Crônicas De Redris escrita por Hellkite


Capítulo 2
Capítulo 2 - NAS TERMAS DO ESTRELA NEGRA




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Redris e Glaranduil continuaram sua viagem naquele dia, resolvendo parar numa estalagem , a Estrela Negra, recomendada por um comerciante que encontraram no caminho. O guerreiro, apesar de estar com pouco dinheiro, sabia que necessitava tomar um belo banho e dormir numa cama macia. As noites passadas ao ar livre não haviam sido nada agradáveis, já que correu o risco constante de ter sua garganta cortada no sono e ficava sempre com o corpo dolorido por dormir sobre o chão pedregoso.

A estalagem Estrela Negra era uma grande casa, mais aparentando uma mansão da nobreza das cidades. Era grande, de 3 níveis, e ao fundo havia uma torre ainda maior. A estalagem estava bem cuidada, toda feita de madeira, pintada e envernizada. O movimento era grande, pois se localizava em um importante cruzamento de vias, e viajantes e comerciantes de todas as raças entravam e saiam pela porta principal.

Ao entrar, Redris descobriu o porquê do nome da estalagem: uma grande pedra negra, quase esférica, estava no centro do salão principal, sendo admirada por alguns dos fregueses. A pedra imediatamente chamou sua atenção, e Redris não pode resistir a tentação de toca-la, e podia jurar que ao faze-lo sentiu um frio na barriga. Ao ver o olhar de reprovação do elfo, logo tratou de acompanha-lo.

Eron, o dono da estalagem, era o completo oposto do que se espera de alguém neste ramo: magro, calmo e bem-apessoado, estava lendo um livro de poesia quando foi interrompido por Glaranduil. O elfo logo tratou de reservar duas camas no quarto dormitório, e depois de lançar um olhar para a forma feminina de Redris, completou:

–Senhor Eron, pode parecer estranho, mas Redris sofre de uma peculiar maldição, que o transforma em mulher sob determinadas circunstancias... De manhã o senhor conhecerá Redris em sua forma masculina. Isto soa muito diferente para o senhor?

Redris cruzou os braços, irritado. Odiava ser tratado como uma aberração.

–Não que eu goste de ter minha vida particular cantada para todo o mundo, mas é que eu não quero pagar duas vezes a conta, ou que pensem que dormi sem pagar!

Eron sorriu, fazendo um sinal apaziguador.

–Calma, calma, entendi... Sou um aventureiro aposentado, já vi muita coisa estranha neste mundo... Perdão, quero dizer, diferente. Mas foi bom avisar, pois eu tomo muito cuidado com a segurança da minha estalagem. Fiquem a vontade para guardar suas coisas no quarto dormitorio, temos baús individuais que ficam ao pé de cada cama... Aqui, peguem as chaves!

Depois de guardar suas coisas no baú, Redris só queria tomar um relaxante banho quente. Após se informar, foi para o lado de fora, ao lado da estalagem, onde havia uma área onde segundo Eron os hóspedes podiam tomar um banho relaxante numa fonte de água termal. O local era cercado por um muro alto feito de bambus, e possuía uma entrada principal, que dava acesso a dois corredores. De frente à área reservada aos homens ele parou e se olhou em um espelho, e viu que estando agora transformado em mulher, seria impossível entrar por ali. Extremamente envergonhado, deu mais alguns passos e parou defronte a porta do acesso das mulheres. Inspirou fundo e bateu. Após a terceira tentativa, como ninguém respondia, resolveu adentrar, e para sua satisfação o local, que era um pequeno recinto para troca de roupas, estava vazio. Redris guardou suas roupas em um canto e com uma toalha branca envolta em seu corpo saiu. Ficou surpreso com o tamanho do lugar, com muita vegetação cercando o que parecia ser um pequeno lago. Sentiu a baforada de calor em seu rosto, e viu o vapor que emanava da água quente subindo em pequenas colunas em direção ao alto. A beira da fonte era cercada por pedras de granito, e Redris pegou uma das varias cadeirinhas de madeira que estavam a disposição, acompanhadas de baldes e sabão. O calor do vapor de água lhe animou os espíritos, e começou a se lavar desajeitadamente, meio incerto do que fazer com as formas deste seu novo corpo, pois quando estava na fazenda, sempre escolhera tomar seus banhos em sua forma masculina.

Estava no meio do banho quando entraram três mulheres no recinto. Sentindo o coração quase sair da boca, levantou-se de sopetão, para então perder o equilíbrio e cair de traseiro no chão, sentindo uma dor incrível em seu ossinho de trás. As três logo vieram lhe socorrer, e a guiaram para dentro da fonte, dizendo que o calor iria lhe amenizar a dor.

Redris, atordoado, mal conseguiu se apresentar e agradecer a ajuda, constantemente desviando o olhar para o lado para não vê-las assim, envoltas apenas nas toalhas. Duas delas trabalhavam como atendentes do Estrela Negra, e se chamavam Invis e Marion, enquanto a outra era uma clériga de Fharlanghn, Ginna.

Invis, que era a mais séria das três, ficou preocupada com Redris.

–Tudo bem com você? Levou um tombo feio... É possivel que fique dolorida pelo resto do dia...

Marion, a outra atendente, deixou cair sua toalha para poder se lavar, e Redris de relance viu que esta era do tipo generosa nos lugares certos. Envergonhado com seus pensamentos, o guerreiro afundou-se na água para se acalmar. Então Marion respondeu a Invis:

–Nada que uma boa massagem não coloque no lugar... Pode deixar que esta aplicação eu faço de graça. Mas depois eu quero que me apresente aquele seu amigo elfo que veio com você! Voces não são namorados não, né?

–NUNCA! – gritou Redris, deixando em silencio o local por alguns segundos. Envergonhado, Redris se afundou novamente na água quente.

Invis fez uma careta para Marion.

–Voce não toma jeito mesmo, né Marion, envergonhando nossas clientes... Um dia Lady Zan vai te mandar embora daqui...

Sem se incomodar Marion despejou o conteúdo do balde em si mesma, deixando a água lavar os últimos resíduos de sabão em seu corpo, e entrou na fonte, soltando um suspiro de contentamento. Mas era em Ginna que Redris tinha agora suas atenções, sendo ela uma bela moça, de feições suaves e no frescor da juventude, tal como ele. Tinha os seios muito bonitos, e maiores que os de sua noiva, Kaalla. Aliás Redris, em sua forma feminina, também tinha os seios maiores que Kaalla, algo que deixava sua noiva extremamente chateada.

Enquanto observava Ginna, Redris notou a aproximação de alguém por trás de si. Era Marion.

–Vem ca, vem cá que eu te faço uma massagem... Voce vai se sentir como se estivesse no paraíso!

Redris não queria nada de contato físico estando nesta condição e nesta situação delicada, e negou veementemente. Marion, acostumada com clientes tímidos, já foi logo avançando e pegando em Redris, que tentava se desvencilhar inutilmente, segurando sua toalha que ameaçava cair.

Mas foi logo as mãos hábeis de Marion começarem a massagear os ombros da outra, que este sentiu como se estivesse desmanchando como uma manteiga, fazendo com que ficasse quieto e parasse de resistir. Tal era a destreza com que aqueles dedos ágeis passeavam por sua pele.

–Gostoso, não é? Lady Zan não iria querer perder uma profissional tão habilidosa quanto eu... – disse a massagista.

Ginna, que acompanhava a tudo a principio um pouco receosa, ficou interessada.

–Tambem vou querer sua massagem, Marion. Deve estar uma delicia, pois a Redris está adorando! Ah como gostaria de experimentar coisas novas sempre, aproveitar a vida, visitar outros lugares! – disse, com brilho nos olhos. Mas o mesmo logo se apagou - Mas não, ainda tenho que acompanhar meu mestre, convertendo os infiéis para Fharlanghn. E faz sentido uma clériga do deus das viagens ficar presa neste mundinho?

Redris sentiu pena de Ginna, e também de si mesmo.

–Quem dera o destino não nos trocasse de posições, Ginna... Enquanto eu quero um lugar para chamar só de meu, você quer voar para bem longe. Infelizmente as coisas não saem como a gente quer, e nós fazemos o que tem que ser feito. Mas eu realmente acredito que os deuses olham por nós, olham para os nossos esforços. E um dia eles vão nos recompensar com o que a gente quer! Temos que seguir em frente, vivendo um dia de cada vez!

Ginna ouviu as palavras de Redris, e instintivamente levou a mão ao ombro da outra, sentindo-se profundamente tocada.

–Obrigada Redris! Eu... precisava mesmo ouvir estas palavras...

Tanto Ginna como Redris tinham seus olhares fixos uma na outra, presas num sentimento inexplicável. Os olhos de Ginna revelavam uma alma gentil e graciosa, simples e envolvente. E seus lábios estavam rosados e úmidos, quentes com o vapor da água.

–Vai rolar um selinho? – perguntou Marion.

Assim como no nosso mundo, em Hawkmoon e no continente de Pelion cada cultura trata os relacionamentos entre pessoas de mesmo sexo da sua própria maneira. Entre uma raça tão longeva como a dos elfos, o homossexualismo é visto como algo natural, uma opção de cada indivíduo. Na terra das amazonas, o homossexualismo é a norma, e o sexo com homens a exceção, com fins reprodutivos. Já em Noxen, reino dos necromantes, aqueles que criticam os comportamentos sexuais dos poderosos são mortos e reanimados para uma eternidade de servidão.

Como Redris e Ginna estavam em Hawkmoon, a mera menção de Marion a um beijo entre as duas foi o suficiente para deixar ambas vermelhas como pimentão, e as duas se afundaram na água quente, como se querendo desaparecer.

Invis balançou a cabeça, dando um olhar de reprovação a Marion.

–Marion! Olhe o que sua brincadeira estúpida fez! Se Lady Zan souber disso, a fará descascar batatas durante um mês!

–Bah! E qual o problema, Invis? Você não viu que rolou um tchans agorinha mesmo? Ouvi falar que nas terras orientais o amor entre mulheres é comum, Lady Zan não teria nada contra!

–Eu ouvi alguém falar do meu nome? – disse uma voz firme e feminina. Embora leve, o sotaque oriental era perceptível nas palavras.

Agora era a vez de Invis e Marion quererem desaparecer. A figura imponente de Lady Zan estava ali, observando o local em busca de alguma sujeira ou desarrumação. Junto com seu marido Eron, Lady Zan comandava a estalagem, e exigia um trabalho bem-feito de todos seus empregados.

Marion, já recuperada da surpresa, explicou para sua chefe:

–Lady Zan! Eu e Invis estávamos dizendo para as hóspedes que, como mulheres, somos muito bem tratadas aqui, e que amamos nosso trabalho!

A oriental acenou levemente com a cabeça.

–Sei... – disse, e então se voltou para a cleriga – Peço desculpas, senhorita Ginna, pelo incomodo causado pelas minhas empregadas. Se desejar que se retirem, elas o farão imediatamente.

Ginna negou veementemente com a cabeça, dizendo que elas eram ótimas companhias. Por sua vez Redris permanecia parcialmente mergulhada na agua, com apenas a cabeça de fora, na esperança de que a dona da estalagem não a notasse. Certamente Lady Zan, ao conversar com Eron, saberia que Redris não poderia estar ali, e então sua vida valeria menos que uma peça de cobre.

Ao ver que Lady Zan estava se despindo, Redris teve a certeza de que estaria morto assim que soubessem da verdade. Porem não podia evitar de olhar o corpo escultural da oriental, que era esguia e ao mesmo tempo forte, numa combinação de beleza e letalidade. Seus músculos bem definidos não a tornavam menos feminina, pelo contrário, realçavam suas formas de maneira muito sensual.

Redris estranhou-se ao perceber seus pensamentos lascivos, afinal de contas até então somente tinha olhos para a noiva que deixou na fazenda, Kaalla. Isto, somado com o momento quase mágico que tivera com Ginna, na qual havia sentido uma grande conexão com ela, foi o suficiente para deixa-lo confuso, incerto de seus objetivos. Afinal de contas, se não fosse sua maldição, não teria nunca tido estas maravilhosas experiências...

O divagar dos pensamentos de Redris foi interrompido pela desagradável sensação de estar sendo observado. Foi então que o guerreiro percebeu que todas as mulheres do recinto estavam com sua atenção voltada para ela.

–Seu nariz esta sangrando, senhorita... – disse Lady Zan.

Diz a lenda que um dia a deusa oriental do sol havia descido ao plano terrestre para se banhar em uma lagoa. Tres campesinos que passavam pelo local perceberam a presença da divindade que se banhava nua na lagoa e resolveram se esconder para poder apreciar aquela visão maravilhosa. Fato é que eles foram descobertos, e a vingativa divindade fez com que sangrassem pelo nariz até a morte. E é por esta razão que nos dias de hoje os orientais costumam sangrar pelo nariz quando veem algo sexy.

Redris não era oriental, mas padecia do mesmo mal. Certa vez, quando ainda morava na fazenda, entrou no quarto de sua futura noiva Kaalla quando esta estava se trocando. Sangue começou a sair profusamente pelo nariz do emocionado Redris, que teve que permanecer em cama por alguns dias para se recuperar de sua anemia.

E parecia que naquele momento, na banheira, parte deste mal havia se transferido para o corpo feminino de Redris. Não estava sangrando profusamente, sendo que apenas algumas gotas escorriam por suas narinas, mas era um incomodo desagradavel. Quando fez menção de se levantar para sair da lagoa, sentiu a mão de Ginna segurando-a.

–Deixe que eu cuido disso para você, Redris... – disse a cleriga, tocando levemente em seu rosto com sua mão direita. Com uma breve prece a Fharlanghn, Redris foi envolto em um sentimento de paz e frescor, tendo seu sangramento se curado instantaneamente.

Redris sorriu agradecida para Ginna, que sorriu de volta, levemente ruborizada.

–Voce tem um corpo bonito, Redris... – disse Lady Zan. As palavras da oriental foram um balde de água fria no guerreiro, que instintivamente escondeu com as mãos suas partes intimas. -Não precisa se envergonhar de seu corpo, posso ver que há em você muito potencial... Embora possa não perceber, seus movimentos são ágeis e precisos. Seus músculos são fortes, você é mais forte do que parece, tem o perfil de uma lutadora. Voce nasceu para lutar!

Redris não sabia o que dizer, sentindo-se lisonjeado pelas palavras de Lady Zan. Nunca antes alguém havia lhe dito coisa semelhante. A dona da estalagem se aproximou e passou a mão em seus cabelos ruivos. Seu olhar era sério.

–E eu posso te ensinar a lutar!


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Notas finais do capítulo

Escritor é que nem Tamagochi, precisa ser bem cuidado e alimentado!

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