Mariana era o nome de minha amada, que de semelhante a Mariana de Machado de Assis, esposa do bacharel Conrado Seabra¹, só tinha o nome. Ah, quem me dera ter aquela Mariana... Uma criatura passiva, meiga e desapegada, saía raramente, e a maior parte delas acompanhada do marido. Móveis, cortinas, ornatos supriam-lhe os filhos. A minha, (possessivo eu, não?) era exatamente o oposto, dona de si, vaidosa, festeira e exibida. A de Machado lia sempre os mesmos livros, a minha? Nem bula de remédio, muito menos um livro. Era complicada, muito me custava descobrir o que desejava, sim, descobrir, pois esta não era nada prática , era complexa, enigmática. Em seus monólogos (é, monólogos, porque só me era permitido falar depois de muito ouvir) fazia questão de criar uma espécie de anagrama. Se queria algo, dizia que não queria , mas fazia questão de mencionar tal coisa e incrementava: ''talvez não me cairia bem'' ou ''acho que não preciso'' e pedia minha opinião. Se lhe dissesse que não ficaria bem, ou que não era necessário e ela ficasse quieta, era sinal de que queria em demasia, e eu logo me prontificava a realizar tal mimo, e esta me agradecia com elogios, beijos e aquele belíssimo sorriso de lua minguante que eu tanto amava... Agora vês quão complicada era minha Mariana, digna de estudo.
Vez ou outra me passava pela cabeça a ideia de assim como o Alienista Simão Bacamarte, abrir um espaço semelhante a Casa Verde² e mete-la lá dentro afim de estudar suas faculdades mentais, como Simão fez com sua senhora, mas não pudia, primeiro porque a amava muito para realizar tal façanha, e segundo porque também me faltava verba necessária para realizar tal projeto, mas que me passava pela cabeça passava...
Você há de pensar que estávamos a um passo da intolerância conjugal, mas que nada, nos amávamos deveras. Dizem que ''os opostos se atraem'', isto é a mais pura verdade.
Enfim, um brinde ás Marianas.