Sentado no trono, o homem encarava as sombras que o fogo das tochas projetava no amplo salão que se estendia. Imóvel. Apenas os dedos cruzados na frente do peito, como de costume. Muitos metros à frente, preenchendo o vazio da imensa sala real, estava sua criação. Um instrumento diabólico, fruto da engenhosidade do mal. Cinco grandes e imponentes pilares sustentavam a máquina das almas, suas sombras se alongavam pela extensão do piso frio. O círculo de energia que mantinha a maga prisioneira, já tinha se desfeito e ele estava agora sozinho. Assistiu a toda cena na ponte com um sorriso no rosto, mas o final inesperado fez arder um fogo em seus olhos. Um estrondo preencheu o vazio do salão real e mais à frente um dos pilares ruiu, provocando um leve desequilíbrio na sustentação da máquina. Fragmentos de mármore voaram pelo aposento, estilhaçando-se ao contato com a pedra do piso. O homem cerrou os punhos ao ver surgir na base do pilar destruído a palavra: Amizade.

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Passado o momento inicial de impacto, o grupo se entreolhou. Emma certificou-se de que todos estavam ali e deixou escapar um suspiro de alivio momentâneo. Correu para abraçar a mulher e o filho. Regina retribuiu com intensidade, seu coração ainda batendo acelerado.

– O que diabos foi aquilo?? – Emma por fim perguntou.

Regina apenas deixou os olhos percorrerem a imensidão de lava a frente, sem se fixar em nenhum ponto material.

– Eu... Não sei.. – sussurrou.

– Bom, o que eu vi – Gold tomou a palavra – é que sua “amiguinha” tentou nos matar...

– Não era ela...

– Tem certeza?? – ele voltou a indagar.

– Bom... – ela suspirou, como se qualquer resposta ali simplesmente não fizesse sentido – Eu... Não sei. Algo estava diferente, eu pude sentir.

Os Charmings se aproximaram do casal e tocaram o ombro de Emma.

– Filha.. – David começou – Está tudo bem?

Emma apenas assentiu. Não. Estava longe de estar “tudo bem”, mas devido às circunstâncias, até que o pior não tinha acontecido. Por enquanto.

Ruby havia retornado à sua forma original e também se agrupou aos demais.

– Saiu-se bem.. – a loira sorriu para ela.

– Acho que “bem” não é a palavra certa, mas... – respondeu.

– Acha que vencemos o primeiro desafio? – Emma voltou-se mais uma vez para a esposa.

– Estamos vivos, não estamos? – Regina deu de ombros – Acho que isso já é um começo...

– É... Pode ser... – Emma continuou – E o que fazemos agora?

– Já estava difícil com a ajuda de Morgana... Sem ela as coisas vão ficar bem piores... Mas não acho que temos muita saída. Precisamos seguir em frente.

Emma tentou confortá-la com um afago no ombro.

– Hey... Nós vamos conseguir...

A prefeita soltou um longo suspiro e depois de alguns segundos apenas anuiu.

– Tudo bem... – disse em resposta.

– Então vamos – Gold tomou iniciativa.

Eles voltaram a caminhar e logo alcançaram o final da ponte de pedra. Antes de prosseguir, Regina deu uma última olhada para trás. A luta travada tinha deixado mais do que apenas marcas de fogo na pedra nua. As marcas tinham atingido também seu coração e plantado ali a tristeza pela amiga e a dúvida. Se até Morgana tinha caído ao grande Mordok, será que eles tinham realmente uma chance?

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O grupo caminhava em silêncio, o choque do inesperado estava abatendo a todos como uma grande nuvem de fumaça. Asfixiando seus sentidos e enevoando sua visão sobre as possibilidades do que estava por vir. A atmosfera do castelo era amedrontadora e o ar parecia impregnado com o cheiro de morte. Aquilo sugava pouco a pouco as esperanças de qualquer um que se demorasse muito por ali. As paredes rochosas faziam com que ele se assemelhasse mais a uma imensa e interminável caverna subterrânea do que a uma construção propriamente. Magia... Sempre distorcendo a realidade ali dentro. O teto ainda não podia ser alcançado com a vista e isso fomentava ainda mais o sentimento de impotência das pessoas.

– Mamãe.. – Henry choramingou apertando o braço de Regina – Nós vamos achá-la, não vamos..?

– É claro que vamos querido.. – ela confortou o filho com as palavras que ela própria precisava ouvir.

Falar em voz alta... Talvez ajudasse um pouco a retomar sua força para prosseguir. Emma envolveu o filho com o braço.

– Nossa família nunca falha... Não leu sobre isso naquele seu livro? – ela brincou.

Esse comentário conseguiu arrancar um sorriso do menino.

– Ahn.. – Mary Margaret interrompeu – Pessoal...

O trio virou-se para ela. A mulher apontou alguma coisa à frente. Imediatamente eles seguiram o rumo direcionado até encontrar o motivo da preocupação. O caminho que eles seguiam sofria uma bifurcação. Uma imensa parede de rochas irregulares dividia as trilhas.

– Ótimo... – Gold resmungou – E agora? Qual caminho devemos seguir?

– Ambos... – uma voz soou de fundo.

Todos se viraram para ver de onde vinha. Tal foi sua surpresa quando se depararam com a maga encarando-os do lado oposto do caminho. Morgana tinha o semblante fechado, mas o olhar agressivo de antes não tinha lugar em seu rosto. As vestes, ao contrário do episódio na ponte, voltaram à armadura prateada que ela vestia antes de adentrarem o castelo.

– Henry! Pra trás! – Gold se colocou na frente de todos – Vamos acabar com isso de uma vez!

Uma esfera flamejante surgiu numa das mãos do homem e ele fez menção de atirá-la, mas foi interrompido pelo gesto de Morgana.

– Não!! – ela se adiantou, com as mãos erguidas – Não atire.

Regina deixou seu lugar e colocou-se ao lado de Gold. Emma veio em seguida e os Charmings seguraram Henry uma vez mais.

– Morgana?? O que foi que aconteceu? – a morena se dirigiu à amiga.

– O que aconteceu?? – Gold não deixou que a outra falasse – O que aconteceu foi que ela tentou nos matar! E quase conseguiu!

Morgana sacudiu a cabeça negativamente, seus olhos transmitiam um pesar muito grande.

– Ah vai negar agora? – o homem estava mesmo disposto a levar o feitiço a cabo – Tentou nos matar!!

– Não ela não tentou... – outra voz veio mais ao longe.

Mais uma vez, todos, inclusive a maga, se viraram para o ângulo de onde parecia vir o som. Se eles já estavam surpresos, a reação que lhes acometeu agora foi quase uma descrença surreal. Outra Morgana dirigia a palavra a eles. A mulher era a cópia perfeita da que havia acabado de aparecer, porém, suas vestes eram completamente negras e o olhar ameaçador e profundo estava de volta em seu rosto. A mulher para quem olhavam era a mesma que os havia enfrentado na ponte.

– Eu tentei – ela continuou.