Cicatriz escrita por tsubasataty


Capítulo 44
Capítulo 43




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 Uma semana se passou e não aconteceu nada. Nada! Até Á sama ficou surpreso assim que lhe contei isso no sábado. Eu estava abraçada a uma almofada do sofá de sua sala e ele fitava preocupado o chão como se o problema estivesse ali. 

  O silêncio se estendeu entre nós.

  -Talvez eles tenham desistido – falei, não muito convicta.

  - Talvez... – Álvaro estreitou os olhos, unindo as duas mãos sob o queixo.

  Nessa hora escutei duas buzinas seguidas vindas da rua.

  -Ah - levantei-me – Tenho que ir. Vou sair com minha mãe.

  -Mas já? – vi a prova da decepção em sua voz.

  -É... foi comprar algumas coisas que faltam pro bebê.

  Senti meu rosto corar quando um brilho de compreensão chegou no rosto de meu amigo.

  -Você foi ao médico essa semana né? Já dá pra descobrir se é menino ou menina?

  -Sim, mas eu prefiro deixar pra surpresa – falei, sem esconder um sorriso.

  Ele sorriu e revirou os olhos. 

  -Vai lá então....

  Contente, o abracei tão de surpresa que ele quase ficou sem reação. Eu escondi meu sorriso em seu peito. Fazia tempo que eu queria vê-lo assim mais uma vez.

  Segui para a rua e entrei no carro às pressas.

  -Você demorou.

  -Foi mal, mãe – me desculpei – Tava só conversando com ele mesmo.

  Ela me olhou com desdém, mas não falou nada.

  Avançamos pelas ruas até chegar ao centro da cidade. Como era sábado, foi uma sorte encontrar uma vaga para estacionar perto da loja de gestantes. Assim que descemos do carro, escutei alguém gritando o nome de minha mãe e acenando para ela.

  -Ana! – minha mãe acenou de volta e, em seguida, olhou para mim – Gabi, se quiser pode ir pra loja na frente. Eu não vou demorar aqui.

  Concordei com a cabeça. Não tinha motivos para eu esperar ali.

  Assim que entrei na loja, meu coração foi perfurado quando senti o impacto, a sensação que minha presença causava naquele lugar. Ali estavam os olhares de reprovação outra vez.

  -Roupas de que cor você procura? – uma vendedora se aproximou a contragosto, as palavras saindo frias de sua boca, numa rejeição – Azul, rosa?

  -Ah – murmurei, percebendo minha voz quase falhar, quebradiça – Eu não vi se é menino ou menina, quero deixar pra surpresa. Então pode ser de outras cores mesmo, tipo verde claro ou amarelo.

  Quando a seguia, não deixando de olhar fielmente para o chão, notei os sussurros perto de mim. Eu já estava me acostumando com essas vozes, mesmo que cada murmúrio continuasse quebrando algo dentro de mim, algo frágil demais para conseguir se reerguer sozinho.

  Minha mãe voltara ao meu encontro e me ajudara a escolher alguns conjuntos e utensílios. Eu não tinha muita ideia da utilidade de várias coisas que estavam ali e por isso era ela que escolhia a maioria dos produtos, só me perguntando às vezes algo e eu respondendo unicamente em monólogos. Por fim, não suportando mais continuar presa naquele ambiente, deixei minha mãe pagando as roupas e fui para a saída.

  Me encostei a parede e encarei o chão. Respirei fundo, observando as sombras dos passos de todos que passavam perto de mim. Meus olhos ardiam. E uma pontada no estômago me fez querer desaparecer dali, ir para o mais longe que meus pés conseguissem me levar.

  Ainda fitando o chão, vi que um par de pés havia parado bem ao meu lado. Levantei a cabeça a tempo de ver uma senhora de cabelos brancos, presos num coque, olhar para mim.

  -Quantos meses? – ela perguntou, sorrindo amavelmente.

  -Cinco... – respondi, virando o rosto e colocando os braços ao redor de mim.

  -Você me parece ser uma boa garota – a senhora continuou, numa voz que chegou doce e sincera até mim – tenho certeza que vai ser uma boa mãe.

  E então ela se foi, deixando como última lembrança suas falas, que ficaram cravadas em mim. Meus joelhos tremeram e cederam no mesmo instante em que eu levava as mãos para cobrir o rosto, escondendo as lágrimas que saíam inesperadas. 

   Era a primeira vez que eu ouvia aquilo. 

  -Gabi?! – minha mãe exclamou, saindo da loja e me vendo encolhida num canto. Se atrapalhando com as sacolas, ela demorou um instante até conseguir se por ao meu lado e me abraçar – Calma... não liga para o que aquelas vendedoras disseram. Tudo vai dar certo.

  Eu a abracei, com medo das lágrimas não acabarem mais. Era nisso que eu queria acreditar.


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