S.O.S Me Apaixonei Por Um Assassino Suicida escrita por Anthonieta


Capítulo 18
A resposta não exatamente esperada


Notas iniciais do capítulo

Queria pedir desculpas, se caso demorei a postar, esse fim de semana foi corrido. Boa leitura (:



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/419459/chapter/18

Jason abraçou-me inesperavelmente por alguns segundos. Forte o suficiente para me deixar meio incomodada. O afeto me amofina um pouco, por falta de jeito, por medo de tornar-se um acômodo para mim e então a falta vir depois, como brinde. O costume é uma lástima. Dizem por aí que quando abraçamos uma pessoa a qual portamos apreço, é imprescindível que os olhos não se fechem e um suspiro longo não vaze. Se eu disser que, diante do afago bruto e singelo de Jason Santi, tudo que pude sentir foi falta de ar e taquicardia, além de manter os olhos arregalados, como um sapo em seu habitat natural, bem como um macaco amazônico assustado, você iria dizer que eu não sinto muito mais que paixão aguda por ele? Bem, eu não assinaria isso, não me dou muito bem com o amor e seus drásticos efeitos colaterais.

— Eu preciso ir para casa tomar um banho. — disse, librando-me de seus braços, enquanto encarava minhas próprias vestimentas, agradecendo por minha camisa dos Los Hermanos não estar em uma situação muito grave.

Jason assentiu, levemente tombando a cabeça para o lado esquerdo, depois para o direito, mordendo o lábio inferior sutilmente.

— É… — ele começou — o que nós somos agora?

Eu levantei uma sobrancelha.

— Não somos nada, oras, o que por um acaso deveríamos ser além de bons vizinhos?!

Ele assentiu novamente, afastando-se para pegar a jaqueta que estava sobre o banco.

— Você tem razão.

Eu engoli seco, seguindo ao seu lado por uma das saídas da Não Passe Mais De Vinte Minutos. Jason não estava de moto, nem eu com Juliete. A praça não ficava muito longe do Tude Empire, rendia apenas alguns minutos de batida de calcanhares.

Caminhamos um ao lado do outro, em completo silêncio e hesitação, percorrendo as longas três ruas que se cruzavam formando um U. De vez em nunca, a mão fina e fria de Jason chocava-se contra a minha. Nós nos fingíamos criaturas desprovidas de sensibilidade tatorial, bem, pelo menos eu fingia-me. Talvez Jason realmente não se importava. Mas, por Deus, quem se importaria com meros toques entre mãos? Eu sou mesmo uma tola.

***

A recepção do prédio estava vazia, a menos, é claro, pela presença grisalha de Frederich folheando um jornal. Pela primeira vez, ele, ao notar minha presença, apenas distribuiu um sorriso sem graça, olhando-me por cima do óculos, voltando rapidamente à sua leitura. Eu me perguntei se havia algo de errado comigo, além da minha aparência maltrapilha. Então percebi que Jason ainda estava ao meu lado.

Entramos no elevador estendendo o silêncio que estava fazendo minha garganta coçar. Passar muito tempo sem mencionar uma só palavra deixava-me um pouco agitada e mal humorada também. Para minha surpresa e tremor nas pernas, Jason passou um braço ao redor de meu pescoço, quando as portas abriram-se no quinto andar.

— Você não vai para casa? — questionei-o, encerrando aquela cessão de meditação buda.

— Oh — ele torceu a boca — você se importaria… bem… se eu te acompanhasse…?

Eu cocei a cabeça.

— Você quer… ahn… ficar quarando em meu apartamento? É isso?

Ele negou.

— Quero apenas não ter que ir para casa agora, e, sabe, acho que você é a única pessoa deste prédio que cederia a sala de estar para uma pessoa como eu.

— Mas eu sou a quase única que sei… sobre você, então isso é exagero de sua parte.

Ele ficou em silêncio. Eu respirei fundo, tentando controlar a impaciência e congelei. Os acontecimentos foram tantos, que esqueci do fato de Dean ter pegado minhas chaves, assim como os outros pertences que levava comigo. Jason livrou-me de seu braço, levantando uma sobrancelha.

— O que houve?

— Não tenho as chaves… — balbuciei enquanto girava a maçaneta, admirando-me com o fato de estar aberta.

Jason adentrou logo depois de mim, demonstrando tanta estranheza quanto eu, que semicerrava os olhos.

— O que estão fazendo aqui? — bradei, enquanto kat ajeitava-se em meu sofá velho. Ao seu lado estava Gabriela, que tinha uma das pernas sendo alisada por Hecto, sentado sobre o carpete. Todos estavam aparentemente assustados.

Gabriela chutou Hecto na cara, passando a mão compulsoriamente sobre o seu nariz, ao perceber o acidente.

— Oh — ela fez uma careta — me desculpe.

Hecto sorria como uma criança em um parque de diversões.

— Não foi nada, gata.

Eu os encarei seriamente.

— Clarissa… — Kat começou — não se irrite. Pegamos uma cópia de sua chave com Frederich.

— Yeah… — Hecto bradou, enquanto escorava-se sobre Gabriela — nós achávamos que ficaria feliz ao chegar em casa e ver que seus amigos queridos estavam lhe aguardando ansiosamente para uma noite de aventuras e muita pizza de chocolate — ele pausou — mas vejo que já esta muito mal acompanhada.

Eu gesticulei um ”pare de falar bobagens” para Hecto, que encarava Jason como aqueles velhos atiradores de Faroeste.

— Acho melhor eu ir embora… — disse Jason, com uma voz completamente seca e fria.

Eu o segurei pelo braço.

— Não, fique. — passei os olhos pela sala — tenho certeza que esses invasores não irão se incomodar de ficar aqui com você.

Ele soltou-se de meu aperto.

— Mas eu vou!

— Oh, Chamberlain... — Kat bradou, levantando-se, embalada em uma de suas trocentas minissaias coloridas e uma blusa roxa de mangas curtas, batendo os saltos vermelhos sobre meu carpete, enquanto sacudia seu longo cabelo castanho e liso em pulinhos animados — sente-se conosco. Agora que sabemos que você não é uma ameaça nazista, você é muito bem vindo.

Jason suspirou impaciente, fitando-me.

— kat — comecei — seria muito bom se você parasse de chama-lo de Chamberlain.

Kat entreabriu a boca, como se estivesse processando algo, depois sorriu maliciosamente.

— Oh… vocês…?

— Não! — Jason quase gritou, baixando o tom de voz rapidamente em meio a tossidas — apenas… esse é um péssimo apelido. — ele limpou a garganta, forçando seu típico sorriso ridículo — se quiser chamar-me de algo, digamos, carinhoso, use Jay… as garotas costumam me chamar assim, sabe como é.

Eu o encarei perifericamente, enquanto mantinha meus braços cruzados sobre o peito.

— Muito bem… — comecei — agora que vejo que estão começando a se entrosar, irei tomar um banho, porque não consigo mais suportar isso: quase três dias sem tomar banho… está bem complicado.

Jason tossiu.

— Realmente… urgh! Eu percebi muito bem, nem sei como aguentei essas últimas horas, Clarissa, nossa. Mas não fiz nenhum comentário, porque estou tentando trabalhar minha gentileza.

Eu o ignorei, seguindo em direção ao banheiro.

***

Dois dias sem tomar banho – nem trocar de roupa – foi tempo mais que suficiente para que eu ficasse sentindo-me como uma mendiga. Naquele momento, em que a água gelada caia sobre meu rosto, eu sorri. Sorri porque lembrei-me das épocas que tinha dezessete anos. Martim chamando-me de porca imunda. Obviamente eu nunca deixei de praticar a maioria bons hábitos higiênicos, apenas era bom brincar com isso. E lembrar de uma época tão distante e, comparando com minha atual condição, tão quase alheia a mim, faz com que eu me sinta menos desprotegida e amedrontada. Às vezes o passado torna-se um lugar seguro.

Lembrei-me também de Jason. Das confusões. Eu me apaixonava muito facilmente por caras interessantes com os quais eu compartilhava as vitórias e tragédias de todas as bandas e cantores que gosto. Assim como poetas e escritores favoritos. Assim como pensadores e revolucionários que admiro e tenho repúdio… E, embora o susto constante ainda estivesse intrínseco a mim, eu conseguia notar claramente que Jason, ou seja lá quem ele realmente fosse, tinha um pouco disso, apesar de sua personalidade um tanto fútil, que eu começara a desconfiar que apenas fazia parte de seu incontestável disfarce de Wilt Chamberlain.

Quando terminei meu banho e pus minha habitual camisa branca gigantesca, dirigi-me para sala e me surpreendi com o visto.

— Clarissa! — bradou Gabriela, enquanto abocanhava uma fatia de pizza de chocolate — pensei que nunca terminaria esse banho.

Hecto sorriu.

— Ela tem que ficar cheirosa e com a pele macia, porque meu amigo Jay não gosta de garotas fedorentas e mal cuidadas — ele torceu o nariz, envolvendo Jason em um abraço — esse cara só gosta de coisa boa.

Eu rolei os olhos.

— Olha — comecei — eu fico verdadeiramente feliz que vocês estejam aqui e tudo mais, nossa, vocês nem imaginam — Kat sorriu — mas… bem… eu não estou no clima de comemoração, até porque Dean está por aí e Deus sabe lá o que ele pode tentar fazer comigo novamente — eu pausei, percebendo a expressão desolada de Gabriela — então… eu queria ficar sozinha… e dormir. Só isso.

Jason virou uma lata de coca goela abaixo.

— Ela quis dizer que quer ficar a sós comigo. — ele sorriu maliciosamente, fitando-me — Clarissa fica tentando não parecer rude e tudo mais, mas acaba sendo muito ruim nisso. Meu amor, você não deveria ser assim. Seria muito mais fácil olhar no fundo dos olhos de seus amigos e dizer que quer apenas namorar um pouco com o bonitão aqui. Tenho certeza que eles entenderiam.

Eu fiz uma careta, o ignorando.

— Tudo bem — disse Gabriela sorrindo e catando as caixas vazias de pizza para jogar no lixeiro da cozinha — não tem sido dias fáceis para você… precisa descansar.

Eu assenti. Kat caminhou até mim, dando-me um abraço fraco e depositando um beijo em minha bochecha.

— Quero que fique melhor...

— Eu estou ótima.

Ela olhou para Jason depois tornou a vista para mim.

— Tenho certeza que está.

Eu bufei, impaciente. Hecto atravessou o centro de madeira para realizar seu habitual comprimento idiota com a mão. Eles passaram pela porta ao mesmo tempo, como se estivessem completamente animados com a ideia de ir embora. Jason continuava plantado na sala, próximo ao sofá, como uma planta murcha. Eu o fitei.

— E você?

— Sim?

— Não vai embora?

— Eu deveria?

Eu rolei os olhos, dirigindo-me para cozinha, Jason nos meus pés.

— Jason…

— Oh, meu Deus — ele bradou exageradamente — você vai ficar me evitando agora?

— Jas…

— Eu realmente acreditei nas juras de amor que você fez para mim mais cedo. — ele fingiu decepção — acreditei que estava perdidamente apaixonada por mim, que queria casar-se comigo, ter dois filhos e alguns animais… eu gosto de tartarugas e patos. Podemos ter patos?

— Jason! — gritei — cale a boca.

Eu aproximei-me e segurei seus ombros, o imprensando contra o balcão. Observei seu cabelo cor de petróleo cintilar sobre seus olhos curiosos. Analisei as sardas que acompanhavam uma trajetória retilínea de uma bochecha para outra, passando pelo nariz. Fitei o molde de seu buço, a barba recentemente feita, o tracejar de sua boca entreaberta e tão corada destacando-se contra a pele vazia. Olhando com atenção para seu rosto, era possível notar algumas cicatrizes na testa. Uma um pouco profunda perto da têmpora esquerda, um singelo traço vertical de pontos no queixo, provavelmente fora um corte profundo. Eu pisquei os olhos.

— Por que está olhando tanto para mim? — ele perguntou sinceramente, enquanto afastava a cabeça para trás. — Eu sou um rapaz tímido.

— Você quer ficar...?

— Aqui?

— É.

Ele soltou-se de mim, saindo pela direita.

— Apenas ficar?

Eu levantei uma sobrancelha.

— Existe algo além?

— Existem muitas coisas além...

Imediatamente Jason empurrou-me rudemente sobre a mesa da cozinha, derrubando boa parte das coisas que estavam repousadas sobre a mesma. Meu ritmo cardíaco estava tão acelerado que mal podia sentir minha respiração.

— Jason… — sussurrei aturdida.

— O quê?

— Nada… — eu segurei seu cabelo pela nuca e o puxei para mim, beijando-o. Desta vez muito distintamente das poucas vezes anteriores. Com rispidez, porém cautelosamente. Ele puxou-me para o chão desastrosamente, ainda com a boca sobre a minha. Soltei um grito de protesto quando meus cotovelos atingiram o piso com toda a força. Jason colocou-se sobre mim, passando suas mãos finas pela minha cintura, fazendo-me pensar em tudo que talvez ele pudesse representar para mim, a maioria sendo coisas negativas. Expulsei tal pensamento e subi sua camisa desesperadamente, o fazendo praticamente arrancá-la. Permiti a intensificação do beijo, deixando-o livre para transitar sua língua delgada por todos os cantos de minha boca. Pude sentir suas mãos levantando minha blusa rudemente e como uma coisa de instinto a tirei no mesmo momento. Jason passou sua boca exasperada por toda a extensão de meu queixo, descendo para o pescoço. Naquele instante eu mal podia sentir o resto do meu corpo, a intensidade aumentava de um modo que estava ficando completamente impossível optar por alguma resistência.

— Oh… — rangi, enquanto passava minhas unhas ferozmente por toda a extensão de suas costas, o fazendo arfar. — Bandido…

Imediatamente Jason enrijeceu, levantando-se depressa, completamente sem jeito. Nunca pensei que pudesse o ver daquela forma. Eu fitei meu próprio corpo enquanto sustentava-me sobre os cotovelos: estava apenas de roupas íntimas. Meu rosto corou instantaneamente quando percebi que usava a calcinha que havia ganhado da minha avó. Uma enorme e horrorosa peça branca de algodão, onde estavam estampadas inúmeras nuvens azuis com braços, olhos, nariz e bocas sorridentes.

— O que houve? — perguntei entre gaguejados.

Ele abaixou-se, pegando a camisa e a vestindo com agilidade, tirando o cabelo do rosto com impaciência.

— Não está certo… — ele suspirou — eu vou embora.

Eu o olhei incrédula.

— O quê? Você vai embora?

— É.

— E vai me deixar… assim?

Ele estendeu uma mão para mim, eu a segurei e ele puxou-me, beijando-me lentamente.

— Me desculpe — ele começou — mas… eu vi… eu pude perceber… você não está se sentindo à vontade comigo. — ele pausou — acho que o que eu sou te deixa mais incomodada do que deveria estar.

Eu balancei a cabeça negativamente. Logo lembrando-me do que o havia chamado naquele momento em que… bem…

— Ah…. — balbuciei, passando as costas da mão em seu rosto — eu não deveria ter lhe chamado... daquilo… desculpe.

Jason afastou-se de meu toque.

— Não... não foi isso, Clarissa, não foi isso. — ele fitou o chão — desde o… inicio… eu pude sentir sua hesitação, não porque estava em um momento íntimo com seu vizinho gostoso. Era algo a mais, era algo mais profundo. Eu entendo. O fato de estar relacionando-se intimamente com um homicida não é algo para ser tratado como um método romântico…

— Jason… está tudo bem. Olha — pausei, fitando seus olhos — você… bem… eu já sei de tudo. E eu o aceitei do jeito que é, mesmo fazendo as coisas que você fazia, que você faz… porque sei que está disposto a mudar…

— O quê?

Eu hesitei, levantando uma sobrancelha.

— Mudar… — comecei calmamente — eu sei que logo mais irá procurar… sei lá… uma delegacia…. se entregar, confessar tudo de ruim que fez — eu sorri — pagar por seus crimes e começar uma nova vida…

Jason afastou-se de mim imediatamente. Sua expressão completamente mudada, rígida e ameaçadora. Sua boca era uma linha reta… inexpressiva. Pude sentir minhas pernas tombarem.

— Eu não vou me entregar.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Próximo capítulo terça ou quarta. ((:



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "S.O.S Me Apaixonei Por Um Assassino Suicida" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.