Estou na aula do Beto, com a cabeça encostada no ombro do Tomás. Mesmo com toda a barulheira de Beto, consigo sentir as partículas de tédio, porque ele está repassando um conceito de notas sobre o piano que nós aprendemos no começo do ano.

Então começo a ficar meio tonta, e com sono. Cada vez mais. E mais. E mais.

* * *

Dessa vez estou em um lugar todo branco e reluzente, e uma leve névoa cobre meus pés, e o que deve ser o chão. Essa branquidão parece não ter fim. Estreito meu olhos para ver mais longe, mas tudo o que vejo é o puro branco.

Então uma silhueta surge da névoa ao longe, caminhando determinadamente na minha direção. Ele. Meu garoto misterioso.

Preciso falar com ele, saber seu nome, de onde ele vem. Tomo coragem, e digo:

– Olá. Qual o seu nome?

Ele olha para trás, e depois me encara de uma maneira um pouco confusa.

– Olá – diz ele, irradiando uma voz lindamente doce. – Eu sou o Leon. E você?

Fecho a boca, depois de perceber que estava levemente escancarada. Depois de meses passeando pelos cantos da minha mente, ele finalmente falou comigo.

– E-eu? Eu sou a Violetta. – estendo a mão e ele a aperta. Incrível a sensação, parece completamente real. – O que você faz aqui?

– Hummm... Aqui, onde? – pergunta Leon, soltando minha mão.

– Ahm... Você sabe, aqui nos meus sonhos, ou na minha mente, que seja. Eu nunca te vi de verdade.

– Talvez não seja um sonho. – diz, acariciando meus cabelos, o que me dá arrepios. – Talvez seja uma realidade que você vive quando está dormindo.

– O que... É você? – pergunto baixinho.

– Posso ser o que você quiser. Sou um fruto da sua imaginação.

Minha animação murcha um pouco ao ouvir isso.

– Então quer dizer que você não existe?

– Sim, eu existo... Se você acreditar nisso. Sabe, eu não acredito que você falou comigo. Achei que era só outra garota que se achou no meio do nada. Na última aparição, ou sonho, como você chama, tentei falar com você mas, do nada, você desapareceu, e eu tive um apagão.

Uh. Então quando eu acordo ele meio que desmaia. Coitado.

– Então, quer dizer que se eu acreditar mesmo em você, talvez você possa aparecer andando na rua, qualquer dia?

– Talvez. – responde ele.

Então, tudo começa a ficar embaçado, e eu começo a gritar. Não quero que Leon apague de novo.

– Não! Leon! Nããão!

Então, vejo que estou sozinha com Tomás na sala de música.

– Violetta? Quem é Leon?

– Ahm. Não sei. Ninguém, nada. Foi só uma... Aparição. Quer dizer, um sonho.

Agora Leon é um segredo só meu. Para lembrar nas aulas chatas, para sonhar todas as noites. Leon será minha nova realidade.