Resident Evil: Inevitável escrita por MihoSaori


Capítulo 6
Retrocesso


Notas iniciais do capítulo

Eu sei, demorei pra caralho pra postar. D: Mas pelo menos agora eu já tenho mais capítulos prontos, então não deve acontecer de demorar mais tanto tempo entre as atualizações. :)
Entretanto, vou postar um por semana, provavelmente aos sábados. :)



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"O único encanto do passado consiste em que é o passado." -Oscar Wilde.


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Retrocesso




Leon ainda ficou observando os traços da jovem morena por vários instantes, ponderando algo sobre seu comportamento... Tentando perceber se ainda conseguia ler suas expressões como fazia quando eram menores.

Entretanto, não eram mais crianças... Há anos que os verões ensolarados num píer rodeado por cerejeiras tinham deixado de existir. E ele não queria pensar em como as coisas tinham mudado, ou por que... Era se arriscar em um terreno muito perigoso e não se sentia confortável revivendo as memórias que enterrara há tanto tempo.

–O que houve? – perguntou enfim, com cinzas sobre ela.

A capitã respirou fundo ao ouvir a voz forte contra seus ouvidos... Não era algo que compartilharia com ele... Não agora. Em outros tempos, quando era uma menina que tinha certeza de que podia subir numa árvore para apanhar uma cereja, porque ele não a deixaria cair, confiaria nele para dividir sua história... Mas não agora. Não depois de tudo.

Aquele assunto, em particular, era uma de suas maiores culpas. O motivo pelo qual atravessara o país e se enfiara naquela missão que sabia, era quase suicida.

Se ela só tivesse sido mais forte! Se não fosse tão tola e infantil!

Apertou os punhos sem perceber enquanto pensava nisso, os dedos dolorosamente fechados, enrijecidos pela tensão que assolava seu corpo, fazendo até seus ombros doerem sem que ela se desse conta disso.

–Aurora?

Ergueu violetas para ele, só então notando que tinha ficado calada por tempo demais.

–Ah, desculpe. – pediu unicamente. – Nada. Não houve nada.

A verdade é que Aurora dificilmente falava sobre qualquer coisa que a incomodasse. Principalmente quando eram fatos de seu passado que envolviam três aspectos específicos: Raccoon City, Chris e o próprio Leon.

Depois do incidente com o T-Vírus, por seis meses fora colocada para fazer tratamento psicológico com uma terapeuta da agência, uma vez por semana, durante uma hora.

E as únicas palavras que dissera naquele consultório foram “Oi” ao entrar e o “Até semana que vem” ao sair.

Por sessenta minutos ela ficava calada naquele sofá, sem responder perguntas, sem contar nada. Não achava que uma estranha podia ajudá-la. Não achava sequer que precisava de ajuda... Ela estivera em Raccoon City. Ela enfrentara aquele horror. Ela vira amigos morrerem ou pior, se transformarem em mortos-vivos assassinos...

E fora ela quem os matara, com os dedos trêmulos nos gatilhos das armas, quando os olhos dos seus companheiros se tornaram opacos e vítreos e suas vozes transfiguraram-se em rosnados e grunhidos selvagens...

Suas mãos estavam manchadas de sangue e sabia bem disso. Não precisava de uma psicóloga lhe dizendo o que devia fazer ou como se perdoar por isso, já que não podia tê-los salvo e que não fora sua culpa o que acontecera.

Tinha plena noção de que fizera o que precisara fazer para sobreviver.

Mas isso não servia para acalmar o seu coração quando acordava assustada na cama, banhada em suor gelado, arfando descompassada com seus pesadelos que insistiam em jogá-la de novo naquela maldita noite em que a Umbrella destruíra tudo...

Aurora ficou tão imersa nesses pensamentos que sequer percebeu que o dia havia se tornado noite e agora era a luz da lanterna de Leon que iluminava a caverna onde estavam.



–O-



Ela se calou depois daquelas respostas e Leon a viu correr os olhos de volta para a fenda de entrada por onde podiam ver a chuva caindo.

Perguntou-se mentalmente o que teria acontecido com ela para que ele enxergasse aquela sombra tão sutil, mas que não lhe passaria despercebida, em violetas que costumavam ser tão brilhantes nas memórias que tinha de sua infância.

Havia culpa ali... E sabia, mesmo que ela estivesse naquele silêncio absoluto, que eram lembranças ruins que passavam por sua mente. Podia ver pela forma como suas sobrancelhas estavam estreitas numa expressão de agonia muda. Ou no jeito como seus dedos estavam tão apertados, que as unhas provavelmente marcariam as palmas das mãos, se estas não estivessem protegidas pelas luvas.

Sorriu de canto por um instante, quando notou que ainda tinha a habilidade de ler a morena sem que ela precisasse falar com ele. Ou sequer olhá-lo.

De certa forma, sentiu-se bem com isso.

–O que foi? – ouviu sua voz e viu que ela o fitava, provavelmente sem entender o porquê da pequena curva em seu rosto.

Mas só a encarou diretamente, ainda sorrindo, mesmo que só no canto dos lábios.

–Nada. Não foi nada. – soltou quase cínico e a viu estreitar os olhos, antes de rolá-los e sorrir pequeno, voltando violetas para a chuva.

–Idiota. – ela murmurou sem som, quase que como só para si mesma.

Mas não foi o bastante para que ele não notasse.

E Leon, por um instante, percebeu que ainda gostava de ser cínico só para vê-la retrucá-lo.



–O–



O restante da noite foi completamente calmo, a exceção dos trovões que volta e meia quebravam o som da chuva forte que açoitava as árvores do lado de fora da caverna e dos raios que iluminavam de forma sombria o seu interior rochoso.

Na manhã seguinte, Aurora acordou para o ver o tempo ainda fechado pela entrada de pedra, mas não se importou com isso. Tinha que seguir o seu trajeto e apesar da noite deitada sobre rochas desconfortáveis e frias, encontrar Claire ainda era sua prioridade e não podia se desviar disso. Pôs-se de pé, ajeitou os equipamentos aos seus lugares e depois de calçar os coturnos mais secos agora, olhou em volta na intenção de encontrar Leon, avisar-lhe que precisavam ir embora...

Mas ele não estava mais ali. Ela estava completamente sozinha.

Sentiu um gosto amargo em sua garganta... E ficou alguns segundos parada, saboreando os resquícios da sensação que provara uma vez, há tantos anos... No dia em que tudo tinha acabado para eles.



Scotty, volta!



Respirou fundo, afastando esses pensamentos. Não devia se sentir daquela forma. Era uma mulher adulta, não uma garotinha infantil e não permitiria que aquilo voltasse. Não.

Fechou os olhos apertando os punhos quando percebeu, com raiva, que ele ainda era capaz de mexer com ela, não importava quantos malditos anos passassem.

–Morning.

Abriu violetas imediatamente, quando ouviu aquela voz ecoar no ar ao seu redor. Voltou-se para a entrada da caverna e viu aquela figura ali parada, encarando-a diretamente. Ele estava recostado na parede, de braços cruzados.

–Não foi embora? – a pergunta foi inevitável e ela engoliu em seco, desviando os olhos quando percebeu o que tinha dito e o quanto parecia inapropriado. – Quero dizer, eu achei que...

–Achou que eu tivesse deixado você aqui e partido sozinho. – ele completou com os olhos fixos ao rosto da morena, que voltou violetas para cinzas. – Só fui checar onde estamos.

E então permitiu-se focar a linha de visão com a dela... A voz mais baixa, séria.

–E eu não faria isso, Aurora. – completou, firme.

Ela só ficou ali... Sentindo aquela sensação dolorida em seu peito, o misto de agonia e mágoa que nos assola quando queremos muito acreditar em algo que sabemos que é mentira. Mas que gostaríamos que fosse verdade. Aurora queria acreditar em Leon, mas sabia que não podia. E isso a fazia querer jogá-lo daquela cachoeira, por ter estragado tudo... Por ter destruído tudo.

–Descobriu alguma coisa? – ela perguntou unicamente, desconversando.

Não voltaria naquele assunto. Era pedir demais dela, depois de tantos anos, arriscar a reviver um dos piores momentos de sua vida só para “esclarecer as coisas”, como a terapeuta dizia.

Maldita idiota.



Só viu cinzas fitarem-na diretamente, firmes.

Talvez.



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Notas finais do capítulo

N/A: Bom, por enquanto é isso. Particularmente, eu gostei bastante desse capítulo. Especialmente porque ele aprofunda a visão a respeito dos sentimentos dos personagens.
Eu geralmente não faço isso, mas gostaria de dedicar esse capítulo a leitora que me mandou uma MP cobrando atualizações. Eu sei que sou uma autora relapsa, então eu mereço o puxão de orelha. Esse é pra você, flor, e obrigada pelo carinho com a história. ♥
Espero que todos tenham gostado de ler tanto quanto eu gosto de escrever essa fic. E até o próximo sábado. :3



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