Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 10
Capítulo 9


Notas iniciais do capítulo

Eita que hoje tem! Segurem a mulher!
E segurem a Milena, que pode ceder com o Vinícius dodói rs

P.S.: A série Dawson's Creek vai passar agora no canal da Mtv. Ao que parece, das 10h às 11h da manhã ♥ ♥ ♥ eu indico! E deu certinho com o capítulo de hoje. Iria linkar o video no youtube do episódio que a Milena cita, porém, perdi e agora não consigo achar. No problems, que ela explica direitinho.

Enjoy!



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– Você não precisa fazer isso, querida, estou bem. Te deixo em casa.

Djane se faz de forte comigo dentro do carro depois que desligo a ligação que fiz para seu filho. Avisei a Vini que não precisava me buscar, que fosse para casa, eu iria aparecer por lá. Enrolei um pouco sobre a razão disso. Ficou mais em alerta quando eu lhe disse para deixar a brincadeira sobre a mãe dele de lado. Claro que não falei com todas as letras, ela estava logo ao meu lado, só dei a entender.

– Não tem jeito, vou acompanhá-la até a sua. Depois Vini me deixa. Eu sei que a senhora não tá legal.

– Bem... não estou totalmente. Ainda. Mas vou ficar...

– Viu, eu disse.

Djane suspira ao volante, descansa nele quando paramos num sinal, atrás de muitos carros. Havia dito para não dirigir nervosa. Quem disse que ela quis me ouvir? Também não a deixei sozinha, a arrastei pra fora da confusão aos seus protestos de meter a mão na cara do professor Bartolomeu.

Não foi fácil, acredite. E eu que pensei que meu bate-boca com André parte 2, por ter caído na pilha do traste, tinha sido vergonhoso perante a turma.

Logo que ele foi para a aula após a discussãozinha no pátio, Sávio e eu demos um tempo antes de tomarmos o mesmo rumo. Só que como a rampa – leia-se caminho seguro para pisar depois de uma chuva – estava ainda lotada de alunos, por falta de aula, professor, sei lá, fomos pela escada mesmo, com nossos cuidados. Quando o alcançamos no corredor de nossa sala, André estava só um pouco à frente. Na porta ele me provocou.

– Hey, linda, já pode parar de me seguir.

– Hey, idiota, já pode parar de ser imbecil.

Já avisei a Sávio para me costurar a boca quando estiver sob uma insanidade como aparentemente estava. Só pra todo caso.

– Vocês dois vão fazer cena na minha aula, é isso?

Professor Bartolomeu não fez cara boa ao fechar seu pincel para as anotações que fazia ao quadro. Ao que parecia, só faltava nós três para a turma estar completa. Não queria lhe despertar a ira só por causa disso, a cena do pátio com a briga com o diretor era alerta o bastante para ficarmos na nossa. Por isso fui decente de me desculpar pelo inconveniente. Mas não decente o bastante em meu complemento.

– Desculpe, professor. É só que temos que ser imbecil para que o outro entenda. Senhor sabe, essa coisa de linguagem adaptada e tal.

– Sem brincadeiras em minha aula, senhorita Milena. Sentem-se todos ou a porta é serventia.

Sentamos. Flávia perguntou-me por sinais o que tinha sido aquilo, todos ficavam olhando de mim para André, aquele momento chato que começam os cochichos, as risadinhas... Sávio ainda cutucou o suposto amigo para se aquietar. Até aí tudo bem, a aula seguiu-se. Por uns 15 minutos talvez.

Djane bateu à porta, que tinha uma parte que era de vidro e mostrava bem que ela não estava em seus melhores momentos. Professor Bartolomeu quis continuar sua aula, ela insistiu em bater com os nós dos dedos até que ele resolveu atendê-la, afinal, ninguém mais ouvia o que o homem falava. Pediu licença, resmungou algo como “Ah, essa mulher não desiste”, abriu a porta e fez menção de fechá-la quando se apresentou frente à Djane. Ela empurrou a porta para que ficasse aberta e começou a confusão:

– Qual o problema? Não é senhor que quer que todos saibam? Deixe que ouçam.

Ninguém na sala dava um pio, todos estavam atentos ao “espetáculo” no corredor, tensos. Isso nunca tinha acontecido por nosso prédio, estava começando a assustar os alunos mesmo. Quem estava mais para a parede inclinava a cabeça para melhor visualizar ou ouvir o que era dito... Cochichos e mais cochichos foram logo ouvidos.

– E que ética é essa que a senhora tanto dá aula? Você não pode simplesmente aparecer no meio de minha aula e...

– Só vim dizer pessoalmente que EU não queria o cargo. Não queria, mas só porque o senhor acha que eu não poderia aceitar, vou provar que tenho competência sim, seu bastardo.

Ó Deus. Ela xingou o professor Bartolomeu. Acho que vi a veia da careca dele saltar. Se isso é possível. Todos contivemos um suspiro surpreso e ruidoso. E meteu o dedo na cara dele para se fazer bem expressiva. Dedo esse que o professor segurou, apertou e quis dobrar a mão dela, coisa que deixou os dois medindo força até que ela puxou de volta. Ele ameaçou.

– Vamos ver quem é quem ganha no final, sua...

Nessa hora já tínhamos levantado, pelo menos parte da turma, para separá-los. Não sabia bem quem estava lá comigo, porque eu não via nada, senão o professor soltando fumaça para Djane. Me esquentou o sangue de um jeito que... num sei. Consegui afastá-los dali com a ajuda dos outros e sob a mira de muitos.

– Vai com tua “queridinha”, VAI.

O professor voltou para a sala enquanto guiei Djane para fora dali, uma Djane zangada, agitada e nada bem. Flávia entregou-me minhas coisas já no pátio, onde eu convencia ou tentava convencer Djane de não sair transtornada daquele jeito.

– Só me faz um favor, Milena?

– Se estiver ao meu alcance...

– Não conte para meu filho. Ou para seu irmão.

– Djane...

– Sei que sou uma das primeiras a recusar essas coisas, que não gosto de mentiras, só que... dessa vez, por favor, não conte a eles? Eles podem reagir mal, eu não quero ter que lidar com isso dentro de casa também. Conto depois, vou resolver isso.

– Tudo bem. Se é o que precisa agora... como posso negar?

~;~

– Você sabe algo que não sei.

– Claro. Você sabe qual é a raiz de 113?

– Você entendeu, Lena.

– É uma pegadinha, sabe. Porque é um número primo. Não vai ter número exato.

Esse é meu irmão, pedindo opinião de uma mulher sobre o comportamento de outra mulher. As duas são estranhas e por vezes incompreensíveis, ele disse. Mas se somos incompreensíveis, por que ele quer entender?

Homens são mais ilógicos.

– Tô falando da Aline, não me enrola não.

– Sabe o que você não sabe? Que você passou no sinal vermelho e...

– Não tinha ninguém na faixa.

– ... e tinha um guardinha um pouco atrás de nós.

Murilo olha pelo retrovisor a tempo de visualizar o tal guarda de trânsito no meio-fio e praguejar. Os outros carros haviam ficado para trás. Não era uma hora de pique, no entanto.

– Viu, você fica tentando me enrolar e... é bom não chegar nenhuma multa pra mim. Se chegar, quem vai pagar é você.

– Ah tá, agora eu tenho que avisar a cada sinal que você passa é? Vou começar a cobrar também, que assim eu vou poder pagar tal multa.

– Milena, não muda de assunto.

– Num mudei, você que... Enfim, já que você tá dirigindo que nem maluco, acelera aí que eu tô com fome.

Nem a pêra que eu comia estava dando conta, eu precisava era de comida. Isso porque não tinha almoço em casa. Como demos um descanso para dona Bia, por causa de seu pé inchado, ficou a briga de quem iria preparar alguma coisa. Aí a linda da sogra me ligou para dizer que seu bendito filho, vulgo meu namorado, fez a brilhante graça de ir para o trabalho só pra depois voltar pra casa porque estava doente.

Eu disse que não tinha sido uma boa ideia ele ter trocado o pneu de seu carro durante a chuva do dia anterior. Então, aproveitando que não tinha almoço, eu iria para a casa deles para cuidar do resmungão e “mister atchim” que era o Vinícius. Ele até quis me buscar em casa, mas foi proibido por nós duas. Assim fiquei a mercê do meu irmão, que fez a grande questão de demorar a me buscar para ir almoçar na casa de Djane.

Ao que ele disse, ele estava com Aline – ou não bem estava, se ela esquivava dele – o que seria meigo os dois juntos se não fosse a minha barriga no buraco.

– Milena, isso não faz sentido. Por que ela me evitou hoje? Foi ela quem me beijou ontem! E foi muito bom, posso garantir.

– MENOS, Murilo, menos. Sem esses ditos detalhes, pelamor, é demais para meus ouvidos.

– Só me diz então, faz parte de algum truque, pacto, coisa de vocês?

Sinceramente, fico na dúvida de me dignar num facepalm ou de, sei lá, achar isso um pouco fofo. Mas, de novo, estou com fome o bastante para não saber como reagir às perguntas de meu irmão não tão querido no momento.

– Murilo... eu falei com a Aline acho que umas 5 vezes de máximo na vida, você a vê quase todos os dias. Acha mesmo que eu vou saber o que ela deve tá pensando?

– Sim, vocês são mulheres e são complicadas. Vocês se entendem num piscar de olhos. Eu sei que você tem uma teoria guardada aí, só quero que me diga.

– Eu devia era te deixar no vácuo, sabia?

– E eu devia diminuir a velocidade, sabia? Você quer pagar quantas multas?

– Quero almoçar, você não quer uma teoria furada, quer?

– Chegamos.

~;~

Vinícius no banho, eu na tv. Com a tv a cabo instalada, passava uns canais no controle-remoto, procurava algum filme, alguma coisa para acompanhar quando Vinícius dormisse, o que provavelmente ele vai, pois além do sono, está mais pra lá do que pra cá com sua gripe. Dou um gritinho quando passo um canal sem querer e vejo que estava minha antiga série favorita estava em tela. Eu mesma havia a citado depois do almoço numa referência. Que máximo!

Vini grita de seu quarto, risonho.

– Hey, o que foi isso?

– Tá passando minha série, aquela que mencionei mais cedo. Vem logo, quero te mostrar minhas paixões adolescentes.

– Isso não é um bom convite para seu namorado, sabia, namorada?

– Só vem logo, seu bobo.

Não sei que temporada é, qual é a trama da vez, por há muito tempo não assistia. Só sei que meu casal favorito está na tela, está começando o episódio, tenho um grande sorriso ao rosto ao vê-los novamente e ainda agarro uma almofada pra apertar de saudades deles. Me emociono tanto que quando chega a entrada musical, canto junto... e é bem nessa hora que Vinícius aparece na sala. E minha cantoria morre quando vejo as chaves do carro em sua mão, ele faz uma carinha de convicto e quer tentar me driblar de novo.

Trilha citada/indicada: Jann Arden – Run Like Mad

http://www.youtube.com/watch?v=uCH7aUYcKAw

My heart is in my haaaands, my head is in the clouds… My feet have left the grooound, my life is turning around and rooound... Every voice inside my heeead is tellin' me to run like mad…Oh bows and… ♫ o que você tá fazendo com essas chaves, senhor Vinícius Garra?

Ele me fez perder a parte do hey-hey-hey-yeah!

– O que você acha? Vamos, te deixo em casa.

Me aconchego mais à almofada, coloco o pé na mesinha da sala – folgada, eu sei – aumento um pouco o volume e daqui não saio. Ouço as passadas dele na sala para dar no pé, suspiro e falo serinha.

– Você não passa dessa porta hoje, já te disse. Quer mesmo discutir comigo?

– Lena, eu tenho que pegar esse crédito. Já faltei a aula de terça.

Recebi ordens diretas da mãe dele pra não deixá-lo ir para a faculdade, nem pra palestra, nem pra aula, pois passou a manhã toda com febre e foi um milagre ele ter voltado pra casa uma vez que tinha chegado ao trabalho mal. Como que ele ainda se mantém de pé?

– Já foi pra palestra ontem, também pra aula. Ninguém mandou você ser orgulhoso de pagar uma aposta de trocar pneu na chuva e não tomar seus cuidados.

Essa parte Djane num soube, para o bem do ouvido dele, que sim estava doendo também. A gripe o congestionou, arranhou sua garganta, mexeu com seus ouvidos, trouxe espirros e moleza de febre. Ainda assim, resmunga, quer sair desse jeito! E me tira a atenção do episódio, que eu tava muito feliz de ter encontrado.

– Eu não tô tão mal assim...

Preciso dizer-lhe que já estava um pouco fanho? Quase rio.

– Aham.

Nem viro para ele, às minhas costas na porta. O programa estava num breve intervalo. Meio incerto de como me convencer, por não tinha muitos argumentos, ele quer apelar. Aproxima-se do sofá por trás mesmo e toca meus cabelos lá espalhados. Curvei só um pouco minha cabeça para trás para mostrar que era sério também.

– É sério, Lena. Hoje a aula é do mesmo professor de terça. Já sumi um período, volto e sumo de novo?

– Nos dois casos sua saúde está envolvida, acho que ele pode entender isso.

Estou perdendo o episódio por causa dele... aí que não arredo o pé mesmo.

– Tenho que ir, Lena. Você vai ficar aí...?

E afastou-se para mais uma crise de espirros, daquelas que nos alugam para uns cinco espirros de uma só vez. Depois o ouço assuar o nariz. Viu como ele sabe que está péssimo? Se não soubesse, não teria papel no bolso para tanto.

– Acho que não preciso responder depois dessa.

– Me aguento, Lena. Vamos? Por favor?

Suspiro com a almofada ao meu queixo.

– Se você passar por essa porta, Vinícius, eu faço uma besteira.

Ele ri, acha que não tenho muitas opções também. Ele que pensa. E desdenha.

– O que você vai fazer? Ligar para minha mãe?

– Pior, ligo para seu pai.

Calou-se. Continuei de cara para tv sem prestar atenção alguma na tela, a personagem perseguia alguém no corredor da escola e eu queria saber porquê, da mesma forma que queria ter visto a reação de Vinícius. Porém, me mantive firme. Ele não ia sair daquele jeito, nem que eu tivesse que ligar para Filipe de verdade!

Passos às minhas costas alternam de um lado para o outro.

Percebo que meu casal favorito ainda não é um casal, são apenas amigos. Bom, ele gosta dela sem saber, estão brigando porque ela tem um encontro no dia da estreia da peça que ele vai representar. É um momento fofo e estou perdendo porque o Vinícius quer teimar comigo. Pode uma coisa dessas?

– Você não ligaria, ligaria?

Pego o celular do meu lado.

– Experimenta passar por essa porta.

Não gostou de jeito algum de meu plano. Bufa, resmunga algo baixo, se aquieta, se agita, tamborila os dedos na porta, e por fim desiste. Ele que fique chateado comigo, prefiro isso. De braços cruzados sentou-se ao meu lado sem se encostar ao sofá, como um menino emburrado e desgostoso por não ter conseguido o que queria. Eu? Continuava a mesma impassível, assistindo a tv. O encontro da garota rolava, mas eu não o acompanhava direito, estava atenta às reações do outro ao meu lado, quieto demais. Logo entrou outra propaganda.

– Golpe baixo, sabia?

– Não precisava ser.

– Então me deixa ir.

– Estava falando do seu pai... olha, tive que apelar, você que tá pedindo... e anda, vai trocar essa roupa. Só vai amassar e ficar desconfortável de dormir assim.

– Num vou dormir.

Só pra me contrariar que eu sei... então ok, entraria no jogo dele. Até parece que ele não sabia com quem estava lidando, né? Internamente eu ria sim. Não sei mais quem era fofo, o resmungão do meu lado ou o resmungão com ciúme da garota como outrora apareceu.

– Tá, num dorme. Também não ganha colo. Nem carinho. Vai ficar desse jeito aí, mole, sozinho e com febre.

Pulso firme também é isso. Chantagem.

Já disse que ele parecia um garotinho zangado daquele jeito, fazendo birra? Não tem homem esse que é forte quando acometido por alguma doença. Ele tem é sorte, porque se fosse o Murilo comigo assim, ele estaria me pedindo piedade por esculhambá-lo “dodói”. Estaria sambando na cara dele enquanto cuidaria da peste.

– Eu não tô com febre. Tomei antitérmico naquela hora.

Vinícius mal se digna a falar, porque me olhar ele nem olhava mais. Mas também não saía dali. Só estendi o braço a fim de sentir sua temperatura na testa e pescoço, enquanto o outro na tv tentava espaçar seu nervosismo da estreia da peça, e não pensar sobre o que realmente estava sentindo. Preocupação. Ciúmes.

Ele estava quente de novo. Vinícius, não o personagem.

– Está sim. Felizmente o mesmo antitérmico deve estar agindo. Fica aí que passa.

Bufa mais uma vez, desfaz seu cruzar de braços ao peito, joga a chave do carro na mesa e sai a passos duros para o corredor. Acho que entendeu finalmente que não ia conseguir nada e só continuaria a perder se insistisse. Me senti assim quando ele e meu irmão inventaram de virar minha escolta. Tudo o que vai, volta, né?

~;~

Assisti todo o resto do episódio como se estivesse sozinha na sala da casa dele. O máximo que fiz por Vinícius, de marra, emburrado e dengoso, se é que possível expressar tudo isso de uma vez só, foi colocar sua vitamina efervescente num copo com água e entregá-lo enquanto eu ficava na gelatina. Quando ele perguntou onde estava a sua gelatina, disse-lhe que se ele podia ir pra palestra da faculdade, poderia muito bem se levantar e pegar uma para si.

Não tinha pena, nenhuma. Porque uma vez que a gente dá a mão, eles querem o pé, o braço, a cabeça, o travesseiro, sua cama e, se duvidar, até seu RG – o que ele faria com meu RG é o que não sei. Isso não quer dizer que era grossa com ele, não, nunca. Era muito da gentil e meiga... Pelo menos era esse o meu tom, mesmo que estivesse impassível.

Ok, admito, sentia um pouco de pena dele quando investia numa aproximação e eu tinha de agir para que não cedesse aos seus... encantos. Se é que alguém doente tem encanto algum. E se queria ver até onde eu iria com aquilo, devia saber que era longe, muito longe. Murilo não lhe conta essas coisas?

Ao final do programa, sob anúncio de outra série, uma de bruxas que também costumava assistir, mas nem tanto acompanhar, Vinícius tentou se aproximar de novo. Me fingi de alheia por estar atenta à cena final, dois velhos amigos conversando ao quintal sobre a vida e a falta de um ponto norteador que devia lhes guiar. Eles já não eram namorados e tentavam seguir a vida como podiam, sempre com uma ligação muito forte. Vinícius, como quem não quer nada, passou o braço por trás de mim no sofá, puxou-me a almofada que já tinha lhe tacado outras vezes no rosto, passos muito cuidadosos, encostou-se em meu ombro e disse-me:

– Não acredito que você era apaixonada por esse loiro, que cara mais chato.

Não me mexi nem nada, mantinha minha ordem de sem colo, sem carinho. Mesmo que me coçasse para dar-lhe todos os mimos possíveis. Se segura, Milena, se segura! Dei de ombros.

– Te disse que não era ele, é o amigo dele.

– Outro chato.

Suspirei.

– Eu era adolescente, a série era de adolescente... ainda assim, acho um programa muito inspirador e de muitas boas lições. Agora chega pra lá, que você mesmo disse que não queria passar gripe pra mim.

Me saí dele, bati em sua perna de leve, levantei para levar as coisas para a pia da cozinha. Sou relaxada, mas educada, estou na casa alheia.

– Ô, Milena, poxa. Eu aqui todo na paz, lascado, com dor... Vou dizer que você anda me maltratando.

Sinceramente? Toda a risada que guardei eu abri, bem ali mesmo no corredor.

– O quê? Por que você tá rindo?

Senhor, que dengo. Voltei só pra lhe dizer:

– Pode acreditar, Murilo diz que posso ser pior. E tua mãe também foi categórica. Vai ligar pra quem agora?

Fingiu pensar.

– Não queria ter que incomodar meu avô.

– Então não incomode, ué. Se bem que com ele também tenho carta branca. E nem tente ligar para minha mãe, ela vai dizer a mesma coisa de Djane.

MENTIRA! Ela iria defendê-lo com unhas e dentes, iria fazer todos os seus gostos e se ele deixasse, até iria niná-lo. Não sairia de perto dele, ofereceria mimos e mimos, faria pipoca, assistiria tv com ele, passaria a mão em seus cabelos... Se bobeasse, dava até presente. Mas não digo nada disso, minto na cara-de-pau. Sei que Djane mesmo faria isso por ele – de ser muito cuidadosa, não de mentir que nem eu – se não fosse a confusão que tá rolando na faculdade, coisa que ela quer resolver primeiro antes de poder contar a ele.

Encosto-me na pia depois de depositar a louça lá. Sei o quanto queria estar em casa cuidando do seu “filhote”... e é isso que me faz ficar cada vez mais preocupada com o que tá tendo naquela diretoria. Arrancá-la do professor Bartolomeu realmente me assustou, me atingiu. O professor me acusou de “queridinha”, coisa que eu odiava. Não estava começando bem o ano na faculdade... E ainda tinha o André novamente no meu pé. Me faço de forte, mas se qualquer dos dois me esquecesse, eu não reclamaria. Principalmente André... aguentaria de boa o professor me amolando.

Também não posso reclamar muito, pois qualquer coisa ali sou tida como a “queridinha” mais uma vez, a privilegiada... Posso muito bem aguentar, não posso? Já com Djane, evitei perguntas para não desestabilizá-la, sei como tem sido desagradável essas coisas que têm acontecido. Para sua sorte – e minha também, ao chegarmos pegamos um Vinícius com roupas encharcadas em mãos e isso foi a atenção de toda a noite.

– Namorada, estou começando a duvidar de suas palavras.

Mal o ouço lá da sala. Respondo alto quando tomo corredor antes de chegar à sala, coisa que ele resmunga, todo todo como se estivesse se desfazendo. Tinha uma colher com mel e limão para dar-lhe.

– É a febre falando. Já verificou o termômetro mais uma vez?

– Milena, não grita... minha cabeça tá pesada. Mas também não ria...

Porque eu tava, tava rindo dele todo caído no sofá, a cara no assento, as pernas de qualquer jeito, um braço caído no chão e o termômetro em cima da mesinha a sua frente. Seu estado deplorável era no mínimo engraçado. Imagina se estivesse no ar-condicionado na faculdade... Ele mal conseguia respirar, de tão congestionado que estavam suas vias nasais.

Me abaixei perto dele, entre a mesa da sala e o sofá, e ofereci a colher com o mel, que ele nem tão prontamente aceitou, ficou encarando suspeito o conteúdo antes de tomar. Insisti encarando de volta até ele desistir, sem forças até de manter a cabeça levantada, que logo tombou de volta ao assento do sofá. Murmurou por fim:

– Sou só eu ou tá frio por aqui?

– Só você. É a febre, Vinícius.

Ponho a mão em sua testa, me parece a mesma coisa de anteriormente. Que não subisse, Senhor, murmurei internamente. De sua testa, minha mão deslizou por seu rosto, por seus cabelos e novamente pelo rosto, toque que o agradava no meio de tanto desconforto. Estava tão mal que nem os olhos mais estavam abertos, acho que não tinha mais como sustentá-los.

– E não pode tomar remédio de febre não?

– Não, ainda não deu tempo para uma nova dose. Vai pra cama, lá tem lençol.

– Seria uma boa hora para ser metahumano, ter habilidade de teletransporte, porque eu não consigo me mover. Tudo reflete na cabeça. E até pra falar, dói.

Afasto-me para levar a colher para cozinha, junto das outras louças. Quando mostro que não sou do tipo muito complacente nem com ele daquele jeito por levar o pensamento para outros lados, ele emburra de novo.

– Sabe que eu não lembro de metahumanos doentes?

– Milena! Pensei que você fosse minha enfermeira!

– É, e errou deeeesde aquele velho primeiro dia.

Mas preciso confessar que aquela febre, ah, aquela febre estava me desarmando.


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Notas finais do capítulo

Pacey forever! ♥ #DawsonsCreek
Deu pra resistir de não ceder ao adoentado? Pulso firme!



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