Mixed Emotions escrita por Heike J Wade


Capítulo 3
Sede




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    Na verdade Ichigo nem escutou mais nada após Inoue começar a dizer "Kuchiki". Gente, era mesmo ela. De longe não percebia detalhes, mas provavelmente a amiga de infância estava bem mais bonita. Mais, pois via fotos deles mesmos quando crianças às vezes - e inclusive tinha um porta-retrato que ganhou da mesma e que ficava sempre exposto - e a achava a criança mais linda do mundo. Em algumas imagens, eles estavam sujos, ou molhados, ou cheios de doce pela cara. Mas eram sempre sorridentes e aqueles olhos azuis da amiga estavam sempre acesos de alegria. Enquanto pensava em todas aquelas lembranças de modo alegre, tentando conter os pensamentos tristes sobre o que fora sua infância, acabou com seu prato e olhou para o lado para ver se Rukia ainda estava lá. Estava no caixa, pagando. E ele correu. Discretamente, mas correu. Como não correria?! Estava prestes a recuperar Rukia em sua vida... ou não. E se ela tivesse algum namorado ciumento? Ou... simplesmente o odiasse por ter sumido sem dizer nada?! Não conteve os pensamentos assim como não conteve estar perto dela e chamá-la.

    – Rukia? - ela tomou um susto, como sempre tomava quando eram menores. A brincadeira de dar sustos nem fazia tanta graça, pois nem precisava se esforçar tanto.
    – Oi? Ah... Ichi..go? - ele riu. Inoue observava de longe e era radiante. Kurosaki havia sorrido para alguém! Raro de verdade. - Você.... cresceu. - Justamente por isso ele ria. Como ela olhava para cima para ter que conversar com ele!

    – Eu mesmo... você voltou para Karakura? - Ichigo se viu extremamente ansioso enquanto ela pagava sua comanda. Entregou a sua para a atendente depois dela, furando a fila, apenas pedindo para anotar. Ia lá sempre, por causa da ex.

    – Sim eu.. vim fazer faculdade aqui. - Ela estava assustada. Como ele estava grande! E lindo. Nem se comparava com o bebê chorão que ela enchia de surras quando era criança. Afastou as ideias dele ter se tornado nerd quando percebeu os músculos do ruivo. Os nerds que ela conhecia não eram como ele! - Você ainda mora aqui?!

    – Sim, também estou indo para a faculdade. Mas voltei para Karakura há 4 anos.
    – Oh, onde você estava?! E como está sua família? - Ela se arrependeu um pouco ao notar uma pequena mudança nas feições do velho amigo. - vamos para minha nova casa, aqui perto. Assim podemos conversar melhor!

    – Eh, certo... - ele botou as mãos no bolso e pôs-se a andar. Ela estava mesmo muito bonita; pensou em como seria difícil manter uma amizade inocente com uma mulher daquelas ao lado.

    Andaram em silêncio. Descobriram o que fariam na faculdade, mas fora apenas isso. Durante os 5 minutos de caminhada, pensaram; pensaram muito. Rukia entrou no seu apartamento e deu passagem para que ele o fizesse. Ichigo admirou o local, pensando em como combinava com ela. Uma sala que era acoplada à cozinha, um pequeno corredor de onde via as portas do banheiro e de um quarto. Ao entrar, logo viu na parede uma foto dos dois de quando eram crianças, talvez uns 4 ou 5 anos de idade, e dormiam juntos num colchão, na sala da casa da morena. Pensou no que teria acontecido se eles não tivessem se afastado tanto. Provavelmente dormir juntos não era uma opção.

    – Senta aí, quer alguma coisa? - Ela estava mais tranquila. Não sabia ainda como agir direito mas... estava indo bem.
    – Tem Soda?
    – Ainda é viciado naquilo?
    – Um pouco. Tem?
    – Por incrível que pareça, sim! - ela deu um sorriso e ele correspondeu, satisfeito. - Comprei quando cheguei na cidade. Karakura me lembrou você e... comprei um pouco.
    – Soa meio fúnebre. - Ele recebeu o copo e sorveu o líquido com vontade. Soda nunca era demais! Largou o copo em cima da mesinha em frente ao sofá, e ela fez o mesmo.

    Rukia o surpreendeu - e a si mesma - quando não conteve o impulso de abraçá-lo. Com certeza ele tinha crescido, pensou. Antes, conseguia juntar as mãos atrás das costas do amigo com facilidade, agora os braços fortes a impediam um pouco de realizar a tarefa.

    – Estive com saudades... você.. você sumiu! - Ela afundava a cabeça no peito do ruivo, que passou a mão pela cabeça dela, assim como quando ela disse que iria se mudar. Mas ela não chorava.. não estava nervosa... estava feliz. Ele sabia disso.

    – Rukia, preciso te contar o que aconteceu... - ele mal esperou ela assentir e olhar para ele - logo depois que nos falamos, meus pais morreram num acidente. - viu a cara de Rukia se contorcer em surpresa e pavor. - Minhas irmãs ficaram bem, mas nós fomos morar com um tio, nos EUA. Elas ainda estão por lá, mas eu voltei aqui no primeiro ano do Ensino Médio. Não consegui te avisar, ou falar com você... mas talvez alguém tenha avisado ao seu pai.

    – Agora entendo! Meus pais disseram que você se mudou com sua família, mas que ainda não tinham mandado um contato. Eles pareciam tristes mas... como fui tola! Não percebi... me desculpe.
    – Não, não tem o que se desculpar! Aliás, eu que te devo desculpas, uma vez que ao invés de te procurar em algum lugar eu fiquei jogando Dota o tempo todo.
    – Jogando... o que?
    – O jogo das fadinhas. - ele revirou os olhos ao falar disso. Com certeza ela reconheceria o jogo assim até hoje.
    – Ah! Eh.. como pensei. - Rukia viu a dúvida se formar na face de Ichigo, mas ele não perguntou.
    – É uma bela foto que você tem ali. - Ichigo apontou para a tal foto que viu quando chegou.
    – É uma das melhores que eu tenho. Gostaria de ver as suas um dia.
    – Claro... acho que...
    – Hm? - perguntou ao vê-lo parar.
    – Hoje em dia já não é tão trivial se nós dormíssemos juntos, não é!
    Ah, ela riu. Internamente, é claro. Por fora apenas ficou surpresa. Mas riu como nunca rira por dentro. O que era aquilo?! Apenas uma lembrança, um lamentamento de quem estava se sentindo velho ou apenas uma cantada?

    – Acho que não entendi.
    – Entendeu sim, ué. Disse que não é tão trivial se nós dormíssemos juntos!
    – Certo... é, definitivamente não é trivial. Saudades da infância?
    – Talvez. - a resposta só deixou a pequena mais confusa. Eles já tinham 18 anos , não é? Assim, ela tinha, já que era alguns meses mais velha - apesar de não parecer nada - que o morango. Lembrou-se de quando o irritava chamando de moranguinho.
    – Qual é, Moranguinho. Pode dizer que está com saudades de ficar grudado em mim. - ela disse sorrindo sapecamente.
    – Estava! Mas é engraçado. Tudo é bem diferente agora.
    – Ah.. é, mas pra mim você é o mesmo idiota de sempre. - Ela ainda sorria. Ambos não mudaram tanto assim nesses 10 anos.
    – Ts, você continua irritante. Mas está diferente. Você era muito fofinha.
    – Ainda sou. - ela disse com estranha naturalidade.
    – Não é não! Você está sexy agora. - Por todos esses anos, enquanto não jogava Dota, Ichigo com certeza aprendera a usar a beleza que foi adquirindo aos poucos. Não ficaria constrangido por pior que fosse a reação dela; estava mesmo disposto a tentar.
    – O-o-o q-que? - Ele não ficaria constrangido, mas ela com certeza. - Para de viajar, Ichigo!
    – Não disse nenhuma mentir.. espera ai. Você não é bv até hoje, é?
    – C-claro que n-não! Por que temos que falar disso ag-gora?
    – Então é virgem? Nós somos amigos, Rukia. Pode ser sincera. - ele sorria como não sorrira desde a infância. Ela talvez soubesse disso.
    – Não. Ainda não estou entendendo onde você quer chegar, Ichigo... - Nervosa, ela se lembrou do copo de Soda - que estava com bem menos líquido do que ela se lembrava - em cima da mesa, e tomou uma boa golada. Lembrou-se... - Você não tomou a minha Soda não, né?

    – Como eu poderia mentir para você... - ele riu sem graça. - Mas não mude de assunto.
    – Você já sabe o que queria saber... - Ichigo levantou uma sombracelha. - Moranguinho. - Abaixou ao ouvir a sentença final. Ah, vadia!
    – Espero que não fique me chamando de Moranguinho pela rua, Rukia! - viu a moça levantar pegando os dois copos, provavelmente para enchê-los novamente.
    – Quer apostar? - ela disse já pegando a garrafa na geladeira e enchendo os copos. Viu o amigo se levantando e, após andar até ela, ficou parado. Ele estava olhando para a bunda dela , que estava agachada para guardar o recipiente do ~líquido dos deuses~ na geladeira; ela não percebeu.
Ao levantar e fechar a geladeira, deu um pequeno pulinho ao ver que Ichigo estava bem próximo de si, mais do que pensava. Lembrou-se do quanto gostava dele anos antes, ou melhor.. de como gostava dele. E, mesmo na inocência de seus 7, 8 anos, já pensava em.. beijá-lo. E, definitivamente, ela não teve mais tempo de pensar sobre isso; não teve tempo sequer de perceber que a distância entre ela e seu amigo de infância diminuiu. Diminuiu, e diminuiu tão rápido que nenhum dos dois se controlou ao sentir o toque da boca do outro na sua. Rukia foi pressionada em direção à pia - onde infelizmente estavam os copos de Soda - e escutou, entre os beijos do ruivo, um estalar de línguas pelo líquido que caiu! Pra ele não parar tudo e reclamar do refrigerante... mas, os beijos cessaram; ninguém beija pra sempre, ela pensou. Ichigo sorria.
    – Desculpa, Rukia.. eu... os hormônios, você sabe. Ai! - Ele recebeu um soco no estômago. Não se lembrava dessa força toda..
    – Você fala como se estivesse me forçando ou se eu não quisesse, idiota!
    – Posso considerar que você me quer, então?
    – Hm.. pode. - Ichigo roubou alguns selinhos enquanto ambos riam da própria situação.
    – Então pare de desperdiçar Soda, ou eu não vou ficar com você. Não posso ficar com alguém que desperd... Ai Rukia! - Outro soco, obviamente.
    – Cala a boca! - Rukia observava Ichigo pegar o copo de refrigerante que ainda estava inteiro e parar na porta do próprio quarto.
    – Vem fazer.


    Como quando eram crianças, Ichigo sempre falava alguma coisa que Rukia o repreendia. Mandava o garoto calar a boca, e ele sempre respondia com a maior tirada que escutara na escola: "Vem fazer". Algumas coisas nunca mudam, ponderaram ambos.

    Mas dessa vez, ela foi.


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Notas finais do capítulo

that's it!



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