ANTROPÓFAGO - Diário de um Canibal escrita por Adélison Silva


Capítulo 8
Jantando com o inimigo


Notas iniciais do capítulo

O tão ansioso reencontro. Vingança guardada há 10 anos. O que Max fará ao ficar frente a frente com o seu rival?



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Eu estava mergulhado em um ódio febril, queria matar o Ricardo, mas seria pouco. A morte dele teria que ser lenta, assim eu me saciaria de cada minuto de seu sofrimento.

 

 

MAX

(com sarcasmo) Não reconhece a minha voz?

 

 

  Óbvio que eu seria a última pessoa que ele pensaria, pois para ele eu estava morto.

 

 

 

RICARDO

(desesperado) Onde está a Dayse?

 

MAX

— No momento ela não pode falar. Ou melhor, ela nunca mais poderá falar.

 

RICARDO

— O que você fez com a minha mulher? Eu quero falar com ela.

 

MAX

— Preocupado agora Ricardo? Ao chegar aqui a encontrei furiosa contigo. (com ódio) Você me afastou da mulher que amo, e eu te afastei da sua.

 

RICARDO

(sem entender) Mas quem é você, do que está falando?

 

MAX

— Volte o quanto antes pra casa. E oh, nada de chamar a policia, senão farei sopa da tua filhinha.

 

RICARDO

(mas confuso ainda) O quê, como assim minha filhinha?

 

 

Era aprazível o que eu sentia naquele momento, Ricardo estava em minhas mãos, e eu não poderia deixá-lo escapar incólume. Desliguei o telefone e fui até o corpo de Dayse, o admirei por um instante, e logo depois peguei a faca e repetir o processo que havia feito com a moça na caverna. Cortei um pouco abaixo da sua caixa torácica, em meio às costelas esquerdas flutuantes, e fui contornando a faca por entre os pulmões, até encontrar o seu coração. Delicadamente vou arrancando-o para fora.

  Era impressionante, mas uma vez me sentir um animal diante de sua presa. Regozijava-me com o cheiro do sangue, desejava abocanhar aquela carne e sentir todo o seu sabor. Levei o coração até a altura dos meus lábios, deixando-o completamente lambuzado. Não! Ainda não poderia comer, ainda não era o momento de eu devorar aquela carne, aquele cardápio era pra dois.

  Peguei então o coração ainda inteiro, coloquei em um prato e levei até a mesa. Preparei tudo como se fosse servir um belíssimo jantar. Taças com vinho tinto (um velho Cordelier Licoroso Rosado, que encontrei no fundo da geladeira). Coloquei também algumas frutas vermelhas (minha cor preferida) e algumas partes do corpo de Dayse. Como dedos, orelha, e fatias do seu músculo facial. Todos arrumados precisamente sobre a mesa, que já se encontrava forrada com uma toalha branca, colocados em pratos de porcelana chinesa. Daquelas usadas apenas param servir convidados especiais. Cobrir o corpo que ainda estava amarrado na escada, com um lençol. Peguei a pequena Érica, que mantinha-se dormindo no bebê conforto e a deixei sobre uma cadeira próxima a mim. Sentei diante do prato que estava com o coração, enchi uma das taças com vinho e fiquei ali esperando a chegada de Ricardo.

  Não demorou muito e Ricardo chegou ofegante, empurrando a porta com violência entrando desesperado. Levou um susto ao me ver.

 

 

MAX

(irônico) Boa noite querido, como demorou! O jantar estar servido. Sente-se, espero que goste do cardápio.

 

RICARDO

— (olhos lacrimejando) Onde está a minha mulher, o que você fez com ela?

 

 

  Dei uma olhada em direção ao cadáver de Dayse. Mais do que depressa ele correu em direção à escada, levantou o lençol e se repugnou ao ver o estado em que se encontrava o corpo de sua mulher. Ajoelhou-se no chão e se derramou em lágrimas. Eu continuei no mesmo local, saboreando o vinho e provando pequenas fatias do coração. Ricardo olhou firme para mim, derramado em prantos com toda aquela cena, eu continuei encarando-o com um sorriso cínico nos lábios. Ele tirou de dentro da calça uma pistola C02 Dan Wesson, correu em minha direção apontando a arma e me amaldiçoando.

 

 

RICARDO

(se aproximando de Max) Desgraçado eu vou te matar!

 

 

Peguei o bebê conforto com a criança e coloquei sobre a mesa.

 

 

MAX

— Quero lhe apresentar a pequena Érica.

 

 

  No mesmo instante notei que a fisionomia de Ricardo mudou, a sua mão trêmula que segurava a arma, relaxou, descendo até a altura do quadril.

 

 

MAX

(provocando-o) Enquanto eu saboreava esse delicioso coração. Fiquei aqui pensando. Que gosto teria um coraçãozinho tão pequeno?

 

 

Eu falava enquanto deslizava a faca pelas as bordas do bebe conforto.

 

 

MAX

— Deve ser um sabor incomparável, essas batidas tão repentinas.

 

RICARDO

— Essa criança é minha filha? Não toque nela, eu te imploro!

 

MAX

— Parece um anjo, não é mesmo? Seria uma maldade interromper uma vida tão pequena.

 

RICARDO

— Quem é você? Porque está fazendo isso comigo?

 

MAX

(pressionando o punhal sobre a criança) A arma Ricardo. Jogue-me a arma agora!

 

RICARDO

— Calma, eu vou te dá a arma. Mas não faça nada com minha filha! (chorando) Por favor, não a machuque!

 

 

  Ricardo suplicava enquanto se abaixava lentamente deixando a arma no chão.

  Inacreditável, mas era possível ver a paixão que ele já tinha pela filha. Eu olhava para a criança e via a doçura que se escondia em seu semblante, a inocência que se escondia atrás daqueles olhos pequenos, isolada do mundo, ingênua diante de tudo aquilo que estava acontecendo em sua volta. Eu não poderia machucá-la, jamais faria isso. Mas é claro que Ricardo não precisava saber disso.

 

 

MAX

— Chute a arma para mim. Ou eu esquartejo essa criança aqui em sua frente.

 

 

  Sem saída ele me obedeceu. Aparei com o pé direito, agachei com os olhos fixo nele e peguei a arma. Ricardo agora estava sobre o meu poder.

 

 

MAX

— Como eu ansiei por esse encontro. (apontando a arma) Sente-se Ricardo vamos comemorar!

 

RICARDO

— O que você quer comigo? Que mal te fiz?

 

 

  Perguntava ainda sem me reconhecer. O que era compreensível eu estava completamente deformado.

 

 

MAX

— Não me reconhece? Claro que não, achava que eu estivesse morto, não é mesmo? Às vezes eu penso que sim, pois sinto o meu corpo vagar sem alma. Carrego apenas o ódio amargo daquele dia. O dia em que senti as chamas e a soda cáustica a me corroer, enquanto vocês comemoravam felizes, desprezando o meu martírio. Zombar de mim sempre foi a sua diversão preferida, não é mesmo?

 

RICARDO

(reconhecendo) Meu Deus! Maxwell é você?

 

MAX

— Eu amei Érica mais do que a minha própria vida, e você me impediu de ficar com ela. Agora eu retornei Ricardo para destruir a sua vida.

 

RICARDO

— Eu não tenho culpa do acidente. Não faça nada contra a minha filha, eu te suplico. Eu era um babaca, por isso te perturbei tanto.

 

MAX

(ordenando) Sente-se Ricardo vamos saborear esse jantar especial que preparei para nós.

 

RICARDO

— O que está fazendo Max? Que criatura você se tornou?

 

MAX

— Enquanto você vivia aqui no conforto. Eu passei esses últimos anos no inferno, enfornado em uma caverna. Sendo obrigado a conviver com as minhas cicatrizes e com as sequelas que a soda me trouxe. Até hoje eu tenho dificuldades para respirar e estou completamente cego de um olho. A vida não foi nada justa, eu só estou corrigindo essa injustiça do destino.

 

 

  Ricardo ainda me olhava com os olhos arregalados e atentos, incrédulo por me ver em sua frente. Apontei novamente a arma em sua direção e exigi mais uma vez que se sentasse.

 

 

MAX

— Eu estou cego e você pelo o jeito está surdo. Não ouviu eu lhe mandar sentar?

 

 

  Ele se aproximou vagarosamente da mesa, puxou a cadeira e se sentou diante do prato com as partes do corpo de Dayse. Dava pra senti o medo em seu olhar. Enchi uma taça com vinho e o servi.

 

 

MAX

(enchendo uma taça de vinho) Tem um bom gosto Ricardo, esse Cordelier é mesmo divino.

 

 

  Ricardo ficou paralisado, de olhos arregalados em minha frente com medo do que eu poderia fazer.

 

 

MAX

(com sarcasmo) Que desfeita, não vai provar do delicioso jantar que preparei com todo carinho pra você?

 

 

  Ricardo olhou em direção ao prato, engoliu saliva, ofego ao ver as partes do corpo de sua mulher, olhava em minha direção tentando achar uma maneira de fugir daquela situação.

 

 

MAX

— Que péssimo anfitrião eu sou, perdoe-me irei servi-lo.

 

 

  Levantei da cadeira em que estava, prendi o revolver na cintura e dei leves passos em sua direção. Aproximei-me e peguei seu prato, enfeitando com tudo que tinha na mesa. Caprichando com alguns bifes crus dos músculos faciais de Dayse. Ao retornar ao meu lugar perfurei um dos dedos que estava no prato com a ponta da faca, levei até a minha boca e degustei.

 

 

MAX

(pegando o dedo com a mão) Gosto da cartilagem que cobre as juntas das falanges. Porque não experimenta?

 

 

  Eu dizia, enquanto furava um dos dedos de Dayse com a ponta da faca e levava até a boca de Ricardo. Que virava o rosto para o lado enojado e derrubando a carne no chão.

 

 

MAX

— Não se preocupe eu pego outro.

 

 

  Levei mais um dos dedos de Dayse na direção da boca de Ricardo.

 

 

RICARDO

(suplicando aos prantos) Por favor, Max não me obrigue a isso! Eu não sou culpado por você está assim, eu nem estava lá quando você caiu no cilindro de soda. Lembra?

 

MAX

(frio) Mas você é culpado por eu não estar com a minha Érica. Eu sempre a amei e você debochava desse amor. É verdade que não estava presente, mas se tivesse na certa seria o primeiro a me mergulhar naquela soda.

 

RICARDO

— Não é verdade, eu sempre fui seu amigo.

 

MAX

— Cala essa sua maldita boca Ricardo! Não vem me falar de amizade, por sua culpa Érica não me quis.

 

RICARDO

— Por favor, Max, me escute. Guarde esse ódio para o Davi, ele é que está com Érica agora.

 

MAX

(sem entender) O que está dizendo?

 

RICARDO

(tentando se safar) Que você está se vingando da pessoa errada. Mal você foi tido como morto que o Davi já se aproximou de Érica, os dois agora estão juntos e casados.

 

MAX

— O Davi não faria isso comigo!

 

RICARDO

— É aí onde você se engana. Vai atrás da Érica o seu grande amor, não permita que ela fique com o Davi.

 

 

  Eu não podia acreditar naquelas palavras. Não poderia acreditar que o meu melhor amigo fosse fazer isso comigo. É claro que eu tinha que acreditar, isso explicava a alegria dos dois, abraçados enquanto eu me afundava em meio aquelas chamas. Ricardo insistia em fazer a caveira do Davi, tentava me fazer a cabeça procurando uma maneira de sair ileso de tudo aquilo.

 

 

RICARDO

— O que está esperando? É o Davi o seu inimigo.

 

MAX

— O Davi e a Érica terão o que merecem na hora certa, agora somos nós dois.

 

RICARDO

(preocupado) Calma Max, não faça nada comigo!

 

MAX

— Você não entendeu Ricardo, você não tem escolha. Eu quero que você coma tudo isso que tem no prato. E depois vamos dá uma voltinha. (olhando para a criança que ainda dorme no bebe conforto) A pequena Érica precisa de um lar.

 

RICARDO

— Não precisa ser assim, vamos conversar melhor a gente vai se entender.

 

MAX

— Entender? A única pessoa que precisa entender aqui é você. Cala essa sua maldita boca e coma logo Ricardo!

 

 

 

   Bradava enquanto apontava a arma em sua direção.

  Ricardo tremia enquanto pegava as partes do corpo de sua mulher e levava até sua boca. A cada mordida que dava, era notável a ânsia que sentia. E ao contrário eu degustava aquela carne como se fosse o mais delicioso dos pratos que alguém pudesse ter feito.

 

 

MAX

— Jantar delicioso, espero que esteja do seu agrado. A sua mulher é literalmente muito gostosa.

 

RICARDO

(chorando) Você é um doente, um nojento!

 

MAX

(irônico) O que eu posso dizer? É sempre um prazer agradar o amigo.

 

 

  Eu me preocupava com a pequena Érica, não é normal uma criança dormir tanto assim. Eu tinha que fazer alguma coisa, não me perdoaria se ela morresse. Enquanto eu me distraía com a criança, Ricardo avançou-se em mim no intuito de me tomar a arma. Derrubou-me no chão e logo veio por cima enfiando a mão na minha roupa querendo me arrancar o seu revolver. Com as pernas lhe dei um empurrão, e levantei rapidamente, e dei dois tiros um em cada pé.

 

 

MAX

(com ódio) Idiota! Quis dá uma de esperto?

 

 

Ricardo aprisionou os pés em uma posição fetal na tentativa de amenizar a dor. Tomado pelo ódio segurei-o pelo o braço e o arrastei pela a casa. Peguei a fita de alumínio que se encontrava ao lado do corpo de Dayse e amarrei os seus dois pés e os dois braços deixando-o imóvel.

 

 

RICARDO

(suplicando) Max não faz nada comigo! Eu te imploro, me deixa viver.

 

 

  Amordacei-o sufocando sua voz. Depois subi a escada puxando-o pela a perna. No alto da escada o amarro de cabeça para baixo, deixando mais ou menos trinta centímetros do chão. Retorno até a mesa e pego a faca. Os pés feridos de Ricardo escorria sangue, que descia pela a perna e respingava no chão. Enfiei a faca em meio as suas pernas, partindo os seus genitais ao meio, descendo até a altura do seu umbigo. Ricardo tremia remoendo de dor. Eu tinha que ser mais preciso, não poderia deixar a pequena Érica sem cuidados. Estiquei os braços e cortei a fita que sustentava os pés de Ricardo, derrubando-o no chão. Ele tentava se encolher, mas já não tinha mais força. Até o seu intestino era possível ver pela a incisura que havia em seu abdome. Fui até a garagem e lá encontrei um cabo de aço (desses usado para reboque de carro). Voltei até a sala e amarrei o cabo de aço nas pernas de Ricardo, fui puxando-o até a garagem e o amarrei no para-choque traseiro do seu carro. Voltei até a sala peguei as chaves e o bebe conforto com a pequena Érica. Acelerei o carro arrebentando o portão e arrastando o Ricardo em meio ao asfalto.

 


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Notas finais do capítulo

Mais uma vítima da ira de Max. Ricardo bem que tentou jogar a culpa em cima do Davi, mas Max não o perdoou. Comente o que achou...



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