– Mio, você precisa criar a chuva - estava fazendo muito calor nos últimos dias, e toda terra viva que havia no local acabou secando, já que a única coisa que havia no lugar era sol - ou algo que faça sombra. - completou Earthwing, ofegante.

Sua aparência havia mudado, ele agora usava um chapéu preto parecendo o de um mágico em sua cabeça, para se proteger do sol e seus cabelos loiros estavam presos em um rabo de cavalo. Sua túnica havia desaparecido por ser muito quente e em seu lugar havia uma camisa preta de manga curta com uma gravata rosa mal arrumada em seu pescoço, também estava usando bermuda e botas pretas para caminhar no deserto.

– Mas está muito calor, eu não consigo pensar direito assim - Mio estava com sua típica camiseta branca larga e boa para dormir, shorts azul marinho e tênis All Star. Seus cabelos estavam grudentos e sujos pois Mellow estava pegando carona em sua cabeça, derretendo por causa do calor.

– Você e eu não podemos morrer ou algo do tipo, mas podemos sentir o calor - ele aponta para Mellow - E ele pode morrer, se já não morreu.

Mio só pode perceber o estado de Mellow agora, ele não se mexia e só dava para perceber que estava vivo pois de sua cabeça podia sentir sua respiração.

– Oh não - ela rapidamente o tira de sua cabeça, o deita na toalha úmida no chão e da-lhe água da garrafinha que estava em sua mão direita e...

– Espera, aonde você conseguiu isso, Mio? - ele estava se sentindo um pouco irritado por a garota criar as coisas no impulso, sem saber como - Sua idiota, aprenda a controlar isso

– Eu não sei como! - exclamou a menina - Só senti que se Mellow não bebesse água morreria, e que eu precisava fazer alguma coisa quanto a isso.

– Ok, mas se não houver algo para se abrigar do sol ele morrerá de qualquer jeito, principalmente à noite, o calor está muito intenso. Se não dormir em algum lugar coberto hoje, com certeza estará morto quando você acordar, então pense em algo - repreendeu Earthwing enquanto limpava o suor da testa com a gravata - vamos seguir andando.

Ela rapidamente enrola Mellow na toalha e segue Earthwing, ambos a passos lentos. Mio sabia que devia pensar em algo, também estava com sede e sabia que Earthwing sentia o mesmo, e que Mellow morreria se não ingerisse muita água e dormisse mesmo que um pouco. Então começou a lembrar quando foi em uma viagem com sua família até o chalé de seus avós na beira de um lago, o cheiro do pão feito em casa, os porta-retratos mostrando fotos de primos, tios, seus pais junto com Mio e de seus avós, sabe-se lá o que acontecerá com eles. Depois começou a lembrar da sensação da água, do frescor que ela proporcionava quando se saltava no lago e do gosto da água gelada descendo por sua garganta. Talvez lembrar disso só a fez se sentir pior, ou não

– Ei Mio, veja isso - Earthwing a trouxe de volta para a realidade apontando a frente, onde grandes silhuetas podiam ser vistas - Árvores

Eles começaram a correr o mais rápido que podiam até as árvores, e chegar nelas parecia uma eternidade, tiveram que parar para descansar.

– Será que falta muito? - perguntou Earthwing ofegante

– Não - disse Mio, com tanta certeza que chegou a ser estranho vindo dela - chegamos.

E quando eles olharam para frente novamente, as árvores estavam a pouco mais de um metro deles, e podia ser visto uma trilha que adentrava o que parecia ser uma floresta.

– Obrigado - disse ele, ainda muito ofegante.

No momento em que pisaram na trilha, sentiram o frescor e o cheiro de umidade que as árvores proporcionavam, e talvez pela primeira vez foram verdadeiramente gratos à elas. Após andarem alguns metros sentiram cheiro de pão feito em casa e Mio teve outro ataque de nostalgia o que encheu seus olhos de lágrimas e a fez sair correndo, sendo seguida por Earthwing.

E finalmente cegou ao chalé, Mio estava muito esperançosa que seus avós estivessem em casa, afinal era a casa deles. E entrou correndo na casa. Sentiu uma pontada de desespero por não haver ninguém na cozinha, apenas o pão já pronto dentro do forno, e a bengala de seu avô no lugar, ele nunca saia de casa sem sua bengala, não conseguia caminhar direito sem ela.

A cada cômodo da casa que Mio adentrava, se sentia mais e mais triste, por não haver nem sinal de seus avós, e após ir até o quarto desabou, pois percebeu que não havia como eles estarem ali, devido as circunstâncias. Earthwing entrou no quarto e abraçou Mio, que já estava aos soluços de tanto chorar, sentia falta das pessoas que eram importantes para ela.

– Mio, eu sei que nada que eu diga pode consolar você agora - ele fez uma pausa - Mas eles só não estão aqui em matéria, entende? Suas almas estão esperando algum corpo para se apoderarem, você ainda vai vê-los, pode até interagir transformando-se em matéria - ele a abraçou mais forte - Por isso você precisa se esforçar ao máximo para recriar o mundo, por todos eles. - ele esperou um pouco para que ela parasse de chorar - Venha, vamos levar Mellow para o lago, e você precisa lavar seu cabelo, vá pegar shampoo.

– Ok - disse Mio, ainda um pouco abalada.

Foi até o banheiro e pegou o shampoo, e pouco depois ouviu um barulho de pássaro vindo da janela, se virou para ver o que era e percebeu que era o mesmo pássaro azul de antes. Sorriu para ele e o mesmo apontou a cabeça na direção do lago onde Earthwing e Mellow estavam relaxando, devido ao cansaço. Mio logo entendeu o recado e foi correndo ao encontro dos dois, agora preocupada em lembrar de onde conhecia aquele pássaro, por quê sentia que Earthwing também o conhecia mas principalmente, por quê ficava muito emotiva quando o mesmo estava por perto.