“Os seres humanos tem um talento especial para escolher exatamente aquilo que é pior para eles.” Essa frase martelava na cabeça de Lilly. Seu pai a havia mencionado algumas vezes e, pelo que ela sabia, a frase havia saído da boca de um grande sábio, Alvo Dumbledore. Na ocasião, entretanto, ela não achou as palavras tão sábias. Na verdade, ela achou aquilo uma grande mentira. É claro que se temos uma escolha a fazer, escolheremos o melhor para nós. É muito simples, pensou ela, se sabemos que uma coisa irá nos prejudicar, porque a escolheremos? Não fazia o menor sentido.

Mas agora, para Lilly essa frase se provava mais que verdadeira, por que quando Lorcan a beijou, Lilly não pensou nas consequências, ela, apesar de negar várias vezes, queria aquilo. Então ela retribuiu o beijo. Havia sido um beijo feroz, voraz, como se o mundo fosse acabar naquele momento e eles quisessem aproveitar tudo o que pudessem. Ele a imprensou contra a parede, enquanto suas línguas travavam uma batalha em suas bocas, em busca de espaço. Mas antes que se separassem por falta de ar, escutaram um barulho, o que fez com que Lilly parasse e empurrasse Lorcan bruscamente.

O barulho havia sido causado por Hugo, que se encontrava parado no alto da escada do dormitório dos meninos. Havia derrubado uma planta espalhando terra e cacos do vaso pelos degraus. Ele estava com uma expressão chateada no rosto quando disse, olhando para ela:

-Eu já estava indo me deitar, mas passei aqui para ver se estava tudo bem com você. Não queria interromper nada, me desculpem. - ele assumiu um tom de desprezo enquanto falava a última frase.

Então ele deu as costas e entrou novamente, na mesma hora que alguém entrava no salão. Graças a Merlim, era a Alice, que olhou para os dois, Lilly e Lorcan, como se fossem ETs. Então Lilly percebeu que ainda estava encostada na parede, com os braços de Lorcan ao seu redor, ela corou e se desvencilhou rapidamente.

-Anh, eu vou deixar vocês sozinhos – disse ela confusa – E Lilly, depois eu preciso falar com você.

Ela não deixou Lilly nem ao menos responder, subiu correndo para o dormitório. Lorcan aproveitou o momento e avançou em direção a Lilly, que o deteve prontamente.

-Lorcan, não. – ela falou rapidamente, porque queria terminar logo com isso e conversar com Alice- Isso foi um erro e não vai mais acontecer de novo, o.k.?

Lilly não esperou que ele respondesse, seguiu a mesma direção que Alice e entrou no quarto com uma mistura de euforia e arrependimento. Antes mesmo que pudesse perguntar pelo paradeiro da amiga durante o dia, mesmo já sabendo qual era, Alice falou:

-O que foi aquilo? E, tipo, que história foi essa de você e a Lucy brigarem? E porque você não foi a Hosgmeade?

-Shhhh– falou apontando para Lucy que dormia em sua cama do outro lado do quarto. - Calma, uma pergunta de cada vez - sussurrou sentando-se na cama ao lado de Alice e assim ela explicou tudo que tinha acontecido durante o dia, sendo interrompida várias vezes por Alice que ficava cada vez mais perplexa com o que a garota contava. Quando terminou, Alice ficou indignada, porém não exatamente pelo que tinha ocorrido e sim porque não havia presenciado os acontecimentos.

-E isso me leva a perguntar: onde você estava, hein Alice Longbotton? – ela sussurrou, erguendo as sobrancelhas.

A garota obviamente estava ansiosa para responder por que deu sorriso de orelha a orelha e um pulinho, se endireitando para contar, ela passou um tempo articulando algo com a boca, porém sem produzir nenhum som e finalmente disse:

-Com o Zabine. – e apesar de estarem falando baixo as duas não conseguiram reprimir um gritinho agudo antes de Alice prosseguir – Eu estava com a Lucy no Três Vassouras, mas ela saiu dizendo que voltava logo, e eu fiquei lá esperando um tempão e nada dela voltar. Só que nessa hora chegou o Zabine com os amigos dele e ao invés de ir sentar com os amigos ele veio até a mesa que eu estava e se sentou – deram outro gritinho agudo – E a gente ficou conversando, por incrível que pareça. É claro que no começo eu reclamei por ele ter sentado lá e tal, mas ele continuou lá e ficamos uns 40 minutos mais ou menos até que ele me convida pra dar uma volta com ele.

- Ai meus Merlim – interrompeu Lilly, extasiada com tal história, afinal a melhor amiga e o Zabine eram apaixonados desde sempre, mas viviam brigando, se um dissesse que o céu era azul certamente o outro encontraria algo para contraria-lo e mostrar que este estava errado.

-Então nós fomos andando e tipo, eu ri muito porque ele é um completo idiota e ficava falando umas coisas totalmente idiotas e, resumindo, nós quase tivemos um ataque cardíaco de tanto rir. – Alice gesticulava bastante enquanto falava e dava alguns pulinhos na cama – E ele colocou o braço nos meus ombros e nos seguimos assim, abraçados, até um lugar que não tinha ninguém, perto de uma cerca, dava pra ver a Casa dos Gritos de lá e ele me falou que ele gostava muito de ir ali e ficamos conversando sobre nós, o que gostamos de fazer, os passatempos, matérias favoritas e tals. E... ele me beijou.

-Assim? Do nada? Estavam conversando e ele simplesmente te beijou? – Lilly indagou, confusa.

- Não, ele parou e ficou me olhando ai eu perguntei o que foi e ele se aproximou de mim e me beijou. Ele disse que fazia muito tempo que estava querendo isso. Aí ficamos lá um tempão e quando voltamos ficamos nos jardins. Até agora.

- Ai meu Merlim, mas vocês estão namorando? É pra valer?

-Eu não sei, acho que... sei lá. Nós vamos nos ver amanhã e... É, talvez. Quem sabe?

As garotas passaram algum tempo colocando os assuntos em dia até que o sono as venceu e foram deitarem-se. Porém Lilly, apesar do sono e do cansaço, não conseguiu dormir. Ficou se revirando na cama pensando em tudo que tinha ocorrido durante o dia. Sua briga com Lucy, o beijo com o Lorcan, e, sobretudo, no modo como Hugo a olhou depois que a viu com Lorcan e em como ela se sentiu mal por isso. Ela sentiu como se o tivesse traído, e isso não fazia sentido, eles eram apenas amigos. Por que Lilly sentia-se culpada? Ela ficou algum tempo pensando nisso até que, enfim, adormeceu.

-----------X--------------

Lilly e Alice desciam juntas as escadas em direção ao salão para tomarem café da manhã. E, de vez em quando, recebiam olhares furtivos das pessoas, certamente pelo ocorrido na noite passada, que com certeza já deveria ter se espalhado pela escola inteira. Lilly, entretanto, nem ao menos reparava nesses olhares. Ela estava pensando na bronca que com certeza receberia dos pais, seu maior medo era que mandassem um berrador. Seria uma vergonha, afinal a garota nunca recebera, na escola, nem sequer uma reclamação dos pais, quanto mais um berrador. Seus irmãos, James e Albus, já haviam recebido vários, e Lilly sabia que não seria nada divertido.

Ela foi tirada de seus devaneios quando chegou ao salão, sentou-se com Alice ao lado de Louis Weasley, Lysander Scamander e Ellie Parkinson, como de costume. Porém, ela não encontrou Hugo em lugar nenhum.

-Lilly, você nem tocou na comida. O que aconteceu?- perguntou Louis.

Entretanto, Lilly não pôde responder, porque várias corujas entraram na escola trazendo cartas e pacotes. Duas corujas se aproximaram dela e ela procurou por algum envelope vermelho, felizmente, não encontrando. Uma das corujas ela reconheceu sendo do seu pai, Harry, e a outra pertencia a seu irmão mais velho, James Potter.

-Qual você vai abrir primeiro?- questionou Alice, visivelmente ansiosa.

Lilly nem respondeu, pegou a carta que seu pai enviara e abriu.

Lilian Luna Potter, a professora McGonagall contou-nos das suas atitudes ontem à noite, e sua mãe e eu ficamos muito decepcionados com você. Na verdade, ela queria te mandar um berrador, mas eu realmente não achei necessário.

Mas, o que deu em você? Duelar com a Lucy? Sinceramente, Lilly, não foi essa a educação que demos a você. Já pensou se você tivesse se machucado ou machucado alguém? E se você tivesse sido expulsa?

Espero que saiba que seu comportamento é inaceitável e que estamos mandando essa carta somente para que fique ciente de que nós sabemos do que aconteceu, porém, conversaremos melhor sobre isso no Natal.

Ah, e independentemente do que a levou a tomar essa atitude, quero que peça desculpas a Lucy e, em hipótese alguma, quero que as duas fiquem sem se falar, entendido?

Harry Potter.

Assim que terminou de ler a carta, Alice a tomou e começou a ler. Lilly suspirou, pelo menos não havia sido tão ruim quanto imaginava. Tirando o fato de que ela teria que pedir desculpas a Lucy. Ela abriu a carta do irmão.

Oi Lilly, estou escrevendo essa carta para te avisar que, se você quer duelar com alguém que faça isso escondido, oras! Você só podia estar maluca quando a atacou na frente de todo mundo, sei que você teve seus motivos para fazer isso e que ela provavelmente mereceu, afinal, você não a atacaria por nada. Mas, da próxima vez, faça direito. Tente isso nos jardins do castelo, por trás da cabana do Hagrid, ou na floresta proibida.

Ah, e queria avisar também que a mamãe está muito irritada, e que suas atitudes prejudicaram o Albus, que queria fazer uma viagem, e quase levou um tapa quando pediu permissão à ela. Não que eu esteja me importando com isso, foi realmente engraçado ver como ele ficou.

Mas, enfim, você está bem? O que houve com você e a Lucy? E também, como vai você e o Lorcan? Ainda estão juntos? (espero que não)

Ah, sim, quase ia me esquecendo o motivo real para mim escrever a carta: eu estou noivo. E não, eu não estou brincando. Pedi a Ashley em casamento, e vamos nos casar no ano que vem, acho que em julho ou agosto. E nós queríamos convidar você para ser a nossa madrinha de casamento. Afinal, se não fosse por você nem sei se estaríamos junto.

Estamos esperando a sua resposta, maninha.

James Potter, o melhor irmão do mundo.

Lilly não pôde deixar de rir, seu irmão era mesmo o melhor irmão do mundo, mas também o mais convencido e maluco. E ela também estava surpresa, quem diria James Sirius Potter, noivo? Ela estava muito feliz por ele, e com certeza aceitaria o convite. Ela estava prestes a se levantar para ir imediatamente responder seu irmão, quando entraram no castelo uma fila de garotas loiras, veelas, todas vestidas com um uniforme azul, o que Lilly reconheceu como sendo o uniforme da Beauxbatons, de um lado e de outro uma fila de garotos, todos altos e corpulentos, com um uniforme do Instituto Durmstrang. McGonagall se levantou-se e dirigiu-se aos alunos.

-Queridos alunos e alunas, hoje, temos a honra de presenciar a volta de um evento importantíssimo, o Torneio Tribruxo.