Só restaram Kim, Rony, Mark, Mary e a mim. Só um iria sobreviver depois do Halloween. E ainda tinha Alice, que não descansaria enquanto não me visse arrasada e derrotada. Ela jamais deixaria de me infernizar.

Mark me levou até em casa. Durante o caminho, lhe contei minha história em Scarabas e como me envolvi com toda aquela história sobrenatural. Ele pareceu se divertir com a trama da Vingativa, e até cogitou a possibilidade de Alice ser "apenas" mais uma. Além disso, ele me explicou que a marca havia lhe dado a possibilidade de ser visto como se fosse um vivo. Em casa, ao se encontrar com Steve, tudo foi a pior. Os dois não se davam bem, e Mark praticamente jogava na cara dele que dava em cima de mim. Enquanto jogavam ofensas um em cima do outro, Sara, Claire e eu pensamos em uma maneira - talvez impossível - de derrotar Alice.

Então, eu me lembrei do convite de Vivian para passar a noite na sua casa. Era a oportunidade perfeita pra atrair Alice, embora fosse arriscado expor todo aquele segredo. Mark havia relatado de uma possibilidade de fazer com que eu sobrevivesse no Halloween, embora tivéssemos desconfiado de sua proposta.

Por fim, decidiu-se que Sara e eu iríamos à casa de Vivian. Podíamos desconfiar do convite inesperado dela, uma vez que ela não parecia ter esquecido o suposto "ataque". Mas era a única chance.

- Vejo vocês mais tarde, meninas! - Vivian nos encontrou no corredor e acenou.

Mais tarde, seguimos para a casa dela. Vivian morava numa casa um tanto mediana por sinal, para os padrões de vida que ela dizia ter. Ela nos recebeu alegremente. Além dela, de mim e Sara, haviam mais três garotas, que reconheci como Ciara, Stacy e Brim, suas fiéis amigas. Parecia que havíamos só nós na casa.

- Vamos assistir um filmeótimo! - ela sorriu e puxou minha mão. Dei uma olhada para Sara, que deu de ombros. - Você curte filmes de terror? - Vivian perguntou de um jeito estranho, mas presumi que estivesse apenas ironizando.

Ah, se ela soubesse de Scarabas...

- Hm... - gaguejei, desconfortável. As amigas de Vivian não estavam dando risinhos como esperava. A casa estava silenciosa, e aquilo me inquietava. Podia parecer estranho, mas me sentia deslocada sem saber se havia um fantasma ali.

- Calma, Valerie. - pediu Sara.

- Fiquem à vontade, tá? - disse Vivian, voltando da cozinha com um balde cheio de pipoca e algumas latas de refrigerante, distribuindo-as em seguida. - Ok, nada de gritar, tá? - ela riu. - O filme é assustador pra caramba!

Fiquei bem no meio, entre ela e Sara; espremida diante de uma tela com cenas de terror.

- Vivian? - eu a chamei baixinho. - Você ainda acha que fui eu quem atacou você?

- Olha, Valerie - ela começou. - De início, achei sim. Mas agora...eu pensei melhor, e...sei lá. Foi muito estranho.

Estranho à la Alice Blake, pensei.

- Então...tá tudo bem mesmo?

- Claro. - ela sorriu.

Minutos se passaram entre nosso silêncio e a gritaria do filme, até que Brim se levantou.

- Vou no banheiro.

Também frustrada por estar sentada, me levantei e fui até a cozinha beber água. De repente, comecei a sentir um arrepio estranho; aquela sensação de olhos nas costas. Fiquei parada, apenas sentindo aquela coisa se aproximar...

O telefone tocou, e me virei rapidamente. Não sabia se deveria atender, e Vivian nem se levantou.

Por fim, suspirei e o tirei do gancho.

- Alô?

Porém, do outro lado, ouvi apenas uma respiração estranha.

- Olá? - insisti. - Olha, não tem graça, tá? - me senti gelar. Estava na casa de outra pessoa com uma ligação estranha. - Sei que está me ouvindo.

Sem resposta.

Então, eu me zanguei:

- Vá procurar o que fazer, tá legal? - com raiva, ia colocar o telefone de volta, quando escutei uma voz:

- Você vai me dar o que eu quero. - era uma voz firme e estranha; uma voz do outro mundo. Não parecia ser coisa de brincadeira.

- O quê? - murmurei.

- Não vai adiantar se esconder. - a voz monstruosa continuou. Somado à isso, comecei a escutar passos fortes vindos de cima.

Desliguei o telefone na cara de quem quer que fosse e corri até a sala.

- Tem algo errado.

- Como assim? - Vivian disse.

Foi quando escutamos um grito, e corremos naquela direção até vermos Brim agachada no corredor.

- Brim?

- Tinha uma coisa...ali...na cortina... - ela apontou para o quarto com a mão trêmula. A cortina balançava levemente.- Estava olhando...

- A janela aberta - notou Vivian. - Deve ter sido um animal...

Brim empalideceu.

- Um animal da altura de um humano?

- Como ele era? - me atrevi a perguntar.

- Bem alto, e...tinha uma aparência horrível - sua voz soou embargada. - Eu...quero ir embora.

Então, um forte barulho veio da cozinha. Sara e eu nos entreolhamos, com mil ideias na cabeça. Seria Alice? Um dos que tinha a marca? Um fantasma querendo brincar? Pela descrição de Brim, era algo que eu não conhecia.

- Gente, eu não quero ir lá olhar - disse Stacy, de mãos dadas com Ciara. Elas eram irmãs.

- Fiquem juntas e perto - falei, e olhei para Vivian. Afinal, ela era a anfitriã. - Vamos.

Deixamos as meninas e seguimos num silêncio perturbador. Quando passamos pela sala, nos deparamos com a TV chiando e pipoca espalhada, além das latas de refrigerante derramadas.

Então Vivian se enfureceu:

- Mas que merda! Quem fez isso?!

- Vivian! - eu a repreendi baixinho.

- Não vou ficar quieta! E você, hã? - ela se aproximou. - Por que está agindo como se soubesse o que fazer?

O barulho na cozinha se repetiu.

- Vai ter que confiar em mim - engoli em seco. - Acredita em fantasmas?

Eu sabia que estava arriscando expor um grande segredo, mas se quilo era obra de algum deles, eu saberia agir.

- Claro que não! - respondeu ela. - Por favor, Valerie.

Eu sabia.

Sem falar nada, fui até a cozinha. Tudo por lá parecia normal demais até mesmo pra mim.

- Isso nunca aconteceu comigo! - continuou ela. - Como quer que eu acredite?

Ignorei-a e prestei atenção nas panelas penduradas num aparato em cima do balcão. Quando uma delas balançou, voltei minha atenção para o teto. Foi quando vi várias facas presas no teto, e só deu tempo de gritar:

- Corre!

Vivian gritou e eu me joguei no chão enquanto as facas, movidas por uma força invisível, vieram na nossa direção. Por sorte, não atingiram a mim, mas uma chegou bem perto do pescoço de Vivian, atingindo a porta a centímetros dela.

Vivian estava em estado de choque e não se mexeu.

- Vivian...a gente tem que pedir ajuda - sussurrei.

- Por que isso tá acontecendo? - ela disse com a voz fina de medo. - O que essa coisa quer?

Suspirei. Não queria mentir, mas também não poderia contar tudo a ela. Vivian surtaria e iria piorar tudo.

Enquanto a ajudava a levantar, ouvi a porta da garagem ser aberta.

- Vamos encontrar as meninas - disse, e, antes mesmo de terminar de falar, outro alguém gritou.

- Valerie! - reconheci a voz chorosa de Sara. - Eu vi a coisa! É horrível!

Mas o que estava acontecendo ali?

- Vou ver a garagem - Vivian saiu e me aproximei de Sara.

- Era a Alice? - sussurrei.

Para meu horror, ela balançou a cabeça negativamente, ainda assombrada.

- Valerie, o que quer que estejamos enfrentando aqui...é algo novo até para nós.

Vivian veio correndo gritando da garagem, ao mesmo tempo que ouviu-se arranhões pela casa. Stacy e Ciara também apareceram, seguidas de Brim.

- Socorro! - gritou Stacy.

Em seguida, Stacy foi arremessada no ar com violência, indo cair na escada, enquanto algo agarrou Brim, puxando-a pelas pernas e sumindo com ela. Ciara gritou quando algo agarrou seu cabelo, suspendendo-a no ar.

E não podíamos fazer nada.

- Pra fora! Rápido! - gritei, sendo a última a correr. Stacy, Brim e Ciara conseguiram se recuperar.

Na garagem, porém, tudo só piorou. Haviam vários arranhões espalhados até o teto, e um deles estava rabiscado o meu nome.

- Acho que...essa coisa quer você, Valerie - disse Sara.

Vivian abriu a porta da garagem, mas quando foi a minha vez de sair, ela se fechou sozinha. Voltei a apertar o botão, mas ele não obedeceu. Então, o carro ligou sozinho, e começou a acelerar; como se rugisse. Lá fora, as meninas batiam desesperadas na porta.

- Valerie! Valerie!

Me surpreendi quando fui arrastada pelo pé na direção do carro, e gritei. Me virei, pronta pra atacar, quando vi uma imagem refletida na janela do vidro do carro.

Havia uma massa escura atrás de mim. Era algo que eu jamais tinha visto. Aquela presença me causava intensos arrepios e um medo terrível.

Aquilo definitivamente não era um simples fantasma.