Me afastei um pouco do garoto em minha frente, ele apenas deu um risinho se gabando. O garoto deus as costas para mim e começou a gargalhar. Todos nos olhavam atentamente. Pareciam ansiosos para alguma coisa mais séria acontecer. Pude perceber alguns alunos filmando aquela cena. Essa situação era realmente constrangedora para mim. Virei às costas e comecei a ir embora junto a Sophia.

- Vai fugir idiota? – Gritou o garoto – Ta vendo! Não vai fazer nada. É um covarde mesmo.

Continuei andando. Meu coração batia forte. Eu sabia que se não fizesse alguma coisa, seria incomodado o resto do ano por aquele garoto na escola. Mas eu apenas decidi ficar na minha.

- Isso! Vai lá com essa retardada mental. Suma daqui idiota. – Gritou ainda mais alto, o que fez arrancar varias gargalhadas de todos ali presentes. –

Aquelas palavras fizeram meu sangue ferver, borbulhar. Meu coração se acelerou ainda mais. Cerrei os punhos e me virei. Senti Sophia segurar levemente meu braço, mas logo eu me soltei e fui em direção ao garoto.

- O que você disse? – Perguntei enfurecido –

- Não ouviu direito? É isso que dá ficar andando com retardados.

Aquelas palavras fizeram meu sangue esquentar ainda mais. Perdi a noção do que fazia. Cerrei os punhos ainda mais e com toda a minha força soquei o rosto do garoto que insultava Sophia e a mim. O garoto imediatamente caiu no chão, o que me fez perceber a besteira que eu havia feito. Eu logo me arrependi pelo meu ato. Mas não havia como voltar atrás, já estava feito. Percebi que o nariz do menino sangrava, ele também desconfiou do sangramento e passou a mão sobre o nariz para confirmar. Quando confirmou que seu nariz estava sangrando se levantou e enxugou o sangue que descia do nariz. Ele começou a andar em minha direção, a menina que estava com ele segurou o seu braço e pediu para ele não fazer nada para não piorar as coisas. Mas ele gritou dizendo para solta-lo. Parou em minha frente e olhou em meus olhos. Pude ver em seus olhos a raiva que sentia de mim. Alguns segundos depois dele me encarar, senti uma forte dor em meu estomago. O garoto havia me dado um soco na barriga. Não contente com o que havia feito, ele me deu dois fortes socos em meu rosto. Consequentemente caí no chão. Pude sentir fortes chutes em minhas costas.

- Isso é para você aprender a nunca mais encostar um dedo em mim. – Dizia o garoto –

Com dores e caído no chão, consegui ouvir alguém gritando para parar aquilo. Era a voz de Dakota. Ela correu ao meu encontro e se agachou ao meu lado conferindo meus ferimentos.

- Porque está fazendo isso seu marginal? – Gritava Dakota com o garoto –

O garoto pareceu ficar com medo, mas apenas xingou alguns palavrões e foi embora. Eu me pus de pé com ajuda de alguns alunos que ali estavam. Dakota veio em minha direção e me ajudou a ficar de pé.

- O que aconteceu Charlie? – Perguntou – O que fez aquele... aquele garoto te bater nessa violência?

- Eu... eu posso te contar isso depois? Acho que agora não é um momento bom para isso. – Falei enquanto tentava ficar de pé por conta própria.

- Ta! – Disse ela – Mas você vai ter que me contar tudo, e não só para mim.

- Eu sei.

**

Quando cheguei em casa meus avós se assustaram com a minha situação.

- Sangrando, sujo e cheio de dores. Em que confusão você se meteu Charlie? – Dizia minha avó irritada. –

Contei a eles tudo o que havia acontecido. Meus avos disseram que iriam à escola para reclamar do que havia ocorrido, mas eu pedi que eles não fossem para não piorar minha situação com o garoto que havia me batido. Apesar de tudo, se eles reclamassem com o diretor sobre ocorrido, eu também sairia prejudicado, pois foi eu que bati primeiro. Depois de muita insistência, consegui convencê-los a não ir à escola.

Fui para o meu quarto com ajuda de Dakota e ela começou a tratar de meus ferimentos enquanto minha avó e meu avô faziam um chá para se acalmarem do susto. Sophia me observava enquanto sua mãe passava algum tipo de pomada em meu machucado na testa, ela parecia estar triste. Estava sentada na beirada da minha cama, enquanto eu estava deitado na mesma. Ela me olhava por alguns segundos e depois olhava para o chão. Mexia os dedos como se estivesse nervosa.

- Ta melhor? – Perguntou Dakota tirando minha atenção para Sophia –

- Sim. Acho que vou sobreviver. – Sorri – Obrigado!

- Por nada Charlie. Era o mínimo que eu podia ter feito por você depois que você protegeu minha filha daquela maneira. – Disse ela enquanto acabava de colocar o curativo em um corte em minha testa. – Tem certeza que está tudo bem?

- Tenho. Minhas costas estão doendo um pouco, mas vai ficar tudo bem. – Respondi confiante –

- Ok. Vou ver se sua avó precisa de ajuda lá em baixo. – Disse ela –

Dakota se foi e me deixou ali com Sophia. A menina autista ainda olhava o chão. Foi quando eu a vi enxugar algo em seu rosto, parecia uma lagrima. Aquilo me preocupou. Mesmo com dores fui até o canto da cama onde ela estava sentada e me sentei ao seu lado.

- O que foi Sophia? – Perguntei calmamente – Porque está chorando?

Sophia me olhou e eu enxuguei uma lagrima que descia do seu rosto. Eu nunca a havia visto chorar.

- Porque está chorando? – Perguntei novamente –

- Foi minha culpa,culpa. – Disse ela –

- Não! –Disse a ela – Não foi sua culpa. Aquelas pessoas que tem toda a culpa.

- Não. Se eu não fosse assim, se eu não fosse assim você não estaria dodói. – Uma lagrima descia do rosto dela enquanto ela falava –

Enxuguei a lagrima que descia e segurei a mão dela

- Não foi sua culpa. – Eu disse – Você não tem culpa de nada. Você é...

Sophia colocou sua mão sobre o meu rosto me interrompendo. Ela se aproximou e selou seus lábios junto aos meus. Eu não sabia o que fazer, então apenas curti aquele momento, pois era único e inesquecível. Era a minha primeira vez beijando uma menina