Dark Paradise escrita por Gistar


Capítulo 1
Sombras do Passado


Notas iniciais do capítulo

Este é o primeiro capítulo, é mais uma apresentação dos personagens.
Boa leitura!



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”Toda vez que eu fecho meus olhos

É como um paraíso sombrio...”

Violet

Abri a janela do quarto e fiquei lembrando do sonho, o sonho que há tempos já não me assombrava mais. O fogo, o calor, o cheiro de queimado ardendo em meu nariz...

– Dormiu bem? - Era Alexandra, minha colega de quarto, para quem eu sempre corria quando tinha esse sonho.

– Não Ale, na verdade eu tive aquele sonho de novo! Parecia tão real.

– Não entendo, fazia anos que você não o tinha mais.

– Eu sei, mas ele voltou não sei por quê. Foi exatamente como antes: eu estava sufocada pela fumaça, gritando, chamando por papai e mamãe. Depois tudo fica escuro e silencioso.

– Como eu sempre dizia foi só um sonho. Vamos tomar café.

Ale saiu correndo na minha frente, ela sempre fazia isso. Embora eu já tivesse 16 e ela 17, pouca coisa havia mudado entre nós nesses dez anos depois que nós chegamos.

– Bom dia madrinha! – Ale chegou na cozinha e já foi dando um beijo na madrinha.

Ale era sempre assim, um pouco exagerada em tudo o que fazia. Nós e as outras meninas da casa ajudávamos a madrinha a fazer as encomendas de bolos e salgadinhos. Rafaela sempre reclamava quando pedíamos sua ajuda e dizia que seria prejuízo se ela ajudasse, pois toda vez que entrasse na cozinha para fritar os salgadinhos, teria que depois tomar banho porque ela não ia ficar com o seu lindo cabelo fedendo a fritura. Assim, o dinheiro que ganharia ajudando nas encomendas, seria perdido quando chegasse a fatura da água no final do mês.

Os meninos trabalhavam em uma carpintaria que eles improvisaram nos fundos de casa, assim também contribuíam para a renda da casa. Todos amavam a madrinha e a respeitávamos muito. Além das encomendas ela recebia uma pensão pela morte do seu marido.

Tínhamos lugar certo à mesa na hora das refeições: a madrinha sentava na ponta, à sua direita eu, Ale, Rafa, Ângela e Jana. Do seu lado esquerdo sentavam: Jonas, Jairo, Matt, Eric e Laura. Todos nos dávamos bem, mas Ale, Rafa, Jonas, Jairo e eu éramos mais ligados. Chegamos na casa da madrinha na mesma época: eu, depois de ter perdido meus pais num incêndio, não tinha avós e ninguém sabia do paradeiro dos meus tios. A mãe de Ale morreu no parto e nunca soube o que aconteceu com o pai. Foi criada pela tia até os oito anos que foi quando a deixou com a madrinha, alegando que não tinha mais condições de sustentá-la. Rafa, a madrinha encontrou na rua em uma noite fria, dormia na calçada enrolada em jornais. Jairo foi entregue ao conselho tutelar, pois seus pais eram alcoólatras e o maltratavam muito. E o Jonas, ninguém sabe muito sobre ele, o que se sabe é que ele chegou de outro orfanato que fechou, no qual foi largado na porta quando ainda era um bebê.

Por chegarmos todos na mesma época, sempre acreditei que o destino havia nos unido para ficarmos juntos para sempre, dizíamos que ninguém iria nos separar e quando as outras crianças do orfanato foram adotadas, a madrinha ficou conosco e nos criou como seus filhos.

– Violet voltou a ter aquele sonho novamente. - Ale tinha que dar com a língua nos dentes. A madrinha, sempre preocupada perguntou:

– É verdade filha? O mesmo sonho que você sempre tinha? – Ela se lembrava que eu costumava ter aquele sonho logo que cheguei. Na época ela me levou num psicólogo e ele disse que eu havia ficado traumatizada com a morte dos meus pais, mas que com o tempo eu superaria e pararia de ter aqueles sonhos. Há cinco anos não havia mais tido esse sonho e agora ele voltou.

– É madrinha. – eu respondi tentando parecer calma – mas não se preocupe, deve ter sido só uma recaída.

– Está bem, mas me avise se acontecer de novo querida. Não quero que tenhas que passar por tudo outra vez.

Nesse momento o telefone tocou. A madrinha foi atendê-lo e quando voltou estava com ar de felicidade:

– Era o Tate, ligou para avisar que está chegando esta tarde. Faz tanto tempo que não vem aqui. Vou arrumar seu quarto. Meninas por favor, tirem a mesa para mim.

E saiu disparando e cantarolando para o quarto do filho. Tate era seu único filho legítimo, seu pai morreu quando ele tinha quatorze anos. Brincávamos juntos, mas ele foi morar em outra cidade com uma tia quando o pai dele faleceu. Fazia seis anos que não o víamos, sempre era a madrinha quem ia visitá-lo.

Ficamos surpresos com a notícia. Quando a madrinha saiu, Rafa foi logo dizendo:

– Finalmente vamos ter algo para quebrar a monotonia desta casa. Há tempos que nada acontece, ninguém chega e ninguém parte.

Ale e eu nos levantamos e começamos a tirar a mesa. Jonas e os meninos foram para a carpintaria, dizendo que tinham mais o que fazer. Ângela e as outras meninas foram estender as camas. Rafa ficou parada com cara de quem estava boiando...

– Que foi que eu fiz dessa vez?

– Nada Rafa, - respondi – você nunca faz nada e só precisa aprender a pensar um pouco antes de sair falando besteiras.

– Violet, você sabe que não é assim! Não temos culpa se os outros foram adotados e nós não. Apesar de tudo nós somos uma família.

– Eu sei Rafa, nós já superamos isso, mas eles não, então pega leve.

– Tá bom, desculpa. Eu falei sem pensar...

– Esse é o seu problema, você nunca pensa! – interrompeu Ale – Da próxima vez toma mais cuidado!

– Vocês se lembram de como Tate adorava bolo de cenoura – Rafa mudou rápido de assunto – podíamos fazer um para esperá-lo. O que vocês acham?

– Por mim tudo bem, - respondi – só não sei se ele ainda gosta de bolo de cenoura.

– Ahhhhhhhhhh, ele não deve ter mudado tanto assim. - respondeu Rafa.

– Pois eu acho que ele mudou completamente, - Ale falava enquanto pegava as cenouras – uma pessoa que vai morar numa cidade grande longe da mãe durante seis anos deve ter sofrido uma lavagem cerebral. Vai ver não lembra nem dos nossos nomes.

– Deixa de ser dramática Ale, - xingou Rafa - é mais provável ele não gostar mais de bolo de cenoura do que esquecer os nossos nomes. – ela começou a sorrir e olhar pro nada como uma retardada.

– Violet, você lembra como nós costumávamos brigar por causa dele? As duas o queriam para ser pai das nossas bonecas e ele ria dizendo que nós éramos bobas.

Claro que eu lembrava, Tate fora meu primeiro amor, sonhava que nós iríamos casar quando eu crescesse, depois ele foi embora e eu chorava escondido todas as noites. Nunca contei a ninguém, não queria que soubessem e Rafa parecia sentir por ele o mesmo que eu e não queria que ela ficasse chateada comigo. E agora ele estava voltando... Será que eu ainda gosto dele ou aquilo era só bobagem de crianças?

– Claro que eu lembro Rafa, como poderia esquecer os momentos alegres da nossa infância.

– Eu também lembro - disse Ale – A Rafa até ficou doente quando ele foi embora e a madrinha não sabia o que ela tinha. A Rafa nem nos deixou contar.

– Vamos logo terminar este bolo, - comecei dizendo, não queria mais tocar no assunto – senão ele não vai estar pronto quando eles chegarem.

Terminamos de fazer o bolo e quando o tiramos do forno Jonas entrou na cozinha:

– Que delícia! Hoje vamos ter bolo de cenoura no café?

– É, mas pode ir tirando o cavalinho da chuva porque este bolo nós fizemos para o Tate, é o preferido dele!

– Calma Rafa, - respondi – é lógico que o Tate não vai comer esse bolo todo sozinho. Todos vão comer.

– Ouviu sua chata! – Jonas respondeu mostrando a língua para Rafa e a deixando furiosa. Depois veio e me deu um beijo na bochecha:

– Vi, já disse hoje que te adoro!

– Acabou de dizer, agora vaza Jonas!

– Acho que eles já chegaram – disse Ale olhando pela janela – Jonas vá chamar os outros.

Ale e Rafa saíram correndo para a porta, eu fiquei sem saber o que fazer. O que o coitado do Tate iria pensar ao ver aquele bando de curiosos na sua volta? Resolvi ficar na cozinha e esperar até que entrassem. Queria não demonstrar o quanto eu estava nervosa e ansiosa para vê-lo.

Quando eles entraram deu pra ouvir o alvoroço na sala. Eu me aproximei um pouco, o suficiente para observar sem ser notada. Então eu o vi...

– Lembra-se de mim Tate? - Ale estava tentando comprovar sua teoria de que ele não lembrava nossos nomes.

– Claro Alexandra, como poderia esquecê-la? Você sempre teve implicância comigo. - esse comentário deixou Ale vermelha, não sabia se era de raiva ou de vergonha.

– Mas ela não vai mais implicar agora que você lembrou o nome dela depois de tanto tempo. E do meu você lembra?

– Rafaela, sim! Mas onde está a Violet? Não estou vendo ela em lugar nenhum.

Ele lembra de mim?

Rafa pareceu não gostar da pergunta dele.

– Ué, achei que ela tinha vindo com a gente – disse Ale olhando para os lados e me procurando com os olhos.

– Nós preparamos uma surpresa – gritou Rafa tentando atrair a atenção novamente pra si.

– Ah, é - Ale estava dando pulinhos quando gritou em direção à cozinha:

– Vem Violet e traz a surpresa. Deixe de ser boba!


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Notas finais do capítulo

Então o que acharam? Posso continuar?
Bjs



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