- Bonnie – chamou a voz de Jamie – acorde.

Abri os olhos, um pouco confusa por ter sido acordada, mas isso passou ao ver seu sorriso.

- Jamie? – falei – o que houve?

Ele sorriu, estava sentado ao meu lado, com a mão na minha cintura e um brilho nos olhos.

- venha comigo – falou

Assenti, confusa, mas confiava em Jamie. Levantei lentamente, Jamie vibrava um pouco, chegava á ser fofo o modo como sorria e seus olhos brilhavam. Ele pegou a minha mão e me guiou pelos corredores de pedra do sistema de cavernas, eu não sabia muito bem como me movimentar ali, então não reconheci o caminho, mas sabia que não podia ser a cozinha ou o banheiro.

- para onde está me levando? – perguntei calmamente.

Ele me olhou e sorriu ainda mais, não pude resistir, tive que sorri também.

- vai ver quando chegarmos – falou – é uma surpresa.

Aumentei meu sorriso, Jamie me puxou delicadamente pelas cavernas. Andamos por uns bons vinte minutos, eu já estava ficando entediada, mas Jamie me olhava e sorria á cada metro, fazendo tudo ficar melhor.

- pare um momento – falou

Parei de andar, Jamie me puxou para perto, enlaçando minha cintura com os braços, e me beijou.

- não podia deixar você continuar á andar sem fazer isso – falou

- você é um fofo – falei

Ele sorriu.

- feche os olhos – mandou

Fechei-os mordendo o lábio, Jamie se posicionou atrás de mim e me empurrou devagar.

- passos lentos – alertou – eu vou te segurar, mas, tente não cair, não quero ter trabalho.

- engraçadinho – brinquei.

Ele riu e puxou meu rabo de cavalo de forma brincalhona, continuei dando um passo de cada vez, devagar, focando nas mãos de Jamie na minha cintura.

- suba um degrau – avisou

Preparei minha perna e subi sem cair ou me machucar, Jamie subiu também e deu um beijinho no meu ombro.

- tem mais cinco degraus, acha que consegue? – perguntou

- oi, acho que você ainda não me conhece – ironizei – sou Bonnie Clark.

- boba – resmungou.

- chato – retruquei

Ele parou de me guiar e colocou a cabeça no meu ombro, respirando perto do meu pescoço, fazendo-me ficar arrepiada.

- linda – comentou

- perfeito – respondi

Ele riu baixinho e beijou meu ombro, depois, continuou me fazendo avançar devagar e com cuidado.

- pare aqui – mandou

Parei instantaneamente, Jamie saiu de trás de mim e me girou para a direita, depois pegou a minha mão e me conduziu por um metro adiante.

- respire fundo – falou

Fiz o que ele tinha dito, o ar entrou fácil e fresco, puro como se deve ser.

- estamos fora? – perguntei, estava surpresa.

- quase isso – respondeu – agora, abra os olhos.

Abri meus olhos delicadamente, quase gritei, limitei-me á ofegar. Estávamos no alto de uma montanha, eu podia ver o deserto quase todo dali, na claridade pálida da lua, tudo parecia prateado. Olhei para o céu, a lua cheia reinava na imensidão azul escuro, com suas pequenas estrelas cintilando á sua volta. Dei um passo á frente, estava próxima á beira das rochas, mas não senti medo de cair. O vento agitou meus cabelos, fazendo com que eles esvoaçassem e voassem livres ao meu redor, como os cabelos de um anjo, negros como ébano. Senti a presença de Jamie ao meu lado, eu encarava a paisagem, estupefata. Ele pigarreou, olhei para seu rosto. Ele parecia pálido á luz da lua, seus cabelos estavam um pouco agitados, seus olhos brilhavam ainda mais que as estrelas, lindo.

- você está linda – falou

- obrigada – respondi – mas, você está mais que eu.

Ele riu, sua mão encontrou-se com a minha, gerando um calor agradável na noite fria.

- achei que quisesse ver as estrelas – confessou

Sorri e encarei as esferas iluminadas. Eu odiava estrelas, mesmo quando estavam assim tão bonitas, chamando-me para observa-las. Mas não diria nada á Jamie, ele não precisava da minha mania irracional para estragar nossa noite tão agradável.

- aqui é lindo – falei – acho que nunca vi o céu tão bonito.

Ele encarou as estrelas, seu semblante ficou calmo e relaxado. Sorri ao observa-lo, parecia uma escultura de rosto perfeito, tão lindo quanto. Ele reparou em meu olhar em seu rosto e sorriu, fiz o mesmo enquanto ele enlaçava a minha cintura e eu acariciava seu rosto com as pontas dos dedos.

- eu te adoro – falei

Ele sorriu e depositou seus lábios sobre os meus, beijando-me com carinho e gentileza. Seus lábios foram a calmaria perfeita para melhorar minha sanidade, seu beijo foi exatamente o que eu precisava, ou até mais que isso. Jamie me apertou pela cintura, puxando-me para si enquanto sua língua explorava minha boca. Passei minhas mãos em sua nuca, entrelaçando seus cabelos em meus dedos, sentindo a textura macia e agradável de sua pele. Jamie separou nossos lábios para sorrir para mim, sorri de volta, olhando bem dentro de seus olhos amendoados e brilhantes.

- eu sabia que você iria adorar vir aqui – falou – só estava esperando a hora certa, o momento perfeito.

- uma madrugada fria? – perguntei

Ele negou com a cabeça, tentei não sorrir enquanto ele tentava procurar as palavras certas.

- fazemos hoje nossas três semanas – falou – eu queria te dar alguma coisa, mas não pude fazer muito preso nessas cavernas.

- não precisa me dar nada – falei

Ele me ignorou, calei a boca para não cortar seu barato.

- então eu achei que um momento á sós em um lugar bonito seria uma boa – falou – acompanhado de algo que eu achei.

Ele tirou um pedaço de lenço de seda de dentro do bolso do casaco dele, estava amarrado com uma fita dourada.

- só queria dizer, antes de te dar isso, que eu nunca pensei em dizer isso para outra pessoa, tirando você. Acho que estávamos muito ligados desde sempre para perceber isso, mas, de certa forma, ter sido seu vizinho foi a melhor coisa que já me aconteceu – falou, meu coração acelerava mais á cada palavra dele – eu te amo Bon.

Pisquei, meus olhos estavam um pouco molhados, eu sorria como uma boba. Eu não conseguia falar, minhas palavras ficaram presas na minha garganta.

- então, diga alguma coisa – falou – eu nunca fiquei tão nervoso na minha vida, e esse seu silencio tambem não ajuda em nada.

- oh Jamie – ofeguei com um sorriso enorme – o que posso dizer? Eu tambem te amo, criatura perfeita.

Ele sorriu, exibindos os dentes brancos e brilhantes contra a luz da lua.

- isso me deixa mais aliviado – confessou com a voz fraquinha – por um minuto, eu achei que você pularia dessa montanha dizendo que não sente nada por mim.

Ri sem querer, ele ainda parecia nervoso.

- eu nunca faria isso – falei – sabe por que?

Ele negou com a cabeca, sorri e aproximei minha boca de sua orelha.

- porque eu te amo – respondi – sempre amei e sempre vou amar.

Ele soltou uma risada aliviada, encarei seus olhos lindos que brilhavam ainda mais que as estrelas. Jamie me beijou, abracando-me e apertando-me como nunca, era mais do que gostar, era amar. Ele separou nossos labios e abriu o pacotinho, tirou um pingente em forma de infinito e me estendeu com um sorriso lindo.

- é lindo – suspirei

Ele sorriu ainda mais, virei de costas para que ele pudesse colocar o pingente na minha correntinha de prata, a que Daniel me dera.

Ui, pensar em meu irmão doeu.

Jamie não percebeu, apenas colocou o pingente e me girou para olhar nos meus olhos.

- ficou muito lindo – falei com os dois pingentes entre os dedos.

- verdade – disse Jamie

Sorri para o colar, ele pegou delicadamente o pingente de Daniel. Suspirei, ele me olhou, parecia hesitar em perguntar.

- bonito colar – sondou

Assenti, ele continuou me olhando com curiosidade.

- onde arranjou? – perguntou

Olhei em seus olhos, hesitei.

- se não quiser dizer... – gaguejou – quero dizer, não precisa...

- não, não, está tudo bem – falei enquanto sacudia um pouco a cabeça – foi o Dan quem me deu.

- ah – ele ficou sem graça – sei, desculpe.

- tudo bem – menti

Tentei o melhor que pude refrear o desespero, desde que vi aquele brilho no deserto á dois dias, não conseguia dormir direito á noite. Ficava me remexendo na cama de Jamie, enquanto ele dormia com os bracos envolvendo a minha cintura. Tive até alguns pesadelos, momentos em que eu perdia Daniel, eu olhava em seus olhos e via algo errado, o prateado onde deveria estar o azul.

- eu sei que você ainda se preocupa muito com ele – falou, sua voz retirou-me de meus davaneios – mas, se quiser conversar, eu estou aqui.

Olhei em seus olhos, sabia que podia contar com Jay sempre, mas hesitava em falar do Daniel, tentava o máximo manter minha mente ocupada para não pensar nele, mas era muito dificil. Não te-lo ao meu lado era como quebrar uma perna, você pode andar, mas dói e é muito dificil. Mesmo tento Jamie ao meu lado, sendo a minha muleta, mesmo assim, eu não conseguia mais viver sem o meu irmão.

- Bonnie? – chamou-me Jay.

Reparei que deixava sair algums lagrimas, funguei e sequei-as com os dedos, mas Jamie viu.

- ei, ei, está tudo bem – falou, seus braços me puxaram, apertando-me contra seu peito – eu estou aqui com você, está tudo bem.

- será que está mesmo? – olhei para ele, eu já chorava – será que está realmente tudo bem?

Ele suspirou, seus braços puxaram-me para baixo, sentando-me no chão, com as pernas para fora da caverna, sacudindo na abertura da rocha.

- fale – disse Jamie – eu estou aqui para ouvi-la, pode falar qualquer coisa.

Encontrei seu olhar, Jay parecia mesmo querer me ouvir, e seria muito bom poder conversar com alguém sobre isso. Mesmo não querendo compartilhar, eu sabia, ele era a melhor pessoa para contar agora, ele passara o mesmo que eu, saberia como eu me sinto. Suspirei, podia sentir minhas barreiras desabando, podia ver os blocos invisíveis da parede imaginária caírem, deixando o espaço aberto, deixando minhas palavras livres para saírem. Encostei a cabeça no ombro de Jamie, ele acariciou minha cintura, fechei os olhos e não tive medo de sentir a dor de perder meu irmão, eu precisava lidar com ela.