Em outro plano material, Inocente estava incrédulo com o que acabara de ver. Seu corpo jazia no chão, com metade da cabeça na parede, já irreconhecível de tão destruída. Mas não entendia como via aquela cena. Ele havia morrido. Sentira toda aquela dor. Ou não? Não sabia dizer ao certo. Mas sabia que queria vingança. Realmente não cometeu aquele crime. Ou cometera? Suas lembranças não vinham a mente. Ele havia perdido tudo, incluindo sua memoria. Mas porque sabia que aquele corpo era dele? Realmente era? Já não lembrava mais. Tinha seus sentidos, mas não tinha nada a mais. Ouvia os presos repetindo aquela palavra. Porque mexia tanto com ele? Um homem saiu do presidio. O seu instinto mandou segui-lo, então assim o fez. Não entendia o porque fazia, mas quando se deu por si, já estava o encarando. Conseguia vê-lo? Tentou toca-lo. Sentiu a pele do homem, mas ele sentiu seu toque? Não poderia saber. O homem continua andando. Ele tenta para-lo, mas não consegue. Não via mais nada. Tudo estava escuro. Não sentia mais nada. Tentava se guiar. Não ouvia mais nada. Não sentia cheiro algum. Apenas pensava. Pensava no que havia ocorrido para que ele perdesse tudo. Mas o que era tudo? Não sabia. Não conseguia descrever. Apenas lembrava daquela palavra ecoando sob o presidio. Aquela que lhe era tão familiar mas que agora lhe soava de uma maneira tão estranha. Aquela palavra de reconhecimento próprio. A palavra que odiava ouvir, que era utilizada por sarcasmo. Pela ironia que o matou.

Aquela maldita palavra. "Inocente"