S.O.S Me Apaixonei Por Um Assassino Suicida escrita por Anthonieta


Capítulo 20
Se o amor é pior que a morte, pode haver coisas piores que o amor.


Notas iniciais do capítulo

Oi, oi, oi... boa leitura (:



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Os gritos de Jason estavam mais intensificados. Havia gemidos também, como alguém fazendo um enorme esforço para falar. Ainda mais estranho que todo o barulho, berros e grunhidos, eram as risadas gozadas que repousavam no fundo da balbúrdia, como Laura, que sempre assiste filmes de terror em meio aos risos. Sem mais delongas, esburaquei o 305, ignorando minhas pernas que tremiam compulsoriamente.

Eu comprimi um grito aturdido, colocando as mãos sobre a boca. A sensação era de que a qualquer momento meu corpo abandonaria-me. A cena não poderia ser mais estranha e apavorante: Jason encarava-me completamente pálido, olhos arregalados, boca entreaberta… seu rosto estava demasiadamente suado, o cabelo grudava pela testa e cobria boa parte de suas bochechas.

— Clarissa… — ele silvou — saia daqui.

Jason mantinha os braços envoltos ao corpo de Dean, que sorria compulsoriamente, como se o estivessem fazendo cócegas, fitando-me com aqueles ominosos olhos avelã, que exalavam muito mais ódio que medo. Uma lâmina prata e afiada chocava-se contra o pescoço de Dean, liberando singelos fios de um sangue praticamente negro. Jason mantinha a faca firme, os nós de seus dedos, muito mais brancos que o resto de seu corpo, demonstravam isso. Eu estava completamente desnorteada.

— Vadia! — Dean gritou — que bom lhe ver.

A coisa mais estranha estava adiante, sentado confortavelmente numa cadeira de madeira, antes sorrindo como um lunático, e, agora, aparentando uma visível surpresa, talvez tanto quanto eu. O rapaz de cabelo verde e tatuagens, envolvido em trajes pretos de couro, deixou o queixo cair, levando a mão esquerda para a boca, enquanto um cigarro crepitava, preso entre os dedos da direita.

— Você..? — sussurrei.

Não houve resposta.

Foi num piscar de olhos. Dean tentou esquivar-se de Jason que urrava de uma forma que jamais pudera ver. Jason colocou mais força sobre a faca e traçou um corte no pescoço de Dean, que pareceu pegar de raspão, visto que ele conseguiu desvincular-se e sair pela direita, sacando um canivete, investindo contra o braço de Jason. Eu soltei um grito. O cara das tatuagens voltou a sorrir sinistramente.

— Tire essa vagabunda daqui, Jason — Dean grunhiu — ou terei que fazer... você sabe muito bem o quê.

Dean chutou a mão de Jason, em seu momento de distração, fazendo a faca voar para longe, e riscou o canivete contra seu braço novamente. Sangue empoçava o chão da sala, mas ele não parecia se importar com a dor, encarava-me desesperadamente, enquanto eu me encolhia no canto da porta. Dean voltou a ataca-lo.

— Pare! — gritei — deixe-o em paz.

Dean sorriu miseravelmente.

— Não se meta, Clarissa, não se interponha mais do que já está fazendo! — ele grunhiu, apontando-me o canivete sujo de sangue — saia do meu caminho, se quiser rastejar-se com vida.

Eu comprimi a vontade de vomitar.

— Não entendo como posso estar em seu caminho. Dean — tentei manter a calma, aproximando-me lentamente — escute-me… eu sei de tudo, sim… eu sei — respirei fundo, mantendo minhas mãos na altura do rosto, caminhando sutilmente — mas não irei manifestar-me… será nada mais que um segredo. Você não tem porquê pensar que sou uma ameaça...

Dean sorriu sarcasticamente, jogando-se em Jason, que prestava atenção em mim, de forma que não foi possível detê-lo. Dean posicionava-se contra o peito de Jason, jogado no chão, fincando seu canivete contra o pescoço dele.

— Você não precisa disso… Dean — Jason urrou — sabe que não precisa…

Dean forçou-se com mais força contra Jason, que parecia esforça-se para tomar o ar, seus olhos eram órbitas negras completamente desprovidas de brilho, não havia sentimento nenhum neles, nada além de ódio.

— Eu te amei mais do que poderia amar qualquer coisa — Dean silvou sobre o parecia ser um choramingo.

Eu congelei.

— Você não se importou com absolutamente nada do que eu sentia, Jason — continuou — eu tentei de todas as formas fazer com que me amasse… e sentisse desejo por mim...

— Espera aí… — o interrompi com um pouco de hesitação e espanto — Dean… você… você é gay?

Ele fez um gesto de impaciência, soltando uma espécie de rugido em minha direção.

— Eu matei todas as namoradas de Jason, Clarissa, se não quiser uma cova bonita e enfeitada no cemitério de Crouzi, sai daqui.

Jason aproveitou o momento de distração de Dean e o chutou na barriga com uma habilidade que deixou-me boquiaberta, porque Jason era magro demais para portar tanta força. Dean caiu rolando para a direita, levantando rapidamente.

— Você tirou tudo o que eu tinha — Jason gritou, passando, como um feixe de luz, para o outro lado da sala, recuperando sua faca e investindo contra Dean — filho da puta — ele bradou — você acabou com a minha vida.

Dean o segurou pelo pulso, o torcendo para baixo, fazendo Jason arquear-se de dor, ao mesmo tempo que fincava sua faca contra a perna direita de Dean, mas esse não o soltou.

— Eu só queria que me amasse… — Dean sorriu docemente — Eu quero que você me ame... meu querido. — ele beijou a mão de Jason, que estava roxa, devido à pressão do sangue vinda do estorvo — Desde aquele dia… desde quando o tirei da vida vagabunda que levava. Desde então eu o amei. O observei dormir todas as noites… dei tudo o que você quis… um bom lar, carros caríssimos, festas, viagens… garotas

— E sangue. — Jason grunhiu — mortes, grades enferrujadas de penitenciárias… — ele pausou, logo aumentando o tom de voz — drogas, satisfações desumanas… você criou um monstro em mim.

Dean bufou.

— Não venha colocar-me a culpa da bosta que você é… você não presta, Jay, nunca prestou. Oh... — ele sorriu — eu pensei que depois de matar sua mãe e Anele… aquela perdida, você iria reconhecer tudo o que fiz e então perceberia que era seu dever ficar comigo — Dean fitou-me — mas então você resolveu envolver-se com essa bagaxa.

Eu tombei para trás. O rapaz de cabelo verde tragou seu cigarro e balançou a cabeça negativamente.

— Está chato isso... — ele roscou — vocês deveriam matar um ao outro, e não discutir bobagens, ainda mais envolvendo uma garota no meio… é tudo tão ridículo.

Eu estava estupefata.

— Como pode dizer uma coisa dessas? — exigi, fitando seu rosto — Você é louco...?

Ele sorriu.

— Milec! — Jason gritou, encarando-me, enquanto tentava se libertar do aperto de Dean — tire-a daqui...

— Eu não irei — bradei — Dean, solte-o ou...

— Ou? — ele sorriu horrorosamente — o que irá fazer, Clarissa? Chorar? Vamos, pode chorar, gritar, fazer escândalos de mulherzinha, atrair todos os moradores dessa porcaria. — Dean sorriu — vai ser até muito bom… massacrarei todos, dançarei em suas poças imundas de sangue e ainda levarei uma parte do corpo de cada um para minha coleção. Sabe… ela está ficando graciosamente grande, uma maravilha!

Terrou tomou conta do meu corpo, pude sentir minhas pernas fraquejarem, meus braços eram como chumbo, eu riria teria ido ao chão, se não fosse por duas mãos calejadas segurando-me pelos ombros.

— Venha comigo… — Milec disse seriamente, logo passando os olhos de Jason para Dean — não demorem muito — ele sorriu divertidamente — quero um vencedor e não casal se comendo, por favor.

No mesmo instante, Milec empurrou-me porta afora, seu sobretudo preto farfalhando enquanto ele batia pesadamente as botas contra o piso do sexto hall, arrastando-me pelo braço. Ele era misterioso e assustador, estava muito dissimilar do rapaz bonito e excêntrico que outrora encontrei no metrô, lendo O Sol é Para Todos.

Já estávamos cruzando rapidamente pela recepção do Tude, quando resolvi rachar o silêncio que nos embrulhava.

— Para onde você está me levando?

Ele finalmente pousou os olhos claros, medonhamente avermelhados e obscuros em mim, libertando um riso sinistro.

— Apenas venha… — sussurrou friamente — é o melhor que tem a fazer.

Eu o segui sem relutância, coisa que não entendi o porquê. Passei a vista pelo balcão e percebi que Frederich não estava lá. A avenida principal do Tude Empire era um perfeito deserto, apenas folhas secas e sacolas de lixo percorriam o asfalto violentamente, devido ao vento forte. O outono em Crouzi era a única estação que intercorria com intensidade. Era início de noite, o céu estava completamente nublado e a sensação térmica não poderia ser mais fria. Desejei estar embalada em algum casaco naquele momento, e, se Milec fosse um cavalheiro, teria oferecido-me seu sobretudo, muito embora eu jamais fosse aceitar.

Milec arrastou-me fortemente pelo braço por duas ruas. Ele cheirava a cigarro e bebida. Era alto, magro, silencioso e esquisito. Percebi que, embora a escuridão fosse tremenda, seu cabelo estava perdendo a coloração que dava-lhe um perfil pós punk, tornando a um louro tão claro que mais aproximava-se do branco.

Após contornarmos mais uma rua, sendo essa menor que as outras duas, estagnamos a caminhada ao depararmo-nos com um sofisticado carro preto e incrivelmente brilhante. Milec abriu a porta da frente para mim e gesticulou para que entrasse. Eu hesitei.

— Vamos, garota, não precisa ter medo, não farei nada com você — ele sorriu divertidamente — a menos que queira…

Eu dei um passo para trás, meu coração estava horrorosamente acelerado.

— Venha — ele sorriu — não se preocupe.

Milec segurou-me suavemente pela mão e conduziu-me para dentro do carro. O veículo era agradável, confortável e incrivelmente moderno. Os painéis de controle eram como nada que jamais pudera pensar em ver de tão perto na vida. Milec entrou logo em seguida, pedindo-me para por o cinto, girando as chaves graciosamente.

— Para onde está me levando? — voltei a questionar com hesitação.

Ele sorriu de lado e fitou-me. Seu olhar, diante da pouca luz da noite, era vivo, doce e calmo. Não sei explicar o porquê, mas minha atenção estava completamente voltada na meticulosidade em que ele batia os cílios longos e finos, era como uma hipnose. Ele era surpreendentemente belo.

— Vou lhe manter em segurança — ele suspirou — até, quem sabe, se estiver com vida, Jason nos encontrar e resolver o que fará com você.

Eu engoli seco.

— O que você quer dizer com ”se estiver com vida'' ? Jason...

— Ora… — ele começou — como poderei saber quem saíra vivo daquele apartamento?

Ódio invadiu minhas veias.

— Eles estavam atacando-se! — bradei — E você não fez nada para ajudar. Ficou apenas sentado, sorrindo da situação… como se fosse algo completamente normal.

Milec soltou um gargalho rouco, balançando a cabeça, enquanto cruzávamos uma esquina estranha.

— Aquilo… aquela cena... é totalmente normal para mim — ele pausou — como é mesmo seu nome… hum…?

— Clarissa… — grunhi — eu lhe disse… naquele dia no metrô.

Milec torceu a boca.

— É verdade… mas olha só, não é? Quem diria que você seria íntima de meu amigo Jason Santi…

Eu levantei uma sobrancelha.

— Que raios de espécie de amigo você é que nem mexeu-se para defendê-lo?

— Eu não poderia.

— Por que?

Ele olhou-me por cima dos olhos.

— Está nos acordos… Dean e Jason são parceiros, de qualquer forma. Se eles quiserem ceifar a vida um do outro, eu não posso intrometer-me de forma alguma, além, é claro, dando uma forcinha para a animação. — ele sorriu — eu adoro assistir esses tipos de coisa, é tão emocionante.

Meu sangue era água.

— Espere… — comecei entre gaguejados — você… você também é um…

— Assassino? Oh, não… não gosto desse adjetivo. Me deixa esquisitamente perigoso, não é legal. Eu costumo auto nominar-me de justiceiro.

— Não acredito que compartilhei informações leituriais com um malfeitor… — sussurrei — você vê o quão isso é horrível?

Milec bufou.

— Você compartilha coisas muito mais interessantemente piores, nesses termos, com Jason.

Eu o fitei descuidadamente.

— Milec…

— Sim?

— Você os conhece há muito tempo?

— Muito tempo.

— Então… poderia me dizer uma coisa?

— Depende…

— Eles… — eu pausei — Dean… oh, bem… eles, por uma acaso, já tiveram… algo?

Milec gargalhou gozadamente, de forma que depois de alguns segundos pude perceber seus olhos cheios d’água. Eu não via graça alguma.

— Está preocupada com a possibilidade de seu namoradinho poder lhe trair com um homem e uma mulher ao mesmo tempo? — ele sorriu ridiculamente — realmente isso é algo a se preocupar… eu não suportaria… mas se quer saber, não. Jason nunca aceitou envolver-se com Dean, e é justamente por isso que ele quer tanta vingança.

Eu assenti miseravelmente. Naquele momento percebi o tamanho da enroscada que havia metido-me apenas com minha cisma idiota de querer manter o 305 desocupado.

***

Circulamos por mais algumas ruas escuras, não sabia exatamente que horas eram agora, nem se Jason estava bem, o que me deixava completamente agoniada.

Milec parou o carro em frente a uma pequena casa com cerca de madeira, o que fez tremer, ao lembrar do quarto horrível em que Dean manteve-me presa. Milec disse-me para descer, e o fez logo em seguida. Eu o acompanhei até a fachada da casa, o aguardando em seu atrapalho para abrir os cadeados e tudo mais.

— Faz tempo que não venho aqui. — ele balbuciou assim que conseguiu destravar a tranca enferrujada da porta velha.

O domicílio, por dentro, era escuro e sufocante. Milec tateou a mão pela parede à procura de um interruptor. O encontrando, pôs-se a ascender a luz fraca e amarelada, dando-me a vista de todo um único cômodo. Uma mesa pequena de madeira. Um fogão velho. Uma mini geladeira enferrujada. Algumas cadeiras e um colchonete no canto da parede úmida.

— Vamos ficar aqui enquanto Jason não manda notícias, ou sei lá.

— Como ele irá saber que estamos aqui? — exigi.

— Ele saberá… nos dois costumávamos vir muito aqui para conversar sobre garotas, ficar um pouco em paz, ouvir boas músicas… consumir heroína e outras coisas. — Milec sorriu, como se aquilo fosse a coisa mais banal e divertida a se fazer na adolescência com os amigos — eram bons tempos.

Eu balancei a cabeça negativamente.

— Se estiver cansada pode deitar-se aí... — ele gesticulou para o colchonete maltrapilho coberto de cinzas de cigarro e outras coisas que eu não sabia e nem ousei perguntar o que eram. — pode não parecer, mas é bem confortável. Certa vez trouxe uma ruiva muito gata para cá e ela adorou.

Eu rolei os olhos e sentei-me no canto da parede, próximo à porta. Milec repousava no chão frio, a poucos metros de mim, usando a mão esquerda como apoio para a cabeça. Ele fitou-me com seus olhos incisivos, era inevitável não olhar de volta.

— Jason ficará devendo-me uma daquelas.

Eu o ignorei e fechei os olhos.


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Notas finais do capítulo

Próximo cap. Sexta ou Sábado. Está chegando ao fim, gente :c já estava acostumada a planejar as coisas antes de dormir... kkkk, bem, faz parte. Ah... o que acharam do Milec?