Pov. Helena

   Lisbeth tombou e se debateu. Sua cabeça batia violentamente no chão enquanto eu e os outros presentes corríamos para acudi-la. Me joguei ao seu lado no momento em que ela mordeu a própria língua e o sangue escorreu entre seus lábios. Segurei a cabeça dela para evitar que batesse novamente. Agora o sangue vertia abundante de sua boca.

— O quê que tá acontecendo com ela? - perguntou Ashley.

— Veneno - disse Nicholas se ajoelhando ao lado da minha amiga e levantando um pouco da blusa para olhar o ferimento feito pela lança da Sra. Derwin. Estávamos todos ao redor de Liss, até mesmo eu estava me sentindo claustrofóbica.

— Se afastem, ela precisa respirar - eu disse, Lion, Manny e Ashley deram um passo para trás, Nicholas e Jaime estavam cada um de um dos lados de Lisbeth que ainda se debatia - O que vocês podem fazer pra ajudar? - perguntei em desespero enquanto o sangue da minha amiga escorria e pingava em minhas roupas.

— Então Nick, alguma chance de tirar o veneno? - Jaime olhou para o irmão que ainda analisava a ferida de Liss.

— Nenhuma, o corte foi muito grande e o veneno já se espalhou - Nick não tirava os olhos do ferimento, olhando, abrindo, ele sujou os dedos de sangue e cheirou. Depois botou um pouco na ponta da língua e cuspiu para o lado em seguida.

— Quanto tempo? - Jaime perguntou, todos observavam aflitos.

   Nicholas suspirou forte.

— Três minutos e meio até o veneno chegar no coração e ela enfartar - Nick respondeu e eu ofeguei, mas ainda tinha mais - E dois minutos e meio até chegar no cérebro e ela ter um derrame - antes que eu tivesse tempo de surtar, Lucan entrou na quadra.

— Gente, o Argos tá aí fora, se formos rápidos... - e nesse momento ele viu a própria irmã se debatendo no chão - O QUE PORRA ACONTECEU AQUI? - ele gritou e eu me encolhi, lágrimas lavaram meu rosto e Lucan foi tomado pelo desespero - O QUE TÁ ACONTECENDO, POR QUE MINHA IRMÃ TÁ SE DEBATENDO? - ele gritou e se aproximou dela, esticando a mão para tocá-la, mas se encolhendo quando ela se debateu mais forte.

— Você não tem que se preocupar enquanto ela estiver se debatendo e sim quando ela parar - as palavras de Nick foram agourentas, como se a morte dela fosse certa, apenas uma questão de tempo, dois minutos para ser exata.

— E o que vamos fazer? - Lucan perguntou, os olhos enchendo de lágrimas, eu nunca vira Lucan chorar antes. Nunca - Vocês tem néctar ou ambrosia aí?

   Nicholas fez que não com a cabeça.

— Mesmo se tivéssemos não iria funcionar, ela foi envenenada. E em um minuto e meio ela irá ter um derrame.

   As mãos de Lucan começaram a tremer. Jaime começou a procurar algo nos bolsos.

— O que vocês irão fazer a respeito? Minha irmã está morrendo!

— Não há nada que possamos fazer além de... - Nicholas estava para terminar a frase quando Jaime injetou uma seringa no pescoço de Liss - Jaime o que você tá fazendo? Isso não é um veneno comum, não é qualquer antídoto que vai funcionar.

   Lisbeth parou de se debater e engasgou com o próprio sangue, Lucan estava prestes a gritar quando Jaime disse:

— Calma Lucan - ele pôs a mão no ombro de Lucan - E Nick, isso não é um antídoto, eu tive uma ideia, levantem ela - Ele ficou de pé e Lucan tirou Lisbeth do meu colo pondo-a nos braços - Lucan, me fala que o Percy tá lá fora com o Argos.

   Lucan fez que sim com a cabeça, sozinho ele já levava Liss para a saída, Lion me ajudou a levantar, ele parecia estar num estado de semi choque, apertei a mão dele forte e começamos a seguir os outros.

— Que merda que você tá fazendo Jaime? - perguntou Nick, ríspido.

— A merda que você não pensou em fazer, dando uma chance para a garota - ele nem se dignou a olhar para Nicholas enquanto falava, mantendo o olhar fixo em Lisbeth e Lucan - Eu dei a ela uma porção manipulada e extra forte de noradrenalina - o queixo do seu irmão caiu - É isso mesmo Nick, agora você entendeu, não é?

— Mas mesmo que o coração dela esteja batendo mais devagar, isso só atrasará o veneno, dando mais cinco, no máximo sete minutos de vida a ela.

   Jaime ainda olhava para Liss enquanto andava num passo entre andar e correr, assim como Lucan. Passávamos pelos corredores milagrosamente vazios pelo horário de aula, não que eu fosse me importar com a reação das pessoas, apenas me preocuparia por tornar nosso deslocamento mais lento.

— Cinco minutos é o suficiente para chegar até o Percy, que por acaso manipula a água - Jaime tirou uma mecha de cabelo do rosto de Lisbeth que, se não fosse pelo sangue que saia da boca e escorria pelo pescoço, pareceria estar apenas dormindo - E talvez, só talvez - ele olhou o irmão nos olhos - ele possa manipular o veneno também.

   Nicholas parou no lugar, perplexo com o raciocínio rápido do irmão. Avistamos a porta, Jaime ia na frente, abriu para permitir que Lucan e Lisbeth passassem sem maiores problemas. Fomos todos atrás, Manny, ainda sem os sapatos, eu, que estava de mãos dadas com Lion e Nick mais atrás, que dispensava a namorada com um gesto de mão, quando ela tentou perguntar se ele estava bem.

   Uma vã branca de entregas estava parada em frente a saída, atrás dela, uma Ferrari preta. Encostado na Ferrari havia um homem pálido de cabelos e olhos escuros, jaqueta preta de motoqueiro, jeans escuro rasgado e coturnos. Era bastante bonito e ficava girando um anel de caveira prata de olhos vermelhos no dedo anelar.

   A vã estava aberta e sentada dentro estava um homem de uns trinta anos, cabelos negros e olhos verde mar, um pouco mais claros que os de Liss. Ele usava jeans azul claro e uma camisa polo laranja escrito de preto Acampamento Meio-Sangue, com o desenho de um centauro em baixo. Ao lado dele havia um homem vestindo um sobretudo negro, cada centímetro visível do corpo dele tinha um olho, detalhe que eu teria dado muito mais atenção se minha amiga não estivesse prestes a morrer.

   Ao sairmos, o homem que girava o anel levantou os olhos e veio em nossa direção um tanto exaltado. Jaime guiou Lucan e Lisbeth para perto da vã.

— Percy, precisamos da sua ajuda urgentemente - disse Jaime e o homem de olhos verdes se levantou.

— Qual o problema da garota? - perguntou.

— Ela está morrendo - disse o homem com o anel de caveira chegando bem perto de Liss. A garota ofegou, o que fez que todos nós voltássemos nossa atenção para ela, exceto Jaime que conversava com o homem que se chamava Percy um pouco mais afastado.

   Lisbeth abriu os olhos, muito pouco, deixando apenas duas fendas verdes, como os olhos de um gato.

— Porque que eu tô tão no alto - ela falou, seu sotaque britânico e sua língua machucada fizeram-na falar de um modo muito estranho, eu teria rido se a situação não fosse tão séria - É sério, tô enzuada, me choloca no são - apesar de ela falar estranho, deu para entender o contexto e Lucan abaixou lentamente, deitando-a no chão e acomodando a cabeça dela em seu colo - Por que tá todo mundo me olhando, meu cabelo tá bagunçado? - ela se esforçou para falar corretamente, mas ao terminar de fazer a piada fez uma careta de dor, Lucan apenas sorriu de modo triste, seus olhos ainda marejados (é sério, é muito assustador estar numa situação em que o Lucan chora) e apertou a mão dela.

   Ela sorriu de modo doce, o que também era estranho.

— Não se preocupa não, mano, vai ficar tudo b.... - antes de concluir a frase Lisbeth emitiu uma sério de grunhidos e sons estranhos, como um animal tentando falar.

— Jaime, o que tá acontecendo com ela? - Lucan perguntou e Liss voltou a emitir uma série de grunhidos, o homem com o anel empalideceu ainda mais (se é que isso era possível), Lion apertou minha mão e Nicholas fitava Lisbeth, sem fala.

Pov. Lisbeth

   Jaime se aproximou rápido com um homem de olhos verdes.

— Lisbeth - ele segurou minha mão - se você está me entendendo, aperta a minha mão.

   Eu gritei.

   Sim, eu entendo, mas não, não estou sentindo nada desse lado do corpo! Eu não posso sentir sua mão!

   Mas tudo o que saiu foram grunhidos que lembravam vagamente a minha voz.

   Uma lágrima desceu pelo meu rosto, mas eu nunca cheguei a sentir aquela lágrima, não havia como senti-la.

   O desespero puro tomou conta de mim, de uma forma que nunca senti antes.

   E a minha sentença foi gritada na voz de Jaime, foi a última coisa que ouvi.

— Ela está tendo um derrame!

Pov. Helena

— Lisbeth - Jaime pegou a mão de Liss - se você está me entendendo, aperta a minha mão - Lisbeth grunhiu de novo, mas sua mão não se moveu. Uma lágrima desceu solitária pelo rosto dela, seus olhos verdes denotavam desespero - Ela está tendo um derrame! - ele se virou - Percy, preciso que você faça, AGORA! - Jaime gritou para o homem ao seu lado.

— Jaime, eu não vou conseguir, ela vai acabar sangrando até morrer...

— Ela vai enfartar em quarenta segundos!

— Percy - disse Lucan assumindo um tom sombrio - Faça o que tiver de fazer, AGORA! - Lucan não gritou, mas seu tom foi tão forte que nem era preciso que ele gritasse, Percy assentiu para Jaime que puxou uma adaga minúscula de um lugar que não cheguei a ver e com ela fez uma série de cortes em Liss, pescoço, braços e na barriga próximo ao corte que já existia.

— Vai Percy! - Jaime disse e eu contava quinze segundos até o infarto. Percy fechou os olhos e se concentrou. Dez segundos. Ele colocou a mão sobre Lisbeth, sem tocá-la. Seis segundos. Cinco, quatro...

— PERCY! - Lucan gritou. Sangue jorrou dos cortes de uma Lisbeth que mais parecia uma boneca inanimada, os olhos fechados.

   Lisbeth empalideceu. O sangue parou de fluir para fora de seu corpo. Esperamos alguns segundos.

   Nada.

— Eu disse que não ia conseguir... - Percy começou, levando a mão aos olhos, quando Lisbeth ofegou alto e agarrou a mão de Jaime com força.

— Vocês não vão se livrar de mim tão fácil - sussurrou, antes de ficar totalmente inconsciente, mas viva.

   Lágrimas de alegria, eu estava chorando e Lucan também. Percebi que os nós dos dedos de Lion estavam brancos de tanto que eu havia apertado, soltei o aperto, agora aliviada, minha amiga tá viva!

   Lion suspirou aliviado, Nicholas olhava para Lisbeth, incrédulo. Jaime sorriu, como se sempre soubesse que fosse acabar daquele jeito. Percy olhou para as próprias mãos, como se estivesse surpreso com os próprios poderes, o que poderia ser bem verdade. Manny ora chorava ora sorria, aliviado e feliz. Ashley parecia aliviada também, pelo menos eu acho.

— Não é possível, eu à vi morrendo - disse o homem de jaqueta, ele olhou para Percy e depois para Jaime que sorriu.

— Fazer coisas impossíveis é o meu forte, mas ela não está totalmente fora de perigo, esta anêmica, vamos levá-la para o acampamento, agora.

   Eles colocaram a minha amiga na vã, Nicholas e Ashley entraram na Ferrari com o seu respectivo dono enquanto nós seguíamos para um acampamento do qual nunca ouvi falar, mas eu não estava nem aí, Lisbeth estava viva, eu estava viva, e era isso que importava.