Mantendo O Equilíbrio - Um Novo Amanhã escrita por Alexis terminando a história


Capítulo 25
Capítulo 24


Notas iniciais do capítulo

Gostinho de traquinagem, ó!

Enjoy.



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Ao desligar o motor do carro na porta de minha casa, Vinícius solta um suspiro de cansaço, jogando-se contra o banco que está sentado. Pelo seu porte, algo me dizia que o que povoava sua mente não era bom. Era melhor abordar com calma e cuidado, pensei, enquanto brincava com os fios de seu cabelo, já crescidos. E sempre tão macios.

- O que foi, hein? Tá tão quieto hoje.

- Acho que nossas mentes têm muito poder pra transformar tudo em preocupação.

- O que quer dizer?

Os olhos que estavam fechados se abriram, Vinícius se voltou para mim ainda no banco a que estava encostado.

- Sei de uma coisa que pode te deixar chateada, mas sei que vou querer perguntar outra e sinto que vou me chatear por isso.

Sou tão boa namorada – pra não dizer o contrário – que tenho uma lista de coisas que podem deixá-lo chateado, e que por isso não menciono. Me sinto egoísta de querer saber o que vai me deixar chateada, mas não quero ter que dizer o que lhe deixaria chateado. Pode isso?

Assumo um risco.

- Façamos assim então: você conta, eu me chateio. Você pergunta, eu respondo, você se chateia. Damos um jeito de desfazer antes de você ter que ir.

- Se fosse assim tão simples...

Eu insisti, mais por curiosidade de saber o que era e por querer ter noção do que estava lidando. E ele tinha razão, eu me chateei mesmo, assim como ele. E sim, ele estava morrendo de ciúme, se segurando para não fazer nenhuma besteira, como se comprometeu desde o começo. Essa era uma “cláusula” de nosso acordo quando resolvemos cuidar melhor de nosso relacionamento.

- Ele já deu em cima de você?

- Não! Por que daria?

- Porque ele é homem. Com certeza já deixou algo entrelinhas.

- Sávio é apenas um amigo. Como o Gui ou o Bruno. Se eles tivessem se machucado como aconteceu hoje, eu teria cuidado deles. São meus amigos, poxa.

- Eu só sei que ficar imaginando você cuidando desse cara... Bom, eu não gostei. Pronto, falei. Você mesma vive dizendo que não é enfermeira e não tem vocação pra isso.

Entendi que ele estava um pouco fulo. Principalmente depois de eu falar que minha carona no dia anterior tinha sido com Sávio, que andei na moto com ele. Não sei como aquilo o deixava tão inseguro. Essa informação, entretanto, sobre ser enfermeira meio que me deu vontade rir, e por respeito, eu não o fiz. Como Vini ainda não havia me contado o que me deixaria chateada, decidi tirar primeiro sua tensão.

- É por isso que você tá tão zangado, é? Por que cuidei dele?

- Pensei que você só era enfermeira de um.

Isso saiu como brincadeira, mas daquelas que tem uma super base de verdade como fundo de reais intenções. Intenções de ironia e chateação.

Estava lindo de qualquer maneira.

- Bom, tratamento especial só um consegue... Você.

- E o que temos para esse tratamento especial hoje?

Foi rápida essa animação dele. Porém...

- Não coloque a carroça na frente dos bois. Agora me diz a outra parte. Que você fez dessa vez?

Com falso ultraje, Vini se defende:

- Eu? Por que acha que fui eu, seu mais apaixonado namorado?

- Tá, se não foi você foi a peste. Que foi que Murilo fez?

Ah, esse aí também tem uma lista de coisas que podem me deixar chateada.

- Por que acha que foi o Murilo?

- Porque mesmo com força de vontade, ele tem uma natureza muito forte pra “Murilar”. E com essa carinha, tu já me entregou que foi ele. Diz logo.

E Murilo... “murilou”.

Eu vou matar essa peste!

A vontade era tão grande que nem me demorei no carro, parti logo pra entrar em casa e gritar com o bendito do meu irmão. A porta “felizmente” me parou, tive que buscar primeiro a chave. Como a raiva costuma cegar fácil a gente, precisamos parar um segundo para pensar no que fazer para ter um efeito satisfatório, porque gritar, infelizmente, não dá em nada. Então se pode dizer que uma brilhante ideia me veio à cabeça.

Vini também desceu do carro, queria acompanhar de perto para qualquer coisa.

- Tenho alguma chance de interceder por ele?

- Não.

- Tá muito chateada?

Só muito! Além de envergonhada.

Como Murilo teve a cara-de-pau de ir na casa de Vini perguntar se... se já tínhamos transado? Limite, li-mi-te. Com toda a razão, tenho direito de estar possessa.

- Tô.

- A viagem ainda tá de pé?

Vini se referencia à pequena viagem que tínhamos todos combinado de fazer. Até Djane disse que iria, para conhecer meus pais. Estava tentando não pensar no que seria esse encontro, pra não ficar pilhada.

- Se ele sobreviver, provavelmente.

- Mi, pensa no lado dele... Essas coisas são difíceis mesmo. Ele só ficou preoc...

- Vini, nem tenta explicar.

Não adianta meu pedido, pois ele sobrepôs o próprio. Vini entra na minha frente, fica entre mim e a porta, ainda na calçada de casa. Pede tão encarecidamente que sinto que é melhor lhe dar um voto de confiança. Afinal, uma ideia de como matar meu irmão sem necessariamente o matar já ressoava na minha cabeça. O que era dele e que estava guardado, iria finalmente ver a luz do sol. Ou deveria dizer que outro tipo de luz, uma mais florescente? Ele mal esperaria por essa. Promessa é dívida.

- Só não briga com ele, não, por favor? Te contei porque, bom, temos de ser honestos um com ou outro, certo? Vamos pensar numa maneira de lidar com isso. Sem intrigas, pode ser?

Visto minha expressão mais meiga raivosa que tenho. Suspiro limpando o vinco que detinha a testa de meu namorado, quem então me olha desconfiado.

- Ok, não vou brigar com ele. Prometo. Juro, juradinho. Se ele se alterar, é coisa dele, não minha, só aviso isso.

Plantei uma nova preocupação.

- Peraí, Lena, o que você vai fazer?

- Você vai ver... Ou ter notícias.

Soo misteriosa. Ele, como Murilo, provavelmente não lembraria de um plano meu das antigas. O que era muito melhor, para pegar de surpresa. O gostinho da traquinagem já me batia na língua. Ansiosa e energizada desse feitio, beijo Vini, quem corresponde à altura, mesmo sem saber de onde saiu toda aquela força. Mais desconfiado ainda, ele mesmo nos interrompe:

- Lena, o que você vai fazer, hein? Tenho medo dessa sua carinha.

- E é pra ter, Vini, e é pra ter.

~;~

A melhor pegadinha é aquela que o outro nem sabe que foi pego. Antes meu irmão quisesse ser vítima de uma pegadinha que uma vingança. Sim, vingança. Ele fez justamente o que eu pedi pra ele não fazer, então fiz o que ele me pediu para não fazer: postei o seu vídeo, aquele que guardei por tempos, consegui cópia de imagens do hospital em que Vinícius ficou, o enfermeiro bonito me cedeu. Esperava não ter que apelar para esse vídeo... No entanto, foi isso, Murilo passou dos limites dos limites.

A promessa era essa, se meu irmãozinho querido ultrapassasse a barreira conveniente que ergui sobre ele, o vídeo iria pro youtube. Também vai pagar a vergonha que passei de ouvir o que ouvi de Vini no carro, que quase não me disse... de tão sem jeito que ficou. Felizmente meu irmão confia demais em meu namorado para ter avançado um soco nele. Eles não brigaram, conversaram “pacificamente”. Isso, entretanto, não diminuiu meu momentâneo ódio por ter ido atrás de Vinícius – que sim, confirmou que tivemos relação. Não sei com que cara.

Entrei em casa, decidi manter uma vibe calma, porque a minha vibe calma é a que mais assusta. Significa que tenho uma carta na mão, e, oh yeah, baby, eu tenho. Encontrei meu irmão vendo tv, jantando no sofá. Na mesma hora em que entrei, ele largou seu prato na mesinha de centro. Só por sentir o cheirinho de comida que percebi que tinha fome, havia comido só um sanduíche mais cedo.

- Ainda tem jantar?

- Não. Era pra ter deixado pra você?

- Esqueci de jantar.

- Posso ir pegar um daqueles especiais que você gosta.

Tão solícito, aceitei a proposta de Murilo de comprar um jantar pra mim. Como não estava fria com ele nem nada, ele sentiu que algo estava diferente. Antes de sair perguntou-me pela terceira vez se estava tudo bem. Aquilo me irritava, confesso, porém, eu tinha planos maiores pra dar atenção. Assim que ele saiu fui tomar meu banho rápido, logo eu estava logando numa conta improvisada que arranjei.

Aquele cara que trabalha na recepção da minha faculdade, o Luciano, é um gênio disfarçado. Ele sabe de coisas que você nunca imaginaria que ele teria conhecimento. Existe, por exemplo, uma conta no youtube, que não tem dono exatamente, é um usuário comum e público. Poucas pessoas sabem a senha, mas quando querem postar algum vídeo de pegadinha, de traquinagem e outras coisas do tipo, sempre mandam pra essa conta, que te dá a liberdade de postar algum vídeo.

Quando Luciano editou o vídeo, de forma que as identidades minha e de Murilo ficassem escondidas por borrões, ele me avisou dessa conta. Na época, só anotei os dados, para todo o caso de algum dia precisar. E precisei.

Com certa adrenalina na veia, voltei a me sentir como uma espiã fazendo um servicinho secreto. Como da última vez, em que precisei procurar um lugar para esconder cópias dessas evidências, entrei no clima para deixar as coisas rolarem com emoção. Assim, coloquei Take a look around do Limp Bizkit para tocar na playlist. É uma música que pega bem a alma do negócio, por ser trilha do filme Missão Impossível. Ah, mas a minha era possível, muito possível.

Trilha sonora indicada/citada: Limp Bizkit – Take A Look Around

http://www.youtube.com/watch?v=dYpysTX3HBk

O vídeo tinha oficialmente minutos; com a edição que preparei com Luciano, e que estava no ponto, resultou em pouco mais de um minuto, mostrava bem a inquietação de Murilo sentando e levantando da poltrona de injeção, eu empurrando-o para permanecer no lugar, a enfermeira entrando, puxando-o de volta, Murilo fugindo, eu pego uma bandeijinha lá em cima da mesa, chamo a atenção dele e... é, eu bato no meu irmão que cambaleia e a enfermeira aproveita para sentá-lo na poltrona. A face da mulher também ficou borrada, assim não dá, infelizmente, para ver sua expressão. E acaba o vídeo.

Upo o material sob o título de “Doce incentivo” me sentindo malévola, esperta e travessa cantando e dançando na minha cama, externando minha energia com Limp Bizkit, uma boa escolha para o momento. Logo ouvi meu irmãozinho chegando, mudei a guia, cobri com outras várias pra fingir que havia pesquisas ali, para o caso de acontecer algo e ele vir fazer algo em meu notebook. O vídeo demoraria algum tempinho pra ser hospedado.

Murilo foi bater na minha porta, aberta.

- Tá na mesa.

- Ok, já vou.

- E... hum, você tá ouvindo Limp Bizkit?

- Ficou no aleatório, nem percebi. Por que pergunta?

- Porque... nada não.

Não sei se sabe, mas ele desconfia de minha ligação com esse tipo de música. Principalmente quando se refere a Offspring, ele fica em alerta que eu vou fazer besteira. Ou estou muito animada para algo. Das duas, uma.

Também não o deixo que fique perambulando sozinho pela casa, puxo papo como quem não quer nada, falo de nossa viagem marcada de visitar a família. O caso é que o feriado de carnaval começa na quinta, porém, por causa do trabalho de Murilo, não podemos viajar até sábado, restando-nos apenas metade do feriado.

Por um momento quase, quase tive pena dele. Mas eu não podia me deixar levar por esse seu sentimentalismo se ele não tem a mesma consideração. Acontece que Aline não vai poder ir conosco, pois já havia marcado de ver a família dela em outra cidade, que nem era caminho da nossa. Dessa maneira, no carro seríamos apenas eu, ele, Vini e Djane.

Confesso que o fato dele desabafar umas saudades de Aline mesmo antes de ir era fofo, no entanto, aquela energia vingativa me corroía. Eu pensava em lhe mandar o link horas depois pra ver sua reação, então repensei e outra brilhante ideia se formou. Eu postaria e, quando fosse necessário levantar a questão, que muito em breve imagino eu que seria, era só jogar a bomba.

Enquanto lavava a louça, Murilo veio me sondar novamente:

- E sobre aquilo de ontem...

Distraída, nem me toquei que no dia anterior quem estava naquela pia era Aline.

ECA!

- Murilo! Eu tô lavando, caramba. Tinha que falar isso logo agora mesmo?

- Poxa, Lena, tô tentando me desculpar. Não me dificulta mais.

- Faz o seguinte, esquece. Se tu insistir, olho pra tua cara só semana que vem mesmo. E tu sabe que sou bem capaz.

- Tá, não tá mais aqui quem falou. Mas, tá tudo bem mesmo?

- E por que não estaria?

- Você... tá diferente.

- Você que é desconfiado demais pra tudo. Vai ver tv, vai.

~;~

Guardar um segredo desse, de tamanha magnitude como tem, é um tanto difícil para uma pessoa como eu, que quero compartilhar com alguém. Melhor, quero gargalhar com alguém. Porém, tenho que tomar muito cuidado com quem seja.

E nem precisei procurar, na verdade. Num momento de folga no estágio, fui tomar água num bebedouro e notei um burburinho de uns caras numa rodinha, dentre eles o mala do André. Cheguei a pensar que André estava só sendo André e fazendo suas graças para os outros. Fazia; porém ouvi um deles se referenciar ao nome do vídeo que assistiam e como riam tentando comentar.

Eles viam o vídeo do Murilo!

Rápido eu voltei para minha mesa, dei um jeito de logar rapidamente na conta secreta, e... meu Deus, haviam 1.500 visualizações já, para tão poucas horas. Vários comentários foram subescritos, galera falando em compartilhar. Fiquei besta. Ainda assim não podia comentar com alguém, sem a pessoa saber o que fiz. Atualizei a página uma vez e os números aumentaram instantaneamente para quase 1.700 visualizações.

Logo que mentalizei “preciso falar isso para alguém”, alguém, de fato, me aborda o assunto. Vini me manda uma mensagem, com letras garrafais, repetidas interrogações com o título “Doce incentivo”. Fiz uma última atualização, que me certificou pouco mais 1.700 visualizações, desloguei da conta, apaguei histórico e voltei ao trabalho, pois logo senti que meu chefe vinha e era melhor me portar de acordo.

Por causa disso demorei a responder a Vinícius, escrevi que “ele mereceu”. Tão logo a mensagem foi enviada, ele me ligou:

- Eu não acredito que você postou o vídeo!

- Ele estava sob aviso o tempo todo. Murilo acha que amoleci.

Talvez tenha amolecido mesmo de uns tempos pra cá, uma das razões que me também me levou a fazer o que fiz.

- Caramba, Lena. Não precisava levar tão a sério, poxa.

- Ele já sabe?

- Num sei, acabei de ver. Anderson quem me mandou, ele jogou numa conversa de uns amigos de minha turma. Ainda bem que não tem ninguém comigo, porque eu sozinho surtei. Eles não conseguem reconhecer por a imagem estar borrada, mas eu sei que é aquele vídeo porque o vi uma vez.

- E você não vai dizer pra ele.

- Não vou? Por que não?

- Porque tá sob aviso também. Tenho que ir, não posso falar. Tchau.

Me segurei pra não rir, meu chefe entrava na sala junto de André, discutiam sobre algum procedimento que o André fizera errado (e ele nem pediu desculpas por isso). Fingi estar de boa quando me chamaram, mostraram uma planilhas. Nosso chefe estava me dando credibilidade, disse que fiz certinho como mandado e ele notou que arrumei uma parte que nem constava na minha parte. Só sei que eu encarava a planilha, as vozes dos dois estavam longe, minha cabeça ainda estava naquele vídeo e na possível cara que meu irmão vai fazer quando descobrir.

Quero que saiba ele por si só, e ai de Vinícius se disser alguma coisa. Ele não está sob aviso, como foi com Murilo, eu só disse de brincadeira. Mas ele também que não faça alguma coisa, que sabe que sou muito da capaz de... bom, ele sabe.

~;~

Não era apenas eu quem ficara a cara da felicidade, Djane era o sorriso em pessoa. Não pela história do vídeo do Murilo – não contei a ela, pois no fundo sabia que ela me daria uma bronca, com o perdão de sua posição de sogra e de carinho por meu irmão, além de que iria querer contar à “vítima” – era pelo que contava de seu querido filho... o lado ciumento de Vinícius. Ciúmes não de mim.

- Com ciúme? De mim com Sávio? Meu Deus, como pode isso, Milena?

Posso dizer que estava feliz também por a professora Silvana ter faltado novamente, apesar de ter me esforçado para fazer a atividade que ela pedira semana passada – estaria garantida para qualquer hora, ao menos. Com o horário vago, aproveitei para chamar Djane para um papo quando a encontrei indo para sua sala – sim, agora como chefe de departamento, ela ganhou uma sala! Chique.

Abria com ela sobre o que já queria ter lhe contado.

- Aham! E não por causa de ontem não, isso eu vi no sábado, quando Sávio se ofereceu para te ajudar com os documentos. Vinícius tava se mordendo de ciúme porque a senhora dava mais atenção pro outro.

Djane larga até de digitar uns dados no seu computador. Claro que perguntei se seria algum cômodo eu entrar, já que tinha essa para contar. Por Djane, ela me puxaria e não me deixaria sair sem antes lhe relatar tudo. Estava adorando sua animação, assim como total surpresa.

- Como que não vi isso? Nunca pensei que ele poderia ter ciúme de mim! Milena, você iluminou meu dia com essa. Minha noite, quer dizer.

Como ninguém podia nos olhar, a sogrinha se levantou. Pra me abraçar.

- Já disse o quanto adoro quando me diz essas coisas de meu filho?

- E precisa? Com esse sorrisinho aí já vi tudo.

Curiosa como nunca, Djane se afastou de mim, porém não me largou as mãos. Seus olhos brilhavam num ânimo que eu adorava nela.

- E ele disse algo?

- Não, apenas vi. E quando você não largou de Sávio até deixá-lo dentro do carro? Djane, olha, essa eu devia ter tirado foto. Serinho. Vinícius ficou de olho em tudo! A única coisa que ele mencionou é que estava com ciúme de mim, porque lhe disse que havia cuidado de Sávio quando o encontrei machucado. Percebi também no sábado que seu filho ficou diferente comigo enquanto o outro estava por perto.

Djane então abraçou a si mesma, tão boba, que me fazia rir.

- Ai, e Vini que nunca foi de ciúmes...

- Por isso mesmo acho que ele não sabe bem o que está acontecendo, por isso que ainda não reconheceu o que sente. Pelo menos quanto a senhora, porque ciúme de mim ele diz que sente desde a história do hospital, vê se pode...

Ela retorna à sua cadeira, volta a digitar os dados de outrora, o sorriso nunca lhe deixava. Ora e outra me olhava pra manter o diálogo com entusiasmo. Sairia para que trabalhasse. No entanto, me vi também não querendo sair dali. Era tãaaaao bom dar notícias boas, que queria ter mais para contar.

- Simplesmente amo vocês, e como tudo se desenrolou. Quer dizer, como houve felicidade no fim do túnel.

- Assim eu fico constrangida, Djane!

E claro, minha mente bate lá na cena do outro dia em que a vi se beijando com o professor Carvalho, meu pequeno segredinho com Gui. Passado o susto, a supresa, pensei melhor sobre isso e... gostei. Gostei de saber que Djane não está se fechando, que tem boas pessoas em sua vida, que ela pode dar uma segunda chance a si mesma... quem sabe viver um novo amor? Seu marido Gustavo se foi faz muitos anos, e ela não pode viver sempre em função do filho, ela ainda tem vida.

Agora, por levar em conta esse ciúme de Vini, não sei o que vai ser quando ele descobrir que sua mãe “estava aos beijos” com um professor na faculdade. Se só por saber que havia um boato de que Djane poderia ter algum relacionamento amoroso com o diretor, ele ficou todo alteradinho. Vou ter que algum jeito amansar essa fera, preparar o terreno, pois Djane merece e muito isso. Espero de verdade que, se houver mesmo algo entre ela e o professor Carvalho, isso dê uma guinada ótima em sua vida. Ela já viveu muito para ficar sozinha, não pode depender sempre de Vinícius. E confio muito no meu professor para trazer felicidade a ela.

Então o telefone de sua mesa tocou, Djane parou de digitar e, de volta à realidade de chefa, ela tomou o tom sério que a situação exigia:

- Departamento de Administração.

O que veio a partir daí não foi bom, pois vi como suas sobrancelhas se levantaram, como sua boca se abriu e, por uns segundos, nada saía de lá. Fiquei na minha, era alguma coisa séria.

- Hoje, Fabiano? E como...? Ok, eu vou dar um jeito aqui. Tá, tá.

Quando devolveu o telefone ao guancho, ela ficou o encarando, de olhar perdido. Nem tornou o olhar de volta para mim, ainda paralisada.

- O reitor está vindo numa inspeção surpresa.

Putz!

- Posso fazer algo para ajudar? Djane?

Saindo do transe, ela ainda pisca desorientada para mim:

- Hã? Não, não precisa... na verdade, chama só a Glorinha aí da sala ao lado pra mim. E, Milena?

Eu já levanto para ir à porta:

- Oi?

- Não fale com ninguém sobre isso. Não, melhor. Comunica aos professores que você acaso encontre, menos ao professor Bartolomeu, ok?

- Ok.

Logo que comuniquei à Glorinha, soube que aquele telefonema iria mexer com a instituição como nunca. Eu só não sabia que de alguma forma iria mexer comigo.


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Notas finais do capítulo

Ela postou o vídeo!
Só eu acho que isso não vai prestar?

Trechinho do próximo? Ok:

"Engulo toda a raiva que ele me causa, me disponho para a porta. Neste momento que abria a porta, ela encontrou outro que a puxou para fora, com uma força que me fez soltar. Dei de cara com um professor Carvalho muito vermelho, sua expressão era nada boa. Claro que fiquei sem ação, o que estava acontecendo?
Então vi quem estava atrás dele, observei semblantes horrorizados de membros do Conselho, que se movimentavam para adentrar a sala. Sem saber o que fazer, finquei onde estava, tão perdida do que era aquilo que achei que eu mesma teria feito alguma coisa ruim, por causa do modo que eles se comportavam. Que eu fiz? Era proibido entrar na sala de reuniões? Eu não sabia que eles iriam voltar!"



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