ANTES FOSSE somente lavar louça. Quíron podia ser um centauro legal e só precisaríamos lavar louça. Só que não.

Me despedi de Annabeth para limpar os estábulos enquanto ela colhia morangos, e depois eu tive que escovar alguns pégasos e arrumar algumas crinas emaranhadas. Depois de um tempo realmente curto para o banho, fui até o almoço, na esperança de encontrar Annabeth antes. Mas ela já estava na mesa. Bem coisa da minha sabidinha. Talvez assim Quíron nos, hum, liberasse mais cedo.

Percebi que os campistas estavam todos um pouco inquietos, e quando Groover sentou ao meu lado, após as oferendas, ele mastigava o garfo distraidamente.

–Ei, garoto bode - falei para ele.

–Hum? - ele perguntou, distraído, ainda mordendo o garfo.

–Porque é que todo mundo está assim? - perguntei, mais para puxar papo, pois eu tinha uma noção do que era isso... O Olimpo fechado... Isso não era nada bom.

–Eles simplesmente fecharam - Groover soltou o garfo que agora só tinha cinco dentes pela metade. - Isso é mau. Isso é muito mau. Até mesmo o senhor D. fechou, então deve ser ainda pior do que pensamos... Eles evitaram contato.

–Você não tem nenhum palpite do que pode ser? - perguntei, esperançoso.

–Não sei não, Percy - ele negou com a cabeça. - Mas está tudo muito estranho... Veja só essa garotinha oráculo que apareceu: já temos um oráculo. Susana também faz desenhos, e seus desenhos são extremamente intrigantes. Ela desenhou Lupa, e Lupa é romana. Mas o nome estava em grego. E sobre o dragão... Acho que você sabe do que se trata...

Assenti. Fazia um tempo que Annabeth, Charlile, Silena e eu havíamos descoberto um dragão de bronze na floresta, durante um Capture a Bandeira. No princípio era somente um segredo entre nós quatro, porém Groover também ficara sabendo do dragão.

Mudamos de assunto e descobri que ele sairia em uma missão em breve. Assim que o almoço terminou, Annabeth e Quíron vieram em minha direção.

–Cozinha - eu pude jurar que Quíron estava escondendo um sorriso quando disse isso.

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A lava espirrava para todos os lados, e isso não era legal. Minha vontade era de jogar todos esses pratos no mar, mas alguém me veria saindo e eu provavelmente teria de fazer coisas ainda piores do que lavar louça com lava.

Annabeth havia prendido os cabelos em um coque. Ela sorriu para mim, de modo desafiador.

–Já fizemos isso antes - ela disse.

–Mas antes– falei, enlaçando-a e colocando uma mão em seu rosto. - Você não me distraia tanto.

Foram beijos curtos, com risadas no meio.

–Se eu distraio tanto - Annabeth falou. - Você deveria dar um jeito nisso.

E ela se esquivou de mim. Não pude evitar um sorriso. Annabeth sabia ser provocativa de um jeito diferente, digamos assim.

–Vamos lavar logo essa louça - ele suspirou, olhando para a montanha de pratos a nossa frente - e talvez teremos um tempo para distrações.

Tomamos todo o cuidado com a lava, e os pratos e talheres ficaram impecáveis. Lá dentro estava um forno, eu não via a hora de sair e ir, de preferência, para o mar. Quando estávamos quase no final, dei um empurrão de brincadeira em Annabeth. Só que foi forte de mais e ela virou o prato na mão.

–Ai! - ela gritou quando um filete de lava pingou no seu braço.

–Ah, deuses - eu larguei o prato na pia e fui até ela.

Annabeth havia colocado o prato rapidamente na pia e envolvia a mão ferida com a mão livre.

–Tome mais cuidado, cabeça de alga! - ela disse enquanto me aproximei.

–Deixe-me ver - eu disse, estendendo uma mão.

–Não foi nada de mais - Annabeth deu de ombros, sem mostrar a mão. - Nada que um pouco de nectar não resolva.

–Deixe-me ver - repeti.

–Mas...

Olhei com cara de inocente para ela, que revirou os olhos, sorrindo, e me entregou o braço. A pele estava bem vermelha desde o lado de dentro do cotovelo até o pulso.

–Nectar - eu disse e olhei ao redor.

–Ali - Annabeth apontou para uma pequena estante.

–É seguro? - perguntei.

Ela deu de ombros.

–Deve ser.

Dei um gole a ela, que suspirou aliviada.

–Bem melhor - ela disse, levantando e agitando o braço. - Falta pouco.

–Você não quer uma pausa? - perguntei, abraçando-a por trás e beijando seu cabelo. Ela virou e me beijou, colocando as mãos em meu peito.

–Tá quase aí em baixo? - uma voz ecoou. Nos separamos rápido e voltamos para a louça.