O Rapaz Dos Sorrisos escrita por Caroline Marinho


Capítulo 1
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Notas iniciais do capítulo

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Outrora, em uma daquelas cafeterias aconchegantes, em um episódio que eu, ainda moça, punha-me a ler um bom Machadinho (se não me falha a memória, era O Espelho) e me deliciava com um bom pingado. Não era uma manhã agitada, como se via em cidades grandes, nem tinha cheiro de fumaça, buzinas ou robôs humanos engravatados.

A cidade, pequena e calma, acordou preguiçosa e sonolenta, como sempre e com o cheirinho de chuva. As mesas mal se ocupavam, sem muito movimento, mas ouvia-se risadas gostosas, bom-dias e brindes.

Foi quando entrou o moço. Entrou, não só na cafeteria, como também em minha vida, minha história, e um dos maiores marcos de minha existência.

Sim, pois não tinha nada para se chamar a atenção. O semblante era risonho, o rosto magro era atraente, mas nada que cativasse às moças de relance. Eu, porém, lembro-me de tê-lo reparado. Talvez pelo seu cabelo interessante e desgrenhado, ou por seu carisma.

Eu, portanto, era uma pessoa menos conservadora, não tinha comigo tabu, ou qualquer machismo que me impedisse de cortejar pessoa que fosse. E ao vê-lo de relance, reparando-o por carisma ou cabelo interessante e reparar logo que ele não me reparava, dei por mim que queria ser reparada.

A princípio, acenei, discretamente, e ele sorriu. Pedi que ele se aproximasse, e o fez com vontade e sorriso ardente.

– Um bom dia, senhora...

– Senhorita - corrigi, de súbito - Mas me chame de Safira, por favor. Poderia me agraciar com sua companhia? - pedi, apontando os olhos para a cadeira à frente de minha mesa.

– Safira... - ele repetiu, devagarinho, saboreando cada tom, de cada sílaba - Pedra preciosa! - se sentou, sorrindo - Nome digno à uma moça com sua audácia.

Ah, aquele sorriso! Não me lembro que cor era o dia antes daquele sorriso, mas sei que agora tudo era mais claro. Aquilo sim chamava atenção de qualquer moça. Ele era o rapaz dos sorrisos, largos, carregados de paixão. E eu não me importava de manter a namorá-los.

– É nova na cidade, preciosa? - o tom de sua voz me desconcertava, tanto seu olhar penetrante.

– É o meu terceiro mês - respondi, retribuindo o sorriso cativante.

Ele pediu um café à garçonete.

O prazer de vê-lo sorrir à garçonete, foi perceber que seu sorriso se curvava três vezes menos.

– Está gostando da cidade? - ele me perguntou, ansioso pela resposta.

O moço exalava ambiguidades. Talvez por isso, supus que ele não se referia necessariamente à cidade.

– Estou adorando - respondi, tocando de leve à sua mão.

O dia já não me parecia tão preguiçoso. Aliás, estava mais bonito, mais quente, mais aconchegante.

– E por acaso algum rapaz teve o prazer de te levar a conhecer a cidade? - ele questionou, dissimulado.

– Até minutos atrás - retruquei, sem pressa - eu não tinha encontrado alguém à altura.

Ele riu, impressionado com minha resposta.

– Eu ficaria honrado em ser o primeiro, Preciosa.

Era dali em diante o rapaz dos sorrisos, doce moço de olhos penetrantes, minha grande paixão.

Eu me lembro de ter sorrido três vezes mais depois de um beijo. Aliás, me lembro de ter sido 3 vezes mais feliz com tudo o que me cercava.

Ele me foi todo o fogo, uma paixão ardente, de beijos gélidos e abraços quentes. Me trazia a boa e velha sensação de brincar com vidro sem pudor nem medo de me cortar.

O meu rapaz dos sorrisos me foi como a morte que me revitalizara em uma cafeteria preguiçosa.


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