S.O.S Me Apaixonei Por Um Assassino Suicida escrita por Anthonieta


Capítulo 16
A realidade é uma velha mal humorada


Notas iniciais do capítulo

Não resisti à minha própria curiosidade (é possível isso?) e estou postando mais esse. Boa leitura. (:



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Havia passado dois dias desde fui capturada no quinto hall do Tude Empire. Dean estava certificando-me dos dias e horas. Ele trazia-me coisas simples para comer, e me levava para um lugar mais limpo na hora das refeições. Eu estranhava a sua calma, pelo fato de que Jason ainda não havia sido atraído para sua armadilha, o que eu não tinha certeza se agradecera ou não. Há essa altura não sabia mais em quem confiar. Mercênia e os dois seguranças que tomavam conta do lugar, lhe perguntavam sempre se não seria melhor dar ao menos uma ideia a Jason de que eu havia sido meramente sequestrada. Dean negava sempre, dizendo que não cederia de forma alguma, que se Jason soubesse que havia acontecido um sequestro, em si, além de ter em mente o que fazer, ficaria óbvio a culpa de Dean, uma vez que acontecera coisas entre os dois que deixava isso bem claro.

Pelo tom da cor dos raios de luz que entravam pelas brechas da porta, presumi que a hora do ”café da manhã” estava próxima. Dean, agora, mantinha-me sem as cordas e a mordaça, dando-me liberdade para circular pelo quarto fedido, apesar de eu não o fazer. Era impossível andar por um lugar cheio de vestígios nojentos. Dois homens haviam retirado os animais mortos, mas o mal cheiro ainda estava presente junto com o sangue seco. Era horrível.

A velha porta foi aberta num chiado. Mercênia apareceu na moldura, fazendo um gesto para que eu a acompanhasse. Nesse meio tempo em que estive em cativeiro, ela explicou-me sobre sua relação romântica com Dean. Lembro-me que me esforcei bastante para não demonstrar nojo. Não que eu tenha algum preconceito em relação a isso, mas além do fato dela ser absurdamente assustadora, parecia ser avó de Dean. E ficava claro que não havia nenhum tipo de sentimento ali.

Eu a acompanhei para fora do quarto fedido, indo em direção a uma sala minúscula e arejada, onde Dean ficava sentado observando-me comer. Era sempre assim.

— Trouxe pão e geleia hoje, minha querida.

Eu o ignorei e sentei na pequena mesa de plástico. Estava completamente esfomeada. Enquanto eu degustava meu café da manhã com tamanha voracidade, Dean sorria, como se aquilo estivesse muito divertido para ele.

— Ele virá… — Dean sussurrou — eu sei que virá.

Antes que eu pudesse, mais uma vez, rebatê-lo contra sua afirmação idiota, ouvi um estrondo distante. Dean levantou-se de sua cadeira, olhos arregalados. Um de seus guardas, o moreno, adentrou rapidamente na sala, eu me virei.

— Senhor… — ele balbuciou ofegantemente — Acho que há uma invasão.

— O quê? — Dean gritou — a polícia?

— Não, senhor.

— Jason, então?

— Muito menos.

— Quem, neste caso, seu acéfalo?

O homem suspirou, olhando para trás.

— Não sabemos, apenas sentimos um movimento…

Sua explicação fora cortada com barulhos altos de coisas caindo e gritos finos. Dean e o homem saíram correndo porta a fora, e eu os segui logo atrás. Não era possível, eu não conseguia acreditar no que estava vendo: Gabriela, Kat e Hecto, batendo desastrosamente no segurança ruivo.

Hecto, com algo que assemelhei a um cano de escape de moto, bateu na cabeça do homem, que caiu desnorteado no chão.

— Ahá. Eu sou o maioral!

Eu o olhei acudida.

— Clarissa, meu amor — ele gritou — olhe atrás de você.!

Instantaneamente me virei. Mercênia seguia em minha direção segurando uma das foices ensaguentadas que ficavam na sala fedida. Aproveitando que ela era magra e pequena, chutei seu braço com força, o que fez a foice voar e repousar sobre a perna esquerda do homem ruivo que tentava recuperar-se da pancada que havia recebido de Hecto. Seu grito era ensurdecedor. Ela, que não pareceu importar-se com o segurança ferido, investiu contra mim novamente, desta vez completamente desarmada. Sem mais pensar abocanhei sua mão. O grito de Mercênia era como um metal sendo arranhado.

— Amor! 

Olhei para trás, era Dean, gritando em direção à Mercênia. Eu a soltei e corri para ajudar Kat, que esbofetava Dean enquanto ele corria, o rasgando com suas unhas enormes e vermelhas de sangue.

— Seu falso benevolente — ela gritou — você merece a morte!

Kat o chutou nas partes íntimas e eu o derrubei no chão. Ela fincou seu salto fino sobre a mão esquerda de Dean, retirando, em seguida, a arma de sua cintura. Ele a xingou de várias coisas, mas manteve-se no chão. No mesmo instante pude sentir um aperto contra meu pescoço: o segurança ruivo, com a perna totalmente ensaguentada, tentava imobilizar-me. Eu mordi seu braço e, no momento em que ele gritou e afrouxou o aperto, girei e chutei seu rosto, o que não parecia ter causado muito efeito. Ele deu um rugido e investiu em mim. Antes que ele pudesse tocar-me, Hecto o acertou por trás, com uma fivelada de cinto de couro. O homem, com o rosto completamente desfigurado, tombou no chão. Eu fiz uma careta, fitando Hector, que agora estava com as calças aos pés, deixando amostra uma cueca encardida, com vários corações flechados estampados.

— Que horror! — bradei.

Ele olhou para baixo e subiu a calça jeans rasgada, ruborizando.

— Me desculpe. — Hecto recolocou o cinto e voltou a tomar posse do cano de escape, que agora mais parecia um pedaço de ferro amaçado.

Mais adiante, avistei Kat atacando o segurança moreno, enfiando o cabo de uma vassoura no olho dele, que urrava de dor. Ela sorriu vitoriosa, jogando o cabelo para o lado.

— Eu gosto disso!

O homem balançou a cabeça e tentou investir em Kat, que foi salva por Gabriela, empurrando-a e voando em cima do segurança. Ele a puxou pelos cabelos. Hector apareceu por trás dele, aos gritos, quebrando uma cadeira de madeira em suas costas.

— Não toque na minha mulher, seu idiota abusado!

Gabriela o olhou surpresa.

— Sua mulher?

Ele sorriu.

— Se você quiser…

Rolei os olhos e os puxei.

— Como chegaram aqui? — gritei — como souberam…?

Kat interveio, nos empurrando rapidamente.

— Vamos embora, depois conversamos…

Os berros de Kat foram cessados pela investida de Mercênia, a única aparentemente bem. Gabriela, Hecto e Eu corremos para fora da extensão do cativeiro, enquanto Kat borrifava um pequenino vidrinho de perfume nos olhos de Mercênia, chutando sua cara, a derrubando para trás.

— Deus me perdoe por bater em uma idosa, embora essa não seja uma velhinha qualquer. Górgona maldita.

Contudo, Kat juntou-se a nós, enquanto corríamos rapidamente em direção a uma van cheia de desenhos de pizzas.

— O que é isso? — bradei ofegante.

Hector deslizou rapidamente a porta da van, que estava repleta de caixas de pizzas por onde deveriam haver bancos.

— Quando Gabriela ligou-me apontando a emergência, a única coisa que eu tinha era essa van e o cano de escape da minha moto. — ele suspirou — isso vai me dar um prejuízo…

Gabriela nos empurrou para dentro da van. Kat dirigindo, eu ao seu lado, Gabriela na janela e Hecto na parte de trás, enfiando a cabeça entre Gabriela e eu, o que me deixou um pouco constrangida.

— Acelera, Kat! — ele gritou — Não temos muito tempo.

***

Quando já estávamos, aparentemente, distante do local onde eu havia estado, pude sentir toda a tensão se esvaindo. O silêncio fornecia uma sensação de calma. Passávamos por uma estrada asfaltada de mão dupla, cercada por mata fechada. Poucos carros transitavam por ali e o céu estava nublado. Olhei para Gabriela, que enrolava a borda de sua blusa florida manchada de sangue e suor. Ela parecia realmente triste e decepcionada. Pude ver quando uma lágrima rolou de seus olhos, ela tentou disfarçar.

— Sinto muito, Gabi… — disse calmamente — até eu pensei que Dean havia se tornado alguém melhor, mas pelo visto…

Ela suspirou.

— Está tudo bem… Mamãe costumava dizer que quando alguém prova do mal, é como se tudo ao seu redor provasse também. É difícil assumir uma postura benevolente quando o meio em você vive não ajuda.

Eu assenti.

O homem é produto do meio… — sorri forçadamente — isso vai muito além da verdade.

Ela me forneceu um sorriso triste.

— Então — comecei — eu adoraria saber como conseguiram descobrir que eu estava nesse fim de mundo… ah… que lugar é esse, afinal?

— Renfin — Hector disse em meio a um bocejo — não é muito longe de Crouzi… apenas duas horas.

— Oh, sim — retruquei — Eu sei que lugar é… sei mais ou menos...

— Eu havia chegado em casa — Gabriela começou, surpreendendo-me — chamando por Dean. Estava até feliz... tinha comprado uma pizza para jantarmos. Procurei-o por todo o apartamento e ele simplesmente não estava lá. Fui até seu quarto, procurando algum vestígio… Só para eu ter uma noção de onde ele estava, porque ele não atendia o celular. Então foi aí que eu encontrei…. — ela forçou a garganta par não chorar — o seu celular, Clarissa, que você havia abandonado naquele beco…

— Gabi… — disse — tudo bem… está tudo bem agora. Dean me contou… Me explicou várias coisas… Ele não me machucou nem iria me machucar..

— Então o quê? — Kat bradou.

Eu hesitei e encolhi os ombros, mudando de assunto.

— O fato é… — como souberam que eu estava aqui?

Gabriela suspirou.

— Eu fingi que não sabia de nada, que não havia encontrado seu celular e, quando Dean voltou para casa, no outro dia, contando uma história esquisita de que iria passar alguns dias na casa da namorada misteriosa, porque ela estava doente, eu disse que não tinha problema. Ele jantou e foi fazer as malas. Imediatamente eu liguei para Hecto, para que ele se aprontasse, eu estava decidida a segui-lo.

— Do mesmo modo ela avisou-me. — Kat disse, enquanto desviava de uma vaca — e é claro que eu não poderia negar um convite para uma aventura sanguinária.

— Eu estava trabalhando quando Gabi me chamou — Hecto bradou — apenas tive tempo de, com esta belezinha aqui — ele passou a mão na lataria da van — ir em casa e arrancar o cano de escape da minha moto…. Eu... não tenho armas.

— Falando em armas — Kat silvou, retirando o revolver que ela havia roubado de Dean — deem um jeito nisso.

Ela jogou para Hecto, que abriu uma das janelas da van e o lançou contra o asfalto. A arma era agora uma aglomerado de peças desencaixadas.

Eu respirei fundo, fazia tempo que não tomava banho e pude perceber que não cheirava muito bem.

— E Jason… — comecei — ele não…

Kat olhou-me confusa

— O que o Chamberlain tem a ver com isso?

Eu hesitei.

— Ah... É. Nada, mas… Vocês não o viram por esse dias?

Gabriela fitou-me.

— Eu o vi andando pela rua principal, como ele faz todo dia, com aquelas roupas de gente má. Apenas.

Eu assenti. Kat bateu em meu braço.

— Vocês estão… é…

— Não! — bradei — você não está louca de pensar tal coisa… E não vamos mais falar sobre aquele cretino — eu comprimi uma tentativa de choro — nunca mais…

— Gente… Hecto começou, ajeitando o óculos — Eu realmente não queria quebrar o clima de desabafos e tudo mais… Mas acho melhor nós acelerarmos um pouco.

Olhei para trás, assim como Gabriela e Kat pelo retrovisor. Dean e Mercênia nos seguiam em um carro branco que não consegui identificar.

— Oh, merda! — Kat gritou, enquanto pisava no acelerador, aparentemente, sentindo-se como uma piloto de formula 1.

Passávamos por uma área completamente movimentada agora, saindo da mata fechada e pegando inúmeras avenidas. Podíamos ver o carro de Dean cada vez mais perto, o que fez meu coração acelerar. Eu fechei os olhos quando Kat cruzou por dois caminhões, Gabriela soltou um grito. Kat virou para a esquerda, acertando o estacionamento de um supermercado. Dean estava logo atras, podia ver o sorriso malicioso de Mercênia, que fora cortado pelo fato de Dean ser um péssimo motorista. Ele bateu fortemente em um carro parado no trânsito, causando um engavetamento de quatro carros. Ele tentou sair pela direita, mas foi cercado por mais carros, onde os motoristas desciam indignados gritando nomes horrorosos com Dean, em meio à fumaça e buzinas.

Eu sorri aliviada, enquanto Kat e Hecto gritavam como loucos. Apenas Gabriela parecia infeliz, eu não podia culpa-lá.

***

Havíamos chegado no estacionamento do Tude no início da tarde. Eu estava completamente exausta e coberta de sangue e hematomas. Meus pulsos e calcanhares cobertos de manchas arroxeadas, devido ao aperto das cordas. Kat oferecia-me tanto mimo que eu estava começando a me chatear.

— Não precisa passar a noite comigo, Kat. Eu estou bem. Quero apenas tomar um banho, comer algo descente e dormir.

Ela assentiu relutantemente.

— Tudo bem, mas, por favor, ligue se precisar de qualquer coisa.

— Está certo.

Eu me despedi deles e segui para a recepção, olhei perifericamente e pude ver Hecto abraçando Gabriela, seu cabelo cacheado misturando-se com o liso dela. O castanho entrando em contaste com o dourado. Ele era um cara tão legal, e era bem bonito também… Eles eram uma bela oposição junta.

Tirei a vista e segui pela recepção, Frederich dormia sobre o balcão, como sempre. Desta vez não o acordei, não estava nem um pouco afim de conversar besteiras. E ele iria encher-me de perguntas quando visse a minha situação. Virei-me em direção ao elevador e congelei instantaneamente. Pude sentiu meu maxilar ceder um pouco.

— Clarissa…

Jason olhou-me assustado, passando a vista para cada ponto de minhas vestimentas, examinando meus machucados e o sangue que ensopava minhas roupas. Ódio subiu por minha garganta.

— O que aconteceu...? — ele continuou — você...

Eu avancei em Jason com todas as forças que ainda tinha, o estapeando em toda parte, deixando o choro sair enquanto ele implorava para que eu parasse, xingando-me. Eu o estapeei nos ombros e cabeça, o levando para o chão e subindo em cima dele, esmurrando seu rosto.

— Clarissa.. — ele gritou — pare, sua maluca, PARE!

Jason segurou-me por ambos os braços. Minhas pernas o prendiam na cintura, minhas lagrimas caindo em sua camisa preta, enquanto tentava me soltar, mas ele era mais forte.

— Assassino! — gritei em meio aos choros.

Ele enrijeceu.

— O quê?

— Eu sei de tudo — silvei, sorrindo miseravelmente — sei tudo o que fez e o que é — ele parecia atônito — seu maldito!

— Clarissa… Olhe..

— Dean — grunhi — Ele contou-me tudo...

Jason soltou-me, deslizando de mim, levantando lentamente, com uma mão estendida. Ele estava certamente nervoso, podia ver o temor correndo por suas veias…

— Certo — ele disse devagar — agora nós realmente temos que conversar.


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Notas finais do capítulo

Postarei sábado ou domingo. (: