S.O.S Me Apaixonei Por Um Assassino Suicida escrita por Anthonieta


Capítulo 22
O final não existe para aqueles que permitem-se à imaginação


Notas iniciais do capítulo

Oe, oe, oe... Leiam as notas finais, por favor. :3
(Para quem não entendeu, no capítulo anterior, o porquê de Clarissa assinar a carta como ''Clarissa Cavalo do Vingador'' este é um termo peculiar a qual martim se referia a ela, quando eram mais novos.)
Então, pessoas... Este é o último capítulo. (ooooh, não :c) Espero que gostem do ''final'' dessa história maluca e que me deu tanta dor de cabeça e momentos hilários também. Boa leitura de despedida. :)



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14 de Abril. Haviam passado-se quatro dias desde que Jason, Milec e eu iniciamos nosso tortuoso projeto de fuga. Nesse meio tempo, fincamos os pés em duas cidades desertas e estranhas. Miregne e Adenom. Nós fomos muito mal recebidos em ambas, sendo em Miregne muito pior, pois alguns homens chegaram a nos ameaçar com lanças e outros objetos estranhos. Foi complicado conseguir convencer Jason e Milec a não avançar contra aquelas pessoas.

O visor do carro dava-nos nove horas da noite. Jason mantinha-se no volante, enquanto Milec, ao seu lado, matava macacos em um minigame. Eu estava jogada o banco traseiro, como sempre ficava desde então, segurando o coração pelos dedos do pé, sem saber qual seria a próxima parada, sem saber até quando iria ser assim.

— Seria bom pararmos em algum lugar, por aqui, para descansar… — Milec bocejou — estou exausto.

Passávamos por uma aparente cidade fantasma. Me perguntei se era de favoritismo dos dois prosseguir por esses tipos exóticos e desconhecidos de cidades. Eu desejava conhecer lugares mais bonitinhos, muito embora jamais pudera comparar aquela trajetória com um passeio de turismo.

— Certo... — Jason suspirou — Vamos ver um bom lugar.

As ruas eram mal iluminadas e monótonas. Não havia aquelas árvores interessantes que ficam sobre as calçadas das bonitas cidades, nem nada além de musgo e ervas daninhas espalhadas pelos batentes. Tudo era cinzento. Casinhas de madeira mofada, asfalto esburacado, postes deteriorados, pichações esquisitas e muitos comércios abandonados.

— Não acho que uma pessoa em sua completa lucidez optaria em morar por aqui — balbuciei — este lugar, sem dúvidas, é o mais sinistro de todos que já passamos.

Jason virou o pescoço para mim.

— Não há população em Kinbstan — ele sorriu — por isso acho perfeito nos aconchegarmos por aqui. Pelo menos até o amanhecer.

Eu bati os cílios rapidamente.

— E… bem… podemos ficar aqui? Digo… isso não poderia causar problemas?

— É uma cidade sem dono. — Milec retrucou — Há diversas delas espalhadas por todo o mundo. Esta, por exemplo, nem se quer está contida no mapa.

Eu assenti levemente, desprendendo-me do cinto de segurança, enquanto Jason estacionava o carro em frente a um casebre não muito atraente. Quando desci do veículo, pude sentir o cheiro azedo de enxofre e o ar pesado. A sensação térmica era fria e seca. Envolvi-me eu um casaco cinza de lã e pus-me a acompanhar Milec e Jason até o que eu poderia chamar de varanda

A porta estava meio que trancada. Jason a esmurrou, colocando-a para baixo. Milec assobiou.

— Que cara bruto! Forte. Sensual. Suado e musculoso. Eu poderia me apaixonar por você, Jay, por seus enormes bíceps e coxas macias e torneadas, e por essa sua cara de malfeitor americano… — ele soltou uma piscadela — Gostoso.

Jason rolou os olhos e gesticulou para que entrássemos.

A casa, desprovida de iluminação elétrica, era mediana. Saquei a lanterna que Jason havia dado-me no início de nossa jornada, bem como Milec e ele fizeram. Havia uma sala empoeirada completamente fazia, um corredor pequeno e estreito, compactando duas portas paralelas entre si e, mais adiante, o que poderíamos chamar de cozinha. Tudo era composto de madeira fria e cinzenta. Meu nariz coçava agoniadamente devido ao mofo. Provavelmente as pessoas que moravam ali tinham partido há muito tempo.

Jason girou a maçaneta enferrujada de uma das portas do corredor, enquanto Milec fazia o mesmo com a outra.

— Isso devem ser quartos… — supus — e eu espero que sejam.

Sim, eram quartos no mesmo padrão esquisito dos outros cômodos, ambos com uma cama de solteiro envolvida em um fino lençol amarelado.

— Hum… — Milec começou, enquanto adentrava no cômodo — eu ficarei neste aqui — ele direcionou a lanterna para o teto, flagrando um gordo morcego raivoso — Oh… que horror.

— Medo de morceguinhos, Milec? — sorri.

— Claro que não — ele tossiu — apenas gosto de dormir sem bisbilhoteiros.

Eu assenti divertidamente, acompanhando Jason em direção ao outro quarto. Nada mais havia além de uma cama minúscula e alguns móveis quebrados. Eu bati a porta atrás de mim, enquanto Jason escancarava a pequena janela, iluminando o aposento com a luz metálica da lua.

Estávamos em completo silêncio, de forma que o canto dos grilos e o coaxar dos sapos eram ouvidos nitidamente. Jason era prata pura, diante da meia luz tocando seu rosto fantasmagórico. Ele retirou sua jaqueta preta de linho e a jogou no canto da porta, aproximado-se lentamente, ate estancar os passos a uma pequena distância de mim. Ele continuou em silêncio por um longo momento, olhando-me entre lentas batidas de cílios e movimentos sutis com a boca. Jason tomou-me pela mão direita. Meu sangue era álcool.

Seu cabelo, tão negro quanto sua íris, brilhava como se fosse feito exatamente para isso, caindo dobre os ombros, destacando-se na camisa branca. Abeirei-me, passando levemente meus dedos por sua cintura, o amarrotando em um abraço aconchegante. Desta vez fechei os olhos impensadamente, e sorri por isso.

Jason guiou-me até a margem da cama, sentando-se de frente para mim, traçando seus dedos levemente através do meu cabelo embaraçado, as pontas dos dedos resvalando minha bochecha. Ele passou os lábios delicadamente pelo meu rosto, enviando-me um tsunami de sensações nervos afora, fazendo-me estremecer. Sua respiração forte e quente circulava minha pele… eu poderia passar a eternidade ali. Jason depositou-me um beijo lento e calmo. Eu me permiti à correspondência, ignorando o cheiro forte de mofo, que estava espalhado por todo o aposento. Ele havia trocado de perfume, o que o deixava bem mais agradável agora. Eu pausei o beijo e retirei minha blusa calmamente, enquanto ele baixava o rosto. Eu o segurei por ambas as mãos e tornei a beijá-lo, lançando-me para mais perto dele, a fim de nossos corpos se tocarem. Não lembro-me da última vez que tivemos a oportunidade de estar intimamente juntos, sem que Milec, ou qualquer outra coisa, nos atrapalhasse.

A vontade era completamente visível, tanto em mim quanto em Jason. Ele colocou-se com mais veemência, atirando-me rudemente contra o lençol encardido, o que fez minha cabeça atingir a cabeceira da cama. Eu soutei um gemido.

— Au! Palerma…

Ele sorriu.

— Não foi intencionalmente… — pausou, caminhando lentamente sobre os joelhos, emaranhando o lençol — eu não sou sadomasoquista. E não tenho culpa se está cama é desconfortável demais.

— Isso dificilmente importa.

Eu o puxei para baixo, entrelaçando os dedos em sua camisa, forçando os punhos para o trazer mais perto. Sentia a necessidade de tê-lo tão incrivelmente próximo a mim, que nada parecia adiantar. Era como se eu eu precisasse que a minha carne entrasse em fundição com a dele. Era urgente. Jason beijava-me suavemente, como se estivesse procurando tomar cuidado com algo, mas eu não queria cavalheirismo, não naquele instante.

Eu desci minhas mãos pesadamente por suas costas, até alcançar a borda de sua camisa e tracejar brutalmente sua pele nua com a ponta de minhas unhas. Ele pareceu entender o sinal, e passou a colocar mais fervor em seus lábios, beijando-me de forma que mais parecia querer arrancá-los de mim.

Em um movimento rápido e desesperado, Jason livrou-se de sua camisa, exibindo seu peitoral completamente turvo em meio à meia luz. Ele avançou em mim, retirando com agilidade o que restava de minhas roupas, jogando-as por todas as partes do quarto. Jason descia sua boca exasperada por meu pescoço, mordiscando minha clavícula enquanto minhas mãos seguiam uma trajetória retilínea ao cós de sua calça, livrando-me rudemente dos botões.

— Espero que Milec não venha nos incomodar atras de um copo d’água ou de sei lá o quê — Jason sussurrou enquanto sorvia meu pescoço — odeio ser interrompido.

***

Acordei-me um tanto assustada, passando os olhos ao redor do quarto, agora um pouco menos sombrio, provavelmente o dia estava prestes a raiar. Jason estava com metade do corpo sobre mim, simetricamente. Seu braço e perna direita enlaçavam-se em meus membros. Agora, um tanto mais lúcida, pude ouvir os berros de Milec ameaçando entrar, caso não abríssemos logo.

Relutantemente, soltei-me de Jason e envolvi-me no lençol jogado no chão, que antes forrava a cama. Eu o fitei rapidamente, sua cueca, com estampas de pistolas, destacando-se contra a pele pálida e o forro encardido do colchão. Sorri e fui em direção à porta, abrindo-a.

— O que quer? — grunhi.

Milec trajava seu habitual sobretudo preto, junto com um jeans completamente velho e deteriorado, botas de couro e uma camisa cinza, onde estava escrito pague-me uma bebida e eu lhe farei feliz por uma eternidade. Seu cabelo, que havia perdido completamente a cor verde, cintilava em meio ao fraco feixe de luz vindo da perfuração no teto. Ele tapou os olhos com as duas mãos rapidamente. Eu bufei.

— Eu realmente não queria atrapalhar as saliências de vocês — ele fez uma careta, exibindo os olhos acinzentados — mas são quase quatro da manhã… temos que partir.

— Por que...? — questionei — eu estou com sono, Milec.

Ele torceu a boca.

— Nos paramos nessa coisa caindo aos pedaços para descansar e tudo mais. Eu não tenho culpa se, ao invés disso, vocês se cansaram mais ainda.

Eu rolei os olhos.

— Tudo bem… espere um pouco, já sairemos.

Calmamente fechei a porta e caminhei em direção à cama. Jason dormia como uma criança. Seus lábios pequenos e levemente róseos, estavam entreabertos, uma coisa interessante de se admirar.

— Jason.. — eu o empurrei lentamente — acode, nos vamos pegar estrada agora… Jason…

Ele virou-se devagar, abrindo os olhos com uma visível relutância, pondo-se sobre os cotovelos.

— Hum… mas já?

Eu assenti. Ele levantou-se num impulso, catando a calça jeans, a camisa e a jaqueta pelo chão, no mesmo momento em que eu me vestia rapidamente, elevando o cabelo num penteado mal feito.

***

Estávamos acomodados no incrível carro de Milec, seguindo em direção ao sul da cidade fantasma. Naquele instante lembrei-me de Juliete. Eu amava tanto aquela picape que me desfazer dela doeu no fundo de minhas entranhas, mas sabia que Gabriela iria aproveitá-la de maneira não muito destrutiva.

Nesta situação, Jason fincava-se no volante, e eu ao seu lado, folheando um exemplar de Fullmetal Alchemist, que havia encontrado nas coisas de Jason. Ele disse-me que se eu amassasse uma página se quer, partiria meus dedos com os próprios dentes.

Milec repousava no banco de trás, confortavelmente estirado, como um verme em seu estado inicial. Ele batucava canções do The Doors, enquanto Jason o acompanhava em assobios. Inesperavelmente Jason cessou a cantoria, assumindo uma expressão desconfiada. Milec questionou.

— Oh, Jay… qual foi, cara?

Jason acelerou sem dar palavra alguma, olhando compulsoriamente para trás. Eu guardei o mangá no que poderia chamar de porta luvas e segurei-me firme, tentando entender o que estava acontecendo.

— Jason… para quê correr tanto?

Ele aumentou a velocidade. Milec levanta-se subitamente do banco, exalando confusão.

— Acho que estamos sendo seguidos… — Jason grunhiu — merda.

Milec espichou-se para o outro lado do carro, olhando a estrada que se dissipava pelo vidro traseiro.

— O Porsche…? — perguntou mais para si mesmo que para qualquer outro — Aquilo é um Porsche, certo?

— É. — Jason gritou ao mesmo tempo que fincava o pé com mais força no acelerador, da mesma forma que o tal veículo a nos seguir fazia.

— Oh, meu Deus — balbuciei — estava tudo aparentemente bom demais.

Foi num pequeno instante, eu mal pude piscar os olhos quando foi-se ouvido o estalo forte junto com os freios do carro derrapando pela estrada, girando várias vezes, desenhando círculos no asfalto, enquanto eu gritava desesperadamente. Jason, portando uma incrível agilidade, conduziu o carro na direção contrária a qual estávamos seguindo. Olhei rapidamente para trás, Milec havia vomitado toda parte traseira. Comprimi a ânsia de vômito que sempre vem como plágio quando observamos a tal arte de alguém.

De frente para nós estava um Porsche vermelho, aumentando a velocidade ao perceber a aproximação. Jason girou o carro, ao mesmo tempo que Milec vomitava ainda mais e o fedor espalhava-se. O Porsche colocou-se paralelo a nós, de forma que pude ver um forte braço envolto em um tecido preto, segurando uma arma prateada, apontando em nossa direção.

— Abaixe a cabeça! — Jason gritou.

Instantaneamente o fiz, sentindo os cacos de vidro emaranhar em meu cabelo, enquanto gritava cegamente. Jason pôs-se a afastar o carro para a direita, de forma que o Porsche cada vez mais aproximava-se. Agora eu podia ver com uma assustadora clareza quem conduzia o carro maldito.

Envolvido em um sorriso horrível, Dean sacava a pistola novamente, mirando-a em minha cabeça. Eu comprimi um grito.

— Desgraçado! — Jason gritou, acelerando o carro e recebendo mais estouros de tiros na lataria.

— Clarissa… — chamou-me desesperadamente — segure o volante.

— Mas…

— Segure!

Imediatamente troquei de Lugar com Jason, que sacava uma de suas inúmeras armas esquisitas. Ele mirou em direção ao Porsche de Dean.

— É um bonito carro… de fato. Mas é uma pena estar sendo conduzido por um filho da puta.

Milec lançou-se entre nós, vômito escorrendo por sua boca e melando toda parte dianteira do carro.

— Saia daqui, Milec — gritei — você não está ajudando desta forma.

Jason pôs-se com força para trás, a fim de livrar-se da faca que Dean lançou, de maneira que bateu, com demasiada força, o cotovelo no rosto de Milec. Ele soltou um gemido e tombou para trás, caindo numa espécie de desmaio.

Eu o olhei assustada.

— Ele ficará bem… — Jason silvou — provavelmente bem melhor que nós.

Engoli seco, pisando com mais fervor no acelerador, o que não estava adiantando muito, uma vez que o Porsche de Dean era muito mais potente e, contudo, não estava tão danificado.

Foi num momento de descuido. Eu maneirei a velocidade quando enrolei na imensa curva fechada, não houve como evitar. Dean nos ultrapassou num bater de cílios. Jason xingou auto, colocando-se para fora do carro em metade do corpo, sacando a arma e atirando contra a lataria do Porsche.

Dean fechou nosso caminho, logo que mantinha-se numa distância considerável. Não tive como evitar, freei instantaneamente, parando à poucos metros de Dean. Jason desceu sem delongas, jogando a pistola no banco, dando lugar a uma adaga preta. Eu desci logo em seguida, observando Milec desmaiado em meio a seu próprio suco gástrico.

Jason mantinha-se ao meu lado, segurando a adaga com o braço elevado ao ombro. Fogo saia de seus olhos. Mais adiante estava Dean, sorrindo como um miserável, envolvido em roupas pretas de couro. Seu cabelo dourado cintilava através do fraco nascer do sol. Uma enorme faca repousava em sua mão esquerda. Eu podia ver o brilho da pistola enfiada em seu cinto.

— Não acredito que vocês acharam que podiam fugir de mim. — ele gargalhou — patético.

Jason urrou e avançou em Dean, que segurou seu braço por ambas as mãos. Jason gritou de dor, enquanto Dean torcia seu braço com demasiada crueldade, o levando ao chão. Eu gritei.

— Você quer ter mais força que eu, Jason? Quer ser superior a mim?

Jason não emitia palavra alguma, e, embora seu pulso parecesse estar dilacerado, ele não soltou a adaga, com certeza não estava em suas pretensões soltar.

Eu xingava Dean de todos os palavrões que conhecia, mas nada parecia adiantar. Ele demonstrava estar pouco se importando com minha presença, muito embora eu soubesse que não passava de teatro. Eu tateei o chão com os pés à procura de algo que servisse como defesa. Deparei-me com uma rígida e considerável pedra. Apanhei-a discretamente, precisava do momento certo.

— Eu poderia dar fim a esta vadia — Dean silvou enquanto tentava tomar a adaga de Jason — já fiz isso com tantas vagabundas que nem posso lembrar-me das contas. Mas é sempre bom mudar de planos. — ele sorriu, aproximando o rosto ao de Jason — Eu matarei você, Santi. Sim, pois se não quer ficar comigo, por realmente ser burro demais, não ficará com mais ninguém. E nem ouse morrer em paz achando que estará protegendo a vadiazinha — Dean finalmente fitou-me — matarei ela também.

Sem pensar duas vezes, juntei minhas forças e atirei a pedra contra a cabeça de Dean. Ele cambaleou e caiu para trás, deixando Jason livre. Automaticamente, eu corri, enquanto Jason levantava-se lentamente, tombando em uma perna, preparando-se para avançar em Dean, que, por sua vez, ergueu-se agilmente, como se a pedrada não tivesse lhe causado nenhum efeito, embora sua cabeça minasse sangue.

Dean avançou em mim, de maneira que não pude evitar o espasmo, jogando-me no chão através de um pontapé no estômago, mantendo a perna fincada em mim. Eu tentei de todas as formas afastá-lo, mas, sem dúvidas, ele era muito mais forte.

Jason aproximou-se, o socando com o cotovelo. Dean livrou-me e revidou o soco de Jason, o fazendo tombar para trás. Dean mantinha a pistola em uma mão, bem como o facão na na outra, ambas apontadas em direção a Jason. Ele avançou, de forma que Jason agilmente chutou seu braço, o fazendo lançar a pistola para longe. Eu arrastei-me para pegar a arma e a mantê-la longe das vistas, ainda sentindo fortes dores no estômago.

Dean aproveitou um pequeno momento de descuido de Jason e fincou sua faca na perna do mesmo. Jason urrou e tentou cortar o braço de Dean, que o derrubou no chão. Os dois mantinham-se rolando pelo asfalto, esmurrando-se. Uma cena ridícula. Jason conseguiu fazer com que Dean soltasse a faca, o golpeando com a cabeça. Lágrimas minavam dos meus olhos ao perceber a quantidade de sangue em ambos.

Jason, de uma forma surpreendentemente astuta, imobilizou Dean, colocando-se sobre ele.

— Você treinou-me muito bem, Dean — Jason silvou — acho que deve estar se arrependendo muito disso.

— Eu queria lhe tornar perfeito… — Dean grunhiu — o melhor parceiro. Na vida e na cama.

Jason o friccionou com mais força sobre o asfalto. Raiva faiscava de seus olhos.

— Você não vai me matar... — Jason aproximou o rosto ao de Dean, que trincava os dentes — E sabe por quê? — ele sorriu, colocando a boca em seu ouvido— por que você me ama.

Dean sorriu.

— Eu apenas queria que me amasse. Se eu vivi por todo esse tempo, desde que lhe conheci, foi para ouvir isso da sua boca. Me relacionei com centenas de mulheres... de todos os estilos e idades, no entanto nunca estive satisfeito — ele suspirou — Eu vejo minha realização sexual em você.

O rosto de Jason iluminou-se.

— Você foi tão bom para mim... — ele traçou o rosto de Dean com as pontas dos dedos, enquanto mantinha suas mão presas atrás de sua cabeça. — se não fosse você… se não tivesse me tirado da rua… não sei o que teria sido de mim.

Dean sorriu docemente, mordendo os lábios.

— Eu vi algo de especial em você Jay… sempre tão bonito...

— Você também.

Dean pôs-se em uma aparente surpresa, torcendo a boca.

— Você acha.

— Acho sim — Jason sussurrou em seu ouvido, enquanto acariciava seu cabelo — eu posso dizer isso Dean… eu sempre quis ser como você… acho que sabe disso.

Dean rolou os olhos em meio a um sorriso gozado.

— Diga que me ama, Jason…. por favor.

— Você quer que eu diga?

— Eu lhe imploro.

Jason passou as costas da mão sobre a bochecha suja de fuligem de Dean, que matinha os olhos fechados, junto com um sorriso idiota.

— Oh, Jason… me beije.

Jason aproximou seu corpo ainda mais sobre o de Dean, o fazendo estremecer. Dean soltou um gemido. Eu os olhei aturdia, usando o Porsche para apoiar-me, enquanto lágrimas quentes desciam rosto abaixo.

— Sim… — Jason sussurrou com uma voz rouca, agora soltando Dean, passando fortemente a mão por seu tronco, o fazendo estremecer — eu irei.

Então Dean fechou os olhos ofegante, a sua paixão era notável. Tentei expulsar a pequena pontada de ciúme que senti, junto com a vontade de tirar Jason dali e pisar na cara de Dean.

Jason afastou-se lentamente para trás, fazendo Dean abrir os olhos numa visível dúvida.

— Jay…?

Ele urrou e cravou sua adaga no peito de Dean, que soltou um berro ensurdecedor, não pela dor, e sim pela decepção. Lágrimas espessas minavam de seus olhos tristes e angustiados. Jason sorria terrivelmente, desenterrando a adaga e levantando-se.

— Filho da mãe! — Dean gritou sufocadamente em meio ao sangue — você... mentiu para mim...

Eu mantinha as mãos sobre a boca. Jason rolou os olhos, sorrindo divertidamente, limpando o sangue da adaga sobre a cabeça de Jason, permitindo que o seu próprio sangue pingasse em seu rosto. Era horrível.

— Não acabou... desgraçado. — Dean silvou — O inferno nunca acabará para você… você pensa que eu sou o único…? eu… não sou… o único…

Dean cessou seu próprio discurso, assim como os movimentos com a cabeça e membros. Sua boca repleta de sangue, os olhos frios e arregalados. Nunca desejaria esta visão à Gabriela.

Jason abaixou-se para fechar os olhos de Dean.

— Vá em paz.

Ele virou-se para mim.

— Mirium… — aproximou-se, tomando-me pela mão — você está bem.

Eu sequei as lágrimas com as costas dão mão, completamente dolorida e suja.

— Estou bem.

***

Eu estava levando as coisas do que um dia chamei de ''super possante de Milec'' para o Porsche que fora de Dean. Não havia mais condições de conduzir aquela lata de lixo. Jason havia dado um jeito no cadáver de Dean, o lançando na ribanceira que estava próxima a nós. Milec trocava suas roupas fedidas atrás de uma árvore, como se alguém estivesse interessado em o ver despido, enquanto praguejava por não ter participado da carnificina.

— Realmente não acredito que perdi de ceifar outra alma sebosa.

Jason sorriu rouco, encostado no capô do Porsche, palitando os dentes, envolvido em uma regata branca e jeans velho.

— Foi uma coisa magnífica — ele cantarolou — você precisava ter visto minha bela performance artística para a atuação.

Eu rolei os olhos.

— Foi horrível. Ele enganou Dean... brincou com seus sentimentos e depois o sacrificou.

Milec gargalhou, nada parecia ser terrível para eles.

— Não me faça inveja, Clarissa. A propósito, Jay tem disso mesmo. Ele usa os sentimentos das pessoas a seu próprio favor. Já levou tantas garotas para cama com esse papo. — ele fitou-me semicerrando os olhos — Ele fez isso com você também, não foi...?

Eu arquei as sobrancelhas.

— Bem...

— Ora, Milec, cale a boca. — Jason puxou-me — Não é bem assim. E mesmo que fosse, você se apega muito ao passado. — ele sorriu idiotamente — Clarissa e eu iremos nos casar e criar patos selvagens.

Eu fiz uma careta.

— O que te leva a pensar que eu aceitaria casar-me com um homicida?

— Um assassino que mais tem vontade de se matar do quê matar os outros. — Milec bradou — Jason bostinha.

Eu chutei sua canela. Jason afastou-se, puxando-me para a margem do precipício, colocando metade de seu pé ao abismo.

— Jason... pare com isso.

Ele sorriu.

— Não há sensação melhor. Você olha o horizonte e flagra os seus pais. O céu e a terra. É apenas um ilusão de ótica, mas quando nos permitimos à imaginação, podemos ver claramente que o infinito é a junção dos dois.

Eu suspirei. O céu estava azul e sem nenhum sinal de nuvens. Era possível notar uma cidadezinha no que Jason chamou de "filho do céu com a terra". Naquele momento lembrei-me de meus amigos e da minha antiga vida completamente programada para a monotonia. Nunca fui do tipo que sonha coisas improváveis e aposta o sangue naquilo. Sempre preferi acreditar no que me convém com noventa por cento de certeza. A covardia é uma lástima.

Lembrei-me também de Martim, do que lhe havia dito na carta. O amor é um precipício, Inaura disse a Leléu em Lisbela e o Prisioneiro, a gente se joga e torce para o chão nunca chegar. Eu o falei que iria atirar-me ao precipício, e esperaria não morrer. E eu espero. Incrivelmente sem medo. Mesmo não sabendo se amanhã acordarei ao lado de Jason ou numa maca de hospital, aguardando ser levada para um presídio.

Milec repousava na parte traseira do carro, Jason estava pronto para dar a partida, enquanto eu tentava compreender o que estava escrito no mapa que estávamos usando para nos orientarmos.

— O interessante é que Dean tinha muito saquinhos plásticos por aqui... — Milec falou — já é uma mão na roda, caso eu passe mal novamente.

— Eu não sei o que faremos se você der outro chilique, Milec — Jason bradou — Não tenho como prever se outro idiota irá nos seguir para nós o matarmos e tomar seu carro.

Milec fez uma careta.

Eu balancei a cabeça negativamente e travei o cinto de segurança, ao mesmo tempo que Jason pisou no acelerador, olhando-me divertidamente, colocando Police And Thieves do The Clash para tocar.

— Para onde iremos agora? — indaguei, enquanto fitava seu rosto levemente corado.

— Para as estrelas. — ele sussurrou, como Rose em Titanic, sorrindo rouco. Suas mãos finas elevaram-se para tocar meu rosto suavemente. Seus olhos negros e místicos fitando-me com cautela, invadindo minhas veias, artérias, brônquios e alma afora — Ou pro inferno.


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Notas finais do capítulo

E então? Acho que passarei uma eternidade sem escrever novamente, kk. (não, calma)
Um muitíssimo obrigado a todos aqueles que deram préstimo a essa história maluca, que eu quase exclui, por achar tosca demais, mas então veio o Supreme e tantos outros, como a Anônima, aquela diva kk, motivando-me a continuar e, enfim, terminei. Bem, para alguns que me perguntaram se iria ter segunda temporada: não. Acho que uma continuação tiraria a graça e tudo mais. Eu mesma prefiro ficar imaginando o ''futuro'' deles. E a quem quer saber se publicarei novas histórias: sim. Inexplicavelmente, um dia desses, bolei algumas ideias enquanto escovava os dentes (risos) já tem muita coisa planejada e eu acho que vai ser uma história muito divertida, ah, eu adoro o humor, muito embora não seja a melhor pessoa do mundo o trabalhando. Enfim, aguardem ''A Maldita Volta de Ana Catarina'' em breve. Muito obrigaaaaaadaa, pessoas ♥
P.S.: comentem o que acharam do final *-* é muito importante para mim. Parte preferida.. Parte que não gostou... enfim.. (: