ANTROPÓFAGO - Diário de um Canibal escrita por Adélison Silva


Capítulo 12
A prisão


Notas iniciais do capítulo

Atrás das grades Max sofre com o terror de sua própria consciência.



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Fui arrastado algemado pela a floresta, sempre com uma arma apontada na cabeça. Até chegar ao local em que se encontrava o camburão da policia civil. Eles me jogaram atrás do camburão, e me levaram direto para a delegacia de Braço Forte.

  Durante a viagem desabou sobre minha mente uma avalanche rápida de lembranças dilaceradoras. Reconheci, naquele segundo, tudo o que eu tinha sido, o monstro que eu carregava dentro de mim. Minha cabeça fervia em meio a um turbilhão de pensamentos e sensações. Pior do que a tropa da policia civil era o exército do foro íntimo que carregava dentro de mim. Desejos, pensamentos e emoções que constantemente me manipulavam. Meu braço machucado, a mente atordoada, os pés cansados, o coração partido e os olhos vermelhos de lágrimas repremidas. Eu seria levado em um julgamento onde eu era o réu, culpado por sangue inocente que escorreu por entre os meus dedos. E cada vez mais eu me via distante da minha amada. Tudo o que eu queria era apagar esse período sombrio e voltar ao repouso dos braços de Érica. Mas quanto mais eu procurava me redimir mais monstruoso eu me tornava. Era como se uma força estranha e surreal tomasse conta de mim.

  Ao chegar em Braço Forte sou recepcionado pela uma multidão furiosa, que gritava e me amaldiçoava.

 

MULHER

Ele deve ser morto!

 

HOMEM

Desgraçado! Vai apodrecer atrás das grades!

 

MULHER

Vamos matá-lo!

 

 

  Segui dentro do camburão olhando triste para a multidão do lado de fora, que corriam atrás me praguejando. O camburão da policia civil cortou a cidade e tomou rumo direto até a delegacia. A delegacia de Braço Forte assim como a maioria da cidade ainda conservava a estrutura do tempo antigo. Localizava-se em um edifício de dois pavimentos sólidos e austero, com janelas de cantaria protegida por pesadas grades, bem no centro da cidade ao lado oeste da Matriz.

  O camburão parou em frente da delegacia. Alguns da multidão tentaram se aproximar, mas a tropa de choque os conteve.

 

 

ÁLVARO

(para a multidão) Se afastem! Deixem que a polícia cuide disso.

 

SARA

(vindo logo atrás com Hugo) Onde que essa multidão toda estava escondida?

 

HUGO

Braço Forte é uma cidade pacata nada acontece aqui. Isso aqui pra eles é um espetáculo.

 

SARA

Espetáculo ou não, vou ter uma conversa séria com o nosso amiguinho aí.

 

 

 

  Já dentro da delegacia, sou levado até a sala do delegado Moraes.

 

 

 

ÁLVARO

(entrando com Max na algema) Com licença Dr. Moraes! Mais um inquilino para a vossa residência.

 

MORAES

Meu Deus, o que aconteceu com essa criatura?

 

SARA

Ainda não sabemos, o jovem aí não gosta muito de conversar. Eu preciso de uma cela isolada para deixá-lo. Ele pode ser muito perigoso, não podemos deixá-lo junto com os outros presos.

 

MORAES

A nossa delegacia é antiga e muito pequena. E os dois pavimentos que temos aqui já estão todos ocupados. Não existe nenhuma cela reservada.  A única cela que temos vazia é lá embaixo.

 

HUGO

(estranhando) Embaixo?

 

MORAES

Sim. No porão.

 

 

Todos se olham.

 

 

SARA

A gente não sabe do que ele é capaz. Pois é lá no porão que ele deve ficar.

 

 

  Atravessamos vários metros do corredor em silêncio, ignorando os poucos prisioneiros que eram mantidos ali, eles gritavam e tentavam a todo custo chamar a atenção, até mesmo com insultos. No fim do corredor, uma escada que levava para o porão. As celas não eram localizadas em um local muito favorável, no subsolo a luz solar era difícil penetrar, apenas umas lâmpadas incandescentes penduradas no teto, dava ao ambiente uma claridade tímida. Ao descer a escada, sinto um forte odor de mofo e de cadáver de algum bicho morto. Fui deixado sozinho no fim do porão, em uma cela completamente distante das outras.

  No fim do dia, Sara Campestrini escoltada por dois policiais da policia civil. Desceu até o porão onde eu estava. Parou a certa distância. Deixando entre ela e as grades o espaço de um pequeno corredor de mais ou menos um metro. O olhar dela me fitava de tal forma que parecia zumbir em meus ouvidos. Eu me mantinha sentado na cama de cimento apenas a observando. Os olhos castanhos de Sara me percorriam de cima abaixo, talvez pasma pelo o estado em que me encontrava.

 

 

SARA

Eu sou Sara Campestrini, psicóloga forense. Estou encarregada de resolver o caso em que te envolve. Vou direto ao que interessa. Quem é você, e porque feriu aquelas pessoas?

 

 

  Eu continuava em silêncio, pois não havia razão nenhuma para machucar aquelas pessoas. Eu era controlado por uma força frenética da qual não tinha explicação, sentia prazer ao ver o desespero das minhas vitimas.

 

 

SARA

(insistindo) Você não consegue falar?

 

  Abaixei a cabeça por um instante, pensei um pouco e respondi:

 

 

MAX

Eu sou Maxwell Lenzi.

 

SARA

Lenzi? Por acaso é descendente de italiano?

 

MAX

Meu avô paterno é italiano. Mas o que a minha descendência tem de importante?

 

SARA

Verdade, não tem importância nenhuma. Eu também sou descendente de italianos. Eu quis apenas quebrar o gelo. O que aconteceu com você? Como conseguiu essas cicatrizes?

 

 

  Conforme Sara conversava iria se aproximando ainda mais da cela. Mas deu uma passada para trás, assim que me pus em pé. Os policiais que lhe acompanhava tiraram as armas da cintura e apontaram para mim. Dei um sorriso de canto de boca ao notar o medo que eles tinham de mim.

 

 

MAX

Eu morri Doutora. O que a senhora ver é apenas uma alma decadente perambulando pelo o mundo.

 

SARA

Almas não costumam sair por ai machucando as pessoas. Os mortos não me perturbam, os vivos é que me dão trabalho.

 

MAX

(com voz firme) Gosta de manter a pose de durona, não é, Doutora? E odiaria pensar que é uma pessoa comum, semelhante às mulheres que matei. (T) Tem medo de mim, Doutora?

 

SARA

Você é apenas um pobre coitado Maxwell, e acha que o mundo todo é culpado pelo o seus problemas. Você não me faz medo, tenho repugnância de gente como você.

 

 

  Me aproximei ainda mais da cela. Sara deu mais um passo para trás.

 

 

MAX

Sabe o que eu faria se estivesse aí do lado de fora, Doutora? (frio) Te amarraria e arrancaria todo o seu couro, deixando seus músculos todos expostos para fora. E tudo isso você ainda com vida. Depois, enfiaria a minha faca por baixo da sua costela e puxaria seu coração pra fora. E assim me saciaria com o seu sabor. (como se sentisse prazer) Deve ser um gosto deslumbrante, seu sangue deve ser ainda mais quente por conta do seu jeito temperamental.

 

 

Sara ficou incomodada ao ouvir as minhas palavras.

 

 

SARA

(autoritária) Só que você não está aqui do lado de fora. E é aí dentro que você vai ficar apodrecendo junto com os ratos.(para os policiais) Vamos! Acredito que o nosso amigo quer ficar um pouco a sós.

 

 

  Os dias se passavam e eu continuava trancado na minúscula e escura cela, com poucas refeições ao dia. Uma jarra de água era deixada ao lado da cabeceira da cama de cimento. As minhas roupas esfarrapadas eram substituídas por outras que pareciam mais esfarrapadas ainda. O local era sujo e tinha um cheiro sufocante, minha higiene era feita em um banheiro sem porta localizado no fundo da cela. Com o tempo as visitas de Sara passaram a ser quase que diárias. Ela me fazia perguntas sobre tudo, sobre o período que passei na republica, a minha infância, os meus pais, amigos. E até sobre os meus animais de estimação.

 Naquele dia Sara veio andando sozinha até se aproximar da cela em que eu estava. Ela puxou uma cadeira que já estava ali próxima e se sentou com uma prancheta em mãos. Eu estava sentado na cama escorado na parede de lado para ela. Do jeito que eu estava, continuei.

 

 

SARA

(já sentada) Boa tarde Max!

 

MAX

Boa tarde doutora! Estou surpreso. Por onde anda as duas sombras que sempre lhe acompanha?

 

SARA

Julguei que não fosse necessário a presença de nenhum deles. Espero não está errada.

 

Me ajeitei na cama e fiquei de frente para Sara.

 

 

MAX

Não tem mais medo de mim doutora? 

 

SARA

Eu nunca tive medo de você, Max. Apenas me precavi. Eu vim aqui hoje para te conhecer melhor, saber um pouco mais da sua história. (T) Você já me disse que não é daqui de Braço Forte, que nasceu em Ouro Preto. Eu queria ouvir um pouco mais sobre a sua infância.

 

MAX

Não sei em que a minha infância possa tanto te interessar.

 

SARA

Só me conte.

 

MAX

Nasci em uma família bem sucedida, morávamos em uma casa grande de dois andares, tão grande que nos perdíamos dentro dos cômodos. Meus pais nunca quiseram filhos fui um acidente, minha mãe tentou me abortar por duas vezes, mas na hora lhe faltava coragem.

 

 

  Era como se um flashback passasse em minha mente enquanto contava. Sara ficava atenta a casa palavra que eu mencionava, anotando tudo o que julgava necessário. E eu continuei.

 

 

MAX

— ... Fui criado como um fardo na vida deles. A pessoa de mãe que eu conhecia era Lourdes a minha babá, ela sim cuidava de mim como uma verdadeira mãe. Eu não odiava os meus pais, eles não são culpados por eu ter aparecido na vida deles. Eu tinha os melhores brinquedos, as melhores roupas, a melhor escola, e mesmo assim me sentia pobre. Aquela “mordomia” toda não me satisfazia. Passava o dia solitário procurando alguma diversão em meio aqueles brinquedos caros, que pra mim não tinha a menor graça. Só me animava quando Lourdes terminava os seus afazeres e reservava um minuto do seu tempo para brincar comigo. No fim da tarde me sentava na sacada, olhando as crianças brincarem na rua, com suas roupas sujas de tanto cair no chão. Corriam de um lado ao outro jogando uma bola de tênis (ou algumas vezes feita de meia pela as próprias crianças) em uma lata de óleo, localizada em um circo riscado no asfalto. Cruzavam os seus tacos, contado de dez em dez no tradicional jogo de bets. Mesmo com seus jogos improvisados era possível ver a felicidade estampada em seus rostos. Aquilo pra mim era uma liberdade a qual eu não tinha, trancafiado nos muros daquela mansão. Não tinha amigos. Na escola sentava isolado, em uma cadeira no meio da sala encostada na parede. Parte da aula eu dormia, na outra eu fazia caricaturas dos meus colegas, e principalmente das garotas que mais me interessavam. Mas nunca tinha coragem de me aproximar de nenhuma delas.

 

SARA

O que acontecia se você tirasse nota baixa na escola?

 

  Me levantei e comecei a andar pela a cela enquanto respondia Sara.

 

 

MAX

Meu pai me batia, e me trancava no sótão em meio a uma montanha de livros. Dizia que eu tinha que decorar todos só assim ele me tiraria de lá. Mas em alguns eu nem pegava, passava meu tempo fazendo desenhos em meu caderno. Eu sabia que ele não iria me tomar a lição, estava “ocupado” demais pra isso. Na maioria das vezes me esquecia lá, Lourdes é que no fim do dia pegava a chave e me soltava.

 

SARA

Com o que ele te batia, Max?

 

MAX

Com o cinto, ele usava a parte da fivela que era pra doer mais. Dizia que quanto maior o castigo, maior o aprendizado. (T) Seu pai já lhe bateu com o cinto, Doutora?

 

SARA

Meus pais preferiam outra forma de educar, sem muita violência. Mas você não teve nenhum amigo na escola, Max?

 

MAX

Não. Eles me chamavam de esquisito. E os que procuravam serem meus amigos eram só pra que eu pagasse o lanche deles na cantina.

 

SARA

E você nunca fez nada contra nenhum deles?

 

 

 Sara me interrogava no intuito de conseguir arrancar algum ato psicopata que eu havia cometido em minha infância. Mas a minha infância foi seguida de medo e tristeza.

 

 

[FLASHBACK ON]

 Sozinho preso durante horas, naqueles cômodos cheios de cortinas, vasos e quatros os quais tinha medo de tocar e quebrar. Vigílias passadas por trás daqueles portões que me pareciam mais uma prisão, me distanciando da liberdade usufruída pelas as crianças do meu bairro. Com o passar do tempo, eu já adolescente, meus pais souberam de uma republica localizada em uma cidadezinha no interior. Pra eles era uma oportunidade de se livrar de mim, pra mim a liberdade a qual sonhei a minha vida toda. Cheguei na republica ansioso, parecia que finalmente seria dono da minha vida, e ao mesmo instante com medo de relacionar com os outros. No entanto com o tempo fui percebendo que a tal liberdade ainda teria que esperar, pois todos lá éramos subordinados pelas as regras postas pela a dona Elizabeth. Se bem que as regras não eram o meu pior problema. Eu tinha medo de gente. Os meus colegas me olhavam de cima a abaixo, alguns passavam rindo de mim, aquilo me incomodava, parecia que eu não estava pronto pra enfrentar o mundo. Mas nenhum deles me incomodava tanto como o Ricardo.

 

RICARDO

(se aproximando de Max juntamente com dois de seus amigos) Olha só galera que coisinha esquisita. Qual o seu nome rapazinho?

 

MAX

(gaguejando) Meu no... nome é Ma... Ma... Maxwell!

 

RICARDO

(zombando) Ma... Ma... Ma...! Já vi tudo é mais um idiota.

 

BETO

Temos que dá as boas vindas a ele.

 

RICARDO

Verdade. Pega ele pela as pernas e deixa que eu pego pelo os braços, vamos jogar ele dentro da caixa d’água.

 

 

  Os três me pegaram e me jogaram em uma caixa d’água que havia no meio do pátio. Eles riram ao me ver ali todo molhado.

 

[FLASHBACK OFF]

 

 

MAX

Aos poucos fui me adaptando e me tornando menos esquisito se é que era possível. Ricardo continuava a me provocar, me colocando apelidos pejorativos, e algumas vezes faziam trotes. Como pôr creme dental em meu rosto enquanto dormia, insetos em minha gaveta de roupa, e fora outros. Isso no inicio me incomodava, mas depois eu já não dava tanta importância. Eu continuava na minha zona de conforto, isolado de tudo e de todos, guardado em meu mundo particular.

 

SARA

E porque você nunca contou pra dona Elizabeth, sobre as façanhas de Ricardo?

 

MAX

Ela não iria acreditar, e se acreditasse não daria importância pra isso. Ninguém nunca se importou comigo, Doutora. Nem os meus pais, nem meus professores, nem o meu amigo Davi e nem se quer Érica.

 

SARA

(interessada) Érica? Quem é Érica?

 

MAX

(com brilho no olhar) Simplesmente a garota mais fascinante que eu já conheci.

 

 

  Érica! Só em ouvir o seu nome já me envolvia em encantos. Como resistir aos pequenos detalhes que te forma? Seu rosto, seus olhos que se encontra nos meus, seu sorriso, teus lábios carnudos. E tua pele, tão clara, tão frágil, tão linda, tão delicada. Esse jeito tão seu de pôr o cabelo por trás da orelha. Teu corpo, tuas pernas, tuas mãos... Ah, as mãos! Como descrever a suavidade destas, que entrelaçava os dedos aos meus me fazia perder em meio a esse sortilégio? E o encanto dos seus movimentos, desfilava por onde passava, fascinava, provocava, se fazia presente. Um brilho próprio indescritível. Ela me transportava para outro lugar, um lugar encantado, onde o tempo não existe, e o coração a todo instante palpitava acelerado. É sonho, é realidade, já não sabia mais. O que sabia é que quando estava com ela, tudo desaparecia, e até os pássaros cantavam mais suave. Roubava-me a calma, a alma, o corpo, a mente, a razão, a emoção. Ela invadia meus sonhos, delírios. Provocava meus desejos mais inconfessáveis, desejava possuí-la. E por vezes, me desesperava. Já não a tinha mais.

   Um despertar qualquer me acordou desse sonho em que me encontrava e me pôs diante da minha realidade. Estava trancafiado em um cárcere, tendo como companhia apenas os ratos rabugentos, que aparecia na esperança de furtar um pouco da minha comida. Eu andava de um lado ao outro inquieto. Sentei-me na cama e com uma pedra comecei a riscar a parede. Alguns ratos viam se aproximando discretamente.

 

 

MAX

Olá amiguinhos! Estão com fome? (dando comida para os ratos) Aqui oh! Pode comer, eu já não tenho mais fome.

 

 

  Larguei o prato e os ratos vieram se aproximando e atacaram a minha comida. Fiquei ali só observando. Meu corpo naquela jaula se atormentava com os demônios de minha mente e me colocava algoz dos meus delírios. Penetrava profundamente na intimidade dos meus pensamentos, um poço de sombras e ilusões que me transportava para um mundo umbrático e caótico.

   Ao aproximar mais uma noite, o silêncio abriu sua cortina negra e uma luz surgiu na fresta da porta, que foi se abrindo lentamente no alto da escada do porão. Ouvi passos leves descendo a escada e tomando rumo de onde eu estava. Seus cabelos longos e pretos balançavam conforme vinha andando em minha direção, seu sorriso se escondia por trás de um semblante sério e assustado ao me ver ali naquela situação. O verde dos seus olhos se reprimia em meio a um olhar penoso. Me levantei da cama e me pus de pé sem acreditar no que os meus olhos estavam vendo. Érica como um fantasma veio surgindo no meio da noite, e aproximando-se da cela me interrogou com uma voz suave e ao mesmo tempo intrigante:

 

 

ÉRICA

(com lágrimas nos olhos) O que aconteceu Max? Porque você fez isso com você mesmo?

 

MAX

(trêmulo) Érica! Como você descobriu que eu estava aqui? Eu senti tanto a sua falta. Queria tanto poder te abraçar. Senti novamente o seu beijo.

 

ÉRICA

(se entristecendo) Mas você não pode. Muita coisa aconteceu, Max. Não podemos mais ficar juntos.

 

MAX

Eu preciso de você, Érica. Tudo o que eu fiz foi por amor a você. Não me abandone, só quero ter você para mim mais uma vez. Como eu queria ter o poder de atravessar essas grades pesadas e poder te abraçar e sentir o calor do seu corpo.

 

 

  Por alguns instantes as grades pareciam se tornarem invisíveis em nossa frente. Senti Érica se aproximando de mim, e ao pegar-me pela a mão me levou em outra dimensão. Onde a escuridão torturante da minha cela era sufocada com a luz angelical que carregava consigo. Flutuamos no êxtase da minha fantasia que aos poucos foi criando asas e nos transportando para um universo só nosso. Tudo em volta desapareceu no instante em que meu corpo colidiu com tua pele. Meus lábios desejava tocarem os seus e assim mergulhar no mais profundo de tua alma.

 

 

MAX

(sorrindo) Nada mais existe. Agora somos só nós dois.

 

 

  Mas ao aproximar mais, senti litros de sangue jorrando em seu peito, suas mãos ensanguentavam conforme se tocava. Dei uma passada para trás enquanto observava seu olhar melancólico desaparecer em meio à escuridão que retornava.

 

 

MAX

(desesperado) Você está ferida Érica! O que houve?

 

ÉRICA

(passando a mão no ferimento) Olha só o que você fez, Max!

 

 

  Érica foi desaparecendo em meio a escuridão que retornava, fiquei desesperado a procurando sem entender nada.

 

 

MAX

(chamando) Érica! Não! Onde você está?

 

 

  Agachei-me e comecei a chorar. Naquele instante fui me dando conta de que tudo aquilo não passava de fruto dos meus delírios, e que Érica jamais esteve presente ali. Aquela foi só a primeira vez em que o real e o surreal se misturavam em minha mente, me fazendo perder o controle da razão. O “fantasma” de Érica sempre se fazia presente durante os longos dias trancafiados naquela jaula. Na maioria das vezes não dizia uma só palavra, apenas me olhava com seu olhar triste e cabisbaixo, sempre com as mãos sujas de sangue. Esse “fantasma” na verdade era a minha consciência me acusando do sangue inocente que escorreu pelos os meus dedos. Aquilo me torturava de tal forma que me levava a uma insana loucura, há momentos que eu desejava fortemente a morte. Não seria nada justo, eu tinha que viver para estar frente a frente com Érica novamente, ansiava euforicamente por esse reencontro.

  Naquela noite Sara Campestrini desceu mais uma vez ao porão, mas dessa vez além dos dois guardas que sempre a acompanhava, estava junto a ela Hugo Castanho, Álvaro Azevedo e o delegado Dr. Moraes. Eles conversavam entre si próximos a escada sem aproximar da cela.

 

 

SARA

Olha a condição desse lugar. Não podemos continuar mantendo ele aqui.

 

MORAES

Como eu disse, essa é uma cadeia antiga não tem estrutura. A não ser se deixar ele junto com os outros presos.

 

 

Sara olhou fixamente para mim, eu estava sentado na cama só observando a conversa deles.

 

 

SARA

Não. Não se esqueça que ele é um canibal. Ele é capaz de devorar um por um daqueles presos que estão lá.

 

HUGO

Sara me desculpe, mas agora eu já acho exagero. Olha para ele não passa de um moribundo. Ele corre é risco de ser morto se deixarmos junto com os outros presos.

 

SARA

Não o subestime, Hugo. Ele é como uma fera enjaulada. Esse rapaz carrega consigo uma força sobrenatural.

 

ÁLVARO

A solução talvez seja transferir ele. Talvez para algum presídio em Ouro Preto.

 

HUGO

Antes dele ser levado para um presídio precisa primeiro ser julgado. Eu aconselharia mantê-lo aqui até o julgamento.

 

SARA

Não. Aqui ele não pode ficar.

 

ÁLVARO

Então a solução é transferi-lo o quanto antes.

 

MOARES

Vamos até a minha sala, lá a gente conversa melhor sobre isso.

 

 

  Eu tinha que bolar uma maneira de fugir daquele inferno, antes que me transferisse para outra delegacia, pois assim eu ficaria ainda mais longe da minha


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Notas finais do capítulo

E agora, será que Max conseguirá fugir da prisão? Por favor, comente o que achou do capítulo...



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