – Akhlys, me ajuda!

Akhlys surgiu no meu lado, agarrando meu braço e me desarmando em seguida. Ela olhou nos meus olhos disse:

– Ben, você pode controlar. Vamos! Você é o Herdeiro, não deixe seu poder te controlar. Você treinou duro pra isso!

Eu lutei contra meu impulso mortal e então senti meu poder diminuir. Apoiei-me nos ombros dela e vi as caçadoras entrarem no beco na mesma hora, com flechas prontas para atirar.

– Esperem! – Disse Artemis. – Deixe-os ir.

As caçadoras encaram sua senhora com duvida, mas não negaram sua ordem. Eu estava muito fraco para dizer alguma coisa, o poder da morte quase me drenou por inteiro. A névoa de Akhlys estava nos envolvendo, antes de desaparecermos ouvi Artemis dizer:

– Obrigada, Pés de Chocalho. Não vou esquecer o que fez por mim. – Ela sorriu – Mas eu ainda vou te matar.

Eu retribuo o sorriso. Não sabia se Artemis dizia a verdade, mas me deixar ir embora era como uma mensagem de confiança, já que deixou alguém que potencial pode matar todos os deuses fugir. No fundo eu esperava me lembrar dessa confiança, se um dia eu perder o controle.

***

Três semanas se passaram desde aquele dia.

Foi um mês de puro estresse e treino. Akhlys e eu ficamos mais próximos, o suficiente para confiar nela em alguma emergência ou favor. Apenas isso. Ela entrou na sala quando eu terminava de comer o meu cachorro quente (Também se lê: comida de verdade).

– Akhlys, quando eu estava com Artemis ela me disse que lugares com influencias divinas estavam sendo destruídas, a floresta dela, a Agencia de Modelos de Afrodite... e ela me culpava por isso. – Ela desviou o olhar – O que você sabe sobre isso?

– Tudo. – Disse ela com um sorriso maroto – Pra começar, ela estava certa, todos os lugares com influencia divina que foram destruídas foi por sua causa, mas não foi você quem fez isso, foram suas queres.

– O que? Por que?

– Para te cobrir, é claro. Os deuses estão te procurando desde que você sumiu, e não só eles, como você deve desconfiar. Você é quem deveria fazer isso, mas suas queres fizeram isso por você, para dar uma pista falsa aos seus perseguidores e te deixar em paz para treinar.

Isso significava que as queres já me viam como seu mestre.

– Sei, e por que você não me procurar depois que eu sumi da instalação?

– Quando eu cheguei à instalação e não te vi, achei que devia te dar um tempo pra descansar e tal. Nunca achei que você ia se meter com aquela deusa e ainda por cima matar Alfeu.

Quando ela disse isso, eu desmoronei na cadeira. E disse com uma tristeza na voz:

– Akhlys, eu não quero acabar com esse mundo... mesmo que boa parte do tempo ele seja injusto.

Ela sentou no meu lado.

– Eu sei que não.

– Eu tenho que bolar um plano para que isso não aconteça, um plano que não poupe sacrifícios ou consequências. Entende? – Ela afirmou com a cabeça – Então você vai me ajudar?

– É claro, Ben. – Ela pegou minha mão – Sempre estarei no seu lado mesmo que você duvide.

Depois disso, Akhlys sumiu por alguns dias enquanto eu pensava num modo de terminar essa profecia sem destruir tudo. Eu li várias vezes a profecia imaginando todas as interpretações possíveis. Uma semana depois, eu tinha um plano formado e Akhlys tinha voltado com informações cruciais, eu as usei pra complementar o plano.

– E agora? – Perguntou ela. Me entregando o bilhete que continha a interpretação correta de parte da profecia e alguns rabiscos de um mapa do Mar de Monstros.

– Vamos começar o primeiro estagio do plano, – Eu guardei o bilhete no bolso, que eu planejava dar para Nico – destruir o Empire State em Nova York.


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Notas finais do capítulo

Então? Então? kkk
E assim começaria o o capitulo 26.
Até a proxima!!