Os Sobreviventes escrita por Beta23


Capítulo 2
Laços


Notas iniciais do capítulo

Segundo capítulo, aproveitem.



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O dia estava amanhecendo, o sol já subia vagarosamente, não tinha pressa de iluminar o deserto quente. Eu era a única acordada, talvez por ter virado a noite olhando pela janela, á espera de buscadores. A noite foi tranquila, meus companheiros dormiam tranquilamente, passei no quarto e vi a cena. Dan estava em sua cama, Jake e Heather dormiam na minha. Surpreendi-me achando isso uma coisa ruim, saí do quarto antes que fizesse alguma merda.

Tirando isso, foi bem tranquilo. Todos ainda dormiam, o sol já tinha nascido agora, levando ainda mais calor á cabana. Bocejei, mas não estava com sono, só exausta.

- bom dia – saldou-me alguém

Virei, era Heather, ela sorria.

- bom dia – respondi – está bem?

- estou – respondeu

Sorri ela mexeu na cadeira ao meu lado.

- está com fome? – perguntei

- estou – respondeu

Levantei e peguei um pacote de cereais, joguei em seu colo.

- divirta-se – falei

Ela riu e começou á comer, o barulho que fazia me acalmou.

- quantos anos você tem? – perguntou

- 15, eu você? – perguntei olhando para o horizonte

- 15 também – falou.

Olhei-a, ela sorriu.

- eu sei, pareço ter menos – falou – mas nem todas são altas como você.

Ri, ela fez o mesmo.

- eu sou mesmo uma exceção – falei

- ou eu talvez eu seja uma magrela – falou

- eu sou magrela – falei – mas sou forte.

- e atlética – acrescentou

- valeu – falei

Ela sorriu, era bom ver uma amizade nascer, criávamos laços.

- bom ver pessoas tomando café da manhã – disse alguém

Era Dan, ele sorria e sentava ao meu lado.

- bom dia meninas – falou

- bom – disse Heather, impressão minha ou ela trocou um olhar com Daniel?

- bom – respondi

- passou a noite toda aqui? – perguntou Dan

- não gênio – falei – acabei de chagar, estava em uma festa com algumas almas amigas.

Heather deu uma risadinha, meu irmão me deu uma tapa brincalhona.

- eu vou dormir – falei – me acorde...

- quando setembro acabar – completou Daniel

Sorri e fui para o quarto, Jake estava deitado, mas seus olhos estavam abertos. Deitei na cama de Dan e suspirei, minha coluna estava me matando. Jake apoiou a cabeça no cotovelo e ficou me olhando.

- virou a noite? – perguntou

- virei – respondi – a festa foi ótima, estou de ressaca.

Ele riu, sorri e aconcheguei a cabeça no travesseiro.

- quer meu travesseiro? – perguntou – eu já acordei

- quero, obrigada – falei.

Ele sentou na cama e me deu o travesseiro, coloquei-o debaixo da cabeça e suspirei de alivio, isso é bom.

- acho melhor te deixar dormir – falou

- agradeço – falei

Ele sorriu e desviou o olhar, fechei os olhos por um momento. Senti algo pressionando minha testa, algo macio e molhado. Abri os olhos, Jake afastava devagar sua boca do meu rosto. Soltei uma interrogação enorme, ele sorriu abertamente e saiu do quarto.

- seu atrevido – sussurrei.

Minha testa ainda formigava pelo contato agradável, odiei-me por ter gostado. Trinquei os dentes e enterrei o rosto no travesseiro, disposta á não deixar isso voltar á acontecer.

Não sei quanto tempo passou, mas quando acordei, me sentia completamente descansada.

- até que enfim – disse alguém – já estava pensando que teria que te chamar.

Sentei na cama, Jake me olhava com expressão divertida. Fechei a cara pressionei as têmporas com meus dedos.

- isso é bonitinho – falou

- isso é irritante – falei – não tente me comprar com elogios ou beijinhos.

Ele piscou, sorri internamente.

- desculpe, achei que gostaria de um carinho – falou.

- eu não conheço você, um carinho seu seria algo petulante e irritante – falei.

Ele sorriu, como se fosse desafiado.

- acho que você realmente perdeu o juízo – falei – cadê o Dan?

- saiu com a Heather – falou

- já? – falei – para onde?

Jake deu de ombros, destacando seu peitoral forte. Sacudi a cabeça para me livrar desse pensamento, mas ele era bonito.

- eu não sei, mas já faz duas horas – falou – acho que o motel mais próximo fica longe.

Senti meu rosto esquentar, taquei um travesseiro nele.

- não fale assim do meu irmão – falei – ele não faria isso

Ele riu.

- isso o que? Se envolver com uma garota? – perguntou

- não com sua garota – falei

Ele fez uma careta.

- Heather? – falou – minha prima

Alivio é uma sensação incrível, mas odiei á mim mesma por senti-la.

- ah – falei – mesmo assim, meu irmão não me deixaria aqui sozinha para ir á um lugar assim, esse não é Dan.

- sozinha? – perguntou – eu não sou nada?

Dei de ombros.

- é outro corpo no espaço – falei

Ele deu um sorriso estranho, fiquei arrepiada.

- o que acha desse corpo? – perguntou

- um desperdício de espaço – menti – se me dá licença, preciso levantar.

Pulei da cama e fui o mais rápido possível para o banheiro, pude ouvir a risada de Jake sacudir a cabana. Tomei um banho rápido, não confiava nesse garoto. Vesti uma calça de linho e uma blusa preta, voltei para a cozinha, adivinha quem estava lá?

- olha, parece gente – falou – muito bem.

- morri de rir – falei – não me irrite

Passei por Jake e ataquei os doces que roubara na noite anterior, ele fez uma careta.

- mal acorda e já cai nos doces – falou

Dei de ombros.

- o que você tem com isso? – perguntei

Ele apertou os olhos e se inclinou na minha direção.

- por que está me tratando assim? – perguntou – você é um anjo com a Heather e o diabo comigo.

Suspirei e comi outro doce.

- acho que ela merece um tratamento melhor – falei – sua prima não fica dando em cima de mim.

Ele fez uma careta, marquei outro ponto.

- desculpe então – falou – tudo á seu tempo

Ele prendeu uma risada quando fiz uma careta raivosa.

- esse tempo não vai chegar – falei – só se eu estive louca

Ele de inclinou para mim outra vez.

- eu já disse que gosto de loucos? – perguntou

Rosnei e levantei com raiva da cadeira, ele riu enquanto eu pulava a janela e saia para o deserto.

- ei Bonnie – chamou – onde vai?

- ficar longe de você – respondi

Pulei um pedregulho e sentei na parte mais alta dele, pude ver muitas coisas de lá de cima, inclusive, Jake me seguindo com um sorriso no rosto.

- eu não vou deixar você sozinha – falou – prometi á Dan que ficaria de olho em você

- eu deveria andar com minha faca – resmunguei

Ele riu e sentou ao meu lado, fiquei alerta.

- não me mataria – falou

- está se achando muito – falei

Ele piscou e me deu um empurrão leve, trinquei os dentes.

- você está amolecendo – falou

- claro, posso te matar agora ou mais tarde? – ironizei

Ele fez uma careta bonitinha, desviei o olhar.

- posso te achar bonita? – perguntou

- não seria delicado se isso não passasse de uma mentira idiota a fim de me comprar – falei

Ele ficou mais sério.

- é verdade – falou

Revirei os olhos.

- não precisa fazer isso só porque eu sou a primeira garota que você vê em tempos – falei – se o mundo não tivesse acabado, nem nos falaríamos.

Ele fitou o horizonte, considerando minha hipótese.

- talvez – falou – eu não dava bola para nada, cresci com isso, com essa situação.

- eu também – falei – estou responsável

Ele fitou meu rosto.

- não era assim antes? – perguntou

Neguei com a cabeça.

- eu era calma, doce – falei – antes da amargura consumir minha alma

Ele esperou, suspirei e balancei as pernas.

- eu gostava de brincar com minha amigas, nunca mataria – falei – a doçura me abandonou, acho que ter minha vida tirada de mim ajudou. Eu costumava ser uma garota normal, gostava de carinho e de pedalar, tinha até uma paixonite besta.

Jake sorriu devagar, continuei olhando para o deserto.

- conhece a sensação de se apaixonar? – perguntou

- acho que sim, eu era jovem e boba – falei – sentia meu peito inflando sempre que ele chegava perto, sentia borboletas no estomago quando ele pegava minha mão, sentia vontade de estar com ele sempre.

Ele ouviu tudo olhando para mim, fugi de seu olhar.

- mas quem liga para isso? – falei – quem liga para o amor? O mundo acabou.

- está enganada – falou

Encontrei seu olhar, Jake fugiu.

- estou? – perguntei – ou você está?

Ele ficou em silencio, respirei fundo.

- posso estar sendo bobo, mas acho que o amor existe – falou – não achava até recentemente.

- não me venha com essa – falei – o mundo não é um conto de fadas Jake, amor não existe.

Pulei do pedregulho e olhei para ele, Jake me fitava.

- só estaria se enganado se estivesse apaixonado – falei – estaria punindo á si mesmo.

Virei de costas, caminhei lentamente.

- eu se você sentisse amor? – perguntou, sua voz ecoou no deserto – e se você se apaixonasse?

Virei para ele e estendi as mãos aos céus.

- queira Deus que eu não venha á sentir isso – falei – sofreria á toa.

Ele fez uma careta e pulou do pedregulho, fiquei onde estava.

- está sendo uma idiota – falou, sua voz soou irritada.

- estou? – perguntei – ou você está sendo ingênuo por achar que isso aconteceria no mundo em que vivemos? Acha mesmo que poderia amar no meio de uma luta pela vida?

Ele segurou meu pulso com força, seu olhar estava quase feroz.

- sim, eu posso ser um idiota para achar isso, mas acho que poderia me apaixonar – falou – eu vou provar para você.

- não precisa me provar nada Jake – falei – eu não sou ninguém para você, nos conhecemos ontem.

Ele suspirou e me puxou para perto, meu rosto enterrou-se em seu peito mesmo contra minha vontade.

- eu gosto de você – falou – mesmo achando que isso não é certo, mesmo não sabendo quem você é. Não pude evitar, você é a garota que apareceu no horizonte quando eu não via nada.

- Jake, eu não sinto nada – falei – sinto muito.

Ele me soltou, puxei meu pulso de seu aperto.

- não volte á dizer isso – falei – posso ser sua amiga, nada alem disso.

Virei outra vez, Jake segurou meu pulso outra vez. Olhei em seus olhos, me perdi.

- se quer assim, tudo bem – falou – mas se você se apaixonar por mim, eu não vou dar a mínima.

- garoto, isso está ridículo – falei – eu não vou me apaixonar, muito menos por você.

Ele fechou a cara e soltou meu pulso, corri para dentro do casebre. Me tranquei no alçapão, sentei na areia e coloquei a cabeça entre os joelhos. Eu não posso sentir nada, por ninguém. Devia isso á meu primeiro amor, devia isso á ele.

Conhecia ele antes de tudo isso, mas precisei mudar de cidade por conta do emprego do meu pai. Não sei se ele estava vivo, não sei se seu corpo estava vagando por aí com algo controlando-o. Não esqueci o que sentia, nunca. Eu não podia amar outra pessoa se meu coração já estava ocupado, não podia sentir nada por Jake, mesmo se quisesse.

- Bon? – chamou alguém

Abri o alçapão, era Dan. Funguei e voltei para a cozinha.

- onde estava? – perguntei

- fui fazer uma surpresa para você – falou – feliz aniversario.

Ele estendeu um colar de prata, um delicado pingente em forma de coração pendia da corrente.

- estamos fugindo á oficialmente dois anos, categoria dupla – falou – parabéns.

Sorri e coloquei o colar, Dan sorriu.

- você está bem? – perguntou

- sim – falei – estou, obrigada.

Passei por ele depositando um beijo em sua bochecha e fui para o quarto, Jake estava lá. Respirei fundo e entrei, ele ignorou minha chegada, sentei na cama, forçando-o á me encarar.

- desculpe – falei – eu fui uma idiota, não devia ter dito aquilo. Cada um acredita no que quer, eu não podia ter brigado com você.

Ele assentiu, suspirei e olhei para o chão.

- você está certo – falei – o amor existe, eu sinto isso.

Ele levantou a cabeça, um brilho percorreu seu olhar.

- sente? – perguntou

Assenti, ele me estudou.

- aquele cara? – perguntou

- sim – falei

- sabe que ele pode estar morto agora, não é? – perguntou

- eu sei – confessei – mas não quero falar sobre isso, eu nunca quis.

Ele assentiu, me senti desconfortável.

- eu acho melhor eu ir – falei

Ele sorriu um pouco.

- tem clube de boliche por aqui? – perguntou – ou prefere ir ao shopping

Ri, ele sorriu mais ainda.

- na verdade, tem algo sim – respondi – eu posso te levar lá, se quiser.

Ele levantou, seu sorriso ia de orelha á orelha.

- adoraria – respondeu

Sorri e levantei.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.



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