Reencontro Perfeito escrita por Quel Machado


Capítulo 2
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo




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Quarto de Malu (noite)

Malu está no seu quarto pensativa. Ela tenta ler um livro, mas não consegue se concentrar com tudo que aconteceu nas últimas horas. Parece coisa de filme que atentaram contra a vida de Giane e que a sua irmã adotiva foi acusada e presa. Na verdade, ela tentava ler só pra fazer charme e disfarçar. Malu estava mesmo interessada era em saber o que acontecia dois quartos à direita do seu. De repente, Bento bate duas vezes na sua porta e entra sem fazer cerimônias.

Bento: O André e a Mayara já estão dormindo. Apesar de muito abalados com tudo que aconteceu, acho que o cansaço acabou vencendo e eles desmaiaram de sono no quarto de hóspedes.

Ela abaixa o livro e coloca as mãos no colo.

Malu: Que bom que eles estão bem. Essas crianças passaram por tantas coisas nas últimas semanas, eu espero que eles não fiquem traumatizados.

Bento: Obrigado por deixar eles ficarem aqui por um tempo. Acho que depois do que aconteceu com a Giane e a insistência da Amora de que esta sendo incriminada, a Casa Verde não é o lugar mais seguro pra eles nesse momento. A sua ajuda está sendo preciosa. - diz ele sorrindo genuinamente.

Malu: Sabe que eu, pela primeira vez, acredito na Amora? Parece que realmente alguma coisa mudou dentro dela depois que a Simone morreu. E eu acho que ela ama essas crianças de verdade; não acredito que ela se arriscaria ser presa agora que tem dois sobrinhos pra criar. A Amora nunca foi burra…

Bento: É, eu também acho que essa história está muito mal-contada. Eu vou a fundo nisso pra descobrir a verdade e ajudar a Amora a se livrar da cadeia. Ela é a única família que essas crianças têm no mundo agora.

Malu abaixa os olhos e sorri nervosamente.

Bento: Você ainda gosta muito dela, né?! Na verdade, acho você sempre amou a Amora. Tá na cara que vocês vão voltar quando ela for inocentada e sair da prisão.

Desta vez é Bento que olha para o chão.

Bento: A Amora sempre vai ser importante pra mim mesmo. Eu conheço ela desde criança e me apeguei muito ao André a Mayara… Mas amor? Eu não sinto mais por ela não… Na verdade eu acho que essa parte de mim está meio dormente, sabe? Quem sabe algum dia eu volte a sentir por ela algo diferente de compaixão ou pena.

Malu: Eu entendo, mas… - ele a interrompe.

Bento: E o nosso casamento não tem volta. Nos magoamos muito, e esse relacionamento só colocou o pior de nós dois pra fora. A gente não tem nada em comum e nunca seríamos felizes juntos. Não tem porque forçar, não é?

Malu: Mas eu tenho certeza que a Mayara e o André gostariam de que você estivesse com a Amora, certo? Pra terem uma família com pai, mãe… Toda criança sonha com isso.

Bento abre um sorriso e se senta na cama ao lado de Malu.

Bento: Acho que você poderia da um pouco mais de crédito a eles. Os dois são muito espertos. Sabe o que o André me perguntou hoje antes de dormir? - disse pegando na mão de Malu.

Malu: O que?

Bento: “Quando é que você vai namorar com a Tia Malu?” - diz dando uma gargalhada gostosa.

Ela fica envergonhada e solta a mão de Bento.

Malu: Criança fala cada coisa, né?!

Bento: Pois eu acho que ele tem toda a razão! Eu também estou morrendo pra saber. - diz jogando charme.

Malu: Bento… Você sabe muito bem que eu ainda estou sofrendo por causa do meu término com o Maurício. Eu estou muito confusa. Ele tem razão, eu não estou 100% com ele, mas isso também quer dizer que eu não posso dar 100% pra você…

Bento se levanta irritado.

Bento: Você quer saber o que eu acho de verdade dessa história? - Malu faz que sim - O Maurício é um cara muito legal e digno, mas na minha opinião ele está sendo um covarde.

Malu: Bento!

Bento: Deixa eu terminar, Malu. Nenhum homem apaixonado desistiria de lutar pela mulher que ama como ele fez. E ainda por cima está sendo injusto com você. Você não tem culpa de estar confusa porque o cara com quem você namorava virou o seu irmão, pra depois você descobrir que tudo não passou de uma grande mentira. O Maurício deveria ter ficado do seu lado, te apoiando... e não te mandar resolver os seus sentimentos.

Malu se exaspera.

Malu: Não é isso, Bento! O Maurício tem medo de me perder, ele está se protegendo… Eu entendo ele, e preciso mesmo resolver os meus sentimentos.

Ele se aproxima e coloca a mão no rosto de Malu.

Bento: Você não deveria ter que dar prova de amor pra ninguém, Malu. Você é uma mulher tão especial, mas tão especial… que qualquer homem em sã consciência é que deveriam ter que correr atrás de você. - Ele a olha nos olhos bem fundo. - Se eu tivesse a sorte de ter de novo, jamais te deixaria escapar! 80%, 50%, 10%... eu ficaria feliz com qualquer coisa que você pudesse dar… Porque você vale a pena, Malu! Se você tivesse lido o meu bilhete, saberia que eu estou dizendo a verdade.

Malu se emociona, mas desvia o olhar. Bento se entristece e se levanta novamente.

Bento: Eu vou pra casa. Obrigado mais uma vez pela ajuda com as crianças, eu volto amanhã para vê-las. Dorme bem.

Bento sai pela porta e Malu corre para a estante de livros. Ela pega um volume grosso e abre bem no meio, revelando um papel muito bem dobrado. Finalmente ela criou coragem para saber o conteúdo do bilhete.

***

Malu,

Uma das questões mais dolorosas que assola o ser humano está relacionado ao fato de que às vezes só é possível mensurar o valor daquilo que se tem, quando se perde. A possibilidade de te perder pra sempre me fez ver claramente a mulher incrível que você é. Sem dúvida alguma, você é a pessoa mais linda por dentro e por fora que eu já conheci.

Você é tudo que eu sempre sonhei pra mim. A menina doce, meiga e linda que eu tinha pensado ter encontrado em outra pessoa… O meu sonho de mulher se materializou em você e isso pra mim é tão claro agora!

Minha companheira, minha cúmplice, minha melhor amiga! Você trouxe tanta felicidade e luz para a minha vida que eu sinto que sou um homem melhor quando estou com você. Minha alma-gêmea! Eu sei que você vai me completar de qualquer forma, mesmo que não seja daquela que eu mais desejo. Minha cara-metade! Você me presenteia todas as vezes com o seu sorriso lindo...

Dizem que a ignorância é uma bênção. E talvez fosse mais saudável pra mim se eu jamais tivesse sabido como seria te amar, se nós estávamos mesmo destinados a nunca estar juntos. Mas eu me sinto abençoado pela oportunidade de tido esse rápido vislumbre do que é um relacionamento perfeito. Acho que eu vou buscar pra mim uma sombra do que tivemos nos meus próximos relacionamentos, mesmo que ache que vai ser difícil chegar a algo próximo…

Mas eu vou ficar bem. Eu vou ser feliz. E eu vou guardar pra sempre comigo esse registro, nesse pedaço de papel e bem fundo na minha alma. E tentar viver a minha vida com essa lembrança, porque eu sei que eu nunca vou te esquecer.

Bento

***

Bento está sentado na sua cama encostado na cabeceira. Ele olha as rachaduras no teto distraído. Com semblante sereno, ele se lembra da conversar que teve há algumas horas com a ex-irmã. Ele pega o porta-retratos com a foto dos dois que estava na mesinha de cabeceira. Lembra do quanto estava feliz quando tirou a foto e sorri. Ele ouve batidas na sua porta, coloca o objeto de volta da mesinha e se levanta para atender às batidas. Bento abre a porta e vê Malu ofegante e com os olhos marejados.

Malu: Eu li o seu bilhete. Aquilo tudo ainda é verdade?

Ele sorri.

Bento: Se não me falha a memória… Cada palavrinha!

Malu se joga nos braços de Bento e eles se beijam apaixonados. Um beijo cheio de carinho, de amor, de desejo reprimido. Bento vai caminhando para trás, tentando conduzir Malu para longe da porta. Quando bate na mesinha da sala ele solta um grunhido e os dois riem… Ele a pega no colo e carrega até a cama. Bento a deita e pára por um instante para admirá-la. Esse momento tão esperado, tão adiado, viria finalmente a se concretizar. Malu estende os braços e o puxa suavemente pelo pescoço, sempre o olhando nos olhos, com aquele sorriso nos lábios de que ele tanto gosta. E ali mesmo eles começam a expressar fisicamente o que há muito já conheciam apenas pelas suas emoções.

E o porta-retratos, na mesinha da cabeceira, é testemunha da noite de amor e paixão. Junto com os móveis da casa, com as estrelas que se pode ver pela janela, com as plantas lá fora na estufa. Um noite se sonhos realizados e desejos atendidos. Uma noite sem poesia, mas com muita prosa; prosa que vai contar a história que ali se inicia. Porque se a poesia é a linguagem das idealizações e dos amores impossíveis, essa prosa serve pra contar a história de um amor que surgiu de coisas muito reais, como a amizade e a admiração, e vai continuar a se fortalecer continuamente de um relacionamento que é perfeito. Somente para esses dois.


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