ANTROPÓFAGO - Diário de um Canibal escrita por Adélison Silva


Capítulo 9
Na mira da polícia


Notas iniciais do capítulo

Max fugiu pelas as ruas de Braço forte arrastando o corpo de Ricardo. Mas o que ele não contava é com a presença da policia. E agora como ele sairá dessa?



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Braço Forte era uma cidade pequena, pacata e tranquila, no entanto bem charmosa. Com casarões, Igrejas, praças e museus, alguns construídos durante o tempo do ouro e da escravidão. Era dona de importantes acervos de arquitetura e arte colonial. Muitas de suas ruas ainda conservavam o calçamento original de paralelepípedos. Suas extremidades banhadas pelo o rio da Juventude, os antigos acreditavam que suas águas obscuras eram milagrosas e tinha o poder de rejuvenescimento.

  Corri com o carro pelas as ruas estreitas da cidade até as suas extremidades, com Ricardo amarrado no para choque. Ao aproximar do rio desci do carro e fui ver como ele estava. Diz o ditado que ‘vaso ruim não quebra fácil’, e para a tristeza do Ricardo esse ditado fez valer. Acredite, apesar de não ter mais nem carne em suas costas, ele estava vivo. O maldito ainda continuava vivo. Seu corpo estava dilacerado, ensanguentado, moscas o rodeavam, mas ainda continha vida. Ele me olhou com suas pálpebras baixa, seu olhar dava pena.

  Ao longe ouvi a sirene da policia, o que era uma raridade. A cidade era tão tranquila que os piores bandidos que se tinha eram ladrões de galinha. No entanto algo me dizia que desta vez não eram esses ladrões que a policia estava atrás.

 

 

MAX

(falando sozinho) A polícia! Eles não podem me pegar. A pequena Érica, eu preciso salvá-la.

 

 

  Voltei depressa até o carro, e para a minha surpresa a pequena Érica tinha acordado e soluçava em um gemido espremido, ao tocá-la percebo que estar ardendo em febre.

 

 

MAX

(assustado) Minha nossa ela está queimando em febre. Precisamos sair daqui.

 

 

  Eu tinha que ajudá-la, mas se antes eu não podia, pior agora com a polícia atrás de mim. Enrolei bem ela na manta, e a abracei fugindo pelo um beco escuro, tinha que achar um lugar para deixá-la, um lugar onde pudesse ter alguém para cuidar. Foi então que me lembrei de que ainda mantinha próximo ali um orfanato antigo, era um casarão dedicado aos pequenos enjeitados. As mães que não queriam ou não podiam cuidar dos seus filhos os deixavam no que chamava de roda dos expostos, o que era algo comum em tempos atrás. A "roda” consistia de um cilindro de madeira oco instalado no muro do orfanato com uma abertura voltada para a rua onde se depositava o recém-nascido, esse cilindro girava em torno do seu próprio eixo e ao girá-lo, a abertura dava acesso à parte de dentro do orfanato, após isso, tocava-se a sineta avisando a freira, que ia buscar a criança exposta.

  Estava aí à solução, o lugar perfeito para eu deixar a pequena Érica. Mas para isso eu teria que me desviar da atenção da policia, que naquele momento as sirenes buzinavam bem mais próximo. Desci por uma rua bem deserta, de casas pequenas e simples, ao longe avistei o orfanato. No entanto entre mim e ele havia uma praça, com alguns bêbados fazendo algazarra, eu não poderia chamar atenção. Decidi então retornar e contornar por outra rua evitando passar por ali. Ao final da rua me deparo com a policia, furiosa por ter visto o estado em que deixei o Ricardo. Fiquei na espreita com a criança nos braços, só ouvindo a polícia.  

  Moraes, o velho delegado da cidade estava em pé ao lado de Ricardo que ainda estava vivo, mas já nas últimas. Alguns policiais do seu regimento estavam ao redor, todos perplexos com o estado em que se encontrava Ricardo.

 

 

MORAES

(dando ordem) Vasculhe tudo, até encontrar o desgraçado que fez isso!

 

MAX

(falando pra si mesmo) Eu não posso deixar que eles me peguem. (falando para a menina em seus braços) Vamos meu amor, eu preciso encontrar alguém pra cuidar de você.

 

 

  Dei meia volta e contornei por uma viela, saindo ao lado oeste da praça.

 

 

MAX

Meu Deus, ela está tremendo. Deve está com fome e com frio. Eu tenho que me apressar, senão ela não irá resistir.

 

 

  Passei despercebido ao canto da praça e fui rapidamente em direção ao orfanato. E lá estava, a roda dos expostos. Ajeitei a menina e a coloquei deitada naquele cilindro. Toquei com violência a sineta, para que as freiras tivesse pressa em vir resgatar o bebê. Corri pela a rua me distanciando o máximo de onde estava a policia. Minha sorte é que por não ter muitos casos de violência na cidade, a companhia era composta por poucos policias, o que facilitava a minha fuga.

  Eu estava cansado, o dia já estava quase amanhecendo e eu ainda não havia dormido. Mas agora eu estava na mira da policia, se fosse preso, eu jamais conseguira encontrar a minha Érica.

  Havia ali uma pequena casa espremida em meio a dois velhos casarões coloniais. O seu muro tinha a média de meio metro de altura, algumas rachaduras figuravam na parede. A calha rachada fez com o que a chuva maltratasse sua fachada. Logo na entrada, uma vegetação vertical já começa a brotar da parede úmida. Sem contar o quintal, o que seria a grama já estava alcançando a altura do muro, alguns pés de mamona crescia beirando a parede. No meio apenas uma calçada feita de pedras ligando o portão a porta de entrada. Conclui que não houvesse moradores na casa, saltei o muro e me abriguei em uma pequena área em frente a casa, rodeada de paredes minúsculas feitas de blocos deitados.

  Ao amanhecer sou despertado pelo os raios do sol batendo em meu rosto. Levantei meio sorrateiro, olhando em direção a rua com medo de ser flagrado pela a policia. Então percebi movimentos dentro da casa. Diferente do que eu pensava havia moradores ali. Fui saindo discretamente, mas ao cruzar pela a porta principal sou flagrado por uma senhora idosa e moradora da casa que se assustou ao me ver ali em sua área.

 

 

SENHORA

(gritando assustada) Jesus de misericórdia! Quem é você?

 

 

  Não pensei duas vezes e me avancei em sua direção lhe tapando a boca. A puxei para o interior da casa, fechando a porta, para que ninguém pudesse nos ver. Ao lhe soltar a boca, a senhora que já era uma idosa implorava para que eu não a machucasse.

 

 

SENHORA

Por favor, moço eu sou só uma pobre viúva não me faz nada. Leve o que você quiser mas não me machuque.

 

MAX

Eu não quero nada com a senhora. (T) Me diga, tem mais alguém na casa?

 

 

  Ela parou por um instante e respondeu trêmula.

 

 

VANUSA

Não senhor, eu moro sozinha.

 

 

  Fiquei desesperado não sabia o que fazer agora eu era procurado pela a policia, não poderia vacilar. Olhei disfarçadamente pela a janela, queria ter certeza que ninguém havia me visto. A senhora se mantinha parada encostada na parede com olhos esbugalhados de medo. Respirava ofegante, nervosa com a minha presença.

 

 

MAX

Está com medo de mim?

 

SENHORA

Eu sou uma pobre viúva, nunca fiz mal a ninguém. O senhor pode levar o que quiser, eu só te imploro não faz nada comigo.

 

MAX

Eu já disse que não quero nada da senhora. Acho que eu sou um mostro, não é isso? (melancólico) É exatamente assim que eu me sinto, um monstro. Me perdi de mim mesmo. Eu sei que fiz coisas horríveis, mas eu só queria encontrar a minha Érica.

 

SENHORA

Mas eu não tenho culpa, moço. Por favor, só me deixa em paz.

 

 

  Incomodei-me com o descaso que ela fazia com aquilo que eu estava contando. Era como se ela não desse a mínima importância com os sentimentos que eu carregava dentro de mim.

 

 

MAX

Velha maldita! Pouco te importa o que se passou comigo né mesmo?

 

 

  A sirene da polícia soou ao longe e eu me desesperei. A segurei pelo o braço e fui puxando-a pela a casa, ela suplicava dizendo que era uma senhora de bem, e implorava para que eu não a fizesse mal.

 

 

MAX

Mora mesmo sozinha? Não está mentindo.

 

 

  Eu interrogava enquanto vasculhava alguns cômodos.

 

 

SENHORA

Moço, por favor, tenha misericórdia de mim!

 

CLARINHA

(saindo de dentro do quarto) Vó o que está acontecendo?

 

 

  Saía de dentro de um dos quartos uma bela moça. Uma cabocla de vestido florido e cabelos despenteados jogados sobre os ombros, de olhar tímido e boca carnuda. Encostou no batente da porta com os olhos assustados ao me ver. Com uma de suas mãos delicadamente colocou o cabelo atrás da orelha. Aquele gesto, como não me lembrar de minha amada Érica? Fiquei paralisado diante da beleza simples da moça.

 

 

SENHORA

(gritando) Sai daqui Clarinha, fuja minha filha!

 

 

  Soltando o braço da senhora, avancei sobre a jovem agarrei-lhe pelo o braço e a pressionei contra o meu corpo, ela me olhava assustada e arquejante. Alisei o seu rosto, e fiquei admirado com os seus encantos, era muito jovem tinha na faixa de um dezesseis anos, mas dona de uma beleza deslumbrante. Fui aproximando o meu rosto na intenção de beijá-la, ela fechava a cara e se franzia de nojo.

  Quando de repente recebi uma pancada na nuca, cambaleei um pouco tonto para o lado. Ao olhar para trás vejo a senhora com uma frigideira nas mãos. Antes que eu pensasse em qualquer reação se aproximou de mim novamente, dando repentinas pancadas com a frigideira em minhas costas.

 

 

SENHORA

(batendo em Max com a frigideira) Solte a minha neta, desgraçado!

 

 

  Cambaleei um pouco tonto para o lado. A senhora continuava a me acertar com a frigideira. Peguei o meu punhal que se encontrava em uma bainha em minha cintura e perfurei o seu abdome.

 

 

CLARINHA

(em prantos caindo de joelho no chão) Meu Deus! Tem misericórdia moço, não mate a minha avó.

 

 

  A Senhora arregalou os olhos e foi se desfalecendo em um gemido sufocado. Levantei a mão fui contornando o punhal verticalmente, traçando todos os seus músculos e expondo o seu intestino delgado. A Senhora caiu no chão tapando a incisura de seu abdome com as mãos. Clarinha se aproximou da avó que nesse momento estava caída no chão.

 

 

CLARINHA

(tentando ajudar a avó) Vó, por favor, não morra!

 

 

  Parti pra cima da moça arrastando-a para o quarto.

 

 

CLARINHA

Por favor, não! Eu só quero ajudar a minha vó.

 

MAX

A sua vó está morta, mas você está viva e eu quero você pra mim. Eu te amo Érica!

 

 

  Eu estava ficando louco, Érica não saía da minha cabeça. Estava cego, ainda mais por saber que a policia estava em minha cola. Comecei a pegar alguns lençóis roupas e tudo mais que encontrava pela a frente, rasguei tudo fazendo longas tiras, emendei uma na outra e amarrei os braços e as pernas da jovem Clarinha. Sua boca amordaçada com uma das tiras e mãos presas na cama.

  Retorno a cozinha e me surpreendo, a velha já não estava mais lá. Ao olhar para o rumo da porta da saída a encontro de mãos estendidas tentando suplicar por ajuda.

 

 

SENHORA

(com um grito sufocado) Socorro! Polícia, socorro!

 

 

  Rapidamente me aproximo e lhe dou inopinadas facadas nas costas, ela cai se estrebuchando no chão. Passei a faca em seu pescoço cortando todos os músculos e a traqueia, deixando a cabeça sustentada apenas pelo os ossos da coluna cervical.

  Ouço o barulho da sirene da policia já do lado de fora da casa. A maldita da velha conseguiu chamar atenção. Eu tinha que dá um jeito de fugir. Olhando pela a janela vejo Moraes descendo do camburão com a arma na mão e apontando para o rumo da casa

 

 

MORAES

Saia de mãos para cima!

 

POLICIAL

Ele está com refém.

 

MORAES

Eu sei. (dando ordem) Todos atentos, o meliante está com refém, não podemos colocar a vida de inocentes em risco. Repito, todos atentos as minhas ordens. Temos que ser cautelosos.

 

 

  Voltei ligeiramente para o quarto, cortei a tira que amarrava a moça na cama, e soltei as suas pernas. Com uma das mãos segurei firme os seus braços e com a outra pressionei a faca contra o seu pescoço. Arrastei a jovem até a porta e a fiz de refém. Ao ver o meu estado todos ficam abismados.

 

 

MORAES

Minha nossa! Solte a moça e ninguém sairá ferido.

 

MAX

(gritando) Um carro, eu quero um carro!

 

MORAES

Calma rapaz, fique tranquilo vamos conversar.

 

MAX

O senhor não entendeu doutor.

 

 

  Aproximei-me do rosto de Clarinha dei-lhe uma forte mordida na bochecha arrancando um pedaço. A jovem gemeu de dor.

 

 

MAX

Ou me arranje um carro ou eu devoro essa garota aqui na sua frente.

 

POLICIAL

Se o senhor quiser eu posso atirar. Eu tenho uma boa mira, posso acertá-lo.

 

MORAES

— (assustado com a frieza de Max) Está maluco? Se você errar o tiro matará a moça. Não podemos nos precipitar, ele não está brincando ele é capaz de devorar a moça aqui em nossa frente. (falando para Max) Eu te darei o carro que você quer, pode pegar o meu camburão. Mas solte a garota.

 

MAX

Eu não sou tão idiota, quero que todos desengatilhe a arma e as coloque no chão. E sem gracinha doutor.

 

MORAES

(para a sua tropa) Ouviram o que ele disse? Desengatilhe as suas armas e as coloquem no chão.

 

POLICIAL

(questionando) Mas doutor Moraes...!

 

MORAES

Obedeça, apenas obedeça. Eu conheço a jovem, não posso arriscar a sua vida.

 

 

  Todos me obedeceram, desengatilharam a arma e as puseram no chão.

 

 

MAX

Agora, afasta-se das armas.

 

 

  Fui andando cautelosamente até o camburão velho do delegado, entrei e fui puxando logo a Clarinha pra dentro. Liguei a chave que já se encontrava na ignição e acelerei o carro com violência.

Os policias rapidamente pegaram as armas do chão, entraram no carro e aceleraram atrás de mim. Cortei pela a cidade em alta velocidade, derrubando tudo o que encontrava pela a frente. Passei pela a ponte, e cortei em direção a floresta de Mossaíh, adentrado a mata, até finalmente consegui despistar a policia. A pobre Clarinha se bambeava de um lado ao outro dentro carro, pois estava de mãos atadas e sem cinto de segurança. Mesmo em alta velocidade ajeitei o punhal na cintura, abrir a porta do lado do passageiro, e me joguei pra fora empurrando a moça junto.

Caímos rolando pelo chão, e o carro chocou diretamente com uma árvore provocando uma explosão. Levantei completamente ferido, e fui mancando até a jovem Clarinha, que estava desmaiada. Cortei a tira que prendia os seus braços e a puxei até a parte mais fechada da floresta. Encostei em uma pedra e fiquei ali admirado com a sua beleza.

  Era como se Érica estivesse diante de mim. Tudo bem a Clarinha não era tão parecida com ela, mas alguns de seus traços me faziam lembrar-se dela. Em alguns momentos a minha obsessão fazia com o que ao invés da jovem eu visse Érica ali, deitada em minha frente.

  Aproximei-me, e comecei a tocar em seus cabelos, descendo a mão pelo o seu rosto, sentindo a ferida feita pela a minha mordida. Fui contornando a mão por baixo do seu vestido na parte superior dos seus seios, e senti o seu coração batendo acelerado. A jovem despertou e se assustou ao me vê lhe tocando. Afastou-se de mim e ficou de olhar baixo me observando.

  Era nojento o desejo que eu tinha, almejava experimentar o sabor do coração daquela moça. Eu tinha medo desse desejo, ele me impulsionava a fazer o mal. Já sentia o cheiro do seu sangue, a minha saliva umedecia a minha boca, eu era a fera e ela a presa.

  Clarinha foi se arrastando ao chão afastando se de mim. Levantou em um pulso e correu cambaleando por entre os matos, levantei apressadamente e corri atrás dela. Tirei o punhal da cintura, e ao alcança-la, me jogo em cima, segurando-a contra o chão. Ela se debatia e tentava fugir, segurei sua cabeça defronte ao chão, e enfiei a faca por baixo dos seus seios. Sentia o seu sangue escorrendo em minhas mãos. Ela perfurava os dedos na terra e gemia em meio ao tormento. Tarde demais já estava fraca, seu corpo amoleceu e se entregou a dor.

  A coloquei em decúbito dorsal, e perfurei entre os seus seios lhe arrancando os últimos suspiros. Segui a mesma rota das outras vítimas, contornando a faca por baixo das costelas e arrancando pra fora o seu coração.

  Ainda estava quente, abocanhei e estraçalhei aquele órgão com uma alacridade de quem ansiava por aquilo há séculos. Era perturbante os meus sentimentos naquele momento, era um tesão, um gozo de bem estar. Minha carne tremia e meu sangue fervia, era uma lascívia, sentir a sua carne descendo em minha garganta. Caí em si e me dei conta do que havia feito, sentia nojo de mim mesmo, queria me lavar, livrar daquele cheiro. Mas água nenhuma conseguiria limpar a minha alma.


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Notas finais do capítulo

A ira de Max não tem fim. Ele próprio se considera uma fera. Quantas vítimas ele fará antes de encontrar sua amada Érica? E como ele vai reagir depois de reencontrar seu grande amor, e vê-la com seu amigo? Comentem...



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