Safe And Sound escrita por GarotaDoValdez


Capítulo 13
Capítulo 13 – Barulho de canhão.


Notas iniciais do capítulo

estou passando a postar os capítulos mais rapido do que antes, porque eu finalmente estou de férias



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60, 59, 58.

Olho em volta. Estou num lugar aparentemente úmido, quase um pântano. Deve ser por isso que não uso casaco. Mesmo com o clima nublado o ar é quente.

50, 49, 48.

Os tributos são distribuídos de forma desigual, então a plataforma de Aiden não está ao meu lado. À minha direita está o menino do 3, os seus olhos buscando por alguma arma na Cornucópia. À minha esquerda está uma menina que treme descontrolada, cujo distrito não me lembro bem. Olhando em volta, não acho Aiden, mas vejo Emma para lá do garoto à minha direita, e a carreirista do 4, não tão perto, mas nem tão longe.

29, 28, 27.

Penso nas minhas irmãs. Estarão Hope e Layla me assistindo? Estará Diana torcendo por mim? Ou torcendo para seu irmão? Será que já parara de chorar? E meus pais? Estariam bem? Estariam com medo? Ou com pena de mim? E então Aiden? Se lembra de ontem? Ainda pensa em mim do jeito que penso nele? Minha cabeça está latejando. Ergo mais o queixo.

15, 14, 13.

Posso ouvir a menina ao meu lado respirando fundo, rapidamente. Qual é o problema dela?

9, 8, 7.

Um surto de memória me lembra de todas as promessas que fiz. Vou cumpri-las. Vou ganhar esses Jogos.

3, 2...

BUM!

Fico surda com a explosão. Sangue e terra voam nas minhas roupas e na minha cara.

A menina ao meu lado não existe mais.

Eu e o tributo que estava ao lado da garota ficamos tão encabulados que nem sequer percebemos que a contagem regressiva acabou.

Um grito de fúria entra nos meus ouvidos, e finalmente pulo da minha plataforma e corro em direção à Cornucópia, sem pensar em mais nada.

Dou cotoveladas, chutes e socos em cego, ao meio a multidão. Não controlo minha força, não sei se feri alguém de verdade.

Finalmente chego ao monumento prateado. Entro no meio de espadas e lanças, até conseguir me esconder atrás de algumas caixas vazias, ao lado de um painel com facas e espadas. Avisto uma mochila azul perto de mim e a pego rápido, sem que ninguém me note. Abro-a, escolho três facas do painel e as jogo dentro da bolsa. Como posso estar tão calma?

Um menino com um rosto determinado chega no painel e consegue me ver. Ele segura uma lança. Agora não estou tão calma.

Sem olhar, seguro o cabo da primeira espada que toco no painel e a puxo para frente, cortando a calça e a perna do garoto. Ele deixa cair a lança e se ajoelha segurando a perna em agonia.

Machuquei-o, mas não o bastante para matá-lo. Não sei se fico aliviada ou amedrontada com medo dele me matar.

Decido rápido. Levanto-me com a espada e a mochila e saio correndo, em direção contrária ao fundo da Cornucópia. Felizmente, fiquei escondida lá por um bom tempo, então quase todos os tributos vivos já foram embora. Os vivos.

Há uma enorme quantidade de corpos sem vida na boca da Cornucópia. Isso sem incluir a menina que pulou da plataforma antes da contagem acabar. Não consigo ver mais ninguém, então começo a caminhar, desviando das pessoas caídas no chão.

Ando por alguns metros, me afastando mais e mais das plataformas. Tomara que não tenha matado o garoto do painel. Se não já teria quebrado duas promessas.

Agora começo a correr, correr para dentro dos cipós e da terra úmida, pronta para encontrar uma caverna, ou uma moita para me esconder. Quase não há árvores no lugar, então se esconder “lá em cima” seria inútil.

Meus passos agora são leves, calmos. Já estou bem no meio da relva, um lugar denso e abafado. Estou suando. O chão revestido de musgo não permite meus passos serem ouvidos, então me sinto segura, pois sei que alguém me achar aqui é duvidoso.

Volto a pensar na menina que se jogou da plataforma. Magrela, alta, cabelos loiros que pareciam tingidos por passar o ano todo no sol. Talvez seja do distrito 9, ou do 10.

Possivelmente 11. Agora vi o que o nervosismo pode causar a uma pessoa. A garota tremia tanto e respirava tão alto que não aguentara esperar para fugir. Pena fugir cedo demais.

Arrumo a mochila nos meus ombros e seguro a espada com mais força. Passo a mão livre pelo meu pescoço, e quando olho minha palma ela está molhada de suor, suja de terra e respingada de sangue. Passo as costas da mão nas bochechas, lugar onde mais fui atingida com o sangue da loira. Agora sim minha mão está vermelha.

Caminho mais e mais, e alterno algumas corridas também. Quando acho uma moita apropriada para esconderijo, me sento e tiro o conteúdo da mochila azul cuidadosamente. Estão lá as três facas, um pacote de fósforos, uma lata vazia, mas que poderia servir para colocar comida, um cantil de água (obviamente sem água) e um óculos esquisito. Mais ao fundo acho um saco de dormir e uma capa de chuva verde da cor das plantas. Visto a peça, guardo o resto dos utensílios na mochila e a penduro de volta em meu ombro, seguro a espada e saio de novo, dessa vez procurando por comida.


***

Quando volto para a moita, tenho uma latinha cheia de frutinhas diversas (muito bem selecionadas entre comestíveis e venenosas) e um cantil cheio até a metade de água. Guardo tudo muito bem na mochila.

Assim que estou bem acomodada, os canhões anunciando as mortes começam a soar.

Isso só acontece depois que a batalha na Cornucópia acaba. Conto com atenção.

6, 7, 8.

Os sons param. Não sei se acho pouco, ou se acho muito.

Será que Aiden está lá no meio? Estremeço. Ou talvez Emma? Quem sabe Fllyn. O pensamento no garoto mais novo me dá arrepios. Vou descobrir isso em algumas horas, quando projetarem as fotos dos assassinados no céu. Encosto na moita e tento me acalmar. Nenhum dos três pode ter sido morto hoje. Eu não me permitiria pensar nessa possibilidade.

Fecho os olhos, pronta para um cochilo até as imagens.

Mas é então que ouço um grito perto de mim, seguido de uma tosse forte. E então o nono tiro do canhão soa.

Levantando-me, passo pelas árvores que me levam até a direção do grito. Vejo o corpo, não muito longe. Corro até lá, tomando cuidado para não fazer barulho. Quando o tributo fica mais ou menos visível, paro arfando. O corpo parece com o de Aiden.

Corro mais forte, mais forte, e chego mais rápido, e um arrepio de alívio toma conta do meu corpo. Não, não é Aiden. Mas lembra o garoto. O menino deitado tem a mesma fisionomia que meu parceiro, mas os cabelos são ligeiramente mais escuros, e os olhos são de um azul escuro muito bonito. A boca do corpo morto está aberta, tingida de vermelho. Cor de sangue.

Me aproximo do rosto do tributo, e consigo ver, no fundo de sua garganta, uma lasca de madeira afiada o bastaste para matar alguém. Meu primeiro pensamento é: Carreirista.

Corro de volta a minha moita, pego a mochila e a espada e corro mais rápido até achar outro lugar para me esconder. Com sorte, acho uma clareira abafada e com a vegetação mais densa, com várias pequenas cavernas em volta. Escolho uma aleatoriamente e me escondo bem no fundo, na região mais escura. Não ouço passos me seguindo, mas fico atenta.

Fico horas assim, imaginando o som de passadas, mas quando saio para olhar percebo que foi só minha imaginação. Toda essa incerteza se interrompe quando ouço o hino da Capital, que vai proceder a recapitulação dos mortos. Me sento do lado oposto da caverna, onde posso enxergar o céu e ficar escondida.

O símbolo da capital aparece, bem na minha direção. O hino acaba gradualmente, e o céu fica limpo por um instante. Esse é o momento em que passam as mortes para os telespectadores em casa. Será que mamãe e papai pensam que morri? Provavelmente não. Eles acreditam em mim.

Fico nervosa esperando. Os que assistem pela televisão tem direito a assistir as mortes, os “melhores momentos”, e coisas assim. Daqui da arena é apenas permitido ver o mesmo holograma de quando mostraram as nossas notas, pequenas tomadas das nossas cabeças.

Exceto pelo fato de que aqui, ao invés de vermos a nota, vemos apenas o distrito.

Finalmente a primeira foto aparece no céu, e é o menino que vi morrer. Não fiquei atenta ao seu nome, mas descobri que era do distrito 6. Isso significa que não há mortes de nenhum outro distrito do 1 ao 5. Isso é bom. Fllyn, Emma e Aiden ainda estão vivos. Mas é ruim, pois a carreirista do 4 também vive e a irmã de Fllyn também. Perigosas, as duas. Os próximos dois hologramas são os tributos do distrito 8. Em seguida os dois tributos do distrito 9. Isso se repete com o distrito 10. A próxima foto é da menina que explodiu na plataforma. Era do distrito 11. Finalmente mostram o último holograma (o menino do 12) e a exibição acaba com o hino da capital.

Volto ao canto escuro da caverna, tiro o saco de dormir na mochila, estendo-o contra a parede, coloco a mochila atrás das minhas costas e seguro a espada com as duas mãos. Estou com fome, estou com sede. E agora não sei como voltar ao pequeno córrego que achei para encher meu cantil. Mas a manhã pode esperar. A fome pode esperar. Tomara que os outros tributos esperem também.

E então me permito dormir. Dormir no local onde posso ser morta.


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Notas finais do capítulo

3 reviews amorinhas?
e não, não estou chamando vocês de amorinhas no sentido "venenoso" e sim num sentido carinhoso kkkk



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