O que será que aconteceu?

27 de Janeiro de 2008.

Desde o meu aniversário que eu não vejo meu avô e minha avó. Minha tia Marie voltou, mas agora mamãe foi para um lugar muito distante para cuidar do meu avô. Não sei porquê disseram "cuidar", meu avô não está doente, não é?

Eu realmente espero que meu avô esteja bem, porque eu não sei onde ele esta. Mas ele esta levando mais gente que eu amo pra tal lugar e, se for assim, eu também quero ir visita-lo. Eu não sei se eu realmente quero, porque minha tia Marie voltou triste e chorando. 

A casa em si estava tensa, não havia crianças brincando, nem gente falando, nem adultos bebendo. E aquilo me sufocava. Estavam todos sérios e calados como uma porta. Então, meu pai veio até á mim. Ele colocou a mão nos meus ombros e sorriu, um sorriso falso mas honesto.

-Filho, o que houve? Por que você está triste?

-Eu não sei, pai. Só que estão todos tristes e isso me deixa triste também. Todos que eu gosto estão tristes e calados, isso não é legal.

-Você sabe o que aconteceu, Molko? -Meu pai ficou com a expressão séria logo que eu terminei de falar.

-Não, ninguém quer me contar. -Então ele me tirou dali.

-O que esta acontecendo é que o seu vô está doente, filho.

-Para de brincar, pai! -Eu ri.

-Não estou. -Ele estava mais sério ainda.

Fomos de carro, em silêncio, até a minha casa. 

O silêncio me dava agonia e me fazia sentir-me culpado de algo. Como se meu avô estivesse doente por minha culpa. E eu sabia que não era verdade, era só a minha consciência pesada, sabe? Meu pai estava calmo, mas ainda estava sério. Eu fiquei olhando pra ele por um bom tempo e parecia que eu não conhecia aquele homem que estava no carro comigo. Eu nunca tinha visto meu padrasto triste, nunca mesmo. E então aquele homem parecia ter tomado a face de meu pai e tivesse jogado sua alma fora. Eu já havia visto mamãe triste, é um pouco normal até. Mamãe fora muito triste enquanto não encontrara Joseph, meu padrasto.

Eu sempre perguntei a mamãe o porquê de meu nome ser Molko, sendo que eu estou no Brasil. Ela disse ter visto esse nome em um Jornal e achou bonito, então não gastei saliva para discutir com a pessoa mais certa da Terra, minha mãe.

Chegando em casa, meu pai começou a preparar a janta e me disse para ir ver televisão. Eu não queria ver televisão, mas eu era obediente. Por mais que meu pai não fosse mal e nem minha mãe, era algo como se eu devesse fazer o que eles mandassem. Liguei a TV, pra minha sorte, estava passando um desenho legal. Eu fiquei lá assistindo por algumas horas e nem vi o tempo passar. Meu pai me chamou para almoçar e eu estava faminto.

Comemos e então eu resolvi descansar um pouco. Nesse fim de semana eu estava sem minha mãe, meus irmãos e meu primo. Tudo quieto e tortuoso. 

28 de Janeiro de 2008.

Lembra do meu avô? Então, ele está morto.