Black Hole escrita por juliananv


Capítulo 17
Capítulo 17 Agonia sem fim.




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            Duzentos e onze dias sem Bella.


 


            Não sabia há quanto tempo estava parado no mesmo lugar pensando. Só consegui me libertar dos meus pensamentos quando a ouvi me chamar:


 


            - Posso te ajudar, você parece perdido?


 


            Uma daquelas mulheres que dão informações em aeroportos veio ver se eu precisava de ajuda. Já fazia algum tempo que eu estava olhando para o painel de informações; devia estar chamando muita atenção para mim.


 


            - Não, obrigado. Acho que já sei o que fazer – tentei sorrir de forma simpática para ela.


 


            Saí de perto da mulher, decidido a continuar por mais algum tempo rastreando Victoria. Depois que a tivesse encontrado e matado, voltaria para Forks. Precisava ver como Bella estava; se ela estivesse bem, eu a deixaria em paz. Entretanto, se sentisse qualquer ponta de tristeza, por menor que fosse, não conseguira encontrar mais nenhum pretexto para me manter afastado. Eu precisava dela desesperadamente.


 


            Não consegui passagens para ir até a Argentina. Resolvi então começar as minhas buscas pelo Brasil; desembarcaria em São Paulo.


 


            A viagem foi longa e irritante. Não era muito agradável passar horas dentro de um avião lotado, sentido o odor de sangue humano tomando conta do ar. Obviamente nenhum daqueles cheiros tinha a mesma potência que o da Bella tinha para mim. E ainda tinha de fingir que precisava ir ao banheiro de tempos em tempos, encenar que estava comendo; não tinha muita paciência para isso. Antes eu não ligava muito, só que agora tudo era muito mais irritante, minha paciência estava no limite. Tudo em que eu queria me concentrar era: encontrar uma maneira para lidar com a dor crescente em meu peito; mas, por mais que tentasse, não havia saída para isso.


 


            Desembarquei em São Paulo ainda de dia; o sol ali era uma droga completa. Fiquei preso no aeroporto durante todo o dia. Assim que escureceu, saí para as ruas da cidade, procurando por algum sinal da Victoria.


 


            Graças aos meus primeiros anos na vida de vampiro, sabia onde procurar por predadores. Os muitos anos de solidão em que vivi, até encontrar a Bella, me deram tempo suficiente para aprender muitas coisas, inclusive inúmeras línguas. O português foi uma delas. A cidade de São Paulo era como todas as grandes cidades do mundo: cheia de humanos, barulhenta e claustrofóbica para mim. Minha busca nesta cidade demorou apenas três noites. Depois de encontrar dois da minha espécie, que nunca ouviram falar na Victoria, resolvi seguir para outra grande cidade, o Rio de Janeiro. Perto de lá tínhamos uma casa; precisava passar algumas horas sozinho e em silêncio, então a ilha de Esme seria perfeita para os meus propósitos.


 


            Antes de deixar São Paulo, comprei um novo carro para mim, assim seria mais rápido. Quanto antes achasse Victoria, mais rápido poderia voltar para dar uma olhada em Bella. No fundo eu sabia que se fosse até Forks nunca mais teria forças para me manter afastado dela. Por isso ainda não havia tido a coragem de voltar para lá.


 


            Assim que cheguei ao Rio, fui direto para a marina. Sabia qual era a lancha do meu pai, havia visto isso na mente dele antes de partir. Nunca havia andando de lancha antes, mas facilmente peguei o jeito, gostei dela. Durante anos minha família e eu evitávamos andar próximo à costa dos continentes e Esme sentia falta disso. Por essa razão, meu pai acabou comprando esta pequena ilha para ela; lá, Esme teria toda a privacidade para andar tranquilamente pelo sol. A ilha era distante das rotas que os humanos costumavam pegar no mar e também ficava distante o suficiente do continente.


 


            Quando enfim cheguei, estava amanhecendo. Era uma ilha relativamente pequena, não estava prestando muita atenção na paisagem. Parei na pequena marina que Esme havia construído, peguei minha mochila e me dirigi diretamente para a casa, sem olhar para nada. Não me sentia confortável andando no sol; ali ele era extremamente forte.


 


            Entrei na casa e fiquei lá, pensava e repensava em todos os motivos que tinha para me manter afastado dela. As visões que Alice me obrigou a ver no começo e, principalmente, os conselhos que sua sobrinha me dera não saíam da minha cabeça. Esta era uma perspectiva que eu não havia considerando antes; pensava seriamente sobre isso quando me levantei e saí para andar pela ilha. Já havia anoitecido; sentia-me mais à vontade para andar pela praia, pois o sol não estava lá para revelar ao mundo o monstro que eu era.


 


            Passei pelas portas sentindo a areia quente em meus pés descalços, isso me dava um pouco de prazer. Olhava para a areia; quando levantei a minha cabeça, reconheci o lugar em que eu estava. Entrei em choque: era a mesma praia da visão da Alice. A visão que ela me obrigou a ver quando eu estava enlouquecido de ciúmes da Bella com o seu amigo Jacob, a visão que fez com que eu quase voltasse para Forks. Não consegui mais segurar o peso do meu corpo, caí sentado na areia. Coloquei as mãos no rosto, parecia que eu estava chorando, apesar de não ser capaz de derrubar uma única lágrima; eu queria poder chorar.


 


            -POR QUÊ? – Eu gritava com Deus. – Por que eu tenho que ser um monstro? Eu só queria poder ficar com ela sem correr o risco de matá-la! Isso não é pedir muito. Sei que você pode, você é o único que pode: faça-me humano outra vez! Eu quero ter o direito de amá-la. Por favor, me ajude! – Implorava a ajuda de Deus.


 


            Deitei no chão, chorando da maneira que eu conseguia, sem soltar lágrimas. Até isso me era negado. Precisava aliviar a dor que sentia em meu peito; não conseguia.


 


            Estava completamente sozinho naquela maldita ilha. Sentia que isso estava completamente errado, era para Bella estar ali comigo, era isso que Alice havia me mostrado. Não conseguia mais ter forças para abrir mão disso. Precisava desesperadamente dela, era uma necessidade física. Meu corpo e até a alma que eu acreditava não ter gritavam por ela; mais do que o sangue, a presença da Bella era vital para mim. Sem ela eu sabia que estava morrendo, um pouco a cada dia; essa era uma maneira horrível de morrer. Só a morte podia explicar a dor que eu estava sentindo, nada mais explicaria isso.


 


            Olhava para o mar, imaginando e relembrando todos os detalhes da visão da Alice. Sentia o celular vibrando em meu bolso havia algum tempo, mas não tinha forças para pegá-lo. Deixei que ele tocasse por horas. Quando finalmente perdi a paciência, atendi.


 


            - Sinto muito, Edward, eu não sabia que era essa a praia da minha visão. Se soubesse, daria um jeito para você não ter de passar por isso... Eu nunca cheguei a conhecer esta casa da Esme antes... não tinha como eu saber.


 


            Não conseguia falar, só suspirei profundamente.


 


            - Quer que eu vá até aí? Estou me sentindo péssima por isso, perdoe-me.


 


            - Não! Quero ficar sozinho!


 


            - Estou em Denali. Carlisle já conseguiu uma licença do hospital e está de férias da faculdade, ele pode chegar aí em algumas horas.


 


            - Por favor, Alice, me deixe em paz.


 


            - Certo. Perdoe-me, Edward. Se precisar de mim ou de Carlisle e só ligar.


 


            Alice desligou o celular e eu voltei para o meu desespero. Fiquei ali sentando, morrendo aos poucos.


 


            Duzentos e dezenove dias sem a Bella.


 


            Permaneci parado por dias, olhando para aquela praia, imaginando o que poderia estar sendo feito da minha vida se eu não tivesse me obrigado a seguir por esse caminho.


 


            Já deixara de contar os minutos, lutava para suportar um único segundo longe dela. Sabia que não aguentava mais a distância, tudo isso já não fazia mais o menor sentindo para mim.


 


            Decidi voltar, e desta vez chegaria a Forks. Pensava em como fazer isso da maneira certa. Se eu chegasse a Forks e a Bella estivesse bem e feliz, eu precisaria ter a decência de não me revelar para ela e ir embora. Só que desta vez eu iria direto para os Volturi, sabia que só a minha morte definitiva poderia me separar dela para sempre, eu não tinha mais forças para fazer isso sozinho. Se minha morte era a única opção para me manter afastado dela, faria isso, por ela faria qualquer coisa. Bella merecia ter uma vida feliz ao lado de humanos como ela. Agora, se eu chegasse a Forks e ela ainda estivesse milagrosamente ligada a mim, da mesma maneira que eu estava ligado a ela eternamente, então nada mais iria nos separar. Esqueceria definitivamente que eu era um caçador e ela minha presa, ficaria com ela até que a vida da Bella acabasse.


 


            Não tolerava mais esperar um minuto, nem mais um segundo sem ela. “Que droga, tenha coragem, Edward.” Levantei-me e corri para casa, peguei minha mochila e voltei para o cais em direção à lancha. Quando estava me aproximando da lancha, o celular tocou novamente, estava feliz. Em algumas horas estaria com a Bella. Atendi ao telefone animado, devia ser Alice, fui logo falando.


 


            - Alice, sei que você está animada, mas espere alguns dias. Preciso falar direito com a Bella. Quando estivermos prontos, eu te ligo. Bom, se ela ainda milagrosamente me quiser depois de tudo isso... aí você pode voltar também. Mas espere até eu te li...


 


            - Não, Edward, sou eu, Rosalie.


 


            Isso realmente era uma surpresa... Parei de andar, senti certa tensão na voz da Rose, não gostei disso.


 


            - Aconteceu alguma coisa? Onde está Carlisle?


 


            - Edward... Aconteceu sim. Não se preocupe, não foi com ninguém da nossa família.


 


            Relaxei um pouco. Geralmente Rosalie não se preocupava com coisas realmente importantes, ela era muito fútil para isso.


 


            - Estou voltando. Vocês ainda estão em Denali?


 


            Falava enquanto pulava para dentro da lancha; preparava-me para ligá-la.


 


            - Não todos... Carlisle e Esme estão em uma viajem de caça; Jasper, Emmett e eu ainda estamos aqui.


 


            Achava a voz dela tão estranha... Parei e comecei a prestar atenção ao que ela dizia.


 


            - Alice não está com vocês?


 


            - Edward... Alice... foi para Forks.


 


            - O que? Por que Alice foi para Forks?


 


            Pensei que Alice estivesse indo na minha frente, era típico da minha irmã.


 


            - Tentamos segurá-la... mas você a conhece bem. Alice não respeita ninguém, quando decide fazer alguma coisa...


 


            Enquanto Rose tagarelava, lembrei que ela disse que havia acontecido alguma coisa, e que parecia não querer me contar, fiquei com receio de saber o que era.


 


            - Não tem problema, Rosalie, eu também estou voltando para Forks. Na verdade, estou indo agora mesmo para o aeroporto, vou direto para lá.


 


            - Edward... acho melhor você não ir para lá. Venha para Denali primeiro. – Congelei.


 


            - Por que não posso ir para Forks? O que você está me escondendo, Rose?


 


            - Por favor, venha primeiro para Denali, Edward, aqui conversamos. Espero você aqui.


 


            Rosalie desligou o telefone; fiquei me sentindo estranho, normalmente ela não era de ficar escondendo as coisas. Segurei o celular em dúvida, deveria ligar para Rosalie ou para Alice; optei por Rose, parecia que ela não estava querendo esconder de mim, o que quer que fosse, diferentemente de Alice, que estranhamente não me ligava havia alguns dias. Ela atendeu no primeiro toque:


 


            - Edward!


 


            - Roseli, eu vou para Forks. Mas antes me diga, o que está acontecendo?


 


            - É a Bella... Não acho bom termos esta conversa pelo telefone. Por favor, Edward, venha até Denali. Aqui conversaremos melhor.


 


            Ela era louca de pensar que eu conseguiria calmamente esperar até chegar lá para saber o que estava acontecendo com a Bella.


 


            - Não, me diga agora – aumentei o meu tom de voz. - O que aconteceu com a Bella, ela se feriu?


 


            Fiquei tenso, imaginava que ela pudesse de alguma forma ter se machucado ou se metido em alguma encrenca realmente séria; ela era azarado o bastante para isso. Entretanto uma parte do meu cérebro tentava se preparar, só algo extremamente forte faria Alice voltar sem antes falar comigo; isso não era bom, isso não era nada bom.


 


            - Edward... Sinto muito, mas a Bella... Bom, ela pulou de um penhasco no começo desta tarde – Rose terminou a frase apressada como se tivesse receio de me falar aquilo.


 


            - Em qual hospital ela está?


 


            Saí da lancha e comecei a andar de um lado para o outro na praia, enquanto segurava a ponte do meu nariz. Nada me abalava mais do que imaginá-la ferida.


 


            -Edward... Bella morreu... ela pulou e Alice não a viu mais. Alice surtou e foi para Forks, proibiu qualquer um de falar com você. Não acho certo esconder algo tão importante assim... Você tinha o direito de saber, Edward... Edward, fale comigo... – eu estava congelado.


 


            - Rosalie, não brinque com isso; passe o telefone para Alice.


 


            Só podia ser uma tentativa de muito mau gosto da Alice para me fazer voltar para Forks. O estranho era Rosalie a estar ajudando com isso.


 


            - Edward... é verdade, a garota está morta.


 


            Desliguei o celular...


 


            Não, não, não! Isso não era verdade, Bella não faria isso. Não existia a menor possibilidade de eu acreditar nisso. O mundo não teria mais sentido nenhum sem ela.


 


            - NÃO!


 


            Isso não era verdade, não podia ser verdade. Eu estava voltando, em algumas horas estaria entrando pela janela da Bella. Por que não me esperou, Bella? Eu estava voltando para você!


 


            Não conseguia aceitar o fato de que ela podia ter partido, ter me deixado sozinho. O que eu faria sem ela? Sem a Bella eu era incompleto, oco, vazio; a dor que sentia antes não se comparava em nada com o que eu sentia agora. Não existiam palavras no mundo que pudessem descrever a minha dor. Eu não aceitaria isso, não sem lutar.


 


            Comecei a pensar nas minhas opções, isso não podia ser verdade. Alice! Alice foi para Forks. Portanto, deveria estar tentando fazer alguma coisa, qualquer coisa para salvá-la. Não podia acreditar nisso, não se ainda quisesse conservar um pouco da minha sanidade mental. Voei para a lancha, precisava ir para Forks, ver a Bella; ela estava bem, tinha que estar. Não aceitava a possibilidade da morte dela. “Acalme-se, Edward, isso é um engano. Só pode ser isso.”


 


            “Edward, você acha que essa dor só transformou você nesta coisa amarga? Bella também está bem diferente. Não é tão cuidadosa como antes. Se antes você achava que ela era azarada, agora parece que Bella pendurou um holofote no pescoço, ela quer que todo o azar do mundo possa encontrá-la. Toda noite ela implora para que você volte.”


 


            - Cala a boca, Alice.


 


            Estava totalmente fora de controle. Falava com Alice como se ela estivesse comigo. Respirei fundo.


 


            Pensava nas palavras da Alice enquanto voava com a lancha para o continente. Tinha que haver esperança, ela só devia estar machucara, gravemente machuca, até mortalmente machucada era o máximo que eu podia aceitar. Eu a morderia e a transformaria se fosse necessário. Mas não havia como aceitar que as palavras que Rose me disse fossem verdadeiras. O continente não chegava nunca!


 


            Quando visualizei a praia, a informação foi se assentando eu meu corpo. Fui me sentindo cada vez mais tomado pelo pânico. Se eu fosse para Forks e a Bella estivesse mesmo... Não, não. Recusava-me até a pensar naquela possibilidade. Alice daria um jeito de me impedir, não podia ligar para ela, pois mentiria para mim.


 


            Assim que pisei no cais, peguei o celular; esperava impaciente que alguém atendesse, que ela atendesse e acabasse com o meu sofrimento. Contudo, Bella deveria estar no hospital, então não poderia atender. Se tivesse esperança, se ainda houvesse tempo, correria para lá e a morderia.


 


            Por que raios eu vim para tão longe? Se fosse necessário, imploraria o seu perdão, tudo isso era minha culpa, se não fosse tão covarde, não tivesse tanto medo de machucá-la, Bella jamais pularia do penhasco.


 


            - Residência dos Swan.


 


            Gelei quando não foi a Bella que atendeu ao telefone; mesmo sabendo que isso provavelmente não aconteceria, ainda tinha esperança. O pior era que também não havia sido Charlie. Pensei rápido, decidi me passar pelo meu pai e tentar descobrir o paradeiro do Charlie; ele saberia com certeza o que estava acontecendo com a sua filha. Se a Bella ainda estava viva, ainda existia uma chance de eu tentar fazer com que ela se mantivesse assim até eu chegar, ou poderia recorrer a Alice.


 


            -Aqui é o Dr. Carlisle Cullen, poderia falar com Charlie?


 


            - Ele não está.


 


            - Onde posso encontrá-lo?


 


            - No enterro.


 


            Desliguei o telefone e o joguei pela janela. Liguei o carro e corri para o aeroporto. Não havia mais nada que eu pudesse fazer. A dor que sentia naquele momento não podia se comparar a nada que já havia sentido na minha vida; não ouvia nada, não via nada, não respirava; queria poder também não mais existir.


 


            Acabou, tudo agora acabou...


 


            Quer saber, Edward? Eu não vou ajudar mais droga nenhuma! Se você quer ferrar o futuro maravilhoso que poderia ter o problema é seu. Já que você resolveu que quer que ela se mate enquanto fica aqui se escondendo nesta caverna fedorenta, eu não vou mais me importar! Não vou interferir nas loucuras da Bella. Quem sabe ela não resolva escalar alguma montanha, saltar de paraquedas, ou, melhor, nadar junto com tubarões famintos e acabe morrendo? Assim, tudo ficará do jeito que você planejou e você finalmente encontrará a ‘felicidade’ que anda procurando tão estupidamente.


 


            Recordava-me das palavras da Alice; ela estava certa, sempre esteve.


 


            Parecia que eu havia sido desligado do meu corpo, agia mecanicamente; meu cérebro trabalhava em tantas direções que eu não conseguia administrar o fluxo dos meus pensamentos. Todos os pensamentos corriam na mesma direção: minha morte.


 


            Não conseguia lidar com aquela dor, não havia a possibilidade de eu sobreviver a isso. Assim que cheguei ao aeroporto, comprei a minha passagem no próximo voo para a Itália. Estava com sorte, consegui um voo direto, cheguei minutos antes de o avião decolar. Rapidamente embarquei. Dentro do avião comecei a planejar os meus próximos passos; não me apegava à decisão nenhuma. Precisava ser cauteloso, sabia que minha irmã Alice tentaria me impedir; ela já havia me alertado disso inúmeras vezes, mas nunca pensei que pudesse acontecer.


 


            Fora a dor que me consumia como nunca, também tinha a culpa que sentia por tudo, e ela era enorme. Se eu não tivesse sido tão teimoso, se tivesse escutado Alice e escutado a própria Bella... “Onde você está é o lugar certo para mim”; isso não saía da minha cabeça. Se a ouvisse, se acreditasse que ela não sobreviveria sem mim, nada disso teria acontecido. Meu medo de que eu pudesse fazer qualquer mal a ela nos levou a isso; minha covardia a matou.


 


            Não conseguia acreditar. Bella sempre foi extremamente responsável, colocava a necessidade dos outros à frente da dela; isso não parecia uma atitude que ela tomaria. Ela seria incapaz de magoar o pai e a mãe dela desta maneira, entretanto ela o fez...


 


            Ela me amava muito mais do que eu poderia imaginar, minha culpa, minha culpa...


 


            O avião passou perto da imagem do Cristo, olhei para ele enquanto perguntava mentalmente: “Por que deixou que ela fizesse isso?” Entretanto, a culpa não era d’Ele; eu era o único responsável. A dor que senti antes não se comparava a nada com o que eu sentia agora. Achava que nem a morte poderia dar um fim nisso.


 


            Se antes eu não via mais sentido em nada; se antes, quando ela estava viva, quando eu lutava para mantê-la assim, já era intolerável ficar longe dela; agora que eu sabia que nunca mais a veria, que ela provavelmente estava em um bom lugar, um lugar que proibia a entrada de criaturas como eu, um monstro, a dor que me atingia era tão intensa que tinha vontade de rasgar eu mesmo a minha pele.


 


            O avião demorou muito a chegar; estava impaciente, precisava acabar logo com isso. Quando o avião pousou, já estava com meus planos prontos: corri até o estacionamento e roubei o primeiro carro que encontrei. Tinha pressa, precisava correr para que minha família não tentasse me impedir. Estava desesperado para me livrar da terrível dor que me dominava por completo, isso era pior do que o inferno.


 


            Durante a minha viagem para Volterra, repassava mentalmente todos os momentos em que eu fui feliz ao seu lado. A campina, a nossa campina, o doce toque dos dedos dela em minha pele, os olhos...


 


            Sabia que a feri tanto que ela foi capaz de se matar... eu não merecia nem poder morrer; o certo era que eu vagasse pela eternidade me corroendo pela dor e pela culpa; eu a matei...


 


            Assim que vi Volterra, abandonei o carro na estrada e continuei o restante do caminho a pé. Era uma subida íngreme até a entrada da cidade. A noite começava a cair. Decidi que chegaria e arrumaria confusão com o primeiro vampiro que encontrasse, estava desesperado para acabar logo com isso. Principalmente, não queria dar a oportunidade de o Aro ler a minha mente e descobrir os segredos da minha família.


 


            Ao andar pelas primeiras ruas, com o chão coberto por pedras antigas, senti o cheiro de vampiros, que impregnava o ar dali, o que me deixou animado. Parecia que seria fácil provocar qualquer um deles; assim, algum logo me faria o favor de acabar com a dor que eu sentia desesperadamente, crescendo em meu peito.


 


            Quando ouvi o pensamento da vampira que eu já havia conhecido, mudei de direção e fui ao encontro dela; tinha esperança de que Heidi pudesse me matar ali mesmo.


 


            - Olá de novo, jovem Edward. O que trás você à cidade dos meus senhores?


 


             Eles não vão gostar, detestam que vampiros que não foram convidados apareçam por aqui de surpresa.


 


            Essa notícia era ótima para mim, para o que eu queria encontrar ali, pelo menos. Como já estava decidido a agir da maneira mais imprudente possível, tentando arrumar briga com qualquer um deles para que alguém me ajudasse logo com os meus planos, fui o mais grosso possível:


 


            - Não é da sua conta! Saia da minha frente.


 


            Quando ela prestou a devida atenção ao meu humor, posicionou-se na minha frente para bloquear a minha passagem; fiquei mais esperançoso.


 


            - Você não foi tão rude assim em nosso primeiro encontro – isso a deixava excitada; que nojo. – Acho que não tem idéia de onde está. Deixe-me ajudá-lo com isso.


 


            - Sei exatamente onde estou e o que estou fazendo. Agora saia do meu caminho, sua vampira nojenta.


 


            Coloquei-me em posição de ataque, sabia que não demoraria muito a termos companhia, já ouvia os pensamentos deles.


 


            – Saia do meu caminho! – gritei com ela, pretendendo forçar uma reação rápida.


 


            - O que está acontecendo aqui, Heidi?


 


            Ele deliberadamente ignorava a minha posição de ataque; sabia muito bem, que ali ou em qualquer outro lugar, nenhum vampiro significava um problema para qualquer um que pertencesse aos Volturi. Enquanto ele perguntava, surgiu outro, de manto escuro pela rua. Heidi não precisou olhar para o segundo enquanto se dirigia aos dois:


 


            - Felix, Demetri, este é Edward. Não sei o que está havendo... mas ele parece meio irritado – eles me olhavam com maior interesse agora. – Vocês sabem quem ele é. Já o mencionei antes; aquele que parece preferir sangue de animais a sangue humano.


 


            Eles começaram a rir da minha cara. Como não havia razão para ser contido, voei para o pescoço do Felix. Ele caiu no chão comigo por cima, tentava morder o seu pescoço. Demetri me agarrou e facilmente me tirou de cima dele. Eu estava fraco, havia tempos não me preocupava em caçar direito.


 


            Quando Felix foi me atacar, Demetri interrompeu:


 


            - Calma, Felix. Vamos para um lugar mais reservado, aqui vai chamar muita atenção – Felix assentiu.


 


            Os dois me empurraram pelas antigas pedras da cidade em direção ao que parecia ser a fachada de uma empresa, mas que, na verdade, não passava da “casa” dos Volturi em Volterra. Entramos pelas grandes portas, fui empurrado para um elevador.


 


            Ele não me escapa! Que idiota entraria por Volterra e iria nos enfrentar? Este está liquidado. Pelo menos minha noite ficou animada com ele aqui; ajudou a distrair a minha sede.


 


            Os pensamentos de Felix me davam esperança de ser destruído antes que Aro soubesse o que aconteceu. Logo a minha agonia teria fim. Não consegui deixar de dar um pequeno sorriso esperançoso com isso.


 


            - Tá rindo do quê, idiota? – disse Demetri.


 


            Ele me dava um soco na barriga. Quando notei como o meu deboche os irritava, forcei-me a dar gargalhadas. Agora os dois não viam a hora de acabar logo comigo. Perfeito.


 


            Saímos do elevador dois andares abaixo. Passei fingindo estar me divertindo com a situação, isso era muito custoso para mim. Felix e Demetri me levavam em direção a uma sala reservada. Quando senti o cheiro da humana que estava ali, fiquei chocado; entretanto, isso não tinha a menor importância, nada mais importava, não havia espaço em mim para me preocupar com nada que não fosse a terrível dor e culpa que eu carregava.


 


            Quando cruzei a porta da pequena sala, eles partiram para cima de mim. Um de cada vez, davam-me socos, chutes e jogavam-me de um para o outro; divertiam-se com minha falta de reação. Nenhuma dor que eu pudesse sentir, que eles achavam que estavam provocando em mim, camuflava a agonia de sofrer pela ausência dela. Eu ria muito alto; cada sorriso meu intensificava a reação deles; era exatamente do que eu precisava. Tinha que morrer logo, cada segundo dentro da casa dos Volturi era um risco desnecessário.


 


            Só notei que não estávamos mais sozinhos quando ela começou a falar.


 


            - Parece que estão se divertindo sem me chamar.


 


            Eles pararam de me socar e de me jogar de um lado para o outro como se eu fosse uma boneca de pano para me segurarem enquanto davam atenção a ela.


 


            - Jane – cumprimentou Demetri -, venha, junte-se a nós. Aposto que o nosso convidado vai gostar muito do seu cumprimento.


 


            Ele falava enquanto Felix me segurava no chão, com os pés em cima de mim. Fui ficando cada vez mais irritado com a demora deles. “Por que não acabam logo com isso?”


 


            - Isso – ela apontou para mim - foi ordem de algum dos nossos senhores?


 


            - Não, mas ele entrou aqui como se fosse o dono do lugar; precisa de uma lição.


 


            - Quem decide não somos nós. É claro que vocês sabem disso...


 


            Com muita má vontade, Demetri concordou. Já Felix estava com dificuldades de aceitar a interferência de Jane. Quando ouvi que eles pretendiam me levar até os seus senhores, optei por uma manobra mais drástica: rapidamente me forcei a ficar de pé, jogando para longe o Felix; posicionei-me para voar até seu pescoço, pela segunda vez naquela noite.


 


            Senti a queimação. Parecia que meu copo estava novamente passando pela transformação. Isso só podia significar que, de alguma maneira, eu estava morrendo. Fiquei feliz; embora a dor fosse terrível, eu já havia sentido dor pior: nada doía mais do que a morte da Bella. A dor começou a ceder; fiquei terrivelmente decepcionado. Eestava me sentido fraco.


 


            - Levante-se. Como se chama? – perguntou Jane.


 


            - Edward – disse Felix.


 


            - Levante-se, Edward. Vamos até meus senhores – eu me coloquei de pé enquanto respondia:


 


            - Não!


 


            Eles me olhavam chocados; ninguém dizia não a um Volturi.


 


            - Não seja idiota, você sabe que não tem escolha.


 


            - Não acompanho vocês a lugar nenhum!


 


            Cuspi as palavras, enquanto caía novamente em agonia no chão. Naquele momento, percebi que era Jane a responsável por aquilo. Enquanto ela me lançava um potente ataque mental, Felix e Demetri me pegaram e me levaram para algum outro lugar; eu não conseguia prestar atenção para saber qual era.


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Notas finais do capítulo

Chorei muito na parte da praia. Muito mais do que quando ele pensa que a Bella morreu.
bjos, e torçam para meu marido dar conta das correções.