Tomei meu banho, coloquei uma calça jeans e uma blusa preta básica. A roupa mais confortável para se viajar por tantas horas. Minha mala já está arrumada faz uma semana, mas a ansiedade toma conta de mim faz um mês. Sei que vou sentir muita saudade dos meus pais, minha escola, do português e do Brasil inteiro. Mas vai ser uma experiência perfeita, ou pelo menos é o que eu espero. Daqui um ano eu volto, vai passar rápido.

— Luiza, desça logo! Seu avião sai daqui a pouco e você ainda tem que fazer o check-in! – minha mãe gritou da cozinha.

Desci logo que ouvi, a última coisa que eu queria era começar a viagem com o pé esquerdo. Arrumamos minhas malas no carro e partimos para o aeroporto. Minha casa não fica muito longe, então em menos de 20 minutos eu já estava fazendo o check-in. Despedi-me longamente dos meus pais, com todos aqueles discursos de “obedeça sempre, qualquer problema nos ligue, te amamos” etc etc e tal e me dirigi para o portão de embarque. Por ser menor de idade, tive um carinha da companhia aérea que me acompanhou até o primeiro avião. E o mesmo também me avisou que assim que eu chegasse à próxima parada outra pessoa estaria me esperando para me dirigir ao outro avião. Assim, eu não precisaria me preocupar com os horários e nem ia me perder nos aeroportos gigantescos.

A viagem foi tranquila. Aproveitei pra ficar observando as pessoas e ver se eu entendia um pouco mais da cultura que eu ia participar a partir de agora. E por incrível que pareça, passou mais rápido do que eu esperava. Quando vi já estava em Nova Iorque me dirigindo ao portão de desembarque, com o estômago embrulhado e suando frio de tanto nervosismo. Eu sabia que os pais da minha família “nova” estariam me esperando, como disseram no e-mail, mas os filhos estariam na escola. Era uma família brasileira, eu fiz questão que fosse, mesmo conhecendo bastante inglês, não queria perder o contato e o aconchego do Brasil. E assim que vi o cartaz “Seja bem-vinda Luiza” que estava nas mãos do Théo e Patricia Thalour, meus novos “pais”, me senti um pouco mais relaxada e percebi que tinha feito uma boa escolha. E ainda por cima, eles eram lindos! Fiquei ainda mais curiosa pra saber se seus filhos tinham puxado sua beleza.

Não pude deixar de ficar boquiaberta quando estacionamos na garagem de uma casa enorme e charmosa. Não era em todo lugar que se via casas daquele tipo no Brasil. Fui conduzida por um tour e a última parada foi num quarto todo decorado femininamente.

— Este é o seu quarto – me informou Patricia.

E eu não consegui acreditar. Aquilo não podia ser verdade! Era o quarto dos sonhos de todas as garotas!

— Não pude evitar. Sempre quis ter uma filha. – a Patricia falou se desculpando.

— Está maravilhoso! Obrigada! – respondi tentando parecer não tão desesperada pra vasculhar cada pedacinho do quarto.

— Dê uma olhada em tudo. Vamos te deixar descansar. Daqui a pouco os meninos voltam da escola e você desce para conhecê-los – disse Théo, saindo do quarto com Patricia.

Assim que consegui absorver cada detalhe do quarto, deitei na cama, cansada, e acabei pegando no sono. Acordei assustada e por um momento me perguntei onde estaria. Fiquei feliz quando olhei em volta e me lembrei da minha viagem que estava só começando. Desci as escadas e fui pra cozinha procurar algo pra comer. Tomei um susto quando dei de cara com um menino, sentado na bancada, comendo suas torradas.

— Oi, meu nome é Paolo. Que bom te ver! Seja bem-vinda! Você vai adorar os states – foi seu cumprimento, acompanhado de uma piscadela.

Foi difícil me concentrar com tanta beleza, e tenho certeza que demorei pelo menos um minuto pra conseguir responder.

— Oi. Obrigada.

Isso é resposta Luiza? O que você tem na cabeça? Por acaso você é uma criança?
Despertei dos meus pensamentos quando a Patricia entrou na cozinha.

— Luiza, me desculpa. O Nico ligou dizendo que vai sair com um amigo. Esse menino não consegue mesmo obedecer! Eu disse que era pra ele ficar por aqui hoje – comentou irritada. – Mas deixe, vamos sair pra comer!

Subi e peguei um casaco. Não sabia se ia fazer frio e achei melhor me prevenir. Entramos no carro da família e fomos pra um fast food famoso em Nova Iorque. Conversamos muito, eles perguntam um monte de coisa do Brasil, e eu também fiz muitas perguntas. Tive um tempinho também pra conversar com Paolo e descobri que ele não gostava muito da escola, tinha uma namorada chamada Cheri e era mais velho que o Nico.

Acabamos de comer e voltamos pra casa. Minhas esperanças acabaram quando entramos e percebi que Nico ainda não tinha voltado de seu passeio. Cansada, subi pro meu quarto e fui dormir.

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Acordei 11:30 preocupada se os Thalour’s achariam que dormi demais. Desci as escadas e encontrei café-da-manhã ainda na mesa. Fui a geladeira e encontrei um bilhete:

“Fomos trabalhar bem cedo. Deixamos o café-da-manhã pra você. Voltaremos tarde, mas os meninos chegam 3:30pm. Divirta-se. Thalour’s.”

Sem saber o que fazer, peguei minha comida e fui pra sala de TV tentar assistir um pouco de televisão americana. Mas depois de ficar com dor de cabeça de tanto ouvir inglês, fui para o computador. Matei saudade dos meus amigos e dos meus pais e não percebi a hora passar até que deu 3h15pm. A fim de esperar a chegada dos meninos e fingir, ao mesmo tempo, que não estava esperando, desci e fui pra cozinha procurar algum snack. E enquanto isso, ouvi a porta da entrada se abrindo e fechando e passos se dirigindo pra cozinha. E assim, entra o tão esperado Nico. E pra me frustrar ainda mais, o dito cujo abre a geladeira, pega uma garrafa de água e sai sem falar nada e sem nem olhar pra minha cara.

— Que grosso. – deixei escapar baixinho.

Estressada e chateada, fui pro meu quarto e me tranquei lá até a noite. E quando lembrei que a Patricia disse que hoje sairíamos pra comer com a namorada do Paolo, tomei meu banho e fiquei pronta. Distraída com o computador, não percebi quando Paolo e Cheri entram no quarto pra falar comigo. A gente conversou um pouco e eles me explicaram animados que iríamos a um restaurante em que se podia ver peixes nadando num grande aquário enquanto se come. Mas enquanto os dois falavam, eu não conseguia parar de imaginar se o Nico falaria comigo durante o jantar.