Acordei no meio da noite estranhando, por Joseph não ter chorado, olhei em volta e não vi Rachel. Me sentei, olhei para o berço e estranhei mais ainda. Caminhei até a porta e ouvi a voz da Rachel vindo do andar de baixo.

- Não podemos nos falar agora.

Me aproximei das escadas, me sentei nos degraus e vi Rachel sentada no sofá, com Joseph em um de seus braços e o celular no ouvido.

- Quinn, você viu o que aconteceu? Precisamos parar de nos encontrar.

Estranhei, quem era essa tal Quinn e, se eu era casada com Rachel, por que ela se encontrava com essa mulher? Vi Rachel desligar o celular, me levantei e corri para o quarto, me deitei na cama e, segundos depois, Rachel entrou com Joseph. Esperei ela se deitar, me virei de frente para ela e a abracei, recebendo um suspiro como resposta.

- Rachel. – sussurrei.

- Sim?

- Obrigada.

- Pelo que?

- Por estar comigo.

- Ah... Santana, eu...

- Se você não estivesse aqui, eu estaria perdida e ainda confusa.

Acariciei rapidamente seu rosto e voltei e a abraça-la. Eu não olhava para o seu rosto, mas ouvia sua respiração, estava diferente.

***

Acordei com o choro de Joseph, me levantei sonolenta, o peguei em meus braços e me sentei na beirada da cama. Depois de alimentá-lo o coloquei novamente no berço, olhei para Rachel que dormia tranquilamente e sai do quarto. Enquanto eu comia cereal, Sarah entrou na cozinha e sorriu.

- Você só come cereal, incrível!

- Cereal é bom...

- Pra começar o dia. – ela completou, olhei confusa e ela sorriu novamente. – Você já me disse isso.

Ela se sentou ao meu lado, pegou uma colherada do meu cereal e pegou uma maçã na fruteira em cima do balcão.

- Alguém tem que me levar para casa hoje. – ela disse.

- Por que você não vai sozinha?

- Não gosto de ir andando, é longe!

- Pegue um ônibus.

- Como se faz isso?

Revirei meus olhos, coloquei a tigela dentro da pia e lhe dei um leve tapa no braço.

- Lave isso e te levo para casa de carro.

- A casa é sua, você que...

- Você quer uma carona, certo?

- Mas isso não é justo! Você nunca me mandou fazer nada e...

- Escuta aqui, garota! – gritei apontando para ela. – Você reclama demais e isso me irrita! Se você quer uma estúpida carona, lave isso e leve o lixo para fora!

Percebi o medo em seus olhos, acho que ela ia chorar, revirei meus olhos, me virei e sai da cozinha. Entrei no quarto, ainda estava nervosa, Rachel estava sentada na cama, olhou para mim um pouco curiosa.

- Você estava gritando com a Sarah?

- Ela me irritou. – respondi seca.

- Mas você nunca gritou com a Sarah.

- Essa garota é muito mimada, tem que aprender a viver a vida, sem depender dos outros.

- Santana...

Sai do quarto e entrei no banheiro, respirei fundo, lavei meu rosto e me senti arrependida. Entrei na cozinha e vi Sarah chorando, logo uma imagem de uma menina um pouco parecida com Sarah, sentada no chão de uma calçada chorando, veio em minha mente. Minha respiração pesou, meus olhos se encheram de lágrimas, tentei me aproximar dela.

- S-sarah...

- Não fale comigo! – ela disse, tampando seu rosto.

- Me desculpe... eu não gosto de te ver chorando. Eu...

- Você gritou comigo, Santana. – agora ela olhava para mim.

A imagem daquela menina veio à minha mente novamente, eu a abracei e comecei a chorar.

- Me desculpe, Sarah. Eu não gostei de ter gritado com você. – acariciei seus cabelos lentamente. – Você é e sempre vai ser minha menininha forte, por isso não chore mais.

- Sant?

Me afastei lentamente dela, Sarah estava um pouco surpresa e um pouco confusa.

- Uma imagem veio em minha mente quando te vi chorar. Acho que era você, mas um pouco menor. Eu...

- Você se lembrou de mim quando criança? – seus olhos começaram a brilhar.

- Acho que sim, não sei.

Sarah abriu um sorriso, saiu da cozinha correndo, me deixando confusa, depois entrou com uma foto na mão.

- Me diz, a menina é essa?

Olhei para a foto, era igual, menos na roupa e no penteado.

- É essa, sim.

- Santana! Você se lembrou de algo!

Ela me abraçou, saiu correndo da cozinha e eu olhei para a foto novamente.

- Rachel! – ouvi ela gritar.

Sai da cozinha, as duas apareceram na escada, Sarah tinha um grande sorriso e Rachel, ainda não conseguia distinguir sua expressão.

- Então... conseguiu se lembrar de Sarah quando criança? – Rachel perguntou.

- Sim.

- Isso quer dizer que você vai conseguir se lembrar de tudo! – Sarah disse.

- Não tenha tanta esperança, Sarah. Talvez eu demore para me lembrar.

- Não importa! Você vai se lembrar de tudo.

Sarah correu para o quarto, Rachel ficou me encarando, queria saber o que se passava em sua mente.

- Bem, eu estou saindo. Você leva Sarah para casa? – ela perguntou, enquanto descia as escadas.

- Levo sim, mas...

- É só pedir para ela te explicar como chegar lá.

- Esta bem.

Ela saiu, vi Sarah sair do meu quarto com Joseph nos braços e desceu as escadas.

- Olhe Joe, quem se lembrou de mim.

- Não faça caso, Sarah.

- Não estou fazendo.

Nos sentamos no sofá, liguei a televisão e olhei para Sarah, ela brincava com Joseph, sorri com aquela cena, olhei para a televisão e vi um anúncio falando sobre a peça em que Rachel estava.