Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 9
Capítulo 8


Notas iniciais do capítulo

Vamos todos(as) enterrar o Vinícius hoje!
Brincadeira.
Mas se enterrarem o André, a Milena não se importaria nem um pouquinho... talvez ajude até a jogar terra.
Nesse meio tempo, algumas coisas andam fervendo no departamento de Adm.

Enjoy.

P.S. de curiosidade: só pra esclarecer, eu não faço Adm. Só quis mudar de área qnd comecei a escrever :P



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Aumento o volume conforme me toco que música tá tocando. E por cantá-la de decibéis relativamente altos, Bruno não se importa, já acostumado como eu a tê-lo como plateia. Pra ele valia a pena uma cantoria.

Trilha sonora indicada/citada: Rihanna – We Found Love

http://www.youtube.com/watch?v=kqaGZYDGcUw

[00:26]

Não resisto mesmo.

– ♪ It's the way I'm feeling I just can't denyyyyyyyyyyy… But I've gotta let it go… oooh… We found love in a hopeless place… We found love in a hoooopeless place… We found love in a hopeless place… We found love in a hooooopeless place…♪ Adoro essa música.

– Tô vendo. Se tá dançando aqui no carro, num sei como não dançou ontem.

Estou sentindo uma segunda intenção?

– E tocou? Eu num ouvi.

– Deve ter sido na hora que tu e Vinícius sumiram.

Segunda e terceira intenção sim. Pensa ele que num vi seu sorrisinho gaiato e sugestivo? Pois vi. E quis roubar.

– Ah. De qualquer forma, sei quem deve ter dançado por mim.

Reverter status, reverter status, reverter status.

– Ah, sim, Dani não pode ouvir uma dessas que já tá puxando todo mundo.

Bruno se mantém concentrado na avenida a sua frente. Será que está evitando me olhar para não se entregar que gosta de falar dela ou será que ele só está concentrado mesmo? Mesmo chovendo, vai saber.

– Ela te puxou?

– Já sabendo que eu não ia? Não, não puxou. Foi atrás de quem tava ainda sentado... até de Djane pra você ver.

Quase pulo ao seu lado. Djane? Dançando Rihanna? Na frente de todos?

– Não! Mentira! A Dani chamando a professora pra dançar? Vou matar o Vini por ter me feito perder essa cena, cara. Ela foi?

– Prepare seu coração, Lena, porque a mulher foi!

– Não, cara, num mente pra mim não...

– Te juro. Surreal. Eu não consigo sobrepor as imagens de Djane dançando Rihanna e Djane dando aula. Num bate.

Nossas gargalhadas tomam o carro consoante seus gestos perante o volante ao tentar explicar a cena. Enquanto ele meneia a cabeça, já estou enviando uma mensagem para o filho dela.

– Acabo de mandar aqui “Vini, prepare sua sepultura, Djane dançou Rihanna e eu perdi por sua causa”. Quero ver o que ele vai responder. Mas me diz, o que todo mundo achou?

– Graça, claro. Até aquele Sávio dançou com ela. Galera não sabia se dançava, se ria, se mostrava uns movimentos... Precisava ver a cara do avô de Vinícius.

Tô besta. Declaro, enérgica:

– É hoje que eu enterro o neto dele! E ninguém me falou isso durante a festa.

– É que é muita coisa pra contar, você vai ver.

– E você num foi mesmo dançar?

– Dancei com uma das amigas do Vinícius, uma tal de Becca. Muito bonita por sinal. Mas só foi uma música mesmo, porque a outra que tava lá a chamou e fui de novo pra mesa. Dani tava toda pra cima do Sávio.

Tava demorando. Eu sabia que ele ia falar das supostas investidas de Dani para o cara novo, e desde a noite passada vi uns olhares furtivos dele para esse interesse da nossa amiga. Ou ele toma jeito ou ficará tempos e tempos só de olho mesmo.

– Sabe como ela gosta de enturmar as pessoas. Vide Djane bem aí.

– É, mas com Djane ela não fica toda toda.

Me diz que ele se ouve falando isso, me diz. Que pelo menos percebe o quão perturbado fica quando se trata dela com outro cara. Abaixo o som um pouco porque o rock que toca a seguir é pesado e sei que provavelmente dali em diante entraríamos naquele seu assunto delicado. Era uma propensão.

– Bruno...

– Não é ciúme, Lena.

– Eu num disse nada.

– Mas deu a entender, sempre dá quando fala assim. Então tô dizendo logo.

Talvez sua concentração à avenida é para se esconder de si mesmo enquanto deixa florescer as evidências, imagino que seja. Ilude-se se acha que não posso ver, pelas luzes mesmo da avenida que passa, que detém uma expressão nada boa.

– Então o que é? Desde o ano passado você fica nesse impasse aí. Descobriu?

– Você sabe que não quero um relacionamento agora.

Não desvio.

– Descobriu, Bruno?

– Deve ser só proteção mesmo, Lena. Sério. Ela é minha amiga. Sinto falta de uma amiga como ela. Como foi a Natália. Só... não a quero com qualquer cara... Vai saber quem é esse Sávio. Só porque ele te ajudou não quer dizer que não possa magoá-la, ou qualquer outra coisa.

E se for isso mesmo? Se não passar de uma amizade protetora?

Sinto por ela que não será correspondida assim.

Meu celular o interrompe com bipe de chegada de mensagem.

Dois, três, quatro, cinco bipes contínuos. Vinícius.

Abro pela ordem e não deixo de compartilhar com meu amigo, mesmo se tratando de uma conversa de pontos delicados com Bruno, que não se importa, me deu licença para ver as mensagens.

– Olha o que ele disse “Primeiro: você não pode mandar uma coisa dessas no fim de uma palestra chata sabendo que eu vou soltar um O QUÊ meio alto. Me desculpei com os vizinhos de cadeira”.

Isso põe uma carinha melhor em Bruno. Vou para a segunda mensagem. Continuo:

– “Segundo: kkkkkkkkkkkkkkkkk MEU DEUS, MINHA MÃE!” Em letras garrafais. “Terceiro: Que vergonha! A minha mãe dançando Rihanna? Não acredito. Que mico.

Bruno retruca.

– Se fosse a minha, eu diria o mesmo.

– “Quarto: deixá-la longe de Rihanna, Beyonce e qualquer outra dessas cantoras. Djavan é o bastante.”.

Responde mais uma vez:

– Ele tem razão.

– “E quinto: Mal posso esperar para chegar em casa e aporrinhá-la.“.

– Sem comentário ademais.

– Vocês são uns chatos, deixa a mulher ser feliz.

Cutuco-o com o cotovelo e ele volta a gargalhar.

– Feliz ela me deixa se faltar aula mais uma vez...

– Folgado. Mas... voltando ao assunto...

– Que tem?

– Se depois de todo esse tempo é o que você tem a dizer, sobre a Dani, quero dizer... quem sou pra contrariar, né? Só não arruma problema por causa disso. Nós mulheres nos irritamos fácil com os protetores demais.

– Fala isso pelo seu irmão? É sério mesmo aquilo de que ele quis me...

– Sim. Murilo é... Como posso dizer? É um poço de exagero de proteção.

– Xiii... isso explica a reaç... Sávio contou como vocês se conheceram.

– Hum... diria que não me parece bom, só que... Murilo ainda não... num sei.

Como Murilo não falou nada comigo? Nadinha?

Ele tá esperando eu mesma abordar? Ou está com receio de estragar os poucos avanços que anda tendo? Ah, mas ele... hunf, ele sabe. E sabe o porquê de não ter contado. Agora sabe o porquê do chega pra lá que dei na noite passada nele. Acho que já não sei como me comportar mais com ele, tudo está tão fora da ordem, tão imprevisível... o que deveria ser bom, não? Fiquei pensando sobre isso um tempinho, Bruno não disse nada fora o que teve de responder quando atendeu o celular.

– Oi? Ah, tá, posso ir sim. Tá, valeu.

Me espanto quando pega um caminho diferente. Estávamos perto da faculdade, apesar do trânsito difícil.

– Bruno, tá indo pra onde?

– Pra faculdade. Só tô pegando um atalho. O cara que me ligou é da minha turma, me pediu pra pegar um documento na recepção antes da aula, porque vai chegar atrasado. Teve uma batida feia quase em frente lá. Esse trânsito aí não vai andar... sou um motorista esperto. Dani perdeu a carona e vai perder o primeiro horário assim.

– Talvez não, ela me disse que conseguiu uma carona permanente com...

Juro, me escapuliu. E não era segredo, era? Não, não era. Então que mal tem?

– Como? Quer dizer, com quem?

– Com um cara aí da turma dela, se mudou pra perto de onde mora.

– Ah. Hum.

E só foi isso que disse. Porque o atalho era muito bom mesmo, chegamos logo.

~;~

Não foi exatamente legal entrar na primeira aula junto com a professora Silvana. Muitas carteiras estavam vazias justamente pelo acidente que houve, uma moto com um ônibus e um carro na avenida, que parou o trânsito. Podemos ouvir as buzinas ainda, a confusão lá fora. Sávio até lamentou um pouco pela moto, que parecia ser um modelo muito bom. Dani se mostrou interessada em motos como nunca vi antes, o que mudou os rumos de nossa conversa no pátio antes da aula sobre os bastidores do aniversário.

Silvana veio lado a lado comigo, Flávia, Gui e Sávio para entrar na sala. Pelo seu crispar da boca, sabia que algo maquinava dentro de si sobre nós quatro juntos, que matamos aula no dia anterior – eram dois de Djane, e dois dela. E Djane também estivera fora. Pior era a cara de culpado de todo mundo, quase assobiando pra disfarçar. E agora praticamente aparentamos sermos os únicos na sala, pelos atrasos da galera.

O que terá dito Djane pra ela? Espero que nada, ela sabe que não gosto de favoritismos. É minha opinião, não de meus colegas, no entanto.

– Boa noite. Como comentada a ementa ONTEM, hoje começaremos com o debate do material sobre regra técnica, norma ética, direito privado, público, positivo e natural. Alguém deseja começar ou tenho que apontar algum dos presentes?

Dessa vez devo admitir. Que nunca, nunca, nunca achei que estaria feliz pela legítima chegada de um Hermani. Quer dizer, certo Hermani. André mal colocou o pé na sala, passou voando pela cara da professora, sentou-se ao fundo e num disse nada. Seu maior erro. Silvana estava encasquetada comigo e meus amigos, e felizmente preferiu pegar no pé de André.

– Senhor Hermani, onde estão seus modos?

Ela anda ao longo da sala pela fileira do meio onde estava eu com meus amigos, andou com seus sapatos fazendo um toc toc abafado e devagar, como se estivesse nos rondando e medindo cada passo, nos observando. Nesse meio tempo eu já abria a xérox que deu tempo de pegar antes da aula, material que ela havia deixado no dia anterior. Os outros iam fazendo o mesmo.

Já o vulto do André não estava com sorte mesmo, porque mal trouxe o caderno em mãos. Será que ele também não veio na aula ontem?

– Ah qualé, tô no horário. Num tem nem metade da metade da turma aqui.

Dessa vez também devo admitir. Tive pena do cara. Por uns três segundos, felizmente, pois sou decente. Porque ninguém foi ligeiro o bastante de avisá-lo que Silvana era uma pessoa difícil de lidar por ser muito durona e nada tolerante. Com ela, tem que ser base do maior respeito possível, sem brincadeiras, sem palavreado muito informal. Ela detesta. Se sente desafiada, sei lá.

– Não estamos num bar, senhor Hermani, não sou sua amiguinha para se dirigir a mim de tal maneira asquerosa. Melhor que aprenda a usar as palavrinhas necessárias para bom comportamento, se é que é possível, senão não aprenderá números acima da média desta instituição.

– Senhora sabe com quem tá falando?

Os que não reviraram os olhos, é porque os fecharam num facepalm de menear a cabeça. Alguém, por favor, cale a boca do André antes que dê confusão? Dou uma lida rápida na primeira página que fala de regra técnica, mas não deixo de escutar o bate-boca.

– E o senhor sabe com quem está falando, senhor Hermani?

– Com uma professorinha que tá se achando só porque dá aula aqui.

Silvana caminha de volta, com os mesmos passos, os toc toc no caminho até sua mesa. Anota a data do dia ao quadro branco com pincel e sublinha debate logo que escreve abaixo enquanto se manifesta, sem nenhum abalo de tolerância:

– Ah, temos um superior nesta sala, alunos. Vamos bater palma enquanto ele é convidado a se retirar. Que honra para todos, não? Bateremos palma quando senhor Hermani nos trouxer um ótimo discurso sobre direito positivo para próxima aula, na terça. Espero que 10 minutos sejam o bastante. E nada de Wikipedia, por favor, você é um Hermani, que vergonha seria para sua família sua falta de cientificidade em pesquisa. Onde eles pensariam que estão investindo?

Só que ninguém se mexe, ninguém aplaude além da professora, com um sorriso maquiavélico, daqueles que todos se olham e vê que a coisa toda não tá bonita e que não é um bom dia pra se mexer com ela. André bufa, pega seu caderno e se encaminha para porta resmungando baixo.

– O que disse, senhor Hermani? Tenho certeza que todos se importam o bastante com o senhor para ouvir tão belos pensamentos que devem sair de sua cabecinha adorável. Compartilhe.

Ele não se incomoda de parar, sai como uma bala da sala, mas a responde a tempo, se virando já à porta, onde esbarra com outros alunos que chegavam. Menospreza-os.

– Tenho certeza, professora, que nem todos se importam o bastante.

Quem chegava nem podia perguntar o que estava havendo, ia se desculpando pelo atraso, pediam licença, mencionavam o caos da avenida. Silvana pede silêncio e que todos se sentassem, se ativessem apenas ao debate que ia começar.

– Senhor Tavares, pode começar falando sobre a regra técnica. Dê-me um exemplo consistente.

Igor Tavares do fundo da sala pede um minuto para achar suas anotações e Silvana retorna a caminhar por onde estou sentada. Bate na carteira de Sávio ao meu lado com o pincel e esclarece:

– Eu quis dizer o novo aluno Tavares.

– Sim, senhora... um exemplo consistente? Um bartender que serve bebidas aos clientes está sob as regras técnicas, pois esse é seu trabalho, faz parte da regulamentação de seu serviço. A partir do momento em que ele passa a beber o que não lhe corresponde e completar o que bebe das garrafas com água, servindo-as aos clientes, ele está quebrando pelo menos três normas éticas. Primeiro por beber o que não deve em serviço, segundo por alterar as bebidas com água e terceiro por servir essa diluição aos clientes, que pagam por uma bebida genuína.

– Hum, muito bom, senhor Tavares. Uma fraude por má fé... Senhor Igor, o que isso nos diz sobre a conveniência, em questão de norma ética?

– O bartender a infringiu. A norma ética se relaciona a manter a conveniência de alguma relação social, como o serviço, para que haja equilíbrio das relações serviço-cliente.

Felizmente até o meio o debate quando fui chamada me inteirei bem do assunto e pude responder corretamente, e até mesmo suscitar umas questões que dona Silvana declarou ser muito “pertinente”. Esse é bem o tipo de comportamento que causa suspeitas nos alunos, pois ela não dá nada de bandeja, nem mesmo se você deixar uma borracha cair ao seu lado, que ela passa direto e nem pega para você. Então imagine a cara de todos quando ela deu seu típico sorriso diabólico. Fiquei na dúvida se era coisa boa ou não. Quer dizer que ela está me marcando, é isso?

Que não me meta em problemas por causa disso.

~;~

Após uma passagem rápida na secretaria para entregar as inscrições de estágio que todos pegamos antes da aula é que aparecemos na lanchonete, já cheia e sem mesas. Gui e Sávio se ofereceram para pegar nossos lanches enquanto eu e Flávia fomos para os bancos do jardim ao lado, conversando sobre a monitoria. Ao que parece, alguém foi corajoso de se oferecer a teste para monitor de Djane.

– Pensei que você não ia se inscrever.

– E não me inscrevi.

– O quê? Então quem foi?

– Não sei.

Bruno se aproxima e senta-se com um sanduíche. Flávia que relata:

– Ainda falando da festa?

– Não, alguém foi corajoso de se inscrever para ser monitor de Djane. Só sei o que Luciano da recepção disse, que ela vai fazer a prova na semana que vem. Acabei ouvindo o que ele falava para o diretor.

Bruno quase quebra o pescoço ao girar sugestivamente pra mim.

– Esse “alguém” é sinônimo de Milena?

– Por que todo mundo acha que sou eu? Quer saber, não respondam. Vamos voltar ao assunto do vizinho do Vini assistindo vocês fazerem uma zona na casa dele. Cadê a Dani? Ela disse que queria me contar essa...

Me estiquei no banquinho para varrer o pátio à sua procura e nada. Bruno dá um gole em seu suco e parece desanimado.

– Não a vi desde aquela hora na entrada. Deve tá com a turma dela.

– Hum. Pena.

– Mas sério que não foi você que pegou a vaga de monitora? Então quem poderá ter sido essa pessoa? Ninguém aqui conhece a versão Djane-we-found-love.

Nem deu tempo de rir direito do apelido que Bruno gentilmente deu a minha sogra, pois logo o “alguém” se aproximou e disse na lata:

– Fui eu.

Um “quê?” seguro e surpreso se seguiu pela parte de nosso grupo direcionado a Sávio. Sim, de acordo com essa declaração, ele quem se candidatou à vaga. Como? Por quê? Teria que ter feito isso na segunda mesmo, pois no dia anterior também estava conosco na festa. Ou teria feito hoje ainda?

Também nem deu tempo de perguntar algo ademais, pois o diretor saiu de sua sala bradando pelo pátio. De repente todo mundo calou, todos do pátio, da lanchonete, do jardim, das escadarias, dos corredores, escadas, salas próximas. Mesmo distante, de eu onde eu estava, dava para ouvir um pouco da confusão.

– VOCÊ NÃO TEM PODER ALGUM NESSA PORRA DE EQUIPE DOCENTE, TÁ ME OUVINDO? NEM COM TODOS OS SEUS CONTATOS. E TENHO DITO.

– PENSA QUE EU NÃO SEI SOBRE ESSE SEU CASO? QUEM TÁ COM FAVORITISMO É VOCÊ. ENTÃO NÃO VENHA ME FALAR DE PODER AQUI, QUE VOCÊ JÁ TÁ PERDENDO O SEU.

– ORA SEU...!

Eles iam se engalfinhar, o diretor Fabiano e o professor Bartolomeu, se não fosse a ação dos seguranças de contê-los. Acho que não tinha uma pessoa que assistia à cena que não estivesse bestinha. O diretor tem lá sua fama de rigoroso e tal, mas de perder a cabeça desse jeito, nunca. Levantar a voz, ok, já vimos muitas, ficar bravo, milhares... mas irado como ele luta sobre os dois seguranças que o pegam? É assustador para quem o conhece.

Já o professor Bartolomeu é um chato, sempre foi desses que gosta de provocar. Ainda assim, não é lá muito comum vê-lo num barraco desses. Ele também é muito ligado ao controle. O que será que anda rolando na diretoria? Ontem na festa mesmo Djane fez uma pequena menção a um problema que tem preocupado o corpo docente e o departamento. Foi a hora que discutiu no celular com alguém... Reclamou “Eu não vou. Pode dizer que eu não vou. Não devo satisfação alguma a ele” que não se sabe quem é ou do que se trata. Talvez seja mais sério do que pensei que seria.

Quando dispersam, professor Bartolomeu sobe para a sala, a minha sala, que logo dará aula. Fabiano volta aos resmungos para a diretoria, acompanhado de outros professores. O alvoroço retorna ao ambiente e todos sabemos que ninguém retomava seus assuntos, mas sim as fofocas.

Flávia põe-se de pé e ajeita sua bolsa ao braço:

– Não dou nem 1h pra que tenha pelo menos 20 razões e/ou explicações diferentes na boca do povo.

– Também não duvido.

Retruco resignada. O que me perturba não é apenas essa amostra de problemas na frente de todos... Sinto que Djane está envolvida, e que a coisa não anda bonita para seu lado. Espero que esteja bem.

~;~

Hoje, definitivamente, está sendo um daqueles dias que, bom, não é que tudo dê errado, é que muita coisa tem desmoronado ao mesmo tempo. Tem certa diferença. É mais como explosões do que propriamente incidentes ou acidentes. Só que apesar de a coisa toda estar crítica com as explosões, os incidentes e acidentes terminam de fazer o serviço.

Como o André voltando a me perseguir. Aff.

Logo que ia começar o terceiro horário com o professor Bartolomeu, todos da minha turma praticamente correram pra estar em sala, pois sabiam que a peste já estaria lá. Eu não, preferi ficar pra trás, aos protestos de Flávia e Gui. Queria ver se Djane aparecia ou algo assim. Sávio ficou por me acompanhar enquanto a lanchonete se esvaziava. Sentamos numa das mesas mesmo.

– Por que você se inscreveu para a vaga de monitoria de Djane?

Impressão minha ou ele está meio... apreensivo? Debruça-se sobre a mesa, junta suas mãos, parece sincero em suas palavras. Queria saber de onde vem esse feeling de calmaria que ele simplesmente emana por qualquer expressão de seu rosto. É estranho até de observar. E nem está de camisa azul. Ou branca. Porque dizem que são cores calmantes. É cinza.

– Bom, eu ouvi sem querer você falar na segunda que... ninguém se escreveria, ninguém nunca se escreve. A única pessoa que poderia fazer isso diante das circunstâncias, que não sei bem quais são, seria você e ainda assim você não quis. Preciso de uns créditos extras. Não vou ter concorrência... então, pensei, por que não? Desculpe se isso...

Faz sentido.

– Não, tudo bem. Eu só me surpreendi acho. É uma boa, sabe? E você é bem sortudo... pegou essa vaga com uma Djane renovada.

– É, ouvi que ela... sei lá, do que vi dela ontem, não me parece a mesma pessoa.

É uma forte tendência sobre todos essa impressão, acredite. Hoje em dia Djane é uma das minhas pessoas favoritas, o que é bem estranho se olhar até um tempo atrás. Aquela sensação de desespero de pensar nela como professora evaporou-se há muito. Não ainda dos outros alunos... que ela caminha para convencê-los de sua mudança.

– É que ela costumava ser durona. Digamos que ninguém concordava com seus métodos... A professora Silvana é muito exigente, você viu, Djane era pior ainda. Isso quando ela deixava alguém falar. Só posso justificar que foram épocas difíceis... Já o professor Bartolomeu tá mais para um chato, inflexivelmente chato. Você vai ver.

– E calhou de sua “sogra” ser a professora. Não é estranho?

Sávio ri meio sem graça, franzindo a testa. Me parece agitado conforme passa a mão pelo seu topete. Em contradição, relaxo mais na cadeira como se não houvesse aula, não houvesse amanhã.

– Não, até que não. Me acostumei.

– Você acha que... os rumores sobre ser a “queridinha” possa te atrapalhar?

É com isso que ele se preocupa? De ser amigo da “queridinha”, de estar com a “queridinha”? De ser monitor da professora que tem uma “queridinha”? Suspiro, meio chateada. Isso não iria me deixar em paz tão cedo.

– Já atrapalharam. Não tem como evitar.

– Olha se não é a “queridinha”.

Isso, esse ser, também não queria me deixar em paz tão cedo. André. Que se aproxima da mesa e tem a audácia de puxar uma cadeira para si sem ser convidado a se sentar. Presenteio-lhe com uma cara de tédio apenas. Sávio intervém por mim, segura no ferro da cadeira que foi puxada por André – que sentou-se nela ao contrário – e o impede de debruçar-se sobre a mesa.

– Hey, cara, deixa ela.

– Deixa, Sávio, não ligo mais. Quer dizer, por que ligaria para o que esse daí pensa, né? Como se valesse muito...

Desdenho sem muita vontade, na minha, mexendo com a mão como algo sem total importância para mim. Bem verdade. Só que para André é sempre mais um motivo para um tormento. Principalmente quando ele não gosta do que falo.

– Olha aqui, garota, tu num fala assim comigo não.

O último que me disse isso acabou com apanhando nas fuças e quase linchado no meio da minha rua. A diferença é que eu ainda conseguia ser gentil com Filipe, mesmo sob a pressão dele, e até temos... certa relação. Coisa que não imagino mesmo ter algum dia com André. Tipo, mesmo. Porque se ele mudar, com certeza, não estarei perto para ver. Ou viva.

– Sério, André, não tem nada pra fazer? Tipo, cara, e seu discurso de direito positivo? Devia treinar sua eloquência, anda péssima demais.

Ok, me recriminem, não resisti. Pra que usar a força do punho se eu poderia usar as palavras? Ele não valeria a dor na minha mão se avançasse nele.

– Aquela desgraçada que me espere, posso fazer muita coisa para prejudicá-la.

Sério que ele estralou os dedos dramaticamente? Fala sério! O que ele poderia tanto fazer? É burrice demais.

– Tu tem é muito saco pra fazer isso, isso sim. Só vai provar que ela está certa.

– Lena, amor, o poder é para poucos por uma razão.

Odeio quando ele finge tamanha intimidade comigo, quer me tirar do sério.

Me aguento pra não me alterar, mas também não deixo de responder, sabendo que devia só ignorar, mas o que está acontecendo comigo ultimamente? Também não sei, e André merece uns desaforos, pelo menos pra balancear o tanto que ele me perturba. Uso a técnica da invertida, dou de ombros, falo com o mais tédio possível, mostrar que ele não me afeta.

– Que você desconhece, claro. O fato de ter um grande sobrenome não lhe dá esse peso suficiente se não sabe administrá-lo bem. E que ironia, você faz Administração! Se gosta da sua vida, me chame por Milena e só. Melhor, não me dirija a palavra. Ambos saímos ganhando.

Acho que ser desprezado por duas mulheres numa mesma noite é demais para alguém como ele. A sua sorte é que não teve plateia. E nem difere eu estar na mira dele como professora Silvana aparentemente está se antes eu já estava mesmo. Esse não era bem, entretanto, um lucro a se comemorar.

André levanta-se altivo e arrogante, como se fosse avançar em mim. Se não fosse por Sávio, ele teria avançado mesmo com o dedo na minha cara. Há, grande coisa. Apenas o observo com impaciência.

– Sua...! Você não sabe com quem...!

Ele só sabe dizer isso? Troca o dvd, cumpade. Antes que responda isso, meu amigo se mete entre nós dois.

– EPA! André, sobe.

Fica os dois se segurando, André mais empurrando Sávio que outra coisa.

– Também tá do lado dela, Sávio?

– Sobe, André.


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Notas finais do capítulo

Mas o que afinal tá acontecendo nessa faculdade? É de se preocupar?
É, é de se preocupar...



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