Um Anjo (quase) Caído escrita por Gaby Molina


Capítulo 5
Capítulo 5 - Oh, Maldita


Notas iniciais do capítulo

Olá :33 Muuuito obrigada pelos reviews, alguns foram tão divos que eu me senti na obrigação de postar mais um capítulo ♥ Então... Aqui está, espero que gostem. Hehe



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Heath

— Damien, descobri! — berrei quando o vi na escola logo que cheguei no dia seguinte (eu havia me atrasado de novo. Afinal, como ele conseguira não pegar detenção?). — Serena. Descobri quem é. — tentei parecer animado, mas não consegui.

— E quem é?

— Você vai rir se eu disser — foi quando a vi, pegando uns livros em seu armário. — Já volto, preciso fazer uma coisa.

Caminhei até ela e fiquei encostado em seu armário.

— Some daqui — ela resmungou.

— Bom dia, Serena Argent.

Isso chamou a atenção dela. Ela me encarou por um longo minuto, e eu rezei para que ela negasse. Eu estava sempre errado, por que teria razão daquela vez?

— Eu odeio a minha vida — bufou, batendo a porta do armário com força e me fazendo desviar no último segundo.

— Ei, você sabia que é proibido mexer nos arquivos de outros alunos? — perguntei, inocente.

— É claro, idiota — ela revirou os olhos. — Então quer dizer que aprendeu o caminho da diretoria bem rapidinho?

Ignorei-a.

— Vejo você na detenção?

— Hoje não, Seeler — e saiu andando.

Maldita.

No meio do caminho, ela tropeçou e estava prestes a cair no chão quando eu a segurei. Merda. Não tinha como um humano ter se movido tão rápido, e o olhar dela me dava a certeza de que ela tinha percebido isso.

Soltei-a antes que ela pudesse me xingar.

— De novo, super homem?

Quando invadi os arquivos da diretora, descobri que a querida Serena Argent era um ano mais nova do que eu, portanto não tínhamos nenhuma aula juntos.

Exceto as aulas extras. Então me inscrevi em todos os clubes broxantes dos quais ela participava.

Uma das únicas aulas extras de Serena que não eram completamente insuportáveis era música, no terceiro período de terça-feira.

Era a única hora do dia em que eu conseguia me certificar de que ela estava bem enquanto estava no colégio. Nunca conseguia encontrá-la no intervalo.

— Com licença — bati na porta da sala de música no terceiro período e entrei. Por um milagre, eu não estava atrasado.

— Não conheço você — o professor, um homem alto e magro com uns 25 anos e óculos quadrados me fitou.

— Heath Seeler — e entreguei-lhe o papel da "transferência".

— Muito bem. Bem-vindo à classe, sr. Seeler. Eu sou o sr. Rogers.

— Legal — sentei-me na única cadeira vazia.

Que, por acaso, era ao lado de Serena Argent.

Ela bufou.

— Algum problema, srta. Argent? — o sr. Rogers a encarou.

Sou eu quem deveria estar reclamando, você é a minha passagem só de ida para o inferno, Gato Preto — sussurrei num resmungo para ela, que pisou no meu pé.

Mas ela não sabia o quanto aquilo era verdade.

— Argent, seja legal com o novato. — o sr. Rogers sorriu, como se soubesse que seu pedido seria ignorado. — Você toca algum instrumento musical, sr. Seeler?

Eu tocava um instrumento musical. Mas era vergonhoso demais, então menti.

— Não.

— Você canta?

— Não.

— Escreve música?

— Não.

— Então, quais são seus planos nessa aula?

— Tocar triângulo e aprender alguma coisa.

— É um plano melhor do que o da maioria dos alunos daqui — o professor ergueu uma sobrancelha para o resto da classe.

Ele começou a discursar alguma coisa sobre... música? Provavelmente.

— Então, vamos para a nossa apresentação diária! Quem vai se apresentar hoje?

Silêncio mortal. O professor suspirou.

— Certo. Quem pode me dizer a origem da palavra "música"?

— Vem do grego mousikê, que significa “arte das musas” — respondi.

Serena ergueu uma sobrancelha, surpresa. Aprendi uma coisa ou duas no Céu.

— Muito bem, sr. Seeler, mas, da próxima vez, levante a mão para responder — o sr. Rogers me encarou.

— Desculpe. Eu não sabia — disse, sincero.

Humanos são estranhos.

Esquisiiito... — Serena cantarolou, surpreendentemente afinada. Mesmo que fosse para me ofender.

— Que afinadinha — elogiei. Mas ela não retribuiu. Sabia que eu tinha planos malignos por trás de qualquer coisa gentil que dissesse a ela. — Por que você não canta aquela música que estava escrevendo ontem?

— Que música? — perguntou o sr. Rogers.

— Não seja ridículo, eu não escrevo — ela cerrou os dentes, desafiando-me a contrariá-la.

— Devo ter me enganado, então — sorri.

Ela me encarou como se não acreditasse que eu tinha desistido.

Mas agora sabia que eu não tinha medo dela.

Aquela morena ali está olhando para você — Serena sussurrou para mim.

— Eu sei. Todas elas estão. — sorri, dando de ombros.

— Odeio esse seu sorriso pedante.

— Acho que chamam isso de Charme Angélico.

Serena bufou. Claro, não entendera o trocadilho. Achava que eu estava apenas sendo convencido.

Bem, eu estava. Mas mesmo assim.

Cada um pegou um instrumento e o professor começou a reger alguma sinfonia. Ele me disse para apenas bater no triângulo uma vez no fim de cada verso, o que não requeria quase nenhuma concentração. Portanto pude gastar meu tempo fitando Serena — que tocava piano — e sorrindo para ela, que formava um xingamento com os lábios e errava a nota às vezes.

Não havia sentimento melhor do que irritar aquela menina.

* * *

Na hora do almoço, consegui encontrar Damien.

— Dam, preciso de um favor — abri um sorriso culpado.

Damien bufou.

— Que é?

— Preciso que fique na detenção fingindo ser eu para que eu possa seguir a Argent até a casa dela — falei bem rápido antes que perdesse a coragem. Afinal, depois do incidente do dia anterior, eu não queria arriscar.

Ele pensou por um minuto.

— Está bem — bufou. — Mas só porque eu ainda tenho esperanças de voltar para o Céu.

— Valeu, cara.

* * *

Eu não sabia o quão grave era a situação quando chamei Serena de Gato Preto. Aquela garota era um imã colossal de má sorte. No caminho de volta (eu morava a Oeste da escola e ela a Leste, para melhorar ainda mais as coisas), tive que afastar um cachorro que ia atacá-la, fazer um carro encostar para que não a atropelasse, impedir um bebê num carrinho de tacar um pirulito no cabelo dela (por mais que eu quisesse muito assistir à cena) e depois impedir que fosse atropelada pelo mesmo carrinho de bebê quando a mãe perdeu o controle dele.

E tudo isso. Sem. Que ela. Me visse.

Quando a maldita finalmente chegou em casa, eu não tinha mais forças para voar. Meu cabelo grudava em minha testa cheia de suor. Então apenas sentei-me numa praça ali perto e fiquei um tempo descansando.

Serena

Eu estava na arquibancada durante a aula de Educação Física no dia seguinte quando uma pessoa que já estava ficando mais conhecida do que eu gostaria sentou-se ao meu lado.

— Fugindo dos esportes, hein? Você tem cara de sedentária, mesmo — Heath Seeler disse, mordendo uma maçã que tinha consigo.

As garotas jogando vôlei na quadra se alternavam entre olhar admiradas para ele e me fuzilar. Que beleza.

—... Não tem corpo de sedentária, mas tem cara.

— Babaca — disparei. — Sai daqui.

— Não — ele me fitou com os olhos dourados (eles eram dourados!) e mordeu a maçã novamente, como se tentasse me provar o quão sexy ficava fazendo isso. Não funcionou.

— Para a sua informação, eu estava com a perna engessada até Domingo passado, então o médico disse para eu descansar alguns dias.

— E você está cumprindo isso caminhando até em casa?

— Está bem, pai — zombei, revirando os olhos.

— Ei, o que é isso na sua testa? — ele afastou uma mecha de meu cabelo do rosto e colocou atrás da orelha, fitando o curativo.

— Não toque em mim! — disparei. — Eu caí.

Ele sorriu.

— Seu anjo da guarda era realmente um incompetente, não era?

Era?

— Bem, não sou um dos casos mais fáceis.

— Nem me diga. Quando você caiu?

— Deus, cuide dessa sua droga de vida.

Quando? — ele cerrou os dentes.

Não entendi por que era tão importante, mas respondi:

— Sei lá, há uma semana.

— Antes de eu chegar no colégio, certo?

— Certo.

Ele suspirou, parecendo aliviado.

— Você é esquisito, sabia disso? — ergui uma sobrancelha.

— Você também não é flor que se cheire, mas não estou falando nada.

— Então, por que está aqui?

— Posso assistir a garotas gostosas jogando vôlei — ele apontou para a quadra. — Ou voltar para alguma aula inútil. Olha só, aqui parece bem melhor. Mesmo que eu tenha que aguentar você.

O sinal tocou. Heath se levantou, animado.

— Terceiro período! Hora da nossa aula de... — ele olhou para sua mão como se tivesse escrito a grade horária ali. Talvez tivesse. — Latim!

Nossa?

— Ah, eu não disse? Me inscrevi também.

— Você está realmente pedindo para morrer.

— Ou era latim, ou era botânica. E olhe a minha cara de quem gosta de plantas. Por mais que eu deteste você, pelo menos não tenho que ficar te catalogando com nomes científicos.

— O sentimento é mútuo.

— Ótimo! Já devemos estar atrasados, vamos logo.

Heath

— Atrasados — o sr. Willmore, professor de Latim e História, nos encarou quando chegamos.

— Desculpe. Não vai acontecer de novo. Podemos entrar?

O professor me encarou com uma cara espantada, mas não entendi por quê. Fitei Serena à procura de ajuda, mas desde quando ela ajudava em alguma coisa?

Encontrei uma expressão de espanto em seu rosto também. Maravilha.

Sentei-me em uma ponta da sala, e ela fez questão de sentar na outra. Tudo bem. Enquanto não saísse do meu raio de visão, não tinha como se meter em encrenca.

Claro, minha presença magnética a atraiu até a cadeira ao lado da minha depois de cinco minutos.

— Sabia que não ia conseguir ficar longe de mim — debochei.

— Cale a boca. Você fala Latim?!

— Hã... Por que a pergunta?

— Porque você respondeu ao professor em Latim perfeito, talvez?

— Ele falou comigo em Latim?

Ela me encarou por um longo momento como se eu fosse pirado. Talvez fosse.

— Você é definitivamente esquisito, Seeler.

Latim era obrigatório no Céu. Era uma das línguas mais faladas, e eu estava tão acostumado com ela que nem percebi quando o sr. Willmore se dirigiu a mim falando Latim.

Mas como se explica isso a Serena Argent?

— É, eu falo Latim — respondi como se não fosse grande coisa.

— Então por que está fazendo aula?

Sorri.

— É sempre bom ter um 10 garantido em alguma matéria, não é?

Ela não respondeu.

— Sereeeena! — uma garota morena apareceu, animada e sorrindo. Depois me viu e sorriu ainda mais.

— Oi, Audrey — Serena me encarou. — Lembra-se da Audrey, Seeler?

— Claro — sorri.

— Entãão... Falou com a sua mãe sobre a festa? — Audrey a fitou.

— Falei, mas não tenho certeza se vou. Te ligo?

— Está bem. Tchau, Heath — ela sorriu e saiu andando.

— Tchau, Aubrey! — respondi. Serena sussurrou "Audrey" para mim. — Audrey!

— Você é o maior idiota do mundo — ela revirou os olhos.

— Então... Festa, hein?

— Vai se foder.

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— O que isso significa?

— Significa "O seu cabelo é bonito".

Latine multum scio, idiota.**

Ri um pouco, sem conseguir evitar.

* * *

Depois da aula, encontrei a tal Audrey perto dos armários.

— Então... Festa, hein? — sorri.

Os olhos dela brilharam.

— É, na casa do Chase Hunter — ela apontou para um cara loiro do time de futebol, tentando soar descontraída. — Às sete, se você quiser aparecer — e me entregou um convite.

— Talvez eu apareça.

— Espero que apareça — ela piscou para mim e desapareceu por entre os corredores.

Depois de acompanhar Serena durante todo o caminho até em casa — eu odiava o fato de isso estar virando rotina —, acampei perto da casa dela, esperando para ver se ela ia ou não à tal festa.

Afinal, a garota conseguia quase morrer numa caminhada de dez minutos pelo subúrbio, imagine a desgraça que conseguiria causar em uma festa?

Esperei. Esperei. Esperei. Chequei o horário em meu celular diversas vezes. Esperei. Escureceu. Nada de Serena.

Ela não deve ter ido, pensei, mas não podia ir embora sem checar. Voei além da cerca no quintal e escalei até o segundo andar. Encontrei a janela dela rapidinho, era o único dos três quartos que parecia ser de menina. Não havia ninguém lá. Forcei a janela. Ela se abriu. Ninguém ensinara nada àquela garota sobre segurança?!

Comecei a sentir-me mais compadecido pelo antigo anjo da guarda dela.

Andei em volta da casa, até que finalmente encontrei gente na cozinha: uma mulher e seu filho conversando.

— Serena está dormindo no quarto, Thomas. Não a perturbe — censurou a mulher, provavelmente mãe de Serena.

Isso só podia significar uma coisa:

A maldita tinha fugido.


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Notas finais do capítulo

* Espero que você se afogue na própria falta de educação.
** Eu sei um pouco de Latim.



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