Qual seria o sonho de toda garota adolescente? Qual seria o meu sonho? Meu sonho de verdade, bem esse não é tão diferente de qualquer garota, meu sonho era casar com um bom homem, eu sonhava com paris, sonhava com seu rio Sena, sonhava em passear com o amor da minha vida pelas ruas tortuosas da cidade luz, mas eu sonhei alto demais, e a queda foi pior que eu imaginava.

Eu sinto que minha vida poderia ter sido outra, poderia ter levantando a cabeça quando descobri que meu noivo não era só meu, então a raiva me cegou, cegou de uma maneira tão inimaginável, tão perigosa, que cá estou, pensando nele até hoje, naquele homem em que eu confiei meu amor, aquele homem que além de levar minha virgindade, levou minha dignidade junto, aquele homem que abriu meus olhos pra vida de prazeres, por todos esses anos eu achei que havia me dado bem na vida, agora vejo que só foi uma ilusão, eu sou aquela que seu marido chama de puta, sou aquela que ele chama de outra, sou aquela que ele transa toda noite, sou suja sou usada, sou jogada fora, por anos e anos ganhei dinheiro sendo a outra, e até que não foi tão ruim, prefiro ser a outra do que ser a otária que fica em casa lavando roupa e fazendo comida, aquela que sente nojo do próprio marido quando ele chega bêbado.

Mas tudo isso tem um preço sabe querida, o preço da vida, o preço do amor, eu posso ter passado por tantos homens que faria você ficar maravilhada, mas nenhum nunca disse ‘eu te amo’, eu troco todos meus homens, todo o dinheiro que eu ganhei, por apenas um te amo, eu troco minha alma pela sua vida de dona de casa, eu troco tudo que tenho apenas pra lavar as roupas do meu marido, troco tudo que eu não tenho por sentir nojo dele quando ele te beija fedendo a cachaça. Eu sempre quis ter um filho, sempre quis ser mãe, sentir aquela pequena criatura dentro de mim, aquela criatura fruto de um amor, mesmo que ele não me ame mais, por mais que eu sofra com o casamento depois, por mais que ele me espanque, eu sei que lá no fundo, no fundo daquele homem nojento e que te trai todas as noites comigo, aquele homem que ainda diz eu te amo, depois de 20 fatídicos anos de casamento.

Eu não me orgulho, de maneira alguma, mas não tenho nojo, essa sou eu, essa suja que depois de cada foda chorou, chorou tanto que nem lágrimas sequer eu tenho mais, ainda lembro-me dos meus primeiros programas, eu me sentia tão viva, tão poderosa em saber que eu era aquela que ele procurava pra transar, mas com o tempo a beleza e o glamour acabaram me sentia um lixo, um material, e aprendi a viver comigo mesma, sendo um lixo, o pior tipo de ser humano que existe. Eu não quero culpar ninguém pelo que sou e pelo que fui. Eu tinha escolhas, e escolhi a pior achando que assim conseguiria preencher aquele vazio dentro de mim quando descobri que era aquela que ficava em casa lavando a roupa enquanto ele procurava as outras, hoje eu vejo o quanto sofro por isso, o quanto eu daria pra voltar atrás, voltar esses anos e fingir que nada havia acontecido me fingir de cega.

Mas talvez se eu tivesse ficado de cabeça baixa como você querida, talvez eu estivesse chorando agora, tentando me matar no banheiro enquanto a panela borbulha no fogo, enquanto o telefone toca, enquanto ele liga dizendo que vai chegar tarde mais uma vez, em uma “certa reunião de negócios”, que eu e você sabemos muito bem que é só mais uma foda, só mais uma foda, que ele provavelmente vai chegar a casa e deitar do seu lado, sujo e com cheiro de gozo, do meu gozo, eu queria o contrario, queria estar nessa cama, chorando no seu lugar. Sim eu me arrependo.