Por um momento ficou aquele silêncio constrangedor, e eu não sabia como começar uma conversa, mas o Nico sabia:

— Já assistiu essa série? – me perguntou apontando pra TV.

— Ah, acho que não! É legal? – foi a minha grande resposta.

— É... bem legal. – ele respondeu.

E foi o que conversamos seguido de mais uns 10 minutos de silêncio. Eu sentia que ele estava agoniado com alguma coisa, mas eu não sabia o que era. Não sabia como perguntar também, e se eu devia perguntar. Resolvi começar mais leve:

— Minhas amigas acharam você lindo – isso é começar mais leve?! – hm, quer dizer, acharam legal eu ter alguém da minha idade pra eu conversar e tal – e daí ele começa a rir. Pelo menos consegui fazer ele abrir um sorriso.

— Meus amigos também gostaram de você. Falando nisso, pediram pra eu te chamar pra ir com a gente pra boate no sábado. Vai ser bem legal, vamos?

— Vamos sim! Eu vou adorar – eu respondi com um sorriso. Mas já preocupada com a roupa que eu ia usar.

E de novo, os dois sem conversar. É, as coisas não estão fluindo muito bem. Decidi ser mais assertiva e perguntar logo o que estava me incomodando, mesmo sabendo que era arriscado.

— O telefonema era importante?

— Ah. Era minha ex-namorada – e por essa resposta eu não esperava – Nós não estamos mais juntos e ela continua me dando trabalho.

— Ah. Que complicado – foi o que eu consegui falar

— É, lembra quando você chegou? Que eu estava estressado e fui grosso com você e tudo mais? Foi tudo culpa dela. Porque por mais que eu tenha dito que eu não quero mais cuidar dos problemas dela, ela e outras pessoas continuam me colocando neles. Continuam me ligando pra falar das besteiras que ela ta fazendo. Continuam me cobrando. Nunca param! Eu terminei com ela por um motivo. Eu não quero mais ter que ficar cuidando dela como se ela fosse um bebê. O que a gente teve foi legal? Foi. Mas acabou. Mas as pessoas não deixam que acabe – é, acho que ele precisava desabafar – Nossa, desculpa o desabafo!

— Que isso! Tá tudo bem. Quando você precisar – tive que responder, por mais que eu soubesse que eu não queria ouvir de ex-namorada – Quanto tempo vocês namoraram?

— Dois anos – uou, não esperava que fosse tanto tempo – Na verdade, dois anos e três meses – é, acho que podia piorar.

— Nossa, e acabou porque ela tinha muitos problemas? Desculpa minha intromissão, só estou tentando entender um pouco mais – consegui dizer.

— Ah, não tem problema. É bom conversar com alguém. É, acabou porque estava ficando muito sério. No começo do namoro era tudo lindo, sabe? Eram só chocolates e flores. Mas depois...quando ela começou a me tratar como “aquele que nasceu pra resolver os seus problemas” começou a perder o encanto. Começou a virar um sentimento mais de fraternidade mesmo. Eu estava parecendo mais um irmão mais velho – ele respondeu meio desconcertado.

— E ela estuda na nossa escola? – tive que perguntar.

— Não, estuda com a Cheri. Elas são amigas.

E quase soltei um “ufa” pra primeira parte e um “af” pra segunda. Porque agora estava claro que ia ser difícil algo rolar entre a gente. Mas pera ai! Tá cedo pra eu pensar nessas coisas. Não faz nem uma semana que eu estou aqui. Enquanto eu pensava numa resposta, de uma forma que eu não saísse como não interessada nesse assunto, ou como se tivesse perdido as esperanças, fui salva pelo gongo:

— Ei menino! – a mãe dele grita, batendo e abrindo a porta, mas para quando se assusta por me ver no quarto deitada com ele – Ah, você tá aí Luiza. Bom que eu aviso os dois logo. Vamos descer pra comer! O jantar está pronto.

E assim fomos. Descemos e comemos em família, todos conversando sobre o seu dia, sobre o trabalho e escola. Mas por algo eu não esperava:

— Ah, Nic e Luiza, eu e a Cheri vamos ao cinema hoje. Ela pediu pra convidá-los, vamos? – nos perguntou Paolo.

— Poder ser – foi a resposta do Nic.

— Claro – foi a minha resposta.

E assim voltamos cada um para o seu quarto pra tomar um banho e se arrumar pra sair. Paolo disse que em meia hora estava saindo de casa, então eu tinha que correr. Tomei meu banho voando, e aproveitei pra fazer uma maquiagem básica. Escolhi uma jeans clara rasgadinha e uma blusa azul simples sem alça, e uma jaquetinha branca. Peguei minha bolsa e fui esperar na sala. Só quando desci que percebi que eu tinha demorado um pouco mais de meia hora e que os meninos já estavam prontos lá embaixo.

— Ai gente, nem percebi a hora! – falei, me desculpando.

— Tá tudo bem, vamos! – Paolo me tranquilizou.

E assim nos dirigimos pro carro. Enquanto estávamos a caminho do cinema, eu não conseguia moderar a minha reação quanto à conversa com Nic, e não consegui esconder meus pensamentos. Porque fui calada o caminho todo, enquanto os dois conversavam baboseiras.

Quando chegamos, Cheri já estava nos esperando na fila e Paolo foi logo ficar com ela. Enquanto eu e o Nic ficamos mais afastados dos dois. Conseguimos conversar coisas banais como: como foi na escola, o que ta achando dos professores, o que ta achando das matérias, se eu já tinha feito amigas e etc. Papo vai, papo vem. Chegou a hora de entrar para assistir ao filme.

Sabe aquele sentimento de vela? Foi o que eu senti. Porque ok, eu estava com o Nico, mas ele não estava lá realmente, eu via que seus pensamentos estavam em outro lugar. E enquanto isso, Cheri e Paolo se pegavam no banco do lado. Eu não sabia mais o que fazer, não estava gostando do filme, e estava inquieta na cadeira. E foi mudando de posição, que acabei colocando minhas mãos sobre as do Nic.